Porto 1987-2012: 25 anos no topo do Mundo

As novidades devem ser dadas na primeira pessoa mas como podem compreender é mais fácil espetar com a nova aqui no burgo. Assim sendo, venho informar que será lançado no próximo Domingo o livro “Porto 1987-2012: 25 anos no topo do Mundo“, elaborado pelo sociólogo/jornalista/portista/porreiraço João Nuno Coelho, estudioso e escritor de livros sobre futebol. O livro consiste em diversas crónicas que incidem sobre grandes momentos do FC Porto durante os últimos vinte e cinco anos, marcando as bodas de prata da conquista em Viena que nos abriu as portas da Europa e do Mundo da forma tão brilhante quanto todos se lembram ter sido.

Entre os autores que participam no livro, transmitindo a emoção pessoal da forma como viveram alguns dos momentos que marcaram a nossa história, há grandes nomes portuenses e portistas como Helder Pacheco, Carlos Tê, Rui Moreira, Álvaro Costa, Miguel Guedes, Álvaro Magalhães, Rui Reininho, Jorge Manuel Lopes, Miguel Carvalho, Ricardo Alexandre, Miguel Lourenço Pereira…e junto dos quais estará também o meu nome, depois de ter efusivamente aceite o simpático convite que me foi endereçado pelo coordenador do livro, para colocar uma minha prosa junto à das outras criadas por este notável conjunto de dragões.

O livro estará à venda em livrarias por esse país fora a partir do dia 27 de Maio, exactamente vinte e cinco anos após a vitória na Taça dos Campeões. Será igualmente distribuído com o Jornal de Notícias desse mesmo dia com o custo de 8,50€. Nesse mesmo dia, Domingo, pelas 18h30, será apresentado pelo coordenador com a presença de alguns dos autores no Café Guarany, na Avenida dos Aliados no Porto.

O convite para o evento está no topo deste post no caso de quererem ou poderem marcar presença, com a esperança de partilharem o portismo e paixão não só pelo nosso clube mas também pelas emoções que o desporto nos trouxe e continua a trazer.

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Tempos modernos

No sábado à noite, depois de terminado o jogo e enquanto esperávamos que os jogadores se vestissem, retocassem a pintura que ostentavam nos respectivos focinhos, pintassem os focinhinhos dos filhos e sacassem as bandeiras de todos os cacifos onde as guardam religiosamente (ou talvez não, talvez tenham dado um salto ali a Mouzinho da Silveira ao cimo da Rua de S.João e compraram a do seu país com o orgulho estampado no rosto…é bom sonhar, não é?), íamos conversando nas bancadas, a única coisa que podíamos fazer até a festa per se começar. Não me interessam minimamente as performances dos miúdos que aparecem no relvado para brilhar com os pom-poms todos em riste e os vestidos fúcsia brilhantes nas luzes do estádio…todos esses deprimentes sucedâneos que têm tanto de futebol como eu de artista plástico. Fiquei até ao fim para prestar a minha homenagem a jogadores e treinadores, aos que me fazem deslocar ao estádio para os ver, que me põem rouco com gritos de incentivo e que de facto fazem de mim portista.

Estava em boa companhia, devo dizer. Amigos portistas de longa data, tinha na minha presença o meu passado e presente de vida azul-e-branca. O puto que comigo foi puto e que também comigo ia até às Antas no início dos mil-nove-e-noventas para criticar Ivic e aplaudir Robson estava lá comigo, numa reunião que teve tanto de nostálgica como de natural. O meu amigo “do costume”, companheiro de tantas andanças da bola, colega de chuvadas mil e o primeiro abraço depois do golo azul-e-branco. E junto a estes dois de sempre mais um, o meu companheiro em Dublin que este ano finalmente se decidiu a comprar o lugar anual e lá está sempre perto para a conversa do costume. Boa gente a marcar bons momentos. E maus, quando aparecem.

