Baías e Baronis – FC Porto vs Juventude Évora

Sábado à tarde, tempo ameno, bom ambiente com muita malta que claramente nunca esteve num estádio de futebol e o FC Porto defrontou aquilo que foi o equivalente a onze embalagens de pão-de-forma Bimbo (tanto visualmente como em termos de talento, salvando-se a boa vontade com que tentaram jogar à bola naquilo que foi pouco mais que um treino com bola. O resultado foi suficiente para um jogo deste calibre e ainda bem, porque se o FC Porto tivesse acelerado um bocadinho, o resultado chegava a números superiores ao 9-1 de 1997. Acima de tudo foi um jogo tranquilo, bem-disposto e com poucos motivos para chatices. Vamos a notas:

(+) João Moutinho  Abriu a conta de golos com a nossa camisola e fê-lo através de uma jogada quase perfeita de entendimento com os colegas. É esta a evidência que faltava e que todos os adeptos ansiavam: Moutinho sabe marcar golos. Durante o jogo foi o jogador mais clarividente como já é seu hábito, com a consciência perfeita de quando passar a bola, quando a guardar, reservando para si o lugar de principal jogador na criação de jogadas ofensivas. É um deleite vê-lo a olhar para o jogo, a rodar a bola quando deve e a pensar o jogo como poucos vi a fazer até hoje. A forma como já conquistou os adeptos é sintomática da empatia que todos sentimos com ele.

(+) James Rodriguez  Boa exibição de um dos jogadores que maiores expectativas tem criado nos adeptos. Villas-Boas apostou no colombiano e não pode dizer que se tenha saído mal, porque esteve quase sempre em bom plano. Perfeito no cruzamento para Falcao no primeiro golo, bem no entendimento para o segundo, ainda somou mais um belo remate em banana e podia (devia) ter marcado em dois lances onde cabeceou fraco quando tinha a baliza vazia à frente. Não me parecendo ser um ala puro (não é rápido nem em velocidade nem em execução), pode ser um excelente “reforço” para a segunda parte do campeonato. É preciso é vê-lo a jogar contra uma equipa que dê mais luta que o Juventude de Évora.

(+) Álvaro Pereira  É completamente diferente ver Álvaro e Emídio Rafael naquele flanco. O uruguaio, apesar das pequenas loucuras que decorrem das subidas permanentes no terreno, é vital nas rotinas ofensivas do FC Porto, com as diagonais que faz para o meio e a forma simples como aparece sozinho, criando espaços e originando desiquilíbrios, tornam-no num homem muito importante para a equipa. Apareceu na altura certa para marcar (ligeiramente em fora-de-jogo) um golo que ainda lhe dará mais moral depois da fabulosa recuperação que teve da lesão que sofreu no jogo da selecção.

(+) Guarín  Mais um bom jogo de Guarín. A constante rotação do meio-campo de Villas-Boas é claramente benéfica para o colombiano, porque pode aparecer bem mais à frente do que lhe foi exigido quando chegou às mãos de Jesualdo que, como jogava com o trinco colado aos centrais, não deu espaço a Guarín para poder subir quando quer. Este Guarín que hoje vi, o Guarín prático e simples, é útil. O outro, nem por isso. Precisa que lhe ensinem a rematar uma bola em condições porque de cada vez que prepara um remate, dá ideia que está a treinar pontapés de baliza, tal é a forma como se inclina para trás e levanta a bola por baixo…

(+) Ambiente no Dragão  É verdade que há coisas que me enervam neste tipo de jogos, desde o pessoal que trata os stands de comes e bebes como os pacotes de amendoíns nos aviões (só por lá estarem não quer dizer que se tenham de comer!!!) até à malta que não se senta quando se deve. Só hoje apanhei um conjunto de meninas teenagers atrás de mim que decerto pensavam que o Falcao era a encarnação latina do Justin Bieber, um homem que perguntou: “Aquele número 4 quem é? Nunca o vi. É o Maicon? Ah, rapou o cabelo!”, ou a melhor pérola da noite: “Este jogo é para quê?”. Mas ao menos estiveram 26 mil pessoas a ver um jogo morno. Dessas todas, muitas podem voltar para jogos mais a sério e o clube só tem a ganhar com isso.

(-) Hulk  Foi notória desde o início do jogo a incapacidade de Hulk em jogar simples e directo. Não conseguiu nunca ser a tradicional locomotiva porque sempre que tentava “brincar”, saía torto. Ao lado do mexido James e do prático Falcao, Hulk pareceu sempre fora da maneira de jogar da equipa, que propositadamente lenta e sem intenção de imprimir velocidade ao jogo, acabou por retirar a Hulk a sua grande mais-valia. Hulk não sabe jogar lento, não sabe recrear-se calmamente com a bola e tende a ser trapalhão e a perder lance atrás de lance porque mais nenhum colega seu conseguia (nem queria) jogar ao ritmo dele. Não funcionou.

(-) Ruben Micael  Continua a desapontar-me esta temporada. Pouco incisivo nos movimentos e nos passes de ruptura, olha sempre para o mesmo lado quando precisa de passar a bola e não parece estar com o mesmo ritmo do ano transacto. Compreendo que a lesão o tenha afectado mas o toque de bola não parece ser o mesmo e a maneira triste como joga está a afectar a sua performance. Tem de melhorar para conseguir lutar pelo lugar com Belluschi.

