O nosso oitavo círculo de Dante é em Alvalade

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O primeiro post: Basta-me pensar um bocadinho e lembro-me logo que sempre que saímos de Alvalade me sinto como uma ourivesaria na Almirante Reis

Depois, no ano passado, para o campeonato:

pelo penalty que nos foi roubado quando Cedric empurrou Jackson, nem mesmo pela expulsão (outra, injusta, em Alvalade, uma de TANTAS e TANTOS LANCES ONDE FOMOS PREJUDICADOS NAQUELE CAMPO…mas estão a ver-me a lançar uma demanda pela purificação da visão dos árbitros? Juízo, amigos, porque não sei ser intelectualmente desonesto nem sportinguista, que aparentemente são cada vez mais verdadeiras redundâncias)

E para a Taça da Liga:

acontece sempre no mesmo caralho do mesmo estádio que agora até tem nome diferente mas onde já devíamos estar habituados a ser assaltados quando lá passamos. E raramente são lances parvos de penalties, que só hoje houve praí quarenta reclamações de mãos e saltos e pinchadelas de verdes para a piscina, porque André Martins e Wilson Eduardo devem gostar mais de lamber cricas do que jogar à bola e andam sempre com os dentes a roçar na relva. Mas ao mesmo tempo, esse mesmo André Martins adooooooooooora dar pontapés nos gémeos dos adversários e safa-se com muita facilidade. Uma palavra também para o próximo trinco da Selecção, que é um jogador muito acima da média mas que hoje devia ter levado um vermelhinho por uma trancada que deu no Varela que só não lhe pôs a perna a sangrar porque não lhe acertou em cheio. E esse mesmo Varela, que foi parvinho por responder a mais um encontrão do insurrecto do defesa-esquerdo que joga naquela zona (porquinho mas normal num jogo destes) e levou um cartão amarelo, ficou à espera que o adversário também levasse um da mesma cor, mas nada acontece. E Cedric, no meio das suas quarenta e nove faltas, todas elas reclamadas com mãos na cara e lamentos de virgem fodida por doze hunos, lá se foi safando até ao final. Ou Adrien, que foi ou será lenhador noutra vida e que parece pensar que o futebol se joga acima do joelho, também escapou pelos pingos da chuva dourada que aposto deve gostar. Tudo isto para depois, inclemência nunca única e certamente repetida (como, citando os exemplos do post acima, Maicon, Emerson ou Costinha e as facilitadas de Rui Filipe, Kostadinov, McCarthy, Mielcarski, Seitaridis e Domingos), toca a expulsar Carlos Eduardo por uma falta que tantos, mas tantos, TANTOS FILHOS DA PUTA DO OUTRO LADO TINHAM FEITO ATÉ AÍ! Enerva-me, pois claro que me enerva. Enerva-me porque é sempre a mesma merda com aquela gente. Os que se queixam mais são habitualmente como o defesa que levanta o braço para reclamar fora-de-jogo. A culpa, na maioria dos casos, é mesmo dele.

É tão típico como as árvores de Natal em Dezembro ou as castanhas assadas em Novembro. Vamos a Alvalade, saímos de lá gamados. Podemos jogar bem e ganhar, jogar mal e perder ou qualquer uma outra combinação. E há tantas outras equipas que se podem queixar do mesmo no Dragão ou noutros estádios.

Este é o nosso oitavo círculo.

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Reductio Ad Iudicis

Um segundo vector explorado até aos limites da estupidez e carneirice humana por opinion-makers (e ainda mais por opinion-inventors e outros elementos da obsessão comum do anti-coiso) e que serve para explicar as razões pontuais para o sucesso do FC Porto é a arbitragem. E sempre que há um lance que beneficia o FC Porto, de forma ligeira como um lançamento erradamente assinalado ou um canto trocado por um pontapé de baliza, ou de uma forma mais intensa por um penalty transformado numa falta ofensiva ou um fora-de-jogo que leve a uma jogada perigosa ou até (heresia!) a um golo, por muito questionável que possa ser a chamada do árbitro, cedo se levanta um tsunami de insultos, correlações factualmente incorrectas ou teorias da conspiração envolvendo três patos marrecos, setecentos guerreiros zulus e um artefacto azteca misteriosa e parcialmente enterrado nas futuras ruínas de Angkor Wat. Ou parecido, já ouvi de tudo.

