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Uma das discussões mais acaloradas dos últimos tempos prende-se com as crónicas pós-jogo que são colocadas no site oficial do nosso clube. Desde a renovação estética que o www.fcporto.pt sofreu, está de facto mais dinâmico e mais activo, com notícias mais ou menos pertinentes mas ainda assim bastante mais actualizado, servindo de principal ponto de busca para convocatórias, entrevistas e reacções a tudo que se vai passando no planeta azul-e-branco. A política de comunicação do FC Porto, encabeçada por Rui Cerqueira, tem sido alvo de diversas críticas, sendo considerada demasiado branda em função do que se tem passado esta época, ao mesmo tempo que a já-famosa rubrica que aparece episodicamente na página, o “Labaredas”, se vai escondendo por detrás de um véu de secretismo que lá vai sendo levantado de tempos a tempos.

As críticas que muitas vezes são apontadas aos textos publicados em forma de resumo dos jogos realizados incidem em grande parte no autismo do conteúdo, onde se acusa o autor (ou autores) de não verem o sol através da peneira, escondendo falhas e enaltecendo feitos banais, transformando jogos que toda a gente viu e se entristeceu com uma pobre exibição do FC Porto numa batalha quixotesca contra forças invisíveis que desviam balizas e incham postes.
Raramente há menções a falhas: há infelicidades.
Nunca há maus domínios de bola: há terrenos impraticáveis.

É impossível o guarda-redes ter uma má intervenção: teve azar no posicionamento.
Apesar do lirismo poético ser talvez um pouco exagerado para o contexto em que se encontra (é futebol, carago, não é Miguel Torga!), até o compreendo. A beleza dos textos depende do dono da pena que o debita, e se quiser escrever com mais ou menos recursos estilísticos, a opção é dele/a. O que me aborrece e tem vindo a aborrecer ainda mais a bluegosfera, é mesmo o que se escreve, não a forma como se escreve, e a discussão atingiu o ponto mais alto no passado fim-de-semana, com a derrota do FC Porto em Alvalade. Reparem nisto:

O FC Porto perdeu, este domingo, no terreno do Sporting, por 3-0, em jogo da 21.ª jornada da Liga. Os Dragões foram bastante infelizes, sofrendo golos em momentos cruciais do encontro, quando até dominavam a partida.

(…)

Os lisboetas demonstram uma agressividade competitiva raramente vista durante a presente temporada, podendo dizer-se que tomaram este embate como um dos mais importantes da época. Pior ainda, o FC Porto não pôde abordar o jogo da mesma forma, já que, em várias ocasiões, faltas merecedoras de amarelo por parte dos sportinguistas ficaram pelo «castigo mínimo». Recordamos, neste âmbito, lances de Liedson e Izmailov (aos 37 e 39 minutos), que não terminariam a partida.

Ou seja, quem não tiver visto o jogo pensou que o FC Porto foi claramente prejudicado pelo árbitro, enquanto que o Sporting abateu a pontapé tudo o que viu de azul-e-branco. Falso, jogamos mal, fomos pouco agressivos e perdemos quase todas as bolas que disputámos.

Para além disso, Izmailov está em fora de jogo, após passe de João Moutinho, que depois origina o tento. Dois minutos depois, há uma mão de Abel nas costas de Falcao, em plena grande área do Sporting. Ou seja, era pénalti, e a história deste desafio poderia (e deveria) ter sido bem diferente. A partir daqui, o filme já estava condicionado.

Mais uma vez, admite-se que há prejuízo claro da nossa equipa. Mais uma fez, exagerado. O fora-de-jogo é milimétrico e a mão de Abel nas costas de Falcao é…isso mesmo, a mão nas costas, não foi um empurrão. A forma como se atiram as culpas para o resto do mundo é notória e, admitamos, exagerada.
Reparem agora como é que as derrotas são tratadas nos sites oficiais por esse mundo fora. Vejamos o caso do Arsenal, nosso próximo adversário, quando perdeu em casa contra o Manchester United por 1-3:
Arsenal suffered a major blow to their title hopes by losing 3-1 to Manchester United at Emirates Stadium on Sunday.
(…)
You thought Arsenal were gradually working their way into the game. But, in fact, the visitors would impose themselves once more.
(…)
At the break, Arsenal needed an injection of composure, guile and steel.
(…)
But there would be no panacea.
(…)
In fact, seven minutes after the restart, Park made the home side feel even more sickly.
Notaram a forma directa, crua e honesta como se trata uma situação similar? É assim que se faz a crónica de um jogo onde se é bem derrotado. Vejamos agora a análise ao jogo Manchester United vs Leeds, a contar para a FA Cup, onde os rapazes de Manchester perderam em casa por 1-0:
United can talk about two penalty shouts turned down, but the long and the short of this FA Cup tale is that the Reds just weren’t good enough in attack against a determined Leeds side who took their opportunity when it came.
(…)
After a fairly tepid display though, it’s just as well there are fresh legs to bolster the squad in midweek.
Simples, não é? “Perdemos, e perdemos bem, porque não jogámos o suficiente.”. Ponto final.
A mentalidade muda, no entanto, quando damos um salto aqui ao lado, em Espanha, e vemos como é que o site oficial do Real Madrid viu a derrota frente ao Athletic Bilbao:
Presionando hasta la extenuación y adueñándose de la posesión de balón, los blancos frenaron la intensidad de los leones, pero las múltiples ocasiones de las que dispusieron los madridistas (mención especial para un incombustible Cristiano Ronaldo) terminaron una y otra vez en los guantes de Iraizoz, que firmó una espléndida actuación. El Madrid puso el juego, el Athletic, el gol, y los tres puntos, injustamente, se quedaron en Bilbao.
(…)
Ni siquiera con la inagotable insistencia de Cristiano, que volvió a colocar la mirilla en Iraizoz en dos ocasiones más… No, no llegó un gol más que merecido para un Real Madrid que se dejó los tres puntos en San Mamés, al mismo tiempo que se dejó también toda la raza, la fuerza y el ahínco en busca de la victoria.
Somos latinos e gostamos de “arrotar a postas de pescada” ao mesmo tempo que chupamos as espinhas. A falta de sentido de humildade está a fazer transparecer que todos os portistas, não só os que trabalham no Estádio do Dragão, a possuem, o que não é verdade. Mais que assumir que somos bons, é preciso saber assumir que, de vez em quando, não somos suficientemente bons.
E isso é o sinal de um clube verdadeiramente grande.
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