Perfeito

Públicas virtudes, pecados privados. Por causa de mais um caso em que o futebol português é, infelizmente, pródigo, o carro de um dirigente foi atingido por pedras lançadas não se sabe por quem. Lamentável. Condenável. Desta vez e de todas as outras em que aconteceu. Mas não mais desta vez do que noutras.

Apesar de tudo, o FC Porto saúda o ministro Rui Pereira, que menos de 12 horas depois do incidente já o estava a condenar publicamente e a anunciar ser “implacável neste tipo de situações”. Pena o silêncio ensurdecedor a que se remeteu quando o carro do presidente do FC Porto foi igualmente atacado e atingido por pedras ao passar por baixo de um viaduto quando circulava na auto-estrada A5, a 24/01/2010.

Rui Pereira é ministro de Portugal, não é ministro de nenhum clube ou de nenhum grupo de adeptos. Como responsável pela Administração Interna tem a obrigação de cuidar para que todos os cidadãos circulem à vontade no país, como tem a obrigação de ordenar investigações igualmente implacáveis para situações similares. Fazê-lo só às vezes, é lamentável e só ilustra como não reúne as condições para ser ministro de Portugal.

Todos nós condenamos a violência. Ninguém no seu perfeito juízo deixa de o fazer. No FC Porto condenamos todo o tipo de violência e não aceitamos que outros gostem de se colocar em bicos de pé, como de paladinos pela paz. Condenar a violência é um axioma de qualquer sociedade, como condenar a fome, porque isso faz parte do nosso ser.

Também jamais aceitaremos que sistematicamente se procure associar o nome do FC Porto e dos seus adeptos a qualquer tipo de incidentes. Para o sr. ministro Rui Pereira e para toda a gente que parece não o querer entender, os adeptos do FC Porto são cidadãos como outros quaisquer, nem melhor nem pior do que qualquer outro português. Que nunca mais seja preciso explicar uma evidência tão grande.

É contra este caldo de cultura que o FC Porto sempre lutou e continuará a lutar. Um caldo de cultura que leva a Comunicação Social a não cumprir as mais elementares regras de tratamento idêntico para situações equivalentes. Basta observar as capas dos três jornais desportivos do dia 25/01/2010, em que o apedrejamento do carro do presidente do FC Porto mais não é do que um título em fundo de página em corpo pequeno, enquanto as edições de hoje dos mesmos três jornais, duas fazem manchete e o terceiro dedica-lhe uma das chamadas mais nobres, com direito a foto. Haja decoro.

A Bola 22 Março 2011

A Bola 25 Janeiro 2010

Record 22 Março 2011

Record 25 Janeiro 2010

O Jogo 22 Março 2011

O Jogo 25 Janeiro 2010

in fcporto.pt

Junto-me a todos os portistas coerentes e conscientes na condenação de mais um acto de violência gratuita. Mais um.
E não sei se foi da entrada de Francisco Marques para Director de Informação do FC Porto, mas este comunicado espelha na perfeição o que me passou pela cabeça mal vi as capas dos jornais de ontem. E dou comigo a concordar com ele muito por causa da tradicional forma como a imprensa minimiza o que não deve e se foca no que acha que deve. Mas para além disso, para além das culpas que atiramos de uns para os outros há tantos anos, há algo mais.

Ainda pior é este tipo de estrume em forma humana que acaba por criar nas mentes de todo o país uma imagem de nós aqui no Norte. Uma imagem de modernos neandertais, com iPhone numa mão e taço de baseball na outra, que procuram viadutos vazios para atirar pedras a alguém com quem não concordamos. E todos somos conotados com isso, como é normal neste mundo em que se toma o todo pela parte sem ligar a factos nem a opiniões e por muito que alguns de nós achem aberrante o que se tem passado, para alguns sectores da sociedade lusa estamos todos metidos no mesmo saco.

Um amigo (um bom amigo, que não vejo há mais tempo do que queria mas que continua a ser uma voz de boa consciência na minha cabeça e um contra-ponto quase perfeito às minhas loucuras) enviou-me um mail a criticar esta aberração. É uma guerra que ninguém ganha, diz ele. E diz bem. Porque se atirar pedras está transformado num lugar comum, não tarda nada deixa de ser notícia. E o mesmo para as bolas de golfe e os canivetes, para as facas e os bastões.

Não sei que mais possa dizer ou fazer para parar esta subida de mais um degrau violento. Tenho vergonha. Tenham vocês também.

