Haters gonna hate

Estaria disposto a apostar que se perguntasse à grande maioria dos adeptos do FC Porto: “Que perfil deve ter o treinador ideal para o nosso clube?”, salientando que não se deveriam referir a nomes em concreto, a resposta inclinar-se-ia para três conceitos: ambicioso, trabalhador e portista. E por isso sempre achei curioso que Vitor Pereira fosse considerado por tanta gente como um treinador que nunca seria digno, virtuoso, adaptável a um clube como o nosso. Foi sempre uma espinha que se me atravessou na goela e deixei-me enredar pela minha tradicional postura de defender o trabalho e a honestidade acima de tudo, defendendo também por isso o nosso treinador. Porque sempre acreditei que um líder tem aquele rácio certo de inspiração vs transpiração que faz dele a pessoa certa no lugar certo e durante muito tempo acreditei nisso com todo o meu coração. E digo também que Vitor Pereira continuaria a ser um treinador perfeitamente capaz de continuar a liderar o FC Porto se lhe fossem dadas as condições que não teve no primeiro ano nem no segundo, por motivos completamente diferentes.

Acho curiosa a recepção dada a Paulo Fonseca depois da que foi dada a Vitor Pereira, dois anos antes. Quando Vitor chegou ao pouso, naquela tarde de Junho de 2011, foram muitos os portistas que torceram o nariz. Temiam o estigma do princípio de Peter, desconfiavam da capacidade de um adjunto desconhecido com pouca experiência como treinador, sem sequer ter passado pela primeira divisão antes de chegar ao Dragão. Era um gajo com ar de recém novo-rico, com discurso enrolado, nervosismo em frente às câmaras e uma aparente inadaptação a um mediatismo que lhe parecia tão alienígena como inevitável. E Vitor manteve-se forte para fora, por muito que estivesse fragilizado por dentro, em nada ajudado pela grande maioria dos adeptos, tão voluntariosos em afirmar que o futebol era brilhante quando as coisas correm bem e os primeiros de arma na mão, prontinhos a arremessar o primeiro saco de fezes verbais na direcção do treinador, da SAD, de Pinto da Costa, de Antero e de outros adeptos que apoiavam o treinador.

E vejo agora chegar Paulo Fonseca, que tem condições para triunfar no nosso clube (dependendo de qual venha a ser o vosso critério de sucesso), já começa também a ser visto com desconfiança. Porque é do sul, porque só fez uma temporada na primeira, porque só lhe compraram trampa, porque tem barba, porque assinou no Porto Canal em vez de o fazer no estádio ou porque usa blazer. É um eterno descontente, este adepto, e é tão fácil de arranjar desculpas para se poder colocar do lado dos naysayers daqui a uns meses. Dizer mal, é dizer mal, é sempre a dizer mal.

Por isso, Vitor, boa viagem para Riade. Vais apanhar árabes iguaizinhos aos nossos, porque o futebol, meu caro, é igual em todo o lado.

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