McClellan e os barcos largos

General-George-McClellan

Sou aquilo que se pode chamar um “buff” da Guerra Civil Americana. Leio blogs e artigos sobre o assunto, ouço podcasts, palestras e tertúlias, compro livros com mapas, descrições das batalhas físicas e políticas, um bocado de tudo que consigo descobrir. Fascina-me o conceito da guerra fraternal e acima de tudo a forma como os eventos se desenrolaram, desde os combates políticos do “antebellum” até à rendição em frente ao edifício do tribunal de Appomattox, continuando pelos eventos da reconstrução que fez do país um outro inferno no pós-guerra. Muito há para dizer sobre o assunto e não há teclas com resistência suficiente neste portátil onde escrevo para aguentar o que se poderia contar sobre isto. Ainda assim, vou tentando, pedaço a pedaço.

Um dos generais mais famosos da União (os do Norte, que vestiam de azul, vejam lá a coincidência) era um jovem que dava pelo nome George B. McClellan. Formado em West Point, seguia uma escola napoleónica de comando e assumiu uma pose quase messiânica em relação ao exército que comandava, “The Army of the Potomac”, em homenagem ao rio que atravessa Washington, a capital do país. Era idolatrado pelas tropas desse mesmo exército e foi chamado por Lincoln para comandar todos os exércitos da nação, uma espécie de Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, após um primeiro desaire numa incursão a sul, onde se travou a primeira batalha da guerra. Impiedoso nos comentários em relaçao aos seus iguais e até superiores, tinha um ar e um porte arrogante, febril com o poder que lhe era atribuído e ciente que o peso da responsabilidade às suas costas lhe dava uma liberdade para agir dessa forma quando outros nem perto lá chegavam. A uma dada altura, decidiu nomear um chefe de gabinete o seu próprio sogro, Randolph Marcy, debaixo do qual tinha servido alguns anos antes.

Ao planear uma movimentação de tropas para procurar bloquear o reforço de posições sulistas nas margens do rio Potomac, onde baterias de artilharia estavam já bem colocadas e impediam o tráfego normal de barcos nortenhos pelo rio abaixo (ou acima, francamente não me lembro, mas creio que seria abaixo), McClellan ordenou a construção de vários barcos para que pudessem transportar algumas dezenas de milhares de homens através de pontes construídas e colocadas pelos departamentos de engenharia. Tanto ele como Marcy ficaram responsáveis pelo plano e pela construção dos mesmos barcos, que transportariam as pontes para que os homens pudessem atravessar o rio em segurança, bem como o material que os auxiliaria no terreno. Ora acontece que os barcos foram construídos para passar através dos vários canais que conduziam o fluxo natural do rio, interligados por sistemas de comportas, um pouco como o nosso Douro. Ora o que aconteceu é que os barcos chegaram às comportas e não passavam porque tinham umas dezenas de centímetros de largura para lá do que seria possível enfiar pelas portinholas. Resultado: uma operação que tinha demorado meses a preparar e afinar foi (se me perdoam a piadola) afundada e mais de um milhão de dólares gasto para nada, tudo fruto da incompetência de meia-dúzia de homens vistos como figuras incontornáveis no panorama actual do país.

Não vou sequer fazer paralelismos com a nossa situação actual. Quem quiser, esteja à vontade.

16 comentários

  1. Muito, muito bom!!!!!

    Rui Silva

    PS- sou sportinguista mas frequento este blog por causa da qualidade da escrita e da lucidez do escriba (normalmente estão relacionadas)

  2. “Manifest Destiny was the idea that the United States was destined by God to enlarge its territory to a significant degree. The idea did not explicitly state how much territory the US deserved to have. However, it did state that the country deserved to be larger because it was superior to other countries. It was superior in its religion because it was a Protestant country. It was superior in its politics because it was a democracy. It was superior racially to any country not made up of “Anglo-Saxons.”

    This idea in itself did not really divide the nation. The vast majority of people believed in it. It did cause problems, however, when combined with the issue of slavery. The belief in Manifest Destiny caused the US to expand. For example, it brought about the war with Mexico that got the entire Southwest for the US. This caused problems because it led North and South to disagree over whether the new territory should be free or slave. This disagreement is what really helped bring about the division of the nation and the Civil War.

    Thus, the idea of Manifest Destiny facilitated the division of the nation but did not cause it.”

    1. sim, o Jackson puxou bem pelo conceito. Andrew, não Martinez. e esse é um tipo de visão que muitos de nós tivemos durante muito tempo e que hoje em dia já não colhe. a questão é sempre a mesma: quando chegas ao destiny, o que fazes com ele?

  3. Isto ja pisa o dominio da uotpia filosofica, mas ao destino nunca se chega porque ele e como o universo, elastico e infinito.

    Hiiiii, a conversa agora fritou a serio, mas pronto… fazendo a devida comparacao. Quando estavamos na mode cima directiva e futebolistica, deviamos ter equacionado avancar devagar, mas avancar. Mas nao, arriscamos tudo num Big bang que em vez de dar constelacoes e planetas lindos, so deu merda.

  4. O Comandante Supremo das Forças Armadas que recrutamos disse que era General, quando na verdade era apenas um amanuense da ETA.

    1. isso é assunto do meu “outro” clube :) a ideia é que o dinheiro não compra felicidade se não houver critério onde o aplicar….entre outras coisas…

      1. mas ouve lá, consta que ele está a ser distribuido por friends & family… não sei como podes dizer que é aplicado sem critério!

Deixar uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.