Benford's law of controversy

Passion is inversely proportional to the amount of real information available.

Gregory Benford, escritor que se popularizou na área da ficção científica, cunhou esta frase no seu livro de 1980, Timescape. Tomando a Lei da Controvérsia de Benford como verdadeira, podemos concluir que a paixão aumenta à medida que a informação real se torna mais escassa, e diminui com o aumento da informação real. Parece simples a análise desta razão inversa e ainda é mais fácil fazer o paralelismo com o nosso muy amado mundo da bola. Depois deste intróito e a propósito do recente FC Porto – Sporting, permitam-me lançar um pequeno exercício numa arte pela qual tão poucos lusos gostam de deambular (optando antes por viver no próprio ecossistema mental que eles próprios criaram): a honestidade.

Falo pouco de arbitragens. Os portistas não quererão saber e os não-portistas, em bem maior número e com uma capacidade retórica questionável na grande maioria dos casos, obviamente pensarão que não falo porque estou a esconder os óbvios benefícios de que o meu clube está eternamente como feliz receptor. Momento, deixem-me mudar o chip porque está a sair um exagero de floreado e pouco aborrecido e estou muito mais perto da segunda situação que da primeira. Então prossigamos.

Ainda não tinha chegado ao carro e já meio planeta reclamava que o árbitro tinha ajudado o FC Porto a vencer o Sporting. Era por causa dos amarelos, do vermelho, dos penalties, de tudo o que pudessem encontrar para que a culpa fosse, mais uma vez, colada ao nosso nome. E não tardou para que umas dezenas de blogs, sites, jornais, revistas e o Rui Santos viessem a terreno proclamar que, mais uma vez, sempre mais uma vez, o FC Porto foi ajudado para vencer o jogo. E é esta acefalia perene que vinga na nossa comunidade, esta permanente assunção de ajuda ao FC Porto que todos adoram colocar a nosso favor, constantemente usando pouco mais que argumentos datados e quase sempre falaciosos. Porque se formos ver os factos (como fiz aqui há uns tempos por ocasião de uma famosa enumeração dos pecados de Duarte Gomes num Benfica vs FC Porto que foi feita pelo meu clube), não há nada como ser directo, frontal e honesto para tentar perceber que nem sempre o sol brilha quando olhamos para o céu mas se naquela ocasião calharmos de fitar o astro directamente, as putas das retinas acabam por ficar queimadinhas como um naco de carne que passou mais tempo do que devia na grelha por cima dos carvões. Factos, então.

  • O duplo-amarelo a Rojo: evidente. Tanto a primeira falta como a segunda, se bem que a segunda até pudesse dar para vermelho se tivesse mesmo acertado em James com a vontade que se lançou ao moço. No estádio fiquei com a nítida sensação que James tinha saltado para evitar o contacto e fugir de uma traulitada tamanha que o mandasse para a selecção mais cedo. Errei no golpe de vista, não errou o árbitro e deu bem o segundo amarelo.
  • O primeiro penalty: evidente. A culpa recai apenas em Cedric, que ingenuamente arrastou a bola com o braço esquerdo quando se tentava levantar depois de cair sozinho na área. O acto não é involuntário mas deliberado e Jorge Sousa, perto do lance, marcou o penalty sem questionar terceiros. Não precisava.
  • O segundo penalty: não-tão-evidente. Se o primeiro lance foi óbvio para todos, o segundo nem tanto. No estádio, no meu lugar do costume, não me pareceu falta. Vi o braço de Boulahrouz a aparecer pela direita de Jackson e a tocar-lhe ao de leve e observei que o avançado foi manhoso ao deixar-se cair. Não me pareceu que tivesse sido puxado com a tal questão da intensidade que tantos falam. Não me pareceu falta. Jorge Sousa vê o lance de um ângulo um pouco diferente e acha que é o suficiente. Aceito, como aceitaria se não marcasse nada ou se a situação acontecesse na nossa área, podendo questionar a decisão mas pela visão do evento compreendo que tenha decidido assim.
  • O número de amarelos: exagerado. Tanto para um lado como para o outro, mas pareceu-me evidente que houve vários lances de jogadores do Sporting que mereceram o cartão, tanto como alguns do FC Porto que fizeram por merecer o mesmo. Há árbitros que preferem controlar o jogo à custa da força em vez da pedagogia. Se fosse outro árbitro tinham provavelmente dito que não tinha mostrado cartões suficientes.

O problema é sempre o mesmo e sê-lo-á enquanto não quiserem baixar as lanças e perceber que nem sempre é possível avaliar para o lado que querem. Não vale a pena contrariar este jogo com lances de outro jogo, como falar de penalties marcados num lance em Coimbra ou outros que não foram marcados, apesar de em situações idênticas, numa partida na Mata Real. É futebol. E sobre o FC Porto, que putativamente já terá sido prejudicado este ano em vários lances de grande penalidade, ainda não falei. Mas se o fizer, será apenas sobre o lance em questão e na partida em análise. Porque os lances sucedem-se e as decisões são rápidas. E porque a única coisa que posso apontar ao trabalho de tantos outros árbitros como Jorge Sousa prende-se na postura assumida durante a partida.

