Pressão

A pressão é uma meretriz. Dá cabo de uma pessoa, rói as entranhas como a segunda cabeça do Alien e pode transformar o maior candidato a beato num poço de fúria descontrolada. É difícil de lidar com ela, como uma amante exigente ou um filho desgovernado, e só os muito fortes a conseguem olhar nos olhos e dizer: “Hoje não. Hoje quem manda sou eu e não me vais mandar abaixo. Nem que me rasgue todinho, hoje eu é que fico por cima, ouviste, Odete?”. Às vezes dá jeito dar nomes à pressão, quanto mais não seja para personificar uma imagem etérea num ente físico, como um saco de areia. Isso. Odete pareceu-me um bom nome. Adiante.

Vitor Pereira está neste momento a meio da escada para o fosso. Com um arranque de temporada abaixo das expectativas criadas pelo próprio clube, gerindo o maior orçamento da nossa história e pegando numa equipa que jogava bom futebol, dominava a relva em Portugal e no estrangeiro, o inexplicável afundamento está à vista de todos e não podemos negar que a fase que atravessamos é complicada. A gestão destes momentos é crucial e o futuro próximo é difícil de prever, mas há no entanto que tentar perceber como é que se chegou a este ponto que não sendo irreversível começa a ganhar contornos de pré-catástrofe na cabeça dos adeptos e da comunicação social, sequiosa por sangue como um vampiro a fazer dieta de pescoços carnudos.

Lembremo-nos do ano transacto. Chegado ao clube, Villas-Boas recebeu pouca pressão a não ser a que trazia já na bagagem. O discípulo de Mourinho, o seguidor de Robson, o informático e estudioso do Football Manager. Todos estes epítetos gozões foram lançados à cara do nosso treinador que, estoicamente, apanhou com todas as canas e voltou para mais. A equipa da altura, desagregada e acabada de sair de uma época que não sendo abismal a nível de resultados (dois troféus, outro perdido na final, um terceiro lugar no campeonato e a eliminação da Champions com uma humilhante derrota por cincazero em Londres perante o Arsenal), tinha ficado bastante longe do que o então tetra-campeão deveria ter feito. Elementos-chave da equipa estavam desagradados e manifestavam desejo de sair, que lhes foi concedido. Líderes de balneário foram vendidos e os adeptos, resignados, esperavam um ano de transição para novos métodos, novas ideias e acima de tudo parecia haver um clima de quase-serenidade principalmente após a vitória na Supertaça frente ao todo-poderoso Benfica que vinha exactamente de um ano em que tudo lhes tinha corrido bem. Villas-Boas conseguiu pegar neste grupo e transformá-lo numa formação dominadora, que impunha o futebol com força e talento, que pé ante pé conseguiu vencer consistentemente e sem contestação até se tornar rei por mérito próprio. A pressão que então existia era nula. A liberdade que os jogadores tinham, os excelentes jogadores que agora são insultados por tanta gente de azul-e-branco, permitia-lhes desenvolver o seu futebol, a sua melhor arma era a simplicidade e a maior valia era inquestionável. A pressão, repito, não existia. Começou a aparecer apenas quando chegámos a um ponto em que a semente foi gerada no fundinho do coração do maior pessimista, que germinava dizendo suavemente: “Este ano vamos ganhar tudo.”. E ganhámos. Com maior ou menor dificuldade, mais ou menos golos, melhores ou piores exibições, mas ganhámos.

Este ano, a pressão disparou. E aqui, minha gente, é que a curva foi feita para o poço. Porque no papel, tudo parece funcionar. Mas no campo, ali onde as coisas acontecem, nada está a acontecer.

