O percurso é sempre o mesmo

Olho para as sapatilhas enquanto o pensamento voa a velocidades parvas, com sinapses a disparar pelo cérebro fora e penso: está na hora. Não há árbitro? Onde estão as equipas? Está na hora? Já está, cheguei aqui há mais de vinte minutos e já vi o Imbula a mandar uma bola prá bancada e o Alex a cruzar para o fim do mundo e até o Varela parece com vontade. Está bonito, está. Está na hora? Está quase.

Os momentos que antecedem um jogo do FC Porto são habitualmente joviais nestes primeiros jogos da temporada. Conversa-se para aqui enquanto as nádegas se vão reconfortando à cadeira que é nossa durante umas horas de um final de tarde de sábado. Uma hora ou coisa antes, saio do café de camisola no lombo, calorzinho na nuca e sorriso no rosto e começo a navegação automática que me leva ao Dragão. Já houve tempos em que fazia o mesmo percurso a caminho das Antas, anos depois de me fazer homem e de tomar café no mesmo sítio, com a mesma companhia e os mesmos tiques e nervosismos. Andava a passo apressado pelos meandros das ruas em que o estádio se via ao longe, percorria as ladeiras dos campos de treino e atravessava o apertado corredor a caminho da bancada que ficava mesmo por cima do relvado onde os rapazes aqueciam para o jogo que se seguiria. Outrora João Pinto, Semedo ou Capucho, agora Maxi, Imbula ou Brahimi. A nacionalidade muda mas o espírito permanece, sempre com força, sempre com brio.

Vejo muita gente a caminho, iguais a mim, diferentes de mim, altos e baixos, gordos e magros, barbudos e barbeados, sorridentes e sisudos, conversadores e mudos. Vamos todos para lá. Vamos continuar a ir todos para lá.

3 comentários

  1. São emoções que, por muito que embiquem por uma outra avenida diferente, desaguam inevitavelmente no mesmo sítio.

    Dás-lhe tanto, mas tanto.

    Abraço, Jorge.

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