Fernando, ou a prova que os nossos melhores trincos só usam um nome

fernando

Vi Fernando a chegar no Verão de 2007, com cara de puto. Não o conhecia, apenas tinha ouvido falar do rapaz algumas semanas antes aquando do torneio sul-americano de Sub-20, que servia como qualificação para o Mundial sub-20 e para os Jogos Olímpicos de 2008. No torneio (onde partilhava o balneário com Pato, Willian ou…Leandro Lima), em jogo contra o Chile, Fernando tinha sido expulso por agredir o árbitro. Um bom arranque, portanto. Chegou, fez a pré-época (como lateral direito na maioria dos jogos) e foi recambiado para o Estrela da Amadora, onde passou a época 2007/2008 em bom plano. Voltou em 2008, com Jesualdo a colocá-lo em campo em pleno Estádio da Luz, no dia da estreia. Depois de vários anos com Paulo Assunção a comandar o meio-campo, todos temíamos a sua ausência, apesar do ódio que gerou entre a malta com a forma como geriu a sua saída. Fernando limpou qualquer problema que pudéssemos ter em relação a isso.

Ao longo destes últimos seis anos, Fernando disputou quase 250 jogos pelo FC Porto. Não estarei a ser exagerado se disser que na grande maioria deles foi um dos melhores em campo. Incontáveis intercepções, duzentilhões recuperações de bola, milhentos cortes de carrinho e uma inegável presença no nosso meio-campo, tornando-se essencial mesmo com a passagem de vários treinadores com diferentes métodos e opções para a mesma posição. Fernando secava tudo à sua volta, imperando na sua zona como poucos tinham feito nos últimos anos, transmitindo segurança à defesa e consistência na transição defesa/ataque. Não é o melhor do Mundo com os pés, nunca pensou ser. É um destruidor, um varredor no meio-campo, um homem que trabalha para que os outros produzam, um jogador que se esforça para que outros não precisem de o fazer.

Vejo-o a sair com um misto de emoções. Por um lado é uma figura que se perde, um marco que sai do clube e que cumpriu até ao fim com as suas obrigações. Podia ter saído em Janeiro. Não o fez. Acabou por sair, “à Deco”, alguns meses mais tarde, com contrapartidas financeiras e de bem com os adeptos e com o clube que lhe deu fama no mundo da bola. Fica uma imagem: o Fernando do FC Porto vs Sporting em 2012, no último jogo caseiro da época, quando foi expulso e saiu a brincar com os adeptos nas bancadas debaixo de uma enorme ovação. Escrevi na altura:

O maior. Foi uma simbiose perfeita com os adeptos, que cantam o seu nome depois de um início de temporada que enervou toda a gente pelo desconhecimento da sua permanência ou não no plantel. Para quem não viu ou não reparou, depois de Fernando ser expulso (bem, apesar do primeiro amarelo ser completamente escusado pelos protestos exagerados) mandou um pontapé na bola para a bancada e procedeu a sair de campo a incentivar o público para continuar a gritar e a apoiar, gesticulando como se estivesse a dançar com uma data de miúdos num ATL. Brincou, o nosso Fernando, ao contrário do que fez em campo, onde fez mais um bom jogo, firme e seguro contra um meio-campo adversário bem mais dinâmico e mexido. Aplaudi-o de pé. Mereceu.

Que sejas feliz, caríssimo. Fizeste por honrar o teu nome e o facto de usares apenas o primeiro, na tradição de grandes trincos da história recente do clube (André, Doriva, Paredes, Costinha, para dar alguns exemplos). Fizeste-me torcer um bocadinho mais pelo City na próxima temporada.

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