Racionalizações

Tentei resistir mas não consegui. Ainda fui remexer no arquivo para ver há quanto tempo tinha escrito um post a cascar no Benfas e já passaram mais de três meses, uns Jogos Olímpicos, um Europeu de Futebol, algumas francesinhas e dezenas de finos. Não me parece bem.

Mas o post não será (oh inclemência!) um cascanço generalizado. Aproveito para revisitar a situação que teve lugar no passado Sábado ali por Dusseldorf. Luisão, com postura de porteiro de discoteca, dirigiu-se ao árbitro do jogo amigável que o Benfica realizava por terras boches, encostou-lhe o peito e o árbitro, decerto possuído de alguma componente teatral wagneriana, arremessou-se ao solo como se tivesse levado um tiro. Nem Luisão o atingiu com uma força Hulkiana, nem o árbitro voou sozinho como Saviola na área. Tanto um como o outro foram culpados de leviandade desportiva, no mínimo.

O que me impressiona nesta surreal saga são as reacções. As de tanto portista que, ávido por notícias que surjam a atirar problemas para o lado vermelho, se lançaram numa demanda para irradiar Luisão de todas as competições daqui até ao Rangers voltar à Premier League escocesa, pugnando por um castigo tão severo que fizesse o Breivik pensar duas vezes antes de passar perto de uma mesquita, esquecendo-se que nós próprios já fomos responsáveis por actos tão obstusa e similarmente irresponsáveis no passado e fomos como tal, e bem, motivos da ira dos nossos rivais. Mas o que me impressiona e me deixa com genuína surpresa é a defesa do acto por muito benfiquista, a construção de uma imagem de fibra moral inabalável que cubra Luisão de vestes angelicais tão brancas que possam transformar o homem num santo. São Luisão, o digno. Quando, de facto, e todos sabemos, não o é. Mas também não é uma M16 apontada à cabeça de todos os que se lhe atravessam à frente, nem Maxi representa o regresso de Nobby Stiles perante Pélé, nem Javi é um jogador que deva ser apontado a dedo como um dos cavaleiros do apocalipse. É um cabrão duro, o espanhol, bem como o uruguaio, mas não lhe levo a mal porque em campo gosto de ver gajos com aquela fibra. Só tenho pena que seja contra nós.

Voltando a Luisão. O benfiquismo generalizadamente bovino aplaudirá o acto. Dirá que o árbitro tem de deixar de ser fiteiro, que os protagonistas são os jogadores, que acham muito mas muito estranho que este evento cósmico ocorra mesmo antes da primeira jornada “e então já viram que o gajo caiu sem ninguém lhe tocar, deve ter sido o hálito do nosso grande capitão que o mandou abaixo, alemão filho da puta que deves estar a mando do Pinto da Costa, eu logo vi”, que estão todos contra nós e a máfia dos do Porto já atravessa fronteiras e eu vi logo que aqueles cabrões só empataram com o Manchester em 2004 porque o Mourinho já tinha combinado tudo com o Ferguson e o árbitro e o caralho”. Parem de rir, há mesmo gente a pensar assim. E o problema, o contínuo, inamovível e eterno problema, é que há muitos benfiquistas a pensar assim. Elevam Luisão a figura divina, uma espécie de Zidane que com o peito derrotou as forças do mal teutónico. E no meio disto tudo, esquecem-se do que é mais concreto e evidente: Luisão, a quente, agrediu um árbitro. Teve as suas razões, com o sangue a ferver (vá-se lá saber porquê, num amigável pouco interessante e ainda menos competitivo), correu para o árbitro e deu-lhe uma mamada…peitada, pronto, a partir do qual o boche, sem saber muito bem o que fazer, caiu e fingiu um bocadinho como os heróis que vê todas as semanas com camisolas cheias de patrocinadores e braços repletos de tatuagens. Mas o facto continua a ser o mesmo, independentemente de quantos videos virem, quantos ângulos encontrarem, quantas explicações tentarem dar.

