A garra nunca é sobrevalorizada. Nunca. Por muito que olhemos para os enquadramentos tácticos de uma estrutura como a nossa, com um meio-campo que ainda não se entende na perfeição, extremos que se balanceiam com hesitações e medos perante as subidas dos laterais ou com avançados que trabalham mas que vêem os esforços pender muitas vezes para o lado errado, muitas das vezes é a garra e a vontade de vencer que fazem a diferença entre um meio-resultado e uma conquista incontestável. E essa garra, essa vontade de vencer que nos pauta o dia-a-dia e faz de nós um clube temido internacionalmente tem de ser recuperada a qualquer preço. Não falo de dólares, mas de dentes cerrados e força férrea que manda abaixo qualquer adversário, bem ou mal intencionado.
Lopetegui está a começar a segunda temporada e fá-lo de novo com uma equipa em construção. Não sei quanto mais tempo vai levar a criar os automatismos necessários para que a equipa consiga criar um futebol fluido, dinâmico e produtivo. E não estou preocupado quanto à sua valia ou em relação ao talento que tem à sua disposição. Preocupa-me apenas alguma falta de audácia, essa vontade de vencer que apenas vi a espaços na Madeira. Lembro-me da época de AVB e do seu arranque tremido no campeonato depois do brilharete na Supertaça. Lembro-me dos inícios de época de Jesualdo, sempre com uma ou duas baixas mas a manter um nível exibicional aceitável. E lembro-me ainda melhor de Robson, onde os rapazes corriam que se fartavam mas não sabiam muito bem para onde. Quero estrutura. Quero táctica. Quero futebol. Mas quero, acima de tudo, vencer. E temo que essa mentalidade ainda não esteja bem vincada na cabeça dos nossos rapazes.
O campeonato ainda agora começou e temos tempo para limar arestas. Como se viu ainda ontem, perder dois pontos pode não ser muito grave quando se fizerem as contas finais. Mas se esses dois pontos se transformarem em múltiplos de dois, vamos começar a ter problemas, de dentro para fora.