O vazio

alex-sandro

Detesto quando tenho de substituir uma peça da mobília. Os hábitos são perenes e criam-se ao longo de alguns anos a olhar para o mesmo naco de madeira que ali permanece estóico, fiel, duradouro ao ponto de pensarmos que será nosso para sempre, mint condition como quando entrou pela primeira vez pela porta, arrastando consigo todo o fausto de uma perspectiva sem presente nem passado, só com futuro. O adorno perfeito, para ser um dia legado aos seguintes, aos que por aí ainda virão. Mas há pedacinhos que se vão lascando, raspas que se vão retirando, a marca da uma etérea garrafa de tinto que foi deixada sem preocupações constantes de limpeza ou asseio e que fazem dela um bocadinho mais especial, mais presente, mais nossa.

Lembro-me quando comprámos esta peça em particular. Tínhamos outro móvel mais antigo que serviu firme durante anos e que fez com que a sala tivesse outra luz, outro fulgor depois de anos sem rei e com poucos roques. Durante três anos vivemos o enobrecimento de uma peça que mostrou a sua valia e que…oh foda-se, acaba lá com a metáfora, Jorge, já chega.

Alex Sandro é mais um numa longuíssima lista de bravos. Claro, enervava-me até à ponta dos cabelos que não tenho, chateava-me a atitude displicente em jogos de menor cartaz, aborrecia-me nas subidas pelo flanco quando nem sempre teria o seu próprio rabo protegido, arreliava-me tanto (TANTO!) quando se mandava em dribles consecutivos pelo centro sem olhar para o que conseguiria fazer em seguida. Eras um sacana, Alex. Eras um bom sacana, Alex. Eras e continuarás a ser um estupor dum defesa de valia mundial, que como tantos outros só vamos valorizar quando já cá não estiveres. E já não estás. Como Deco ou Drulovic ou Lucho ou Hulk, a tua saída deixa um pequeno vazio que vamos tentar encher.

E o mundo continua. Para cada Falcao há um Jackson, para cada Assunção há um Fernando e até um Helton para um Baía. Há muitos e muitos. E este ano há um Maxi pós-Danilo, um Danilo pós-Casemiro ou, no caso em questão, um Cissokho pós-Alex. Vou sentir falta das incursões pelo centro, das fintas no umpraum e das corridas pelo flanco. E desse sorriso que vai ser substituído por outro mais honesto mas menos maroto. Boa sorte, puto e desculpa qualquer coisinha. Um gajo chateia-se com pouco quando não tem mais nada com que se entreter.

7 comentários

  1. Tenho pena q vá, mas quando é assim e devido à situação (final de contrato), foi o melhor para as duas partes…
    E tb agora temos lá o Cissoko!!! Tou com o feeling q vai ainda dar muito nas vistas.
    Abraço a todos.

  2. Brilhante post. A mobília está sempre em rotação, infelizmente. Longe vão os tempos em que o que se tinha era para durar e não para vender a um novo dono mais rico e que a manche com nódoas de um tinto mais caro…

    Abraço

  3. Gostei do poste! Mas acho que todas as saídas é a menos sofrível. O Cissokho, com mais idade e menos dentes, é capaz de cumprir com o lugar. Agora era preciso ter um miudo para despontar atrás do Cissokho, senao se aposta no Rafa, nem no Quillhones e Kayembe idem, entao é melhor comecar a correr estes gajos todos e trazer alguém que valha a pena, portugues de preferencia mas senao puder ser que tragam o Barcelona B. Nao acho é necessário fazer um grande investimento.

    E agora é aproveitar a guita e meter um gajo de meio-campo. Criativo, box-to-box, o que quiserem, acho que o mais importante é que precisamos dum meio centro que marque golos, coisa que nao temos em grande quantidade na equipa, nao contando con Bueno e os penalty’s do AndréX2.

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