Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 0 Estoril

Deve haver uma expressão melhor que a habitual para este tipo de jogos. “Serviços mínimos”, francamente, não consegue transmitir em pleno o tipo de partida que assisti nesta noite no Dragão. “Consultoria em secagem de tinta”, talvez. “Sleep-cardio”, também pode ser. Foi um bocejo gigantesco, intercalado por algumas boas conversas entre portistas que se dão bem e só se encontram ali mesmo no estádio, no meio do público que estava tão interessado no jogo como um touro que vê bandarilhas a dirigirem-se para o lombo. O jogo entrou numa espécie de estado de coma pelos quinze minutos, altura do penalty bem marcado (sem panenkadas) por Jackson, e raramente despertou desse estado vegetativo, com alguns espasmos lá pelo meio a animar o povo. A vitória foi tão fácil que terminámos com um meio-campo composto por Fernando, Castro e Izmaylov. Sim, leram bem. Vamos a notas:

(+) Lucho. Enquanto esteve em campo foi dos melhores jogadores da equipa pela simples razão de jogar com a cabeça levantada enquanto que a maioria dos colegas parecia procurar lentes de contacto perdidas na relva do Dragão (que pareceu melhorzinha, ainda bem!). Melhor no passe que nos últimos jogos, recuou bastante para construir o jogo a partir de zonas mais atrasadas, mas conseguiu sempre encontrar as melhores linhas para os quase-imóveis-colegas. Saiu para descansar porque vamos precisar de um Lucho em condições na quarta-feira.

(+) Maicon. Já antes do jogo tinha pensado que era um jogo importante para o rapaz, especialmente depois da última exibição no Dragão lhe ter valido uma data de assobiadelas dos atrasados que insistem nessa parvoíce. Uma pequena redenção, nada de mais, que a malta quer é que se jogue em condições e que jogadores como Maicon não tentem emular Madjers ou Futres. E foi exactamente isso que fez, jogou simples, prático, a aliviar para fora, para longe, para cima, sempre que foi necessário. O golo fez com que voltasse a receber aplausos, totalmente merecidos.

(+) Defour e Atsu, na primeira parte. Defour tem o que poucos conseguem ter em todo o plantel do FC Porto: inteligência no controlo da bola. Atsu também tem algo que poucos conseguem ter no plantel do FC Porto: velocidade. E ambos puseram estas duas características em prática, com o belga a rodar bem a bola de uma forma horizontal no meio-campo, um pouco à semelhança de um Meireles dos bons tempos, ao passo que o ganês surgiu várias vezes pelo flanco esquerdo do ataque, sem o apoio de Alex Sandro (que jogo de trampa, homem!) mas a conseguir safar-se muito bem da marcação rija dos defesas do Estoril. É importante que estas “segundas escolhas” (que acabam por ser “primeiras” uma grande parte das vezes) continuem a jogar e a dar garantias que temos alternativas para as lesões e abaixamentos de forma dos titulares. Baixaram de produção na segunda parte, mas gostei dos primeiros quarenta e cinco minutos.

(-) Pronto, joguem devagar. Mas não tanto! Se Sir Bobby tivesse estado no Dragão hoje à noite, decerto teria chegado ao final do jogo e perguntado: “I don’t perceber, isto foi um match?”, e mandava pôr pinos no relvado para começar o treino. É verdade que a equipa até entrou bem, com força e vontade de resolver o jogo, o que logo aí me faz questionar o porquê de não o fazer em todos os jogos…mas isso são outros meios-milhares. Mas a partir do momento em que o segundo golo entrou na baliza de Vagner…a equipa travou. Era expectável para qualquer portista que siga o calendário e a evolução da equipa durante a época e ninguém estranhou que o nível baixasse. Mas…e há sempre um mas…foi um exagero. Mesmo. Alex Sandro começava a correr sozinho sem soltar a bola e perdia-a consistentemente; Fernando “picava” a bola por cima dos oponentes para depois a ir buscar a seguir, nem sempre com sucesso; James ficava à espera que a bola lhe chegasse aos pés, não se mexendo e esperando que o adversário fizesse o mesmo, o que raramente aconteceu; Otamendi falhava intercepções, Danilo estava miserável no passe e inexistente no ataque. E a vontade de jogar só apareceu de novo com Castro, que naquele estilo nervoso que contagia os adeptos com mais nervosismo ainda foi dos poucos que abanou com a malta. Nem Izmaylov nem Varela conseguiram trazer dinâmica à equipa, que atirava a bola para Jackson, então perto do círculo central, para que a dominasse e recuasse para atrasar a bola a um qualquer colega dez metros ao lado. Não houve brio de mostrar aos adeptos algo que fizesse da noite mais interessante do que a simples, fria e estática certeza que a vitória era nossa, sem brilho nem grande alegria. Será daqueles jogos, como tantos outros, que nem no rodapé da história ficará, mas já vi dezenas de jogos que antecipam importantes confrontos europeus…e este entra sem dúvida para a lista dos piores.