“Sempre reconheci razão a estas acusações e infelizmente, vejo a mesma razão aumentar exponencialmente de cada vez que o conhecimento geral dos Benfiquistas acerca do sue clube é colocado à prova. Fazendo uma pequena sondagem (que não vou fazer), podia colocar aos adeptos do SLB a seguinte questão “qual é clube qual é ele que: não sabe ter desportivismo para aceitar que o rival seja campeão no seu terreno; tem um presidente que se envolve em sessões de pancadaria em aeroportos; arranja sarrabulhos no túnel do seu estádio; tenta proibir a presença de presidentes rivais na sua sala de imprensa; tem uma inusitada relação de amizade com um clube que recebe o SLB à pedrada e desliga as luzes do estádio durante os jogos; tem dezenas de jogadores emprestados a outros clubes da 1ª Liga; os seus jogadores dão peitadas a árbitros?”. Aposto que 90% responderiam “corruptos do porto”… e no entanto… a resposta estaria errada. Por outro lado, se a fizesse a mesma pergunta a adeptos rivais a resposta seria “Benfica” e estaria correcta. Eles conhecem-nos, rais’osparta…”

in Ontem vi-te no Estádio da Luz, talvez o único blog normalzinho afecto ao Benfica

Assusta-me que este tipo de acefalia esteja em permanência a afectar tanta gente que os torna incapaz de ver os factos pelo que eles são. E preocupa-me também que muito portista vá atrás da carneirada de forquilha em riste, quando daqui a umas semanas podemos ver um jogador nosso a fazer o mesmo. A reacção, vão ver, será exactamente a mesma, só que ao contrário.

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Curtos B&Bs dos Bs

Ainda a recuperar dos iminentes sinais do Armagedão que foram lançados em Londres quando as Spice Girls entraram em palco e a acordar depois do espectáculo cromaticamente entediante (ou será entediantemente cromático?) que encerrou uma Olimpíada no outro extremo do aborrecimento da cerimónia de encerramento, deixo algumas palavras sobre o jogo dos Bs hoje de manhã em Tondela. Não foi mau. Também não foi bom. Nota-se uma ingenuidade imensa na abordagem a muitos lances, alguns nervos em demasia, pouca qualidade no passe curto (será esta a imagem de marca que se está a tentar criar no FC Porto? ter jogadores que desde cedo desaprendem a passar uma bola em condições?), incapacidade de gerir o jogo com confiança e autoridade e a noção que ainda há muito trabalho pela frente. Não creio que vá conseguir ver todos os jogos, por isso não haverá B&Bs depois de cada partida dos Bs. Os B&Bs, ironicamente, ficam para os As. Ainda assim quero tentar ver mais vezes os miúdos (e o Zé António) a jogar e vou dar um salto ao Jorge Sampaio para assistir a uma ou outra partida ao vivo, horário permita. Baías e Baronis, rapidinhos para não enjoar nem fazer juízos antecipados da juventude:

 

(+) Dellatorre, Sebá e Tiago Ferreira O ponta-de-lança pela mobilidade e pelos dois golos. Remate pronto, boa movimentação na área e fora dela. O extremo porque parece ter um ritmo diferente dos outros (com a bola, entenda-se) e sabe usar bem o corpo. O defesa porque se nota que é bom e que sabe o que faz. É bom e só pode ficar melhor.

 

(-) Victor Luiz, Sergio Oliveira e Stefanovic com os pés e pelo ar O defesa é fraco, coloca-se mal na cobertura ao centro, perde lances fáceis e parece não proteger a bola em posse. O médio porque sinceramente não estou a vê-lo a evoluir ao nível de poder integrar o plantel principal mas espero estar enganado. Stefanovic porque apesar de mostrar bons reflexos na baliza, assusta quando sai dos postes para interceptar cruzamentos e o jogo com os pés é medíocre. Ou então estava só nervoso, pode ser isso.

