Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 0 Dínamo Zagreb

foto retirada de desporto.sapo.pt

Começo pelo Dínamo: não me lembro de ver uma equipa tão fraquinha a jogar na Champions, palavra. Pouco discernimento defensivo, um saco de jogadores no meio-campo e um ou outro ataque muito de vez em quando é o pouco que estes rapazes tiram de um jogo inteiro. E o FC Porto deixou-se ir no balanço da não-necessidade de acelerar acima de uma velocidade de cruzeiro que nos assenta bem e que ninguém poderia esperar que fosse assim tão diferente. Ganhámos bem, sem qualquer dúvida, com bons golos e uma ou outra jogada agradável, mas foi acima de tudo um exercício de treino, com jogadores a passo e sem se chatearem muito com o resultado ou com problemas de eventuais lesões. E não me importei nadinha porque o jogo contra o Braga está aí à porta e as prioridades, hoje à noite, estiveram bem trocadas. Mais uma vez, foi uma vitória fácil contra uma equipa medíocre e que nos assenta bem. Notas abaixo:

 

(+) Moutinho Xissa, miúdo, que belo jogo fizeste tu hoje! Para lá do livre directo (muito bem marcado), foi na luta que Moutinho esteve acima da média dos colegas (acima até do seu nível tradicional), porque recuperou muitas bolas não só pelo posicionamento mas pela luta e pela atitude. Não é à toa que os adeptos adoram vê-lo com a nossa camisola e continuo a afirmar que foi dos melhores negócios que fizemos desde que sou portista, porque é muito raro o jogo em que Moutinho está em campo a mais. As coisas podem não lhe sair sempre bem, pode falhar passes consecutivos, ocasionalmente escolher mal o timing da corrida ou da desmarcação, até pode rematar ao lado ou por cima. Mas quando João Moutinho está em campo, o FC Porto é diferente. E quando João Moutinho joga como fez hoje, inteligente, perspicaz, lutador, criativo (o calcanhar para Varela…upa upa!), o FC Porto é melhor.

(+) Mangala Muito bem na cobertura de espaços e na transição pela lateral, foi prático quando era preciso ser prático e raramente deu um metro que fosse aos avançados que lhe caíam na sua zona de cobertura. É muito alto e usa bem a força e a estatura para lutar contra o oponente directo, vencê-lo no corpo-a-corpo e sair para o ataque para tentar o desiquilíbrio. Nunca será um excelente lateral mas se fosse a Vitor Pereira, pelo menos enquanto Alex Sandro não tiver ritmo (especialmente agora contra o Braga e depois…contra o Braga), mantinha o francês na esquerda.

(+) Jackson Excelente no domínio e posicionamento para recepção da bola, correu que se fartou e lutou com todos os adversários que lhe tentaram, quase sempre sem sorte, tirar-lhe a bola. Não parece muito forte mas tem uma estupenda capacidade de choque, recebendo pancada de criar furúnculos nas costas e ombros e omoplatas e em todo o torso superior e mantendo-se estóico de pé e com a bola controlada. Foi quase sempre mal servido mas quando conseguiu alguns espaços para rematar também não foi eficaz. Merecia um golo.

 

(-) Lucho Marcou o primeiro golo, é verdade, mas durante o resto do período que passou em campo esteve “off”. Muitos passes falhados mas acima de tudo muitas transições perdidas em alturas quando podíamos e devíamos partir para ataques mais rápidos e quando a bola chegava a Lucho, as coisas paravam, travavam, amoleciam, definhavam. Não esteve mal ao ponto de ser criticado, mas também me pareceu um pouco cansado. Teve um jogo fraquinho e notou-se. Foi bem substituído.

(-) Dínamo Zagreb ou o estado do futebol croata Uma simples frase deve chegar para ilustrar o que quero dizer: o Dínamo de Zagreb, ESTE Dínamo de Zagreb, é hepta-campeão da Croácia e lidera a actual edição da Prva HNL (a Primeira Liga deles) com dez (!) pontos de avanço ao fim de 16 jogos. Uau.


Mais um milhão e mais três pontinhos para o saco, num jogo simpático, uma exibição q.b. contra uma equipa fraquinha. Surpreende-me ouvir gente a dizer que os gajos ainda criaram perigo e até podiam ter ganho, quase como se fosse um sacrilégio parar um bocadinho e descansar até o jogo de Domingo, esse sim bem mais importante que este. E afinal de contas o PSG acabou por ganhar à equipa do gordo, por isso é mesmo para decidir o primeiro lugar em Paris. E valerá a pena? Com equipas como o Milan e o Real Madrid em segundo lugar? São piores que Barcelona ou Manchester United? Não sei que vos diga.

