The loneliness of the long distance runner

Listen, my friend, there are two races of beings. The masses teeming and happy –common clay, if you like –eating, breeding, working, counting their pennies; people who just live; ordinary people; people you can’t imagine dead. And then there are the others –the noble ones, the heroes. The ones you can quite well imagine lying shot, pale and tragic; one minute triumphant with a guard of honor, and the next being marched away between two gendarmes.

Jean Anouilh

Hulk. A alcunha leva-nos a pensar em grandeza, em fausto, na potência e na força do seu futebol, nas arrancadas e nos remates de longe, nos livres directos e nas pernas dos defesas, incapazes de manter o passo do número doze adversário. Desde 2008, quando cá chegou rodeado da dúvida e da incerteza sobre um rapaz que tinha acabado de aterrar vindo do Japão, Hulk é titular absoluto no FC Porto e é talvez a imagem mais reconhecida do clube no exterior, que mantém o público internacional curioso e interessado em qualquer lado onde joguemos. É o poster-boy da equipa, o homem da cláusula, o jogador dos golos fantásticos e agora até é aquele tolo que oxigenou a cornadura.

E a idolatria, aquela a que é votado por muitos adeptos, erguida à custa de trabalho e empolada por tudo que é imprensa, tão ansiosa por criar heróis ao mesmo tempo que espera por uma única brecha na armadura para os encher de setas, é uma pêga cara. Viu-se esta sexta-feira, quando Hulk foi substituído por Vitor Pereira e uma boa parte do Estádio do Dragão irrompeu em aplausos. O escárnio e a maledicência a que Hulk foi votado naqueles segundos, depois de dezenas de minutos seguidos em que nada saía bem, por muito que tentasse, ele, o homem que já nos salvou em tantas ocasiões, que ainda no ano passado jogava e fazia jogar, que brilhou com a força de mil sóis acima de tantos outros…acabou por ter o mesmo destino de Mariano ou tantos outros que vergados pela incapacidade ou pelo azar, saíram de campo sob vaias do público.

O episódio foi sanado e ainda bem. Pelo próprio Hulk, que pôs a mão na consciência e percebeu que a atitude tinha sido abaixo de estelar, abaixo de si, abaixo do seu nível. Só espero que Hulk se aperceba que aqueles que lhe forçaram o franzir do sobrolho são OS MESMOS QUE O APLAUDEM E SÃO OS PRIMEIROS QUE LHE CANTAM AS GLÓRIAS TODAS AS SEMANAS, os mesmos anormais que gostam de ir ao Dragão para assobiar a equipa ao primeiro passe falhado e que vêem o apoio ao clube como uma brincadeira, um show de noventa minutos por entre a conversa e um ou outro balde de pipocas.

Tenho ideia que Hulk tem os pés mais assentes na terra do que lhe dão crédito. Mas se ainda não entendeu isso, se ainda não entendeu que o público é exigente ao ponto de não compreender que os resultados não aparecem depois de um simples estalar de dedos, Hulk está pronto para seguir o mesmo caminho de Quaresma ou Jardel. Ficarão os números e as memórias dos lances mágicos, mas desaparecerá dos nossos corações. Se, como espero, já percebeu que a melhor forma de lidar com este tipo de povo está na calma, no sentido prático e no passe, sacrificando um pouco da estrela que tem dentro dele, vai-se adaptar melhor, como Maniche, Lisandro ou tantos outros. Jogadores mais inteligentes, mais cerebrais, menos geniais. Resta saber se é isso que todos querem: um Givanildo triste e prático ou um Hulk explosivo e que tem direito a falhar como só os génios falham?

Como de costume, no meio está a virtude.

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