Vitor Pereira está a ceder e rapidamente demais para o que algum de nós estivesse à espera. Como Fernando Santos em 1999 (que perdeu o balneário para as figuras principais e foi incapaz de lhes dar a volta) e Jesualdo em 2009 (idem), Vitor está a fazer desmoronar a confiança que todos tínhamos na nova temporada em meia dúzia de jogos. A pressão, baixa e fraca em 2010, cresceu este ano para níveis estratosféricos. Quando vemos uma exibição como a de quarta-feira, em que dez jogadores são os mesmos que no ano passado e apenas um foi trocado, só podemos questionar que uma grande parte do problema está a vir do topo. Os jogos parecem arrastar-se numa espiral descendente, onde os jogadores alinham com medo de jogar, com receio de falhar, com uma intensa falta de confiança nas suas capacidades (que existem porque já as vimos e eles já as mostraram tantas e tantas vezes) e a desagregação em campo é notória. Vemos Moutinho a forçar passes fracos quando nos habituámos a vê-lo a parar e escolher o melhor caminho para a bola; assistimos a um pobre Guarín que não consegue acertar uma bola em condições e se enerva à mínima contrariedade; presenciamos Álvaro, aquela flecha que raspava pelo flanco esquerdo em alta velocidade, transformado numa pobre desculpa para um Esquerdinha sem ritmo; até James ou Otamendi, peças que se esperavam fossem fundamentais na equipa este ano, parecem absortos, medrosos, tristes, infelizes. O próprio discurso de Vitor, que não tem a inspiração e a verve do seu antecessor (porque a personalidade não se compra e a seriedade por vezes é erradamente confundida com inépcia), não parece conseguir desligar-se dos eternos clichés da bola, traz uma imagem de resignação a que não estamos nem podemos estar habituados. E enquanto esta pressão vai aumentando, menores hipóteses têm os jogadores de se redimirem aos olhos dos adeptos, porque é muito mais penoso cair depois se estar lá em cima do que quando ainda se está a subir.

À medida que o tempo passa e nem os resultados nem as exibições melhoram, fico preocupado. Porque como tantos treinadores antes dele, Vitor Pereira está a entrar na espiral que leva ao desemprego. A pressão que está colocada em cima destes jogadores é altíssima e é algo que poucos deles estão habituados a enfrentar: provar que são tão bons quanto todos sabemos que são. E se o carvão demora uns bons milhões de anos até se transformar em diamante, estes nossos nacos de carbono, que já são diamantes por mérito próprio, estão lentamente a fazer o percurso inverso.

E é tão fácil passar de bestial a besta. O contrário é que é complicado.

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 1 APOEL

Desde 2004 que vou religiosamente ao Dragão, depois de quase doze anos a fazer o mesmo no saudoso Estádio das Antas. Muitos jogos europeus me ficaram presos na mente para recordar rapidamente no intervalo de um café, como o bis de McCarthy contra o Man Utd, o 2-3 com o Artmedia ou os 4-1 à Lázio, os 3-2 ao Werder Bremen, o(s) 0-1 com o Panathinaikos ou o 2-1 ao Marselha com aquele golão do Tarik. Entre as dezenas de jogos europeus que já presenciei ao vivo, este entra directamente para a lista dos que não se esquecem. E pelos piores motivos, porque a exibição do FC Porto foi uma das piores que me lembro de ver desde há muito tempo. Foi má pelo resultado mas acima de tudo pelo futebol praticado e pelo ressurgimento daquele sentimento que me atravessava as veias nos tempos do Couceiro ou na última temporada de Fernando Santos e Jesualdo: assim não vamos lá. Foi tal a falta de fé que a meio do jogo, no meio de gritos aleatórios para este ou aquele jogador, só me colocava num imaginário banco portista, rodeado dos meus colegas e a pensar: “Mas como é que se dá a volta a isto?! O que raio se passa com eles?!”. Aqueles rapazes que hoje vi em campo, mais de noventa por cento da equipa que no ano passado me encantou, jogavam como se tivessem as mães raptadas e o adversário fosse o abdutor. Sem alma, sem empenho, sem coração. Com medo, com desnorte, com desalento. Fica o aviso: este vai ser um post longo. Vamos a isso:

 

(+) Hulk Deve ser difícil ver os colegas todos a temer ter a bola nos pés e a terem de recorrer ao rapaz da camisola 12 para resolver. E tem acontecido mais vezes do que deveria ser necessário, com Hulk a nunca fugir da luta. É frustrante, principalmente porque mesmo fazendo um jogo abaixo do que sabe e pode, Hulk é o melhor elemento da equipa. Porque tentou sempre, com remates de longe, cruzamentos ou arrancadas pela lateral, porque foi dos poucos que mesmo atrapalhado por gajos de laranja fluorescente (a sério, aquela côr devia ser proibida em camisolas de futebol e usada apenas por trabalhadores à noite na auto-estrada) tentou ir para a frente e descobrir uma forma de furar a defesa do APOEL. Se não fosse ele, mais ninguém o conseguiria. E Hulk, mesmo trapalhão, conseguiu um golo, com um paio do tamanho do falhanço do Chiotis, mas conseguiu. E compreendo a frustração dele por não ter conseguido mais.