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 0 Académica

foto retirada de record.pt

Melhor que ganhar um título é fazê-lo quando ninguém está à espera. Hoje, em Aveiro, foi mais um perfeito exemplo que nunca se pode desistir de tentar mais um ataque, só mais um cruzamento, só mais uma bolinha que passe pelos defesas e chegue à área, porque nunca se sabe o que pode acontecer quando o avançado lhe chega e lhe chega com boa intenção. Jackson abriu a conta, James limpou a imagem, Maicon confirmou o crescendo de forma, Moutinho confirmou a titularidade e Atsu confirmou que é um jovem que ainda tem algum pedaço para evoluir. No fundo, é mais um troféu para o nosso putativo Museu mas acima de tudo a noção que estes rapazes já perceberam uma coisa: o campeonato está aí à porta. E é a sério. Acima de tudo, parabéns aos nossos rapazes. Onwards to the grades:

 

(+) Fernando Esteve lá. Esteve sempre lá. Esteve em todo o lado hoje em Aveiro e se tivesse falado com alguém que passasse pela Lourenço Peixinho, Fernando também deve lá ter estado. Esteve no ISCAA (shoutout para o Bruno), esteve nos canais, esteve nos ovos e esteve no Estádio, naquela zona desterrada do mundo aveireinse, onde mostrou o porquê de ser o melhor trinco a jogar no país pela noção táctica, a perfeição na colocação defensiva, o cuidado na cobertura dos espaços, a facilidade de movimento lateral para guardar a bola longe do adversário…foi o grande suporte do meio-campo e o principal responsável por fazer com que o FC Porto fizesse grande parte do jogo no meio-campo da Académica. Ah, e venceu 2-1 em “cuecas” ao adversário directo, o que é sempre giro.

(+) Jackson, no golo e para lá dele O golo foi bom, dou-lhe isso. A colocação do corpo, o salto no meio dos adversários, a boa noção de baliza, gostei de ver isso tudo. Mas o que mais gostei de ver foi a participação em várias jogadas de ataque com toques curtos para o sítio certo ou com a tentativa de ficar com a bola controlada até poder finalmente soltar o esférico para um colega em boas condições. Estou entusiasmado com o rapaz, acreditem que estou, porque mais que ter o faro de golo “à Jardel”, mostra ter a inteligência de criar jogo “à Falcao”. E neste momento pode ser muito mais útil a segunda que a primeira. Ah, e recuso-me a chamar-lhe “cha cha cha” ou “merengue” ou seja lá qual for o epíteto mediático para parvos que lhe foi colado no México ou na Colômbia. Jackson. Soa-me bem.

(+) James, pelo empenho Um pequeno Baía mas um Baía sentido. O James que hoje vi em Aveiro pareceu-me mais solto, mais empenhado em ajudar a equipa e em fazer-se útil não só do ponto de vista da criação de lances ofensivos mas a tapar o flanco e a surgir de trás para a frente na ajuda aos colegas. Espero que continue assim.

(+) A garra que faltou na apresentação? Alguma esteve aqui. Quando saí do Dragão no passado sábado, faltou-me algo. Não estou habituado a ver jogos em que a relva fique no sítio, onde os jogadores não se empenham a cem por cento, onde há um medo subjacente de uma qualquer arreliadora ou perigosa lesão que os afaste dos jogos que realmente importam. E chateia-me, mas pouco, porque o idealista em mim diz-me ao ouvido: “espera pelos jogos a sério, vais ver que eles animam…imam…imam…”, porque ouço sempre uma espécie de eco quando o cabrão do idealista abre a matraca. Mas tinha razão, a bestinha. Hoje já vi Otamendi a raspar a relva, James a fazer o mesmo (aleluia, irmãos!) e Miguel Lopes a rasgar o flanco sem medo do lateral mais rijo. Vi capacidade de luta e gostei.