Eu avanço que é uma masturbação intelectual levada a cabo por um grupo de autistas acéfalos determinados a tingir de mácula todas as vitórias do meu clube. E nem sempre pelos melhores motivos, pelo menos nas suas cabeças. E não estou a falar de pessoas que jogam com baralhos sem manilhas ou gamão só com peças brancas, o meu problema é que este tipo de lavagem cerebral colectiva surge através das penas de montanhas de gente que todos poderíamos ter em boa estima pela carreira e opinião dedicada ao nosso desporto preferido, mas que optam por fazer um “whitewashing” (o termo em português será qualquer coisa como “censura selectiva”, mas como em tantos casos o inglês dá-nos o que o luso não pode) de tudo o que possa ser facto que aponte noutra direcção, porque faria com que todo o castelo de cartas delicadamente construído durante anos de meias-verdades caísse por terra como uma torre no bairro do Aleixo. Porque se olharem bem, se olharem mesmo bem, conseguem perceber a lavagem de factos que não interessam nada quando não ocorrem às partes interessadas, porque aquele penalty é que foi roubado e o nosso menino nunca mas nunca se atirava para a relva daquela maneira. É claro que o fora-de-jogo não foi marcado porque o gajo está comprado e vê-se logo que não tem nada a ver com o nosso caso em que está quase em linha, via-se da bancada. E aquele boi que está sempre às cotoveladas na área, o árbitro isso não vê, pois não? Quem, o nosso? É luta para ganhar posição, o futebol só é para meninas nos estados unaites, não é aqui, vê-se logo que você é tendencioso, assim não dá para ter uma conversa em condições consigo, deviam era partir-lhe os dentes como o vosso gajo fez aquele outro naquele jogo em tal sítio! Você tem uma lata, o nosso rapaz só estava a agir em defesa própria, andou a levar pancada todo o jogo, é uma vergonha, parece que já não se lembra quando vocês se encostavam à cara do árbitro, não é como o nosso que ainda no outro dia fez peito ao árbitro e muito bem porque ele estava a ser um ladrão!

Acredito na Lei dos Grandes Números, que me diz à medida que um evento ocorre um determinado (alto) número de vezes, a tendência da probabilidade é a de se aproximar da sua real probabilidade. Ou seja, em linguagem menos matematicamente pedante, quando uma equipa disputa um número suficiente de jogos com todos os árbitros, a probabilidade de ser prejudicada e/ou beneficiada aproxima-se da metade. Trazendo a linguagem ainda mais para baixo por forma a não ficarem dúvidas a quem não tiver pachorra para ler palavras com muitas sílabas: às vezes ganhámos, outras perdemos. E é exactamente por isso que não ando a alvitrar golpes de estado e comissões de investigação, não critico loucamente casos que são passíveis de má interpretação, não alivio a minha azia criticando os erros que beneficiam outros nem ando a fazer posts à doente sobre arbitragens (no ano de 2012, aqui no Porta19, este é o terceiro sobre o tema). Mas acima de tudo vejo com os meus próprios olhos e coloco-me nas botas do árbitro. Terá visto bem? Terá o fiscal visto bem? Está a cumprir o mesmo critério? Costuma ter este mesmo critério? Isso são as questões que me preocupam durante o jogo.

E quando acontece o caso de ser beneficiado…já sei que um prejuízo está aí ao virar da esquina. Por isso não me preocupo muito com isso. Nem com os outros.

PS: se a palavra “iudicis” em latim não estiver formalmente correcta como significando “juíz” no genitivo, as minhas desculpas. aceito correcções de qualquer índole, mas uma cervejola serve perfeitamente.

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Benford's law of controversy

Passion is inversely proportional to the amount of real information available.