(+) Fernando Apesar de ter saído mais cedo do que devia e ficar injustamente a ver Guarin a terminar o jogo, Fernando foi essencial para tapar o pouco que conseguiu dos ataques cínicos do APOEL. Quase sempre era o único homem a correr com a cabeça no sítio, usando o corpo para retirar a bola aos adversários e anulando várias jogadas pelo centro do terreno, especialmente em bolas pelo chão. Tentou algumas vezes arrastar jogo para a frente mas nunca o conseguiu porque insiste em enfiar-se na toca e ficar rodeado por adversários que, mais inteligentes a defender que ele a atacar, lhe tapam os espaços e o obrigam a recuar. Mas fez tudo o que podia para ajudar a equipa, o que hoje não foi nada mau.

(+) Adeptos do APOEL Eram aí uns três mil e cantavam como se fossem dez vezes mais. Fiquei impressionado pelo apoio permanente durante noventa minutos, com as cores fortes a inundarem o panorama sombrio de uma noite triste, e os sons que saíam das vozes e dos tambores bem sincronizados alegraram a festa, que só o foi para eles. Até o Poznan fizeram, seus demónios cipriotas! Ficam os meus parabéns e a homenagem ao que deve ser o apoio de uma claque nas deslocações da sua equipa, algo que as nossas também fazem mas sem o mesmo nível de sincronismo e perfeição. Estilos, cada qual tem o seu.

 

(-) Falta de empenho A primeira parte foi digna de Dario Argento. Os jogadores do FC Porto locomoviam-se com toda a intensidade de um nado morto, medo de tocar na bola mais que duas vezes e uma gritante incapacidade de gerar movimento e jogadas de ataque com estrutura e rotação de bola. O jogo de posse, como gostamos de dizer que aplicamos, assenta em dois pilares fundamentais: a posse e a procura incessante de linhas de passe para manter a posse. E o que hoje se viu foi uma equipa de matrecos humanos, em que a bola ressaltava de um para outro sem que houvesse movimentação lateral ou desmarcações para criar espaços ou para arrastar os marcadores directos. Não me vou focar num ou noutro jogador em particular porque o problema é colectivo e parece contagiar rapidamente todos os sectores. Se os defesas centrais, incapazes por natureza de criarem desiquilíbrios no ataque, se reduzem a trocar a bola lentamente enquanto a outra equipa se recoloca na posição certa, a jogada morre. Se os médios no centro do terreno ficam a observar a posição do adversário em vez de tentarem alterá-la, a jogada morre. Quando a bola chega ao extremo e não está lá o lateral ou o médio interior para lhe dar apoio, a jogada morre. E o que mais custa ver, para lá da falta de vontade de mudar o status quo, é o desinteresse. É o jogador que vê o adversário a chegar primeiro à bola com uma consistência granítica e recua porque já desistiu antes de tentar. É o defender um contra-ataque na lateral em vez de o fazer no centro para impedir remates. É ver bola atrás de bola a serem desperdiçadas porque o adversário empurrou ligeiramente o ombro e o corpo não resiste nem descobre força nem ânimo para ripostar. É tudo que fez do FC Porto o que é ser negado em noventa minutos de angústia. E é, perdoem-me o vernáculo, uma puta duma vergonha.