16 comentários

  1. Eu também não te vejo há mais tempo do que queria, mas não vou ser hipócrita em relação a isto. Tem de haver um dia em que as pessoa dizem basta! Vamos mudar isto! É claro na minha cabeça que o Benfica está precisamente a tentar isto desde há alguns anos, poucos, mas alguns. Nos último 2 anos, fomos agredidos sempre que fomos ao norte. O mesmo não acontece quando o Porto ou Braga vêm ao sul. Vocês não podem condenar actos de violência, justificando-as com outros do passado como very lights. Tu mesmo já o fizeste, numa discussão que até nada tinha a ver com isso. Vocês sentem-se injustiçados até com palavras de um ministro, apanhado provavelmente numa pergunta oportuna de um jornalista quando estava num evento qualquer. Descontextualizam tudo para se fazerem de vítimas, fazendo esquecer que quem tem levado com as pedras e bolas de golfe são os jogadores do Benfica! O Vosso clube não pode dizer que condena, mas que ninguém Vos defende quando são vocês as vítimas. Isto aos meus olhos é o mesmo que apoiar as agressões. Relembro o caso Hulk do ano passado, o famoso tunel da Luz: não me lembro de algum representante do Vosso clube repreender o Hulk publicamente. Ele passou de agressor físico e real a vítima apenas com base numa tecnicalidade legal. Isto não é apoiar violência? Eu tenho apelado noutros sítios a que os benfiquistas não caiam no erro de responder a estas situações nas Vossa idas a Lisboa dentro de pouco, mas infelzmente, também temos energúmeros (palavra que tu muito gostas de usar, especialmente com outros benfiquistas) que podem deitar gasolina nisto. Se querem verdadeiramente a paz, está nas Vossas mãos, sem mais hipocrisias acabar com isto! Apelem incondicionalmente à paz sem vitimização! Denunciem quem sabem que faz estas coisas. Deixem de querer ver Lisboa a arder! Deixem de cantar SLB filhos da puta (devo ser um) quando não jogam contra o Benfica, deixem de criar clima de guerrilha quando vamos ao norte. Eu tenho feito o mesmo apelo aos benfiquistas. Sem hipocrisias. Agora, é isto que os portistas querem verdadeiramente? Querem mesmo perder o Vosso inimigo predilecto, que vos enche de ódio e vos dá força e motivação para se superarem? Eu, com toda a sinceridade acho que não. Acho que este clima é-Vos favorável. Digo isto porque vivo num sítio que vive um pouco do mesmo para dar orientação ao povo… aquele abraço!

    1. Mas o grande problema é mesmo esse, Paulo. É que tudo que não é Portista acha que todos nós somos manejadores de calhaus, temos stock de bolas de golfe em casa e andamos a cantar filhos da puta SLB nos jogos contra a Naval. É errado e é também contra isso que o(s) comunicado(s) mais recente(s) do FCP incidem. Sobre isso e sobre o tratamento desleal que somos alvo na imprensa e isso, meu amigo, é inegável. A vitimização só o é quando é baseada em factos que não se provam e estes, os da imprensa, estão a céu aberto como o esgoto que brota das bocas de muito jornalista. Como tenho dito e como sabes perfeitamente, qualquer acto de violência é indigno. Pura e simplesmente indigno. Injustificável. E se eu soubesse os nomes de muitos desses gajos que andam a calhauar casas do FCP e do Benfica ou que atiram pedras a carros com presidentes do clube contrário dentro, podes ter a certeza que telefonava para a PJ. Mas não sei. E por isso condeno os actos. Se me disseres que o meu clube deveria fazê-lo com mais intensidade? Devia.

      Mas é difícil dar a outra face, como escrevi. Porque somos humanos (uns menos que outros, é verdade) e ninguém gosta de ser rotulado como animal. No entanto não feches os olhos a tudo o que se vai passando porque estás a entrar pelo jogo da imprensa, ao dar mais ênfase a umas coisas do que a outras. E por favor pára de usar a expressão “vos”. É a mesma coisa se eu disser “vocês são todos gordos!” ao entrar no balneário do Sporting no ano passado. O Liedson não tem culpa do Miguel Veloso e do Rochemback serem como são.

