Desloquei-me ao Dragão para me estrear em assembleias gerais. Mea culpa, é verdade, porque em quase vinte anos de associado ainda não tinha atravessado a experiência. Já tenho um passado longínquo de participação em associativismo, ainda que passivo e por intermédio familiar, por isso não seria algo que estaria distante da minha experiência. Mas este era um evento diferente, mais forte, que tocava cá no fundo e por isso mais pungente e intenso.
É interessante a mescla de sócios que comparecem numa assembleia-geral. Há de tudo, desde o idoso que se veste na sua melhor roupa para comparecer no fórum até ao mais jovem membro da claque de calções e sapatilhas, passando pelo executivo de fato e camisa branca e pelo engenheiro de pólo e calças de ganga. Todos unidos num só objectivo, com um único propósito, uma mole de indivíduos a puxar para o mesmo lado e com idênticas convicções. É o meu povo envolvido num acto orgânico, de fé e de princípios firmes, que se une perante adversidades e inimigos, onde cada um à sua maneira procura fazer com que o bem comum sirva o bem individual.
Não entrando em pormenores sobre a dita porque seria pouco ético fazê-lo, bastará citar pequenos pormenores que fazem deste clube qualquer coisa de diferente no nosso panorama. O discurso esforçado de Sardoeira Pinto, enaltecendo as virtudes de uma época extraordinária e louvando sem parcimónia a dedicação e bravura de Pôncio Monteiro, brindado com um minuto de silêncio como deve ser cumprido, em silência sepulcral, que nas entranhas do Dragão fez ecoar o reconhecimento de um povo azul-e-branco por tudo que fez pelos nossos; a brincadeira das claques no arranque do discurso do grande Lourenço, imitando com mestria vocal o seu mítico trompete e simpaticamente retirando a palavra de um símbolo do nosso clube para arrancar um aplauso espontâneo do público; os sócios que subiram ao palanque, discorrendo sobre os problemas que encontram e elogiando as virtudes que descobriram; o discurso trémulo de Angelino Ferreira, com maior talento com o ábaco que com o microfone, conseguiu explicar (e bem) a diferença entre uma gananciosa subida de quotas e o adequado nivelamento que a partir de agora todos iremos encontrar; a força e a destreza mental de Pinto da Costa, que respondendo a todos os sócios que usaram da palavra pelos nomes, respondendo às questões com a determinação de um general, de peito firme e cheio em frente ao olhar devoto de trezentos sócios que sentem nele o líder que outros gostariam de ter, de pé, em discurso directo e conciso, sem abanar nem abalar, terminando; e a discreta presença de tantos outros anónimos associados, como eu, que assistiam a tudo isto com um sorriso, cientes que estávamos a investir uma tranquila noite de segunda num novo passo para o clube.
Porque o clube, mais que a SAD, o James ou o Stempin…o clube, é nosso. E é ali que podemos e devemos estar se o queremos ver a crescer.