Assim sendo, se quiserem continuar a ouvir os Duques deste mundo, so be it. Mas tenham em atenção uma coisa: esse tipo de atitudes só pode contribuir para esconder defeitos e falhas individuais e colectivas. Não deixem que a paixão ultrapasse a informação que está disponível. Porque só estão a esconder as vossas próprias incapacidades.

7 comentários

  1. Nem mais!

    Subscrevo inteiramente. Para mim, pura e simplesmente, o segundo penalty, não é falta. Mas como por aí já ouvi noutras ocasiões, em prol de outras cores, foi bem cavado.

    Foi um penálti mal assinalado, a sete minutos do fim, que matou o jogo? Alguns acreditam piamente que sim. Eu não digo que não. Mas tenho dúvidas. Muitas dúvidas…

    Quanto ao resto, é mais do mesmo. Há quem se sinta bem assim, o que havemos de fazer?

  2. Não podia estar mais de acordo, mas por outro lado até dá jeito que achem sempre que a culpa é dos outros. Estão tão entretidos a por as culpas sempre fora de casa que não resolvem os verdadeiros problemas que têm e as coisas ficam mais fáceis para nós.

    Claro que isto é triste se pensarmos no futebol Português, mas sendo egoísta acaba por dar um certo jeito ao Porto.

    Abraço

  3. De acordo com tudo tudinho. Há aqui um elemento, na análise dos amarelos, que creio pesar no bolo final: é que, depois do intervalo, não só os nossos jogadores foram inteligentes na abordagem aos lances (só um amarelo, no lance em que se lesiona Alex Sandro) como os do Sporting foram perdendo discernimento. 8 cartões amarelos em 45 minutos. Rojo é o caso mais evidente desse nublamento. Acho que o critério foi, salvo erro, de início ao fim o mesmo. Foi pena ter sido este no início, mas nós soubemos (estar a ganhar ajuda, e o adversário não obrigar a fazê-los ainda mais) agir de acordo com as circunstâncias.

    Ainda assim, não deixa de ser curioso ter bastado uma jornada para Marco Silva, treinador do Estoril, ter muita razão nas declarações que fez sobre a expulsão de Gonçalo Santos: «Não percebi, acho que ninguém percebeu. Nem um ano tenho de treinador e não vou comentar a arbitragem. Espero continuar assim. Sei que o papel deles não é fácil, mas se comentasse quando sou prejudicado teria de fazê-lo quando sou beneficiado também, e isso ninguém o faz. Agora, a expulsão marca claramente o jogo, porque tínhamos acabado de fazer o 0-2 e não pensava que íamos sofrer tanto.»

    Um abraço,

  4. Jorge,

    É tudo uma questão de cultura e essencialmente da cultura da exigência.

    Não sei como eram os adeptos na longinqua era pré-Pinto da Costa, mas nós habituamo-nos a ganhar e a ganhar muito e sabemos que não são os árbitros que fazem a diferença.

    Ambas as equipas alfacinhas gostam muito dos árbitros, como está mais que estatisticamente provado que todos os 3 grandes, no final do campeonato, são prejudicados e benefeciados em medidas idênticas, não fosse o campeonato uma prova de regularidade.

    O que difere de um adepto Portista dos outros, é que nós fomos escandalosamente prejudicados em Barcelos, e atacamos o treinador e a equipa, pois é muito mais grave para nós não termos jogado a ponta de um corno, do que ternos sido negado 2 penalties que nos levariam à vitória mas sem qualquer fio de jogo.

    Não nos queixamos do Penalty que não nos foi assinalado contra o Rio Ave, pois mais uma vez atacamos a nossa qualidade de jogo.

    E nos jogos que ganhamos e somos prejudicados mesmo assim, ignoramos isso e muitas vezes cascamos no VP e equipa por termos ganho e não termos jogado nada.

    Os adeptos Portistas querem a equipa a jogar bom futebol e a dar espectaculo e sabemos que se o fizermos, está feito meio caminho para as nossas constantes vitórias nacionais e internacionais.

    Jorge… só te digo isto… graças a Deus que sou Portista!

    1. Voçê disse tudo !
      Quando perdemos procuramos erros nossos antes dos erros dos outros e é isso que nos faz melhores .
      Graças a Deus que sou Portista
      A análise em cima está mais que correcta e enquanto pensarmos a Estrutura dessa forma poderemos almejar mais êxitos!

      Cumps

  5. Concordo.
    O primeiro penalty e ridiculo mas e penalty. Nao sei o que passou pela cabeca do Cedric, mas na repeticao e evidente que ele ve a bola a rolar para as suas costas e move o braco por forma a controlar a bola.
    No segundo nao vi falta, mas as repeticoes mal mostram o lance. Pela forma como o Jackson cai pensei que pudesse ter havido um encosto com as pernas ou ancas mas nenhuma das repeticoes e esclrecedora. Dou o beneficio da duvida ao arbitro.
    Como dizes ha amarelos mal mostrados, mas tambem houve amarelos que ficaram por mostrar.

    O lance do Alex Sandro, pareceu-me haver falta sobre o jogador do Porto ja que o jogador do Sporting atira as pernas para a frente dele quando me parece que o Sandro tem a situacao controlada. (grande jogador este Sandro tem uma aceleracao incrivel)

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