Adeus Opalenica, olá Porto!

A Selecção é um amor longo. Eterno, diria. Daqueles que se gosta por gostar sem se saber muito bem porquê, mas que nos habituamos a ter a pessoa ao lado como referência para tudo, das refeições às visitas ao cinema, das cores do papel de parede ao desporto que os filhos devem praticar. É uma alma antiga, gémea, partilhada por tantos, que nos une e leva ao mesmo sítio em todos os locais onde vamos. Desde que sou o que sou e me lembro de ser o que sou, vi esse amor a viajar por esse mundo fora e eu viajei com ele, ainda que longe dele. Vivi à distância, sempre à distância, mas vivi. França, México, Inglaterra, Bélgica e Holanda, Coreia e Japão, Alemanha, Suíça e Áustria, África do Sul, Polónia e Ucrânia. E eu, que da lusa terra olhei para outros continentes com uma sensação de presença, de pertença, de harmonia. Os ingleses têm uma palavra – há termos para tudo naquela abençoada língua – togetherness. Era isso. Togetherness. E em todos esses anos que vivi a nossa epopeia à procura de uma latinha que pudéssemos trazer para casa, nunca fui feliz. Nunca fui inteiramente feliz. A espaços, claro, com um remate do Maniche ou uma finta do Futre, uma defesa do Baía ou um corte do Couto. Mas nunca na totalidade, nunca um pleno de êxtase, de euforia tremenda e sensação de dever cumprido. Sempre ficou curto, faltou qualquer coisa, um pormenor que tantas vezes foi pormaior. E não lamento um único segundo.

Já o clube, esse não. Esse não. As vitórias são tantas e tão variadas. Viena, Amesterdão, Tóquio, Sevilha, Gelsenkirchen, Dublin. Ou Áustria, Holanda, Japão, Espanha, Alemanha, Irlanda, para bater certo com o parágrafo anterior. Mas também Lisboa, Coimbra, Faro, Elvas, Chaves, Póvoa, Braga, Aveiro, Portimão, Funchal. A todos estes locais levei força, levei honra e vontade e de todos eles trouxe alegria.

A verdade, quando penso nisso, é que o meu clube me deu muito mais alegrias que a Selecção. E agora, neste momento que “acabou” o Europeu para as minhas cores, é altura de voltar a focar a minha atenção no clube. De regressar ao azul-e-branco, que tantas alegrias me deu.

Porque as próximas alegrias…estão ali a chegar. É já no dia 2.

Até já.

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Futres e Folhas – Portugal 0 vs 0 Espanha (2-4 em penalties)

foto retirada do MaisFutebol

Já percebi uma coisa nos últimos anos que tenho assistido a jogos de Selecções: jogar contra a Espanha é como enfrentar o “boss” no final do último nível de um jogo de computador daqueles tramados, antigos, que punham um gajo a espumar-se todo enquanto esventrava o teclado ao carregar em dezenas de teclas ao mesmo tempo para disparar mais um tiro, para lhe dar mais uma facada, para baixar a energia do animal só mais um pentelhozinho que nos permitisse passar para o próximo nível. Mas não há próximo nível e a Espanha, esta Espanha, é uma merda duma grande equipa. E hoje, mesmo sem fazer um grande jogo, teve a sorte dos campeões que nós também procuramos mas nunca conseguimos. O jogo foi fraco, tanto o nosso como o deles, mas a falta de um ponta-de-lança em condições, associada a uma má noite de Ronaldo e Nani, não conseguiram elevar o jogo dos centrais e de Moutinho, bem ajudados por Coentrão, ao nível que era necessário para mandar abaixo os hermanos. Outra meia-final, outra eliminação. Enfim. Notas abaixo:

 

(+) João Moutinho Se o jogo dos quartos contra a República Checa tinha sido impressionante pela capacidade de esforço, a pressão alta e a movimentação no meio-campo com e sem bola, este único jogo contra a Espanha foi mais importante para a imagem de Moutinho no mundo do futebol que toda a época passada com o FC Porto na Europa. Moutinho esteve em todo o lado, a recuperar bolas perdidas na defesa, a lançar contra-ataques com o timing certo para a pessoa certa, a brincar com a bola ao lado de um Xavi que foi ofuscado pela presença do nosso João. Foi talvez o jogador mais consistentemente positivo da Selecção no Europeu. E é nosso. Por agora. Porque se continuar a exibir-se a este nível, não vai ser nosso durante muito tempo…

(+) Coentrão Excelente na garra, na luta, naqueles pormaiores que o levaram para o Real Madrid e o colocaram como titular na equipa de Mourinho. Acima de tudo, e aqui reside a principal diferença, não usou manhas parvas como já o vi várias vezes a fazer e limitou-se a fazer aquilo que melhor faz e sabe: lutar. Sempre com a vontade de ir mais longe, de tirar a bola ao adversário, de procurar a melhor opção e levar a equipa para a frente, sempre para a vitória. Excelente.

(+) Os centrais É a melhor dupla do Europeu, talvez equiparada apenas pelos dois que hoje encontraram do outro lado. Pepe joga alto, longo, na compensação das lateralizações de Bruno Alves e a tapar as saídas de posição de Miguel Veloso para ajudar num ou outro flanco. Bruno, alto, forte, rijo, sem facilitar. Estiveram em grande nível hoje, mais uma vez.