Falávamos da festa, da diferença desta festa para as antigas. Naquele tempo em que os jogos que terminavam a temporada eram vividos como uma festa do povo e o povo era outro. Há palcos pré-fabricados com publicidade no tampo; stewards na altura só se fossem bombeiros ou polícias e nada de cordas a separar o público dos seus heróis. Havia poucas danças, pouco fogo-de-artifício, nenhum efeito cénico e artístico. E a nostalgia lá mostrou a cara de novo e recordávamos como o campo parecia inclinado durante os últimos cinco minutos, a pender para o lado do túnel como um verdejante prado numa encosta solarenga…com um túnel perto de uma das suas laterais. Os atletas, fortes, autoritários, vedetas, encolhiam-se para perto da trajectória mais curta para uma rápida fuga para o balneário, para longe dos adeptos loucos que cedo correriam pela relva onde minutos antes tinham visto os ídolos a desempenhar a função que pagavam para ver. Uns lá conseguiam a recordação na forma de uma camisola, uma chuteira ou um par de meias. Ou só uma, qualquer coisa servia para levar para casa e mostrar à família. Era ver jogadores de cuecas, balizas partidas, redes desfeitas, jovens com pedaços de relva nas mãos e placards publicitários calcados. Era uma festa orgiástica de simbiose de mentes e almas, de união entre adeptos e jogadores com a luxúria da proximidade ao êxito a extravasar por todos os poros. Era belo, era humano, era vida.

Hoje em dia o espectáculo é bonito mas estéril. Grandioso mas frio. Produzido mas distante. É um enorme circo feito para shares de facebook e malta que aparece uma vez por ano para bater palmas e que não faz ideia quem joga nas outras vinte-e-nove (ou serão 33?) jornadas.

Tive a sorte de poder viver as duas situações. E quem como eu também o fez, aposto que gostava mais da maneira antiga.

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Um outro futebol, para matar a fome

Uma semana inteira sem ver o FC Porto a jogar no meio da temporada é uma tristeza. Especialmente quando estamos tão perto do final e apenas envolvidos numa única competição que está a apenas quatro jogos de completar a sequência permanentemente interrompida por partidas europeias, taças nacionais e fins-de-semana festivos. Assim, quando o meu pai me telefonou a perguntar se me apetecia ir com ele “matar as saudades” de ver o clube da sua antiga terra numa disputa cerrada contra o emblema da sua actual morada, aceitei imediatamente. Por ele mas também por mim.

O tempo, invernoso, ameaçava chuva a cada segundo que o sol se escondia por detrás de grandes nuvens que pairavam sobre o Parque Silva Matos, em Santa Marinha, Vila Nova de Gaia. Entramos, com bilhetes a exagerados 8,50€ que nos deu lugar na bancada central. Amigos revisitados, colegas reencontrados, até família lá estava, sócios, convictos gaienses e adeptos convictos da sorte dos verdes e negros do Coimbrões. É um clube a oito anos do centenário, que acolhe os seus com o carinho do seio familiar, em que a reunião se faz no bar, no pavilhão, na bancada, em todo o lado onde vive a alma da agremiação. Convidam-nos então para nos sentarmos perto do centro do terreno, quatro filas acima da relva sintética que já foi um dia visitada pela Juventus na altura que foi colocada, por tempos do nosso Euro. E as equipas já se vêem a entrar para o campo, Coimbrões e Gondomar lado a lado, com o público a aplaudir. Tudo tranquilo, terreno, sem bailarinas nem bandeiras enormes em campo, low-tech, expectativas normais para um Domingo agradável.

É tão diferente ver futebol assim. A proximidade do relvado permite-nos uma perspectiva diferente do espectáculo, uma visão focada do desenrolar do jogo. As centenas de adeptos, um conjunto de amigos, conhecidos e amantes da bola que se juntam na plateia renovada do Parque que sempre foi deles. Há poucas caras estranhas nas cadeiras, há conversa, pouca exaltação e um espírito ameno de convivência salutar enquanto se debatem os problemas dos jogadores, das ausências, dos pontos, da inusitada quantidade de empates durante a época, do avançado que já foi melhor marcador no ano passado, do talento do Rui e da raça do Bruno, dos pés do Fábio e da força do Nando. São miúdos feitos homens, alguns que cresceram na casa e outros que agora da casa se tornaram. Vejo que muitos têm talento, noção de espaço, critério no toque e na desmarcação, esperteza no arranque e destreza na recepção. Há bons jogadores, formados em boas escolas, rapazes que pisaram os relvados de treino dos grandes deste país, vestiram as suas camisolas enquanto pirralhos, saídos do Benfica, do Porto, do Boavista…e não fosse a falta de oportunidade para jogar a um nível superior, decerto estariam a alinhar em frente a públicos maiores com condições mais imponentes. Mas o Coimbrões paga os ordenados, parcos em numerário mas vitais na construção de uma vida, e são pagos com a consistência de uma parede de cimento. “Pagam pouco, mas pagam”, ouço vindo das cadeiras ao lado, “enquanto que outros prometem tudo e andam com meses de atraso!”. A II Divisão tem os mesmos problemas das grandes Ligas mas com menos holofotes.