 

(-) Lucho Pareceu-me sempre com poucas pernas para o ritmo que queremos manter. Não querendo menosprezar a influência que o homem tem como capitão e líder de balneário, estamos a ver um Lucho com fraca capacidade para impôr um ritmo mais agressivo na posse de bola ofensiva e com uma troca de bola mais rápida até chegar ao ataque. É certo que com jogadores como Hulk em campo, Lucho reserva-se mais nas corridas e usa o “pass precise” de que Robson tanto falava para fazer com que a bola rode e o jogo progrida, mas para já vejo-o como um elemento que não faz a diferença para melhor. Questiono-me se terá estaleca física para aguentar as quarenta e tal partidas que vamos fazer este ano. Espero estar enganado.


Uma palavra para a Académica. Lutou sempre, nunca se inclinou de rabo empinado como já vi muitas equipas a fazer em terrenos que lhes são diferentes do normal contra adversários de calibre superior. Quando viu que não podia jogar para ganhar, optou por tapar e sair rápido quando pudesse. Não conseguiu e ainda bem. O FC Porto fez um bom jogo, um jogo de garra, vontade, luta. Ganhou bem, teve a sorte de conseguir marcar mesmo no final mas fez por isso durante os primeiros noventa minutos. Os outros quatro? Também contam. Estou mais esperançado para o campeonato, obrigado por me levantarem o espírito, meus caros!

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Ouve lá ó Mister – Académica


Amigo Vítor,

Lembras-te de Julho de 2011? Eram bons tempos, homem. Estávamos nós num solarengo mês estival, a sorver todos os raios de sol que se abatiam por esta nossa verde terra, reluzíamos ainda com os corpos bem tostados de um verão que nos batia no lombo e nos chamava pelo nome para mais uma cervejinha, só mais um fininho, até pode ser uma Guinness em homenagem aos heróis de Dublin. Havia alegria, felicidade, boa disposição e acima de tudo uma sensação de imbatibilidade que só o cabrão do Messi e os amigos lá da Catalunha se dispuseram a mandar abaixo.

Na altura, ainda antes do primeiro jogo a doer, também em Aveiro mas contra o Guimarães, escrevi-te isto: “Agora é que começa a doer, homem. Este Domingo, contra a malta da terra do Afonso, estás perante o primeiro monte da época. É preciso trepar, pá, é preciso subir ao cume desse pico e dizer bem alto a todos os portistas, cépticos e crentes, que estamos vivos, que não desaprendemos de vencer durante as férias (…)” e acreditei em cada palavra que lá pus neste virtual papel de carta que chamamos internéte. E ganhaste o jogo, com maior ou menor dificuldade, ganhaste o jogo e sacaste o primeiro troféu da época. Certo, só ganhámos dois, mas o primeiro é sempre marcante e a desfloração do treinador no momento da Supertaça (novo livro da Leya, brevemente numa banca próxima de si) chegou para ti como para tantos outros treinadores do FC Porto no passado. Este ano, já não és um virgenzinho nestas andanças e já podes aspirar a outros voos…certo?

Então deixa-os para depois. Há um troféu a ganhar e a Académica não pode ser um obstáculo intransponível neste arranque para os 40-e-tal-jogos-barreiras que vais apanhar pela frente. Há que cair em cima dos rapazes, obrigá-los a ir para trás, para trás, sempre para trás. Temos equipa para vencer e sabes tão bem como eu que os adeptos serão os primeiros a aplaudir-te se ganhares o jogo e trouxeres o caneco para eventualmente, lá para 2034, o colocares no nosso novíssimo Museu.

Não vou lá estar. Estarei em casa a ver o jogo pela têvê. Mas como sempre sabes que estou em Aveiro em espírito. Vamos a isso.

Sou quem sabes,
Jorge

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