 

(-) Nani É o oito e o zero-ponto-zero-zero-zero-zero-oito. Raramente o oitenta. Nani esteve mortiço, fraco, desanimado, infeliz. Nunca pareceu conseguir furar o flanco sempre tão aberto de Jordi Alba e insistia sempre nos mesmos erros defensivos ao deixar passar o catalão como se não existisse. Nani tem o talento de poucos mas parece estar progressivamente a Quaresmizar a sua influência em campo e a perder influência na Selecção. Hoje notou-se que ficou em campo apenas porque a alternativa (Varela) não é particularmente credível.

 

Caímos de pé, é verdade. Tentamos pouco contra a Espanha, também é verdade. Nada me garante que depois de conseguirmos parar o soporífero espanhol com uma pressão alta que só podia dar cabo das pernas dos nossos rapazes (o que acabou por levar a que no prolongamento a zona de acção passasse da linha de meio-campo para a da nossa grande-área), não conseguiríamos avançar um pouco no terreno e marcar um golo, ou pelo menos tentar. Foi uma espécie de repetição do primeiro jogo, contra a Alemanha. Mas desta vez nem reactivos fomos, simplesmente porque não havia nada à qual reagir. Foi uma prestação melhor do que esperava e dou-lhes os parabéns por isso, ainda que não aprecie o estilo de jogo nem alguma das opções tomadas, mas os resultados são notáveis. Ainda assim talvez tenhamos de repensar a nossa mentalidade competitiva para podermos sonhar em ganhar um troféu destes. Mas a verdade é que perdemos nas meias-finais do Europeu contra o campeão do Mundo e da Europa. Nada mau, rapazes, nada mau.

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Vem até nós, espírito da Padeira!!!

Podes ser tu. Pode ser qualquer um dos teus amiguinhos. Mas gostava imenso de ver uma cena parecida logo à noite. Vinguem o Mundial de 2010, vinguem o golo do Villa, vinguem o desgraçado que num pub em Florença teve de sorrir amarelamente para um cabrão de um espanhol depois do jogo e aguentar enquanto que o animal se vira para mim e diz: “Mira, vosotros jugaron bien, pero no son tan buenos como nosotros!”

Têm a palavra, jovens lusitanos. Que o espírito de Aljubarrota se abata sobre o vosso balneário e vos transmita a força moral de lhes espetar três ou quatro pazadas nos dentes.

Eles merecem.

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Why England Lose…again!

Vi o Inglaterra-Itália com os dentes a ranger e uma emoção a encher a minha alma de futebol, daquele futebol que gosto e anseio nunca deixar de gostar. Perdido o Espanha-França graças ao perfeito timing de um casamento agendado para o mesmo dia, jurei não abdicar deste confronto de gigantes e ainda bem que o fiz. O jogo foi dinâmico, vivo, duro, excitante, bom. E a Itália mereceu ganhar, por incrível que possa parecer se olharmos para o que tem sido a Itália até agora. O cinismo dos seguidores morais de Herrera abriu-se, desabrochou num festival de técnica perfeita, excelente controlo da bola e das emoções e tudo contra uma Inglaterra que é sempre mais fraca do que nos querem fazer pensar. Tiveram sorte de chegar aos penalties e já foi demais. Mereciam ter ido para casa com alguns no saco.

Lembrei-me de imediato de Simon Kuper e Stefan Szymanski, autores do “Why England Lose“, livro com que arranquei a rubrica “Na estante da Porta19“, aqui há quase um ano. Nele, logo nos primeiros capítulos, os autores explanam aquilo a que chamam “Why England Loses And Others Win” e que acabou por dar nome à obra completa. Eis os tópicos que na altura se aplicavam a um campeonato do Mundo mas que se podem transferir para um campeonato da Europa sem dificuldade:

  • Fase 1: Antes do torneio – a certeza que a Inglaterra vai vencer o Campeonato
  • Fase 2: Durante o torneio, a Inglaterra defronta um antigo inimigo numa guerra
  • Fase 3: Os ingleses concluem que o jogo foi alterado devido a um azar que só a eles poderia acontecer
  • Fase 4: Para além disso, todos os outros fizeram batota
  • Fase 5: A Inglaterra é eliminada sem sequer ficar perto de vencer a Taça
  • Fase 6: No dia depois da eliminação, o regresso ao dia-a-dia
  • Fase 7: Encontra-se um bode expiatório
  • Fase 8: A Inglaterra arranca para o próximo Campeonato com a certeza que o vai vencer

Fase 1? Check. Sempre com a maior das arrogâncias
Fase 2? Ainda hoje vimos isso, check.
Fase 3? Talvez, porque falharam dois penalties. Ainda por cima dois gajos chamados Ashley. Só a nós, yadda yadda. Check.
Fase 4? Claro, a Espanha é sempre beneficiada e o Platini quer que a Alemanha chegue à final. Check.
Fase 5? Quartos-de-final. Check.
Fase 6? To be confirmed…
Fase 7? Vai uma aposta? Rooney e a suspensão de dois jogos, Capello demitiu-se, a polémica Terry/Ferdinand…aposto num check.
Fase 8? Nem preciso de esperar muito, vem já aí a próxima fase de qualificação para o Mundial 2014. Espero pelo check.

Ou seja, Kuper e Szymanski estão quase perfeitos na análise. Sic transit gloria mundi. Ou no caso dos bifes…not so much.

PS: Pirlo. Meu Deus.

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