Entrevista a Vítor Pereira – Parte II

Continuando a entrevista a Vítor Pereira feita pelo Pedro Batista, segue a segunda parte:

 

P.B: Como caracteriza a sua intervenção no treino?

V.P: A minha intervenção no treino é mais activa ou menos activa em função do momento, em função dos problemas que estão a incidir, em função de eu ter de explicar a importância de determinados comportamentos, se os comportamentos estão a aparecer ou não, no sentido de eu fazer evoluir o entendimento do jogo, isto é, cultura táctica. Se os jogadores estão a falhar muitas vezes eu tenho de intervir mais,
se eles estão a falhar pouco eu intervenho menos e reforço positivamente, não sou é de forma nenhuma um treinador passivo, mas já fui mais activo do que sou hoje. Já cai no erro de conduzir sistematicamente o exercício, isto é quase como tomar decisões pelos jogadores, e isso eu não posso fazer.

P.B: Mas a intervenção é específica em função do princípio ou sub-princípio que quer ver implementado?

V.P: Sim, claro. Quando eu comecei a treinar as vezes dava por mim a fazer isto. Tinha um exercício preparado para comportamentos defensivos, mas quando dava por mim, os meus feedbacks eram para comportamentos ofensivos. Do meu ponto de vista isto é um erro, porque descentraliza o objectivo do exercício. Por exemplo, se eu tenho um exercício de confronto eu digo aos jogadores que vou colocar o meu feedback sobre este ou aquele aspecto. Vamos imaginar que eu direcciono o exercício para a organização defensiva, para a outra equipa não deixa de haver preocupações ofensivas de posse de bola e transição defensiva, mas eu digo-lhes isso, que em posse
quero determinadas coisas e na transição quero que ela seja feita desta ou daquela forma. Eles sabem o que eu quero mas eu não direcciono os meus feedbacks para eles. Para a outra equipa sim, eu direcciono o exercício, neste caso direcciono para os aspectos defensivos que quero trabalhar, neste caso apenas intervenho para a equipa que estou focalizado.

P.B: – De que forma a sua equipa se comporta no equilíbrio defensivo no ataque? Quais as suas principais preocupações?

V.P: Eu pretendo que a minha equipa em posse prepare a transição defensiva, com um bom jogo posicional, com uma sub-estrutura mais dinâmica desenvolvida no processo ofensivo, e uma sub-estrutura mais “fixa” a preparar a nossa transição defensiva. Existe sempre uma sub-estrutura que prepara sempre o momento da perda de posse de bola.

P.B: Mas tem alguma preocupação com o nº de jogadores que devem estar sempre atrás da linha da bola no momento da perda?

V.P: Fundamentalmente temos como principio uma reacção forte à perda da posse de bola, e impedir o adversário de realizar o primeiro passe e a primeira recepção, queremos criar uma zona de pressão e para isso eu tenho determinado nº de jogadores definidos, normalmente tenho a equipa basculada do lado da bola. Nos estamos a jogar com 3 defesas, logo quem prepara a transição defensiva são duas linhas de 2 + 2, em que a primeira linha e constituída pelo defensor do lado da bola, que normalmente está subido e o pivot defensivo e a segunda linha está por trás e é constituída pelo outros dois defensores, quando o adversário é forte em transição ofensiva a primeira linha em vez de ser apenas de dois jogadores é feita por três jogadores.

P.B: – De acordo com princípios defensivos que preconiza para a sua equipa, qual a zona do terreno que pretende para recuperar a possede bola? Pretende que a equipa recupere a posse de bola numa zona mais central do terreno ou nas zonas laterais? Pretende que a sua equipa recupere a posse de bola no seu terço ofensivo ou defensivo?

