Inúteis

O FC Porto venceu no Sábado a Académica. Foi um jogo épico, em condições estupidamente difíceis, onde 11 homens enfrentaram outros 11 homens sobre um relvado encharcado, com luta, emoção, competição saudável, agressividade positiva, dedicação à profissão, brio e capacidade de sofrimento, de empenho, de garra e de alma. Os esforçados guerreiros de ontem deram um exemplo ao país, que parece desanimar quando o cenário está complicado, baixando os braços e atirando as responsabilidades para terceiros. Mostraram que a força de um grupo está na união, no cerrar fileiras para que possa vencer, atravessando dificuldades previstas e imprevistas, contra tudo e contra todos, até os elementos.

Esta é a capa d’A Bola de hoje. O enfoque está numa piada absurda sobre tourada em alusão ao jogo entre o Leiria e o Sporting. Menção ao jogo de Sábado? A bola à trave no livre da Académica e o golo de Varela.

Não sou editor nem redactor, mas se fosse e alguém chegasse perto de mim a dizer: “E a capa vai ser esta.”, mandava-o arrumar as tralhas que têm na mesa dele porque estava despedido. Mas deve ser problema meu.

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Baías e Baronis – Académica vs FC Porto

Enquanto jantava, rodeado de amigos em convívio bem humorado, ia espreitando de vez em quando o jogo. Na altura fiquei com a nítida impressão que era um jogo que nunca se devia ter realizado, porque simplesmente não foi um jogo, foi uma batalha. Uma luta contra o terreno, contra a relva, contra a piscina em que o campo se transformou. Quando cheguei a casa e vi os 90 minutos por completo, confirmei a ideia que tinha. Um jogo destes só pode ser resolvido por um azar ou por um lance de inspiração individual. Valeu-nos o segundo. Venham as notas:

(+) Todos os jogadores do FC Porto e Académica Todos eles são pequenos heróis. Uma espécie de Aquamen, pronto, que não estando ao nível de um Batman ou de um Homem-Aranha, estão inscritos na Ordem dos Super-Heróis na mesma. Jogar 90 minutos nestas condições é muito difícil, cansativo, propenso a erros e pode levar a lesões graves. Quase todos se viram perante este cenário de chuva intensa, de inclemente temporal e certamente olharam para o relvado, pensando: “Que se lixe, vamos a isso, rapazes!”. Todos os jogadores mostraram que ser jogador de futebol numa equipa de topo significa ser conhecido na rua pelos adeptos, é ter uma vida financeiramente confortável, é fazer o que se gosta. Mas é também um sacrifício físico, um extenuante exercício de luta, esforço, alma e profissionalismo. Puxando a brasa à nossa sardinha, vendo Álvaro a deslizar pela água, Sapunaru a deitar-se para impedir um remate adversário, Hulk a tentar acelerar e quase caminhar sobre as águas, Falcao a falhar remates e a escorregar sozinho, Helton a agarrar bolas impossíveis enquanto espremia (sim, espremia) as luvas…fica a ideia que foi cruel obrigar estes rapazes a fazer este esforço.

(+) Belluschi Se houve um jogador que se destacou pela positiva ao nível do futebol praticado, foi ele. A capacidade técnica acaba por não ser a principal arma de um jogador nestas condições, mas Belluschi foi dos primeiros a conseguir perceber que a única maneira de avançar com a bola de uma forma mais eficiente era levando-a pelo ar com pequenos toques depois de a levantar “à futebol de praia”. Foi o melhor jogador do FC Porto e nem preciso de falar do espírito de sacrifício e de luta, mas há que enaltecer a forma como arrastou a equipa para os locais que eram precisos. Moutinho esteve igualmente bem mas Belluschi foi brilhante.

(+) Varela Um golo perfeito, na altura perfeita, marcado por um jogador que tem pouco de perfeito mas muito de lutador e empenhado. Este jogo só podia ser resolvido por um lance destes e Varela esteve lá para picar o ponto e dar três importantíssimos pontos na luta pelo título. Obrigado pela inspiração, rapaz.

(+) Os adeptos do FC Porto Só se ouviam três coisas pela transmissão da TVI: a chuva, o irritante anti-portismo do Valdemar Duarte e os Dragões nas bancadas. O apoio foi constante durante todo o jogo e a forma como os jogadores foram dedicar o triunfo à malta que estava também ela à chuva e ao frio e ao vento (e à espera que começassem a chover calhaus, sei lá) é sintomática da união que neste momento se sente entre equipa e adeptos. E é um orgulho.