(-) James. Está mal e não vejo evolução nos últimos jogos. Sim, veio de lesão, mas já reapareceu há alguns jogos e continuo a não ver nem um brilhozinho do James da primeira volta. Lento demais, desconcentrado, com pouca acuidade no passe e num estado de quase permanente descompressão física e táctica. Precisamos do James que rasgou defesas com passes perfeitos, que driblava fácil e passava simples. Precisamos desse James, caso contrário o modelo de jogo da hibridização estrutural ataque/defesa deixa de fazer sentido nos moldes actuais.

(-) A imagem de um campeonato desiquilibrado. O FC Porto não jogou sequer a passo, deixou-se estar sem cansar, sem arriscar lesões, sem preocupações excessivas com pressão e posse de bola. O Estoril começou a pressionar quase em todo o campo e manteve essa pressão o jogo todo. Quantas situações de verdadeiro perigo criou para Helton? Quantas? Lembro-me de um remate torto, dois cruzamentos tensos mas sem destinatário seleccionado…e nada mais. Noventa e quatro minutos de passeio para o FC Porto contra o sétimo classificado da Liga. Percebem agora porque é que fico tão chateado quando coloco sequer a hipótese de perder pontos para estes fulanos?!


Já vi tantos jogos destes que nem me preocupo. Entedia-me um bocado mas sinceramente já nem me chateio com isto. Ainda se o Estoril mostrasse um mínimo de argumentos ofensivos, ainda me podia preocupar, mas nem chegou para tanto. O que interessava era a vitória e essa, com os três pontos que tanto contam, ficou deste lado. E agora, meus caros…tudo a preparar Málaga, porque esses rapazes jogam bem mais que estes…

6 comentários

  1. Terminamos o encontro com Fernando, Castro e Ismaylov (que substituiu o Defour) no meio campo.
    O James no final do jogo nem devia precisar de tomar banho e podia dobrar o equipamento para voltar a usar na quarta-feira, pois nem deve ter suado de tão pouco que correu

  2. Depois de um calendário rigoroso e antes de um jogo para a Champions, não me choca este tipo de exibições, tanto mais que ela aconteceu depois de quase garantida a vitória.

    É verdade que esta equipa, mesmo em poupança, tinha a obrigação de oferecer melhor espectáculo.

    Agora todos esperamos um bom desempenho frente ao Málaga, até para justificar de algum modo esta economia de esforço.

    Um abraço

  3. O mais triste é que o Porto tem demonstrado é quebra física nesta altura do campeonato, tal como o Benfica em anos anteriores, não só por azelhice da preparação física como por incompetência e teimosia do nosso treinador que teima em meter sempre os mesmos jogadores, como se o nosso plantel tivesse 11 ou 12 jogadores. Espero que isso não mos custe o campeonato. Abraços Jorge.

  4. Algumas notas:

    Primeiro, acho que o defeito não foi jogarem devagar. O problema foi jogarem depressa isoladamente e atabalhoadamente (não me lembro de mais nenhum mente).

    Segundo, enganei-me redondamente. O apitadeiro “Nuno” não fez nenhum serviçinho. Apenas a conciencia pesada permitiu fazer uma arbitragem a “LA BENFICA” o que nos beneficiou durante todo o jogo. Nomeadamente o penaltie à Benfas.

    Terceiro, agora compreendo melhor aquela frase do Vitor Pereira: ” A Equipa, agora joga como eu quero” – Acho que foi para há uns tres ou quatro jogos atrás. Após uma goleada.

    Quarto: Acho que os jogadores tem percebido bem a mensagem. “Temos de mudar de chip”, “A equipa tem que dar o máximo, por que o jogo de Málaga ainda está muito longe”. Acho que depois do jogo com o Málaga em casa o cérebro parou.

    Quinto: Hoje a Académica antes de sofrer o golo do empate contra o Sporting criou mais oportunidades de golo ( para o 2- 0 ) que nós em Alvalade. O que diz bem do poderio do Sporting, e também do nosso.

    Sexto: Ontem, custou ao nosso treinador dizer o obvio. Ou seja, ganhamos por 2 – 0 mas não jogamos nada ( mais parecia as correrias do Benfas). Salva-se o golo trabalhado do Maicon aos 5 minutos. e o penaltie que caiú do céu (do Nuno) aos 13.

    Cumprimentos,

    Rui Miguel

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