      Um abraço,
      Jorge

  2. Jorge,
    Leio-te à não muito tempo e comento pela primeira vez. Sou adepto do benfica e o teu blog é o único do Porto que sigo porque gosto da escrita e porque gosto de saber o que pensam na generalidade.
    Mas acho que assim nao vai lá. E nisso concordo totalmente com o Paulo. O porto clube não está minimamente interessado em perder o inimigo. Mas mais do que isso, não me parece interessado em perder muita coisa.E isso é de todo o lado. Nós somos meros adeptos, peões de um tabuleiro de xadrez destes senhores que se servem do nosso “amor” ao clube para os seus próprios prazeres.
    Posto isto e indo ao tema, digo a toda a gente para pararmos com este ambiente de guerra.
    Mas como bem-se refere, não se pode estar sempre a pensar no passado. E o que reconheço no meu clube é de à algum tempo para cá tentar mudar, e mais do que tentar, fazer. E do(s) outro(s) lados não. Senão o comentário do “vosso palhaço” não seria esse.
    Eu deixei de dar tanta relevância ao futebol e ganhar e perder quando era miúdo e depois de uma grande final me dar conta de que eles ganhavam dinheiro para “namoradas e carros grandes”, pelo que mais do que tudo gosto de ver bom futebol. E ve-lo a ser praticado pela minha equipa, a ganhar quando merece a aprender quando perde.
    Da mesma forma que quando se fala de vós não se fala de todos, fala-se da minoria que impede isto de ser um jogo. Porque a vida é mais do que este jogo.
    Assim mais do que atirar culpas, gostava de ver uma verdadeira união de se terminar com isto, começando nos peões e terminando nos Reis. E não confundir com não querer ganhar o jogo, não, quero ganhar o jogo mas mais do que isso, quero tomar uma cerveja convosco em paz e sossego, deliciar com jogadas brilhantes e ir para casa sem me preocupar com mais nada do que a beleza do jogo.

    Cumps,
    DMC
    (um benfiquista como outras centenas de milhares que andam por aí)

    1. Viva, DMC. É verdade que andamos a atirar a culpa de campo para campo e que as coisas assim não se resolvem. Mas o que sugeres que se faça? É impossível controlar esse tipo de gente e impedi-los de agir com a motivação vândala que mostram, e concordo que não se pode estar constantemente a “chutar pra canto” quando acontece alguma coisa ao outro. Mas o que dizes é exactamente o que eu digo há algum tempo. O que me interessa e o que interessa mais à maioria dos adeptos portistas e benfiquistas, é a bola. São os cortes do Fernando/Javi, os remates do Guarín/Martins, as cabeçadas do Falcao/Cardozo ou as defesas do Helton/Roberto. E se o pouco que posso fazer é falar de bola, by all means, vamos falar de bola. Quando me comparo com muitos outros blogs tanto “nossos” como “vossos”, vejo-me como um autor diferente. Porque quando falo mal, é a gozar, como se deve fazer, porque as rivalidades nunca devem morrer. Mas muita gente não admite apenas uma ironia parva ou uma metáfora engraçadota, tem de partir para chavões agressivos e para uma retórica bruta e violenta. E a culpa, aí, desculpa mas não morre solteira.

      O teu último parágrafo é sintomático e podia ter sido eu a escrever. Só com uma pequena alteração: uma cerveja é pouca coisa, és um menino! ;)

      Um abraço e espero que continues a ler o que escrevo. É sinal que não perdi o Norte.
      Jorge

    2. DMC, subscrevo na íntegra! O “vos” está explicado por si e agradeço, certo Jorge? Agora você focou num aspecto que acho absolutamente fundamental: tomar uma cerveja juntos! Jorge, podem ser 32 finos na boa como sabes ;-) se trouxeres os outros 2 portistas. Mas não estou mesmo a brincar. Já cheguei ao ponto de evitar falar de futebol com qualquer pessoa que não seja do Benfica porque a conversa acaba sempre mal. Isto é ridículo! Tem de haver abertura dos dois lados, mas isto só é possível se as pessoas quiserem. Chamam os benfiquistas de arrogantes, mas os portistas apressam-se sempre a esfregar na cara os títulos dos últimos anos e os únicos 2 que ganhamos, segundo os portistas, foram roubados (Estorilgate e túneis). Como é que o benfiquista se defende? Nem vou entrar por aí, senão, acaba mal :-) O que acho que pode ser feito é não dar relevância a afirmações de dirigentes e jornais. Eu por exemplo, deixei de ler o Público, porque simplesmente censuram uma opinião contrária. Se o LFV diz uma asneira, eu ignoro-a e se calhar posso fazer mais: escrevo um comentário contra. Assumo aqui esse compromisso. Mas tem de haver um esforço do Vosso lado. A Bola? Esquece lá essa paranoia! Agora o Benfica até está numa boa fase, mas quando não estava, era um jornal que exponha toda a porcaria que lá se passava e nós preferíamos não ser falados… reverso da medalha… aquele abraço!