(-) Incompreensível ingenuidade competitiva Sou incapaz de perceber o que se passa a este nível. Seja o pontapé de bicicleta de Kleber, as hesitações de Moutinho ou o adornar excessivo de Otamendi, há qualquer tipo de vírus a afectar a confiança e a maturidade da equipa. Todo o jogo vi rapazes do APOEL a chegarem primeiro à bola e a recuperarem-na facilmente com um ou outro empurrão que faziam os jogadores do FC Porto desistir dos lances ao primeiro contacto. Quedas a mais, amarelos a mais e agressividade a menos, sinais evidentes que não se quer porque não se pode e não se consegue porque não se tenta conseguir. Houve um lance em particular que me deixou com vontade de comer uma caixa de Prozac: um jogador do APOEL está deitado na área, já para o final do jogo, não sei se caiu por falta ou se está a queimar tempo. A bola está na nossa posse e os jogadores vão rodando o esférico para a lateral até chegar a Varela. Os cipriotas, inteligentes, ratos, astutos e com a mentalidade de equipa pequena que ganha pontos, tiram a bola a Varela para dar um lançamento a nosso favor. Mal a bola sai, saem disparados também os mesmos laranjas a correr para o nosso Silvestre, a provocar, a picar, a empurrar e a pressionar. Típico, costumeiro, nada que nós próprios não façamos noutros jogos. E eu, na bancada, só pensava: “não se deixem cair no engodo, continuem a andar, não é nada convosco, não ripostem, não entrem no joguinho deles…”. Mas caímos. Varela tenta sair mas lá vem Belluschi e Sapunaru e Hulk, todos para o empurrão geral que só joga a favor de quem o cria, para perder tempo, para talvez conseguir um amarelo ou até um vermelho, se o outro jogador se enervar ainda mais. Nós, os anjinhos, aqueles ingénuos que ano passado ganharam a Europa League e o campeonato e deram cincazero ao Benfica, caíram como crianças por rebuçados com convites maldosos à porta da escola. Não esperava tanta ingenuidade.

(-) Vitor Pereira Já vi este filme a acontecer algumas vezes, inclusive no FC Porto (vide Fernando Santos e Ivic na segunda passagem). O treinador não consegue colocar a equipa a jogar bom futebol e vai criando uma atmosfera de desencanto na massa associativa ao ponto de a virar contra ele. Vitor Pereira está a caminhar rapidamente para esse abismo de onde é muito difícil sair, seja por arte própria ou por talento bem controlado. Hoje foi sintomático o que sucedeu na partida e é um bom exemplo do que pode vir a acontecer no futuro. A táctica original é adequada, com Fernando a tapar o meio-campo, James solto atrás de Kleber e Hulk a descair para uma das alas para dar profundidade ao ataque. Guarin com o corpo e Moutinho com a mente funcionam como harmónico no meio-campo e Álvaro desiquilibra no flanco quando James vai para o meio. No papel, tudo bem. No campo, nada. Automatismos e consolidação de métodos: zero. Capacidade moral de dar a volta a uma situação negativa: galheta. E depois, as substituições. Mais uma vez, no papel relativamente acertadas. Sai Fernando mas mantém-se um homem alto na frente da área (Guarín) que por acaso até sabe sair melhor com a bola controlada e entra um criativo. Abre-se o flanco com Varela para aproveitar o overlap de Álvaro. Mas tendo em conta o jogo que o público está a ver, nada disto faz sentido, porque Guarín está a jogar ao nível dos juvenis do Tourizense e o Álvaro não consegue avançar em velocidade porque neste momento não a tem. Moutinho continua num momento de forma atroz e fica em campo, juntamente com Guarín. A equipa, já de si nervosa, recebe dois elementos que nada trazem de novo para o jogo e os adeptos mostram a insatisfação. Vitor Pereira tem de perceber rapidamente que está a perder o apoio dos adeptos e que com isso traz pressão extra a uma equipa que ainda não consegue sair dela. Agora, cada vez mais, os jogadores sentem que têm de vencer para mostrar que estão vivos, mas o bloqueio mental e o medo de não o conseguir assolam-nos a cada pisada na relva. E o líder, do banco, pouco pode fazer durante o jogo. Antes e depois, talvez, mas enquanto a bola rola…está a afastar os adeptos.

 

Triste? Sim. Desanimado? Nunca. Porque é nestas alturas que é preciso dar um, dois, quinze murros na mesa e perceber o que se passa com a equipa ou com a sua liderança. O que vi hoje, o que todos os Portistas viram hoje foi uma imagem degradante de uma equipa que ainda há meia dúzia de meses caminhava orgulhosa e altiva pelos relvados da Europa. Os mesmos rapazes que viram hoje foram os que esmagaram o Benfica, destruíram o Villarreal, aniquilaram o Spartak e o CSKA e desfizeram o Guimarães (ordenei por impacto e importância). Perderam o mojo? Esqueceram-se de ter fé? Desistiram de acreditar nas suas próprias capacidades? Não creio. Não quero crer. É evidente que agora toda a gente virá com casos Walteres e Kleberes e porque é que se fez A e não se fez B e se optou por C em detrimento de D. “Hindsight is 20/20”, já dizem os amaricanos e muito bem. Mas lá que as coisas não vão bem lá isso é verdade, e quanto mais cedo se descobrir o que é que se pode fazer para mudar o rumo, tanto melhor. Estarei cá nessa altura.