(-) Duarte Gomes Sem falar de qualquer lance, nem do penalty marcado e do não marcado, de algumas faltas bem ou mal marcadas, uma referência ao shôr árbitro. Não consigo entender como é que Duarte Gomes permite que este jogo se realize. Não sendo um conhecedor profundo das leis do futebol, sempre tive presente que o árbitro era o principal decisor no que diz respeito à avaliação das condições para que uma partida se possa efectuar, e a de ontem não as reunia. Não entro em teorias de conspiração, apenas me parece uma decisão imprudente e um risco enorme para a integridade física dos jogadores, porque se em condições normais já há hipóteses dos rapazes se magoarem seja em que lance fôr, essa probabilidade aumenta imenso quando o terreno está no estado que se viu ontem. Até para si é prejudicial, porque qualquer carrinho, qualquer mini-empurrão pode dar origem a faltas que não fáceis de avaliar! Uma má decisão, de qualquer maneira que a queiram ler.

(-) S.Pedro Se Deus é do Boavista, como vi ilustrado em vários estádios por este país quando o clube do Bessa ainda aparecia na televisão, parece-me que o Seu porteiro não gosta muito da bola. Não sei se o estádio tem um sistema de drenagem bem instalado e se estava a funcionar, mas parece-me que com a quantidade de chuva que caiu ontem, acho que nem com um campo inclinado a água tinha saído.

É complicado fazer uma análise honesta e tecnicamente correcta sobre um espectáculo como o que ontem se viu em Coimbra. Vencemos e não se pode dizer que jogamos bem porque era impossível. Ainda assim, pela luta e entrega dos jogadores e pelo talento de Varela, saímos de Coimbra com as roupas encharcadas e os três pontos no saco, que no fundo era o que mais importava. Venha o Besiktas. E por favor que não chova tanto.

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Ouve lá ó Mister – Académica

André, grande líder!

Inclemência! Martírio! Lamento! Tristeza! Não vou poder ver o jogo, pá! Um conjunto de coincidências afasta-me da partida que até estava a pensar em ir ver ao vivo em Coimbra, estádio onde nunca pus os pés e que tu conheces bem…mas não vai poder ser. Lá terei de ver o jogo pela televisão, se conseguir, porque nessa altura estarei bem rodeado de amigos numa festarola bem bonita e cheia de boa disposição, alegria e vodka. Saliento a última, a única capaz de impedir que veja bem o jogo, claro!

Não esperes facilidades, já sabes. Os gajos que estiveram contigo no ano passado e que responderam mais ou menos bem às tuas indicações…este ano tiram-te o escalpe como o Vale e Azevedo muda de nome, por isso não te iludas com as amizades. E lá pelo Jorge Costa ser quem é não quer dizer que não tente ganhar! Ah pois é, que aqui na nossa casa não se treinam perdedores, rapaz! Aqui ensina-se a ganhar e o Bicho sabe disso. Manda-lhe um abraço por mim e diz-lhe que a minha mãe ainda se lembra quando desceu com ele no elevador num hotel em Chaves aqui há uns anos, só para chegar à recepção e me dizer: “Que rapaz alto que vinha comigo no elevador, deve ser jogador do Porto”, comigo aos saltinhos a clamar por um autógrafo. Outros tempos, é o que é.

A mourada lá ganhou. É pena, mas temos que continuar na nossa onda, um jogo de cada vez, não é? Pode ser que estes estejam todos ramados com as praxes ou lá o que é que fazem entre as bebedeiras. Estes estudantes são jeitosos, cuidado. E atenção aos sprinters da frente, principalmente aquele, o chupa-chups ou chiclete ou sugu ou lá como é que se chama o moço. Corre mais que um cigano a fugir da ASAE por isso vê lá se pões o Sapu ou o Álvaro a seguir-lhe os calcanhares desde cedo para não haver chatice.

Ainda por cima só posso fazer a croniqueta no domingo à noite. Que se lixe, é um dia de atraso mas a vitória vai saber bem. Vai, não vai? Vai.

Sou quem sabes,
Jorge

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