Baías e Baronis – Benfica 3 vs 1 FC Porto

Dói, dói muito. Dói mais porque a eliminatória esteve ali, ao nosso alcance, por muito que possam reclamar de penalties e jogo rijo e perdas de tempo e fitas. Ali, naquele relvado, estão os culpados de mais um naufrágio nesta eterna travessia do longo oceano de adamastores que se transformou esta temporada. Ali, onde no passado saímos tantas vezes de cabeça erguida para os céus, a mostrar a força da nossa identidade, da nossa imagem, do nosso querer, foi onde caímos com estrondo, sem que tivéssemos tido a cabeça e o coração para evitar a queda. O Benfica venceu bem, foi melhor, mais eficaz, mais inteligente, mais equipa. Nós, ficamos com a imagem de um conjunto de jogadores fracos na cabeça, lentos nos pés e amorfos na alma. Dói, vai doer mais durante meses…e esta puta desta época nunca mais acaba. A notas:

(+) O golo de Varela. Na única vez que Silvestre conseguiu fazer alguma coisa de jeito, foi brilhante. Esqueçamos que passou o resto do tempo em campo a tentar receber bolas pelo ar enviadas pelos colegas ou a fugir da marcação dos adversários sem que conseguisse produção ofensiva digna de um shot de limoncello. O golo é dos bons, desde a finta de corpo à aceleração em flecha para a área, acabando com um remate perfeito pelo meio das perninhas de Artur. Pena que não tivesse feito mais nada durante todo o resto do jogo.

(-) Oh meu Porto da eterna mocidade. O jogo do Dragão ficou marcado por uma terrível falta de eficácia, que nos deixou à mercê do adversário. Hoje, foi a constatação mais evidente de que uma eliminatória a duas mãos tem de ser encarada no primeiro jogo como se todos os lances fossem o último, para que a vantagem possa ser suficiente para aguentar a enxurrada da segunda mão. Não o fez e deixou assim o ónus dessa ineficácia para ser colmatado com uma exibição mais eficiente neste jogo. Sabendo disso, a equipa entrou em campo com algum medo e até Siqueira ter sido (bem) expulso, pouco ou nada fez para tentar marcar um golo. Apanhando-se em vantagem numérica, mandou no jogo. Pegou na bola, rodou-a, criando pouco perigo, mas com a eliminatória empatada cheguei a acreditar que com mais alguma acutilância e velocidade pelas alas, as coisas podiam sorrir para o nosso lado. Veio o golo, de força, de garra, por um homem que nada tinha feito até então mas que poderia servir para agrupar as forças, reunir mais confiança e acabar com o inimigo de uma vez por todas. E…nada. Nada. Um enorme vazio apoderou-se de todos os jogadores, com uma incapacidade de imberbes coitados, sem capacidade para trocar a bola com perigo, perdendo duelos após duelos, desperdiçando lances ofensivos consecutivos em fugazes tentativas pelos flancos, em zonas de debilidade tremenda, sem apoio ofensivo, sem overlaps, sem mentalidade de vitória. Luís Castro não ajudou, tremendo pela primeira vez desde que o vi, enfiando Josué para parar o jogo quando apenas um golo separaria o Benfica do Jamor. Também ele teve medo, medo de uma equipa a jogar com dez, medo de um ataque avassalador de uma equipa com menos um homem, medo do que podiam os outros fazer sem acreditar no que nós conseguiríamos atingir. Josué em campo em vez de Ghilas ou Quintero. Medo, nas faces, nas expressões, nas pernas. Medo de onze contra dez. Mas foram dez homens comparados com onze meninos, dez jogadores contra onze pirralhos medrosos de tudo, desconfiados deles próprios e com a fibra competitiva de uma folha de gelatina ao vento. Quaresma, que caiu nas manhas de Maxi durante todo o jogo. Herrera, que desapareceu sem sequer ter aparecido. Jackson, perdido no meio dos centrais sem que a bola lhe chegasse. Fernando, fraco nos lances divididos (sim, até tu, Reges!). Danilo, a dar mais espaço a Gaitán que um merdas de um lateral de uma equipa amadora. Alex Sandro, sem força nem altura nem posicionamento no golo de cabeça de Sálvio. Fabiano, com culpas no primeiro e no terceiro golo. Mangala, trapalhão e permissivo. Enfim. Tantos e tão poucos, é o que somos. Uma equipa é bem mais que a soma das suas partes e o FC Porto, este ano, poucas vezes tem conseguido ser uma equipa. E isso, meus caros, é o que mais dói. Perder na Luz dói sempre, mas quando se perde desta forma pouco há a dizer e estico-me nesta prosa solta e desligada porque a tristeza vai assumindo a proporção habitual cá dentro e o discurso sai pouco fluido, como o nosso jogo. Já houve tempos em que apagámos a Luz. Hoje, fomos nós que nos apagámos Nela.


Só uma pequena nota: perdemos o campeonato para o Benfica, a Taça para o Benfica e também podemos ter perdido a Liga Europa que o Benfica pode vir a vencer. E a Taça da Liga? Esse miserável troféu…perderemos também para o Benfica?

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