Gregory Benford, escritor que se popularizou na área da ficção científica, cunhou esta frase no seu livro de 1980, Timescape. Tomando a Lei da Controvérsia de Benford como verdadeira, podemos concluir que a paixão aumenta à medida que a informação real se torna mais escassa, e diminui com o aumento da informação real. Parece simples a análise desta razão inversa e ainda é mais fácil fazer o paralelismo com o nosso muy amado mundo da bola. Depois deste intróito e a propósito do recente FC Porto – Sporting, permitam-me lançar um pequeno exercício numa arte pela qual tão poucos lusos gostam de deambular (optando antes por viver no próprio ecossistema mental que eles próprios criaram): a honestidade.

Falo pouco de arbitragens. Os portistas não quererão saber e os não-portistas, em bem maior número e com uma capacidade retórica questionável na grande maioria dos casos, obviamente pensarão que não falo porque estou a esconder os óbvios benefícios de que o meu clube está eternamente como feliz receptor. Momento, deixem-me mudar o chip porque está a sair um exagero de floreado e pouco aborrecido e estou muito mais perto da segunda situação que da primeira. Então prossigamos.

Ainda não tinha chegado ao carro e já meio planeta reclamava que o árbitro tinha ajudado o FC Porto a vencer o Sporting. Era por causa dos amarelos, do vermelho, dos penalties, de tudo o que pudessem encontrar para que a culpa fosse, mais uma vez, colada ao nosso nome. E não tardou para que umas dezenas de blogs, sites, jornais, revistas e o Rui Santos viessem a terreno proclamar que, mais uma vez, sempre mais uma vez, o FC Porto foi ajudado para vencer o jogo. E é esta acefalia perene que vinga na nossa comunidade, esta permanente assunção de ajuda ao FC Porto que todos adoram colocar a nosso favor, constantemente usando pouco mais que argumentos datados e quase sempre falaciosos. Porque se formos ver os factos (como fiz aqui há uns tempos por ocasião de uma famosa enumeração dos pecados de Duarte Gomes num Benfica vs FC Porto que foi feita pelo meu clube), não há nada como ser directo, frontal e honesto para tentar perceber que nem sempre o sol brilha quando olhamos para o céu mas se naquela ocasião calharmos de fitar o astro directamente, as putas das retinas acabam por ficar queimadinhas como um naco de carne que passou mais tempo do que devia na grelha por cima dos carvões. Factos, então.

  • O duplo-amarelo a Rojo: evidente. Tanto a primeira falta como a segunda, se bem que a segunda até pudesse dar para vermelho se tivesse mesmo acertado em James com a vontade que se lançou ao moço. No estádio fiquei com a nítida sensação que James tinha saltado para evitar o contacto e fugir de uma traulitada tamanha que o mandasse para a selecção mais cedo. Errei no golpe de vista, não errou o árbitro e deu bem o segundo amarelo.
  • O primeiro penalty: evidente. A culpa recai apenas em Cedric, que ingenuamente arrastou a bola com o braço esquerdo quando se tentava levantar depois de cair sozinho na área. O acto não é involuntário mas deliberado e Jorge Sousa, perto do lance, marcou o penalty sem questionar terceiros. Não precisava.
  • O segundo penalty: não-tão-evidente. Se o primeiro lance foi óbvio para todos, o segundo nem tanto. No estádio, no meu lugar do costume, não me pareceu falta. Vi o braço de Boulahrouz a aparecer pela direita de Jackson e a tocar-lhe ao de leve e observei que o avançado foi manhoso ao deixar-se cair. Não me pareceu que tivesse sido puxado com a tal questão da intensidade que tantos falam. Não me pareceu falta. Jorge Sousa vê o lance de um ângulo um pouco diferente e acha que é o suficiente. Aceito, como aceitaria se não marcasse nada ou se a situação acontecesse na nossa área, podendo questionar a decisão mas pela visão do evento compreendo que tenha decidido assim.
  • O número de amarelos: exagerado. Tanto para um lado como para o outro, mas pareceu-me evidente que houve vários lances de jogadores do Sporting que mereceram o cartão, tanto como alguns do FC Porto que fizeram por merecer o mesmo. Há árbitros que preferem controlar o jogo à custa da força em vez da pedagogia. Se fosse outro árbitro tinham provavelmente dito que não tinha mostrado cartões suficientes.