Link:

Ouve lá ó Mister – Dínamo Zagreb


Amigo Vítor,

É o último jogo em casa da Champions este ano. Dois mil e doze na Europa encerra-se hoje aqui no nosso cantinho, mas já sabes que lá para Fevereiro cá estaremos de novo. Só que isso já é em dois mil e treze. Dois mil e treze, Vitor, raios partam esta treta dos anos passarem para todos, pá, parece que ainda ontem estava a entrar para as Antas para ver este mesmo Dínamo de Zagreb quando o Doriva decidiu espetar aquele balázio aí a quilómetro e meio da baliza. Bons tempos, homem, bons tempos.

Hoje o jogo é diferente. Já estamos qualificados e estes não-muito-simpáticos moços do leste ainda não conseguiram marcar um golo. Parece-me uma situação adequada, lembras-te do primeiro jogo do grupo? Lá em Zagreb? Que miséria de adversário, palavra, ainda não percebo como é que te deixaste vir para trás e esperar que os animais nos caíssem em cima de tal maneira que quase que marcavam uma chouriçada e nos tramavam logo no arranque. Não quero ver esse relambório outra vez hoje à noite, pá, até porque vai estar frio ou chuva ou ambos. E gostava mesmo de ouvir o hino da Champions todo contente e continuar o jogo com uma excelente partida e com os melhores em campo. Ah, por falar nisso, já te decidiste se vais pôr o Nando e o Sandro? Vê lá se estão em condições para jogar à bola a sério, olha que o relvado vai estar rápido e escorregadio pra carago e não me quer parecer que seja o melhor jogo para os rapazes regressarem, especialmente porque a seguir vamos à pedreira. Homem, não me censures, já sabes que sou pessimista e acho que o céu vai sempre cair em cima das nossas monas, sou uma espécie de Chicken Little. Mas com barriga. E, do ponto de vista dele, um estupor dum canibal. Mas de que raio é que eu estou a falar?! Ah, sim, o jogo. Ninguém está à espera de grandes jogatinas. Queremos é um jogo sério, em que os rapazes não tirem o pé, que troquem bem a bola e não se ponham com brincadeiras sem que tenham vantagem para isso.

Ganhar, Vitor. Este é só mais um.

Sou quem sabes,
Jorge

Link:

Achas o quê, ó imbecil?

Se alguém estiver com problemas a arranjar motivação para este jogo que amanhã nos vai arrastar para o Dragão, é só olhar para as declarações do treinador do Dínamo Zagreb depois do jogo contra o Paris Saint-Germain e enquanto punha uma pomadinha para as almorródias, inchadas enquanto os croatas levavam quatro na pá dos franceses:

Ante Cacic, treinador do Dinamo Zagreb, já defrontou o FC Porto e o Paris SG e não tem dúvidas em assumir que os parisienses são «a melhor equipa do grupo».

«No início, teria dito que o FC Porto era o favorito mas, depois de ver o que o PSG pode fazer, acho que esta é a melhor equipa do grupo», reconheceu Ante Cacic.

Quem viu o jogo que disputámos em Zagreb certamente se lembra da pouca qualidade dos rapazes ao dispôr desta idiota com aspecto de sargento russo dos anos 80 num posto fronteiriço, antes de levar uma rebarbadela por estar a beber vodka a mais em hora de expediente.

Venham ao Dragão amanhã. Há uma promoção que permite a um detentor de Dragon Seat comprar um bilhete por dez euros e levar outro à borla para um amigo. Se fosse possível, era bonito o estádio estar cheio para nos ver a dar uma mão-cheia de lapadas na boca deste infiel.

