Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 2 SC Braga

Imaginem-se num jardim zoológico. Estão em frente a uma certa zona onde alguns belos espécimens do mundo animal brincam alegremente, com os dotes que Deus lhes deu aplicados ao convívio salutar entre aqueles de que gostam e conhecem. Para lá das tradicionais brincadeiras entre os membros da mesma espécie, reparam que há uma empatia entre os bichinhos que surge após uns minutos de estranheza comum mas que gradualmente vai transparecendo para o exterior, surpreendendo os observadores, que já não iam ao zoológico há tanto tempo e só os vendo pela televisão não estavam habituados a ver os animais a interagir com um grau de maturidade a um nível tão interessante. Entretanto, tão distraídos estavam no meio desta utopia, nem reparam nos macacos da jaula que estava uns metros ao lado e são surpreendidos quando os mesmos símios procedem a atirar dois grandes montes de fezes na vossa direcção. Não vos acertam em cheio, mas houve alguns salpicos que quase manchavam a vossa experiência. Se a metáfora falhou redondamente, a culpa é vossa, porque isto foi o que vi hoje à noite no Dragão. Notas abaixo:

 

(+) Hulk É o jogador mais importante do FC Porto neste momento, porque vai conseguindo mascarar alguma ineficácia ofensiva da equipa através das jogadas individuais. Depois de uma primeira parte relativamente ineficaz, Hulk conseguiu marcar o primeiro de cabeça depois da melhor movimentação de equipa dos 45 minutos iniciais (com Defour e James ao barulho) e na segunda parte subiu ainda mais a produção com o segundo golo (excelente remate) e a assistência para Kleber marcar o terceiro. Kleber, aliás, que só tem a lucrar com um Hulk criativo e prático, que não aconteceu na primeira parte principalmente pelo excelente jogo dos centrais do Braga, que o forçavam a desviar-se constantemente para longe da baliza e a perder ângulo de remate. Quando teve oportunidade de aparecer pelo flanco a história foi diferente, para melhor. Acabou o jogo exausto e o penalty que cometeu é exemplo disso, já que a forma como se lançou como um tolinho sobre o jogador do Braga é ridícula, só explicável quando o jogador já está de rastos fisica e mentalmente. E teve sorte em não ser expulso…

(+) Fernando Importantíssimo na cobertura defensiva, parece que temos o Fernando a 100% depois do início de época menos produtivo, com Vitor Pereira a procurar alternativas entre outros jogadores do plantel, desde Moutinho a Souza, nenhuma delas com o mesmo nível de produtividade competitiva que Fernando entrega à equipa. É surpreendente que muito embora possamos estar desde 2008 constantemente a reclamar que Fernando é um elemento que já deu o que tinha a dar à equipa, que é preciso outro, melhor, mais maior grande, um Patrick Vieira (que se arranja facilmente como todos sabem), pronto. E Fernando está sempre lá, sempre humilde e trabalhador, com momentos menos bons mas quase sempre com empenho e luta e alma. Essencial.

(+) Moutinho Um belíssimo jogo de Moutinho, finalmente. Parece um pouco diferente do João do ano passado na medida em que tenta mais passes de ruptura e mantém menos tempo a bola nos pés, o que lamento mas tendo em conta o estado de ansiedade da equipa e a vontade de matar os jogos mais cedo até consigo compreender. No entanto, para lá da pequena mudança de estilo, esteve muito bem no meio-campo, a rodar o jogo para os sítios certos, abrindo espaços para Álvaro quando estava no lado esquerdo e rasgando o campo em passes bem medidos para Hulk e Djalma, do lado direito. Teremos o nosso 8 de volta? Pelos dois últimos jogos, tudo indica que sim.

 

(-) Maicon na primeira parte Vitor Pereira pode estar ainda a castigar Fucile pela exibição na Rússia, mas a verdade é que Maicon, por muito que tente e se esforce para ser uma opção válida para a equipa, obviamente não será na lateral direita que se vai afirmar, por muito que o nome ajude. Maicon só é sinónimo de defesa direito no Internazionale e a forma como se deixa antecipar por extremos velozes ou outros que nem por isso, como foi o caso de Paulo César hoje no Dragão, é sintomática de um jogador que luta, mas não sabe nem tem características morfológicas para ser um jogador que nos dê garantias de alta qualidade naquela posição. Melhorou na segunda parte, mas não foi bom.

(-) Público na substituição de Defour Inexplicável e surpreendente, ao nível de ouvir os adeptos do Braga a mandarem o próprio treinador para o sinónimo fálico que todos conhecem. Defour, cansado e claramente em baixa de rendimento depois de uma boa primeira parte, foi bem substituído por Souza para refrescar o meio-campo. Nada de especial…a não ser para tanta gente que aparentemente não consegue perceber que quando um rapaz está estourado não consegue render e que a equipa estava a precisar de uma injecção de força no centro do terreno. São estes os mesmos adeptos que aplaudiam quando Raul Meireles, qual relógio suíço, saía TODOS os jogos por volta dos 70 minutos ao som de aplausos, fazendo tanto ou menos que Defour fez nos últimos dois jogos? É difícil de compreender esta malta.

 

Duas já estão, só falta a terceira. Desde o absurdo resultado de Coimbra que se estabeleceu oficiosamente entre os sócios que os três jogos seguintes iriam ser responsáveis pela manutenção ou não de Vitor Pereira no comando. Não sei se é a verdade como a SAD a vê, mas sei que a maioria dos portistas que estavam de fora, por muito que pudessem ou não concordar com essa mesma premissa. O que é certo é que o futebol praticado pós-Taça tem sido bem superior ao que tinha vindo a ser exibido até então. Não faço ideia, mais uma vez, se tal se deve a Pinto da Costa, aos jogadores ou ao próprio Vitor Pereira. Mas as coisas parecem estar a ganhar um formato de normalidade, por muito que os nossos padrões de exigência estejam num ponto bem mais baixo do que é habitual…

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Ouve lá ó Mister – Braga


Amigo Vítor,

Aqui há uns meses, em Maio, fui falar com o meu chefe para lhe pedir se podia trocar um dia de férias em Dezembro por um lá pró meio do mês. O homem, compreendendo a minha ânsia de ir ver o FC Porto à cidade onde a Guinness flui pelas ruas e os duendes saltam alegremente nos jardins, acedeu ao meu pedido e seguiu aqui no blog a epopeia que foi a viagem a Dublin para ver este mesmo adversário que vamos enfrentar hoje. E que vamos bater, como fizemos em Maio, em Dublin. Não quero saber se joga o Djalma, se o Hulk pintou o cabelo de fuchsia ou se o Rolando faz um hat-trick com um último golo em pontapé de moínho de fora da área. Interessa-me, sinceramente, é perceber se aquele empenho que vi na Ucrânia não ficou no estrangeiro e se mesmo depois de aterrar em Vigo, descobriu o caminho para o Dragão.

Hoje é a reedição da final da Liga Europa do ano passado. Basta-me o mesmo resultado.

Sou quem sabes,
Jorge

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