O problema é sempre o mesmo e sê-lo-á enquanto não quiserem baixar as lanças e perceber que nem sempre é possível avaliar para o lado que querem. Não vale a pena contrariar este jogo com lances de outro jogo, como falar de penalties marcados num lance em Coimbra ou outros que não foram marcados, apesar de em situações idênticas, numa partida na Mata Real. É futebol. E sobre o FC Porto, que putativamente já terá sido prejudicado este ano em vários lances de grande penalidade, ainda não falei. Mas se o fizer, será apenas sobre o lance em questão e na partida em análise. Porque os lances sucedem-se e as decisões são rápidas. E porque a única coisa que posso apontar ao trabalho de tantos outros árbitros como Jorge Sousa prende-se na postura assumida durante a partida.

Assim sendo, se quiserem continuar a ouvir os Duques deste mundo, so be it. Mas tenham em atenção uma coisa: esse tipo de atitudes só pode contribuir para esconder defeitos e falhas individuais e colectivas. Não deixem que a paixão ultrapasse a informação que está disponível. Porque só estão a esconder as vossas próprias incapacidades.

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O Benfica foi coerente. A arbitragem é que não.

Não é meu costume, mas não podia deixar passar esta em claro.

Estou a ver o Chelski a ganhar ao Benfica. Preferia que assim não fosse, mas é o que calha. Na primeira parte os ingleses marcaram com um penalty depois de um abalroamento de Javi a Ashley Cole. Um entre muitos, entre tantos que cá fez e faz e beneficiam de uma divina complacência que apenas em Braga, depois de uma cotovelada em Alan, mereceu a expulsão. Ao que se seguiram capas de jornais, pedidos à Virgem, clamor pela canonização do espanhol e preces para um qualquer Deus menor para que o jogo fosse repetido, inundando as ingénuas mentes com as hipocrisias do costume. Javi foi coerente, fez o que costuma fazer.

Passados alguns minutos, Maxi Pereira entra de pitão à frente, vê segundo amarelo e é expulso. Nada de mais. Falta óbvia, amarelo evidente, expulsão justa.

Esperem lá. O Maxi foi expulso? Pela alma de quinhentos demónios saltitantes, no puede ser!

Este é o histórico do moço em Portugal, retirado do zerozero. É verdade. Maxi nunca foi expulso nos cinco anos que já passou em Portugal, por entre largas dezenas de entradas iguais à que teve em Londres, muitas delas bem piores. Maxi foi coerente, fez o que costuma fazer.

De todos os benfiquistas em Stamford Bridge, só um não é coerente. Vejo Jesus a reclamar na linha. O árbitro chega perto do homem e manda-o sentar. Jesus senta-se, com um aceno de cabeça como quem se desculpa. A humildade não lhe fica bem, é-lhe estranha, alienígena, assenta-lhe tão bem como um vestido de cerimónia numa preguiça obesa.

Ouço os comentadores antes e depois da facada final de Meireles (nem o esquilo morto que o luso enverga na cabeça lhe retira a poesia) e penso que nem agora que o Gobern-gate passou e seguiu estão mais calmos. A arbitragem foi polémica, a vitória moral é firme, o espírito está em alta, o prestígio manteve-se, o nome está no topo. Nem o Benfica merece os palhaços que o defendem. Fez um bom jogo e merecia passar contra um Chelsea que estava perfeitamente ao alcance.

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Também podemos ir para o Guinness?

Tenho a firme convicção que todos os clubes têm sólidas bases de queixa da arbitragem, seja em que contexto fôr. Um fora-de-jogo mal tirado, um golo mal validado, um atraso para o guarda-redes mal avaliado (sim, incluo o ingénuo do Rui Patrício neste lote) ou qualquer outra situação de jogo que tenha sido mal ajuizada pela equipa de arbitragem.

Mas aposto que deve ser um recorde o número de vezes que fomos prejudicados em confronto directo com o Benfica nos últimos anos.

PS: Sim, abri as hostilidades. Aos benfiquistas que costumam visitar o Porta19, fica a mensagem. Como sabem sou um gajo razoável e tento não ser exageradamente agressivo, mas há duas semanas por ano (pelo menos) em que há que picar o rival com tudo o que se puder atirar. Por isso para não se chatearem comigo, voltem no Domingo. Até lá não vai haver nada que vos interesse muito por estas bandas.

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