Link:

Baías e Baronis – Dínamo Zagreb 0 vs 2 FC Porto

foto retirada do MaisFutebol

Estava invulgarmente nervoso antes de começar o jogo. A ausência permanente de Hulk, a temporária de Fernando, o arranque na Champions e o trânsito de terça-feira pareciam fazer crescer o pessimismo cá dentro, e ao ver o FC Porto a entrar em campo de branco (côr do azar em equipamentos desportivos, por muito que fosse bonita – e era! – a nossa nova indumentária. Mas a forma como o FC Porto mandou no jogo na primeira parte, perante um adversário fraco mas combativo, foi suficiente para me ir acalmando. O golo surgiu com naturalidade depois de alguns ameaços, e não fosse aquele recuo absurdo da equipa no terreno durante a segunda parte e teria passado um bom final de tarde. A vitória é inquestionável e vi bons sinais que podem ser trabalhados para uma equipa pós-Hulk que nos pode vir a dar as alegrias que queremos ter. Uma vitória fora na abertura da Champions. Feels good. Notas abaixo:

 

(+) Defour Com a linha de ataque bastante longe dos homens do meio-campo, Varela encostado à linha e James em terra de ninguém, coube aos médios desempenhar o papel principal. E com Defour em campo, o que perdemos em força e capacidade posicional pela ausência de Fernando, acabamos por ganhar em inteligência com a bola e na rotação da mesma pelos melhores caminhos possíveis. Não escondo que gosto do rapaz e adorei vê-lo a criar jogadas ofensivas com inteligência, funcionando como tampão para as subidas de Moutinho (apagado) e de Lucho (cansado) durante noventa minutos de intensa luta e capacidade física. Marcou o golo que descansou os adeptos e não havia outro em campo que mais tivesse feito para merecer.

(+) Alex Sandro Excelente nas subidas pelo flanco, mais na primeira parte que na segunda, entendeu-se muito bem com qualquer um dos colegas que descaiu para o lado esquerdo, usando-os como muleta para arranques rápidos, agressivos e quase sempre consequentes. Tem de ganhar alguma inteligência competitiva para saber quando deve manter a pressão e quando precisa de recuar para a posição natural, mas a versatilidade, técnica e postura ofensiva fazem dele um titular indiscutível no FC Porto 2012/2013. Só precisa de continuar a melhorar.

(+) Helton Fez o que os grandes guarda-redes têm de fazer: defendeu pouco, mas tudo. E ainda teve duas biqueiradas bem apontadas para a frente que James e Kleber quase o tinham creditado como um dos melhores nas assistências para golo da primeira jornada da Champions.

(+) A atitude de Lucho Soube do falecimento do pai de Lucho apenas depois do jogo, mas não posso deixar de prestar as devidas condolências ao nosso capitão. Não pode ser fácil manter a mente limpa num momento tão difícil e é exactamente aqui que se vê o quão profissional um jogador de futebol tem de ser para conseguir alhear-se do simples facto que antes de tudo, é um homem como qualquer outro, que chora, ri e ama. E Lucho, com o golo que marcou, prestou a homenagem dele ao homem que lhe deu a vida. E também lhe deixo o meu obrigado.

 

(-) O último passe Compreendo a atitude de manter a posse de bola enquanto se espera por um espaço entre as linhas do adversário. Os passes não são particularmente estelares entre os jogadores mais recuados, mas lá se vai conseguindo arrastar o jogo devagar, devagarinho para zonas mais avançadas…até que…entra o proverbial leão mouco em campo e toca de mandar um cruzamento para a bancada ou um passe em profundidade mais fundo que o Kursk. Esta estratégia só pode funcionar a longo prazo se o último passe for, em bom inglês, “with pinpoint accuracy“. Caso contrário vamos ter muitas jogadas bem construídas sem um final condizente.

(-) Bolas paradas A ineficácia voltou. Não que alguma vez tenha estado ausente, mas parece axiomático que o FC Porto não consegue defender um canto sem que haja um surto de explosões miocárdias pelos corações portistas espalhados pelo mundo. É certo que não somos a equipa mais alta da Europa, mas o Barcelona também não é e raramente sofre golos de canto ou treme tanto quando a bola sobrevoa a área. E ano após ano continuamos na mesma. Quanto às bolas paradas ofensivas, é um desperdício constante de livres à entrada da área, cantos a favor, cruzamentos com possível perigo…tudo deitado fora. É uma pena.


Um jogo não é o suficiente para perceber se o estilo está a mudar ou se o que vi foi apenas um momento pontual contra um adversário de tipificação pouco adequada ao que vamos apanhar no resto dos jogos da Champions. Mas vi alguma inteligência na gestão da posse de bola, uma noção certa de quando subir e quando recuar, com uma perspectiva resultadista que não me incomoda em nada neste tipo de competições. É para ganhar, antes de jogar bem, e quem pensar o contrário é um lírico. Três pontos de cada vez. É esse o caminho.

Link:

Ouve lá ó Mister – Dínamo Zagreb


Amigo Vítor,

Há duas