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Ouve lá ó Mister – APOEL


Amigo Vítor,

Da última vez que a temática “APOEL” foi abordada aqui no Porta19, os tempos eram diferentes. Vivíamos no ano da graça de dois mil e nove, nos frios meses de Outubro (em casa) e Novembro (fora) e o timoneiro da nossa nau europeia era Jesualdo Ferreira, que comandava na altura um navio que se mantinha à tona por pouco, rodeada por tubarões esfomeados e ansiosos pela queda de algumas gotas de sangue. Na equipa pontificavam nomes como Bruno Alves, Raul Meireles, Mariano Gonzalez ou Radamel Falcao. Nenhum deles por cá anda neste momento, e até o treinador já foi trocado e retrocado. Quanto a mim, era um imberbe blogueiro há apenas 5 meses, ainda procurava a melhor forma de escrever assoberbado pela enorme quantidade de autores e opinadores de qualidade que grassava (e ainda persiste) na blogosfera azul-e-branca, tentando encontrar o meu espaço. Não existia ainda esta nossa conversa, os Baías e Baronis eram insípidos e aparentemente tinha-me esquecido de dar espaços entre as linhas. Uma bestinha, é o que eu era.

E os gajos lá da ilha deram-nos água p’la barba, Vitor, tanto em casa como fora, e não fossem uns golinhos do Radamel e tínhamo-nos chateado a sério. E o que me chateia é que apanhamos sempre este tipo de equipas chatas que se lembram de fazer a época da vida deles quando nos calham em sorte na Champions. Já o Artmedia foi o que foi e nem me lembres de Dínamos nem Rosenborgues, que até me chega a mostarda à penca. Mas falando um bocadinho mais a sério, que estes não serão nenhuns Pêros Pinheiros, é preciso ganhar o jogo. Por vários motivos, mas principalmente porque a derrota contra o Zenit veio atrapalhar um bocado as contas do grupo e a altura para facilitar (ou como aconteceu na Rússia, fucilitar) já passou e os Apoéis desta vida estão aqui para serem derrotados. Tenho muito respeito pelos portugueses que lá jog…olha, sabes que mais? Não tenho nada. Paulo Jorge, Nuno Morais, Hélio Pinto. Mais o Manduca e o Káká. Raios me partam se isto não é uma equipa qualquer da Académica ou do Setúbal que se cá jogassem não metiam medo a ninguém. Ah e tal mas têm experiência de Champions. Também nós, co’a breca!

Palavra que estou à espera de uma vitória. Não sei que jogadores vais escolher para titulares (esse meio-campo deve-te estar a dar boas dores de cabeça, lá isso deve) e não faço ideia que tipo de estratégia estás a preparar. Só sei que logo à noite, quando o shôr árbitro apitar para acabar o jogo, quero bater palmas e pensar: “Ah, muito bem. Assim sim, muito bem!”. Faz-me a vontade e manda estes gajos para casa pensar como é que conseguiram na vida deles empatar com o Shakhtar e ganhar ao Zenit. E põe-nos outra vez em primeiro do grupo, que já me dói o pescoço de olhar para cima.

Sou quem sabes,
Jorge

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Literature Manager

A extraordinária notícia sobre o facto do treinador do Bétis ser romancista nas horas vagas deixou-me a pensar. Apesar de não estar ao alcance de todos os treinadores que já passaram pelo FC Porto, seja por deficitário domínio do Português falado e escrito ou simplesmente por falta de interesse, fica uma sugestão de alguns livros que podiam perfeitamente ter saído da pena de muito técnico e ex-técnico portista, baseados nas suas próprias experiências:

 

José Maria Pedroto
Foundation (Isaac Asimov)
Hari Seldon é um visionário que consegue prever o futuro tendo em conta padrões de comportamento do passado do ser humano. O sábio Seldon é um homem que aparece numa altura decadente e consegue lançar a Humanidade num caminho vitorioso para evitar o fracasso que levaria à extinção após quinhentos anos, arrastando consigo uma legião de seguidores e de futuros líderes da raça humana, deixando-lhes ensinamentos que os irá guiar na demanda da melhoria constante dos métodos através dos quais o Homem pode ser verdadeiramente resiliente. Seldon, exilado quando os poderes vigentes percebem o seu génio e imenso talento, consegue transformar a forma das pessoas pensarem e viverem depois do degredo forçado e do glorioso regresso.