O jogo termina. Um empate a zero que nada teve de tristonho, com várias bolas ao poste e uma excelente exibição do keeper gondomarense. A construção de jogo pausada e pensada do Coimbrões embateu quase sempre num muro defensivo bem formado, ao passo que o Gondomar, em contra-golpe, com lançamentos mais directos, conseguiu o objectivo do ponto que o aproxima da manutenção matemática. Outras contas, outros mundos, tão perto e no entanto tão longe. Aqui não se pensa nas conferências de imprensa antes dos jogos, nos coeficientes uefeiros, nas transferências de milhões e no número de títulos que cada um tem de acordo com um ou outro jornal. Aqui há mais futebol, mais alma, mais pureza.

Ainda me lembro quando a bola era assim, quando eu a via só assim. Estou cínico, ficamos todos um pouco mais cínicos com a idade, raramente podemos optar para que não aconteça. O meu pai gostou do jogo, gostou do ambiente, gosto de rever o que há quarenta anos não via. E eu só posso pensar em aproveitar mais e cada vez mais o futebol pela componente mais pura.

O jogo pelo jogo, se quiserem ser finos.

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Um Portista que boicota é um Portista idiota

Durante o dia de ontem recebi aqui na caixa de comentários um inusitado número de opiniões que urgem a um boicote ao jogo do FC Porto em casa frente ao Olhanense como forma de protesto contra a recente instabilidade na equipa. E a minha reacção primária é a mesma que sempre tive em relação a este tipo de gente que se diz portista e que só vive bem a dizer mal: quem não quiser ir ao jogo que fique em casa, vá até um jardim ler um livro, dê um salto ao cinema, faça o que mais bem entender. Não preciso de ter assobiadores compulsivos nas bancadas e não me importo nada que lá estejam só dez mil mas que esses, you few, you happy few, you band of brothers, estejam para apoiar a equipa de início a fim. E recuso-me a aceitar que um sócio ou simpatizante portista tome este tipo de atitudes quando a situação está difícil e complicada e o apoio da massa adepta é tão importante para que o nosso barco não se transforme num Bolama.

Por isso deixo a contra-proposta: tudo ao Dragão no sábado à noite. Vamos todos em massa ao estádio para apoiar a equipa em mais uma jornada que nos pode colocar na frente do campeonato ou na pior das melhores hipóteses colocar-nos em boas condições para continuar a discutir o título.

Ponham o cachecol ao pescoço, vistam a camisola, ergam a bandeira, vão nus, quero lá saber.

Mas apoiem o vosso clube, principalmente nas horas difíceis.

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Atitude para 2012

Aqui está 2012.

Um novo ano de descobertas, vitórias, (poucas) derrotas, alegrias, ressacas e high-fives. De preferência fives que sejam high, como os do Benfica. Já foi em 2010, eu sei, mas ainda cá estão na memória. Ah que rica noite, carago.

O ano começou em grande, como sempre. Onze mil pessoas a ver um treino ao frio e à chuva é um número excelente para um clube que se quer sempre grande, crescente, dominador, popular e conquistador. É uma brilhante ideia para aproximar o povo azul-e-branco dos seus heróis, daqueles que queremos aplaudir com força, que nos fazem rir, chorar, que nos mexem na alma e no coração. E funciona na perfeição, como ainda ontem se viu.

O ano começou em grande também com a entrevista de Pinto da Costa ao JN. Perfeito na esquiva às perguntas mais perigosas, excelente na ironia e fortíssimo (como sempre) na defesa dos nossos interesses. Está em forma, o “velhote”.

Estamos prontos. Estamos de volta. E só faltam 6 dias para o próximo jogo. “Só” não. Ainda.

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