(-) “Chutas tu ou chuto eu?”  Fui ao jogo com um bom amigo e a sua filhota de 7 anos (vês, Rita, cá estás tu!), e a uma dada altura a miúda disse: “Os jogadores do Porto hoje estão trapalhões e preguiçosos”. Concordo com a parte dos trapalhões com alguns jogadores, mas preguiçosos já nem por isso (desculpa, Rita!). A equipa teve sempre a consciência que se arrancasse para um ritmo intenso de jogo, rapidamente se resolvia a contenda e andávamos a procurar mais e mais golos, levando o adversário a uma humilhação imensa. Ainda assim, o problema esteve em grande parte na falta de sentido de eficácia na entrada da área, onde 3 ou 4 jogadores do FC Porto acabavam por trocar a bola entre si à procura de espaço para furar a defesa recuada dos alentejanos. Podiam ter apostado numa forma mais directa de jogar e com menos brincadeira, mas havia demasiada vontade de adornar lances que podiam ter sido resolvidos com maior sentido prático.

É perfeitamente natural que um grupo de jogadores talentosos como os do FC Porto, quando confrontados com uma equipa que apesar do esforço e do suor não conseguiriam nunca bater-se de igual para igual com os nossos rapazes, tendam a brincar um bocado. É humano e compreensível, todos nós quando jogamos futebol começamos a dar uns toques de calcanhar e a picar a bola por cima dos defesas, três ou quatro pontapés de
bicicleta e uns passes de ombro (não é, Hulk?) para se divertirem um pouco mais do que simplesmente a marcar golos. É tão português como uma boa sarrabulhada. O jogo tornou-se fácil demais e a malta conseguiu entreter-se com boa disposição e alguns golos porreiros. Ah, fosse sempre assim…

9 comentários

  1. Bom dia,

    Quando apesar do adversário ser de escalão inferior e com menos argumentos, se encara o jogo com seriedade e profissionalismo, o jogo torna-se fácil, os golos surgem naturalmente, e sem ser brilhantes, consegue-se vencer. Foi isso que aconteceu ontem no Dragão.

    O FC Porto foi uma equipa séria, que respeitou o seu adversário como frisou o treinador do Juventude "O treinador do Villas-Boas respeitou muito um clube com 92 anos de existência e meteu os famosos todos cá do sítio. Era bom que acontecesse isto uma vez por mês. Os jogadores puderam conviver com craques, fomos procurados pela imprensa, enfim, desfrutámos de tudo isto e foi um prazer. Pisar um palco destes não é para todos"

    Quanto ao jogo, tivemos jogadas de excelente desenho, jogadores com grandes pormenores técnicos.

    Melhor em campo Palito, que veio de uma lesão, galgou quilómetros, marcou um golo e fez uma assistência.

    James fez um excelente jogo, com uma assistência e participando na mais bela jogada do jogo, com um toque mágico de calcanhar, numa triangulação que culminou com o golo de João Moutinho.

    Guarin, Moutinho e Ruben estiveram muito bem no meio campo, com Ruben e Moutinho a entenderem-se muito bem.

    Na defesa nada a apontar.

    Falcao e Hulk sempre bem.

    Walter merece jogar mais, tal como James, Castro e Ukra. São jovens de grande valor.

    Foi bonito no final ver a festa das gentes de Évora com a sua equipa, apesar da derrota.

    Excelente o ambiente de festa no estádio.
    Isto é a beleza do futebol.

    Abraço Jorge e bom fim de semana

    Paulo

    http://pronunciadodragao.blogspot.com/

  2. O Guarín precisa que lhe ensinem a rematar?
    Ok. Aguardo ansiosamente por um post de elogio ao rapaz que tem aparecido constantemente nas Baías, e que quando andava neste blog pelos Baronis foi merecedor de um ou dois posts de crítica mordaz.

  3. O Rúben ontem devia ter como "missão" dar bola ao Àlvaro, tantas vezes poderia ter passado para a frente ,mas lateralizava ou atrasava para o defesa!…
    Mas temos de ter paciência com ele porque sabemos que pode dar bem mais…deve estar na ressaca do ano transacto em que foi o salvador do Marítimo e assim que chegou ao Porto, para além de carregar a equipe, ainda foi um saco de porrada…esperemos que se esteja a 'guardar para quando o Carnaval chegar'…
    De resto, e fora as trapalhices do Hulk, um jogo muito agradável de se assistir…(bons ensaios vocais por parte das claques…)

  4. Não fosse por motivos de doença e ontem teria feito 300 kms para ir ao Dragão á bola… infelizmente o azar que me tem perseguido ainda não me largou. Espero que haja outro jogo ao sábado brevemente para poder regressar ao estádio… de resto foi um bom jogo para rodar jogadores e para mostrar James. Gostei da atitude e do golo de moutinho. Continuo a não encarrilhar com o Sereno…

  5. Vitória tranquila do F. C. Porto, com exibição segura, assinalável também pelo 1º golo do Moutinho, bom aparecimento do James, mais fibra do Castro (além de mais uma arbitragem nojenta, contra, para não dizer outra coisa),em dia que, para já, ficou arrumado mais um pretenso concorrente, ficando fora da carroça da Taça o sporting, o que foi muito bom para que os seus representantes deixem de se armar em moralistas, querendo atirar o odioso para os outros, depois de andarem a ser ajudados pelas arbitragens…
    Pena o que aconteceu com o nosso hóquei em patins, que foi uma surpresa triste e desta vez não acompanhou as outras modalidades. Mas se servir de lição,também pode ser positivo.

    http://longara.blogspot.com/

  6. Com tranquilidade… entre boas exibições e exibições menos conseguidas o geral ditou uma vitória tranquila apesar do colectivo ter sido muitas vezes preterido em prol do individualismo, o que não deixa de ser normal nos jogadores que querem mostrar algo mais.

    reinododragao.blogspot.com

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