Sir Bobby Robson
Dune (Frank Herbert)
O Duque Leto Atreides transmite os seus ensinamentos ao filho Paul, para que ele um dia num futuro próximo seja digno de controlar os destinos da sua nobre Casa. A nobreza do Duque, aliada aos anos de conhecimento adquirido, sabedoria empírica e grandes conquistas, leva a que seja venerado e adorado entre os seus pares e temido pelos seus inimigos. É conhecida a capacidade de impôr a ordem pela justiça e pelo julgamento correcto e punição adequada daqueles que não seguem as normas estabelecidas pelo regente e todas estas lições são passadas para o seu jovem rebento que avidamente aprende com o pai para lhe suceder com dignidade e firmeza.

José Mourinho
Dune Messiah (Frank Herbert)
Após a subida de Paul Atreides ao poder, a arrogância provocada pela sua quase omnisciência transforma o reinado num império teocrático e acaba por tomar controlo da sua personalidade, levando-o a assumir-se como líder incontestável perante os seus pares, apesar de perder contacto com a realidade do povo que governa com mão de aço. Acaba com Paul, o Messias dos Fremen, a ser contestado pelo próprio povo que salvou e alvo de diversas conspirações para o retirar do poder recorrendo a várias tentativas de assassinato tanto a ele como aos seus filhos, uma das quais acaba por cegá-lo e fazê-lo fugir da sua tribo numa caminhada solitária para a morte no deserto profundo (algo que desejo aconteça ao Real Madrid – preferencialmente sem ele ao leme, entenda-se).

Luigi Del Neri
O Poço e o Pêndulo (Edgar Allan Poe)
Um homem vê-se amarrado numa tábua depois de ser julgado pela Inquisição Espanhola e enquanto está de barriga para cima a olhar para o tecto da sua cela, é exposto a um pêndulo em forma de foice com uma enorme lâmina que vai gradualmente baixando até chegar perto do homem, que percebe estar a ser torturado e eventualmente assassinado. O terror causado pela visualização da viagem lateral do pêndulo associada à incapacidade do homem se conseguir soltar leva a que o homem conceba a vida e a morte de uma forma diferente do que até aí tinha vindo a fazer.

Co Adriaanse
Storm of Steel (Ernst Jünger)
Uma história narrada na primeira pessoa pelo comandante das companhias de soldados alemães na Primeira Guerra Mundial, revelando a fibra e a agressividade ofensiva das tropas do Kaiser no calor da batalha nas trincheiras. Jünger, o líder das então recém-formadas “Stoßtruppführers” (tropas de choque), relata as histórias do seu batalhão em ondas de ataque constante, na tentativa persistente de ganhar terreno ao inimigo, infligindo o maior número de vítimas e destruição generalizada, muitas vezes com completa insensibilidade para com a própria vida, quebrando as linhas inimigas e fazendo do ataque a melhor defesa.

André Villas-Boas
Children of Dune (Frank Herbert)
No final da primeira série de três livros da obra de Frank Herbert surge Leto Atreides II, filho de Paul e neto de Leto, para conquistar definitivamente a galáxia através da guerra contra os infiéis e da assunção de um regime de devoção, quebrado por sua própria vontade numa altura em que poucos poderiam prever que tal pudesse acontecer. O povo, que o adorava quando surgiu no seu horizonte desolado pela queda do anterior líder, acaba por se virar contra ele aquando da sua morte e a imagem de Leto é banida das mentes da turba e é colocado no panteão reservado para os grandes traidores da Humanidade (a única incongruência é que Villas-Boas durou um ano no FC Porto, ao passo que Leto…quatro mil, no livro. Pouca coisa.).

 

Mais algumas ideias? Ajudem-me, oh letrados!

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