V.P: Essa questão está directamente relacionada com a estratégia, o que é que eu quero dizer com isto, eu trabalho a minha equipa para uma transição forte à perda que nos permitam recuperar a bola o mais à frente possível para chegarmos mais rapidamente à baliza do adversário. No entanto estrategicamente, eu dou-lhe o exemplo do Marco que foi observado 3 vezes é uma equipa com dificuldades, com desequilíbrios defensivos quando está em posse de bola, é uma equipa com dificuldades perante transições rápidas. Então estrategicamente eu quis que o meu bloco defensivo baixasse um pouco mais que o habitual, para dar um pouco de espaço nas costas para conseguir essas transições ofensivas mais rápidas, em que o Marco na minha opinião é mais fraco, e foi desta forma que marcamos os dois golos no Domingo. Então acho que a sua questão é mais do que uma só, relativamente ao eu querer recuperar a bola no corredor central ou no corredor lateral. Aquilo que lhe posso dizer é que procuro, e que temos como principio, que os jogadores tenham referenciais de “pressing” e diferenciação de ritmos a defender, ou seja, os jogadores quando identificam determinados referenciais de pressing, procuramos criar “zona pressing”, com uma acelaração sobre o adversário provocando-o a ir para essa zona pressionante que estamos a organizar. Maior parte das vezes a pressão é no sentido de fechar o corredor lateral para obrigar o adversário a centralizar o passe para o “lado cego”, e então a bola entra nessa “zona pressing” que estamos a organizar para atacarmos o adversário pelo lado cego, para ganhar a bola, para depois partirmos se possível para uma transição ofensiva rápida, nós defendemos de forma a preparar a nossa transição ofensiva, se não for possível, circular a bola, tirá-la da zona de pressão e entrar em posse de bola.

P.B: Então podemos dizer que não existe uma forma rígida de ver as coisas, o Professor então define o lado estratégico mas trabalha-o durante a semana para a equipa estar preparada?

V.P: Exacto, o princípio é o mesmo, agora se é mais à frente ou mais atrás, se é nas laterais ou no corredor central, depende da estratégia e do adversário, nós aqui integramos a estratégia no processo de treino, do meu ponto de vista é fundamental. Nós observamos os adversários, o maior nº de vezes possível, e em função da dificuldade de construção de jogo em determinada zona, em função da dinâmica que o adversário promove, nós trabalhamos sobre isso, o principio de jogo para jogo, a intenção de… não muda, mas estrategicamente fazemos de uma forma ou de outra em função daquilo que nós julgamos ser o mais adequado para aquele jogo, para o ganharmos.

P.B: – Qual o tipo de organização defensiva aplicado na sua equipa? Defesa individual, homem a homem, zona mista, zona passiva ou zona pressionante?

V.P: O que eu posso dizer é que, o que pretendo na minha equipa, é uma equipa com uma organização defensiva inteligente, inteligente no sentido de diferenciar ritmos, ou seja, às vezes parece passiva mas quando identifica os referenciais de pressão, acelera e torna-se imediatamente pressionante e agressiva, eu não quero uma equipa que pressione constantemente, eu quero uma equipa que espera pelo momento certo para acelerar sobre o adversário em bloco, de perceber o momento colectivo de pressão, e não uma equipa que a cada passe pressiona o adversário. É uma organização zonal, que se torna pressionante nos momentos que eu acho que ela deve ser pressionante, porque quem pressiona sem cérebro, quem pressiona as bolas todas morre a meio do campo, perde discernimento, eu não quero esse tipo de organização defensiva, eu quero uma organização em que os 11 jogadores do campo entendam o momento em que temos de ser agressivos, quando temos de acelerar sobre o adversário, quando de facto funcionamos em bloco, devemos identificar os momentos de pressão colectivamente, e ai sim, quando o adversário não está á espera nós aceleramos, porque se o adversário tiver á espera bate a bola na frente, e eu por vezes quero que ele jogue, quero que ele jogue em determinadas zonas, quero dar-lhe o “engodo”. Eu dou-lhe um exemplo, se eu pressionar cada saída de bola do adversário, ele chega a um ponto que começa sempre a bater a bola na frente e assim nunca mais poderei exercer uma “zona pressing”, portanto eu quero que ele saia a jogar, a jogar de determinada forma, então tenho que criar condições para que ele saia dessa forma, para lhe dar o “engodo”, e nós temos que prever colectivamente o momento certo de acelerar sobre o adversário.

5 comentários

  1. Já na primeira parte da entrevista se viu que sobre o ponto de vista teórico – no ano passado posto em prática algumas vezes – tem umas ideias que me agradam sobremaneira…mas, claro que equipes para jogar assim têm que ter muitas horas de rodagem e os jogadores cérebro dentro da cabeça… – espero que os que temos não debandem. Espero que estejam cá para aplicar o seguimento da lição e do trabalho.
    Para já algumas boas notícias: Castro vem para o estágio, o Kelvin já chegou, e o Fucile não foi seleccionado…
    (e, para já, ninguém depositou o dinheiro das cláusulas…)

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