Mudei de revista

Ano após ano, em todos os inícios de temporada, o ritual era o mesmo. Podia estar de férias ou a trabalhar, em casa ou em passeio, na praia ou no escritório, qualquer local servia, desde que houvesse uma papelaria próxima que me pudesse albergar durante os minutos que necessitava para comprar o tradicional guia da época. E durante muitos, anos, esse guia foi o d’A Bola.

Lembro-me das versões mais antigas, em formato A3 com enormes folhas de cores mal impressas, onde os nomes, idades, alturas, pesos, posições e feições dos novos e velhos surgiam em listas intermináveis, do FC Porto ao Elvas, do Varzim ao Farense, do Chaves ao Louletano, todos eles estavam ali naquelas enormes “páginas brancas” do futebol português. Nas semanas que se seguiam folheava avidamente a informação sobre jogadores, equipas, estádios e história daqueles que iam fazer parte do meu dia-a-dia nas dezenas de jornadas do campeonato que ia então começar. Era ver-me na praia, nos intervalos de me refrescar nas ondas de um qualquer mar, a perceber se o Cacioli ia ficar no Gil e o Yekini no Setúbal, e quem era o novo brasileiro que a Académica ou o Covilhã tinha comprado. Uma alegria.

Ainda agora, numa época em que a web domina a nossa forma de pensar, quando a necessidade de termos algo impresso e assim tornado permanentemente arcaico em minutos, quando uma transferência de um jogador altera os cabeçalhos de qualquer página de um jornal online, a tinta da revista permanece como uma homenagem ao passado, uma corda que nos prende a um mundo mais puro, mais lento e mais concreto. Em que a verdade era mais autêntica e a mentira mais profana, os heróis mais coerentes e os inimigos mais visíveis.

Hoje mudei, mas não em tudo. Continuo a comprar a revista mas optei por outra versão, a d’O Jogo. Faço isto porque não perco em qualidade (pelo contrário, tem excelente grafismo e informação detalhada) mas ainda que ficasse com um produto menos atraente ou perfeito, recuso-me a dar o meu dinheiro a um jornal que parece determinado em enfiar numa gaveta os méritos do meu clube enquanto enaltece semi-méritos de outros num misto de agenda comercial e hubris pessoal. Quoth the raven: “Nevermore!”.

7 comentários

  1. Desde há, mais ou menos, quatro anos a este parte que venho a tomar idêntica atitude em relação ao consumo de produtos de media que nos são hostis. Cortei primeiro com o jornal, a seguir com os “Cadernos” quando apareceu a revista de “O Jogo” e depois com a edição online das publicações de “A Bola”. Fartei-me de contribuir para alimentar “a besta” predadora e recorro a tudo o que me possa por a par das suas manobras e tácticas para denegrir o FC Porto.

    E quanto à qualidade, quer na edição diária em papel quer nos cadernos, “O Jogo” não tem que envergonhar-se, bem pelo contrário.

  2. isso é quase como deixar de ver a fox news para ver a msnbc, mas percebo o teu reasoning.

    e kudos pelo toque poe-ético. adoro quando escreves assim sujo.

  3. Pois eu desabituei-me a ler em papel. Tirando algumas idas ao quarto de banho em que gosto de pôr os três olhos a funcionar de resto leio tudo de forma digital.
    Gosto é do cheiro do papel de algumas revista e jornais. Confesso contudo que não faço ideia ao que cheira “a borla” nem nada que seja impresso por essa fraca desculpa de jornal ou pelo seu “evil twin”. O “Guia” do O Jogo só comprei uma vez e deu-me leitura para uns meses largos. Mas concluí que era informação a mais e que não se justificava nova compra. Mas ainda o tenho. É de 2003 e custou 2.35€. Foi baratinho, tendo em conta o calhamaço que é.
    E qualquer pessoa que não contribua, ou deixe de contribuir, para o enriquecimento dos pasquins lisboetas, para mim, até sobe de consideração.

    Avivar

  4. Boa mudança!
    (Eu gosto é de chegar na tabacaria folhear os jornais e revistas bolita e rascord e depois comprar o Jogo… )

    Quanto à sua batalha para um site fcporto melhor, hoje ainda lá estão a fazerem parte do plantel o falcao e o ruben e o sereno e o mariano e o kieszek, provavelmente porque disseram que seriam para sempre dragões, e faltam os novos – todos. Enfim, desses poder-se-á dizer que não se sabe se ficam no plantel, mas o defour e o mangala e o iturbe o que será que pensam sobre isso?…

  5. Há 4 ou 5 anos que não compro a Bola nem o Record. Raramente compro um jornal desportivo e quando compro é o jogo. A razão? A falta de respeito pelo nosso FCP, a incapacidade de relevar as nossas vitórias e a obsessão em as denegrirem sempre que podem. Espero que continuem assim por muitos anos, é bom sinal, é sinal de que continuamos a ganhar. Termino com o nosso “lema”, vencer é o nosso destino.

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