      PS: é só um jogo!

  3. 1)

    « O Vosso clube não pode dizer que condena, [e] que ninguém Vos defende quando são vocês as vítimas. Isto aos meus olhos é o mesmo que apoiar as agressões. Relembro o caso Hulk do ano passado, o famoso túnel da Luz: não me lembro de algum representante do Vosso clube repreender o Hulk publicamente. Ele passou de agressor físico e real a vítima apenas com base numa tecnicalidade legal. Isto não é apoiar violência? »

    mas que porra!
    (in)tentar comparar o “caso do Túnel” com o lançamento de pedras a «camionetes» de clubes e/ou carros presidenciais é o mesmo que comparar a beira da estrada com a estrada da Beira.
    para além de que não vi nenhum benfiquista – dirigente e/ou adepto – repreender o responsável pela segurança, pelo vergonhoso comportamento dos stewards… é que eles não são nenhuns “meninos de coro”. o sr Barnabé pode atestá-lo (literalmente).

    [cont.]

  4. 2)

    « Se querem verdadeiramente a paz, está nas Vossas mãos, sem mais hipocrisias acabar com isto! Apelem incondicionalmente à paz sem vitimização! Denunciem quem sabem que faz estas coisas. Deixem de querer ver Lisboa a arder! Deixem de cantar SLB filhos da puta (devo ser um) quando não jogam contra o Benfica, deixem de criar clima de guerrilha quando vamos ao Norte »

    mas que grande porra de latosa!
    é que senti exactamente o mesmo nas últimas vezes que fui ao Sul – a última das quais para a Taça da Liga (em que enfardámos 0-3) e mesmo assim pude assistir a actos das claques ilegais do 5lb que, enfim… as pessoas só sabem da verdade que lhes é impingida pela Comunicação Social e “esquecem-se” de que todas as moedas têm duas faces…

    [cont.]

  5. 3)

    « E o que reconheço no meu clube é de [há] algum tempo para cá tentar mudar, e mais do que tentar, fazer. E do(s) outro(s) lados não. Senão o comentário do “vosso palhaço” não seria esse »

    mas que g’anda porra!
    a frase não está descontextualizada, pelo que esta é a minha indignação: até começa bem e tal, a apelar ao agir em vez do dizer. só que depois – e aí está o problema dos benfiquistas (na sua larga maioria) – não resiste a dar uma “bicada” e escreve «o vosso palhaço».
    ou seja: deitou tudo a perder. se tivesse citado o nosso presidente, daria uma bofetada de luva branca; assim, fica igualmente pelo insulto gratuito. o que se lamenta.

    em suma (e porque está a chegar a hora da janta):
    portistas e benfiquistas serão sempre: adeptos que frequentarão igrejas diferentes, ouvirão sermões distintos e serão ovelhas que seguirão pastores com credos antagónicos.
    e é por tal situação existir que a Verdade será sempre (e só, na maioria dos casos) aquela que nos acalenta o espírito. o que é pena. porque o outro lado também existe, como neste caso da violência: há energúmenos em todos os clubes e não adianta afirmar que “no meu não existe, só no teu” e balelas parecidas. só temos é que reconhecer tal facto e condená-lo. mas nem todos o conseguem e ainda se dão ao desplante de afirmar que «as pedras não têm identidade»…

  6. para encerrar este capítulo – e porque ao reler os meus comentários deu-me a sensação de ter sido mal interpretado, ao ponto de parecer um «vândalo» -, para mim o Futebol é e sempre será só um jogo e nada mais do que isso.
    a participação e o deixar comentários nos blogues que tenho como referência – como o “Porta19” – é só uma forma de expressar o meu pulsar pelo clube do meu coração e de viver o seu quotidiano, como um adepto por si apaixonado. muito apaixonado. e orgulhoso de ser Portista.

    disse. e fui. dormir, claro! ;)

    abraço Jorge e desculpa se importunei os “espíritos mais sensíveis” que por aqui gravitam.

    1. thanks but I couldn’t create a good-looking design if my life depended on it. I keep tweaking the css but they are mainly small changes, the credits for the design are in the bottom of the blog.

      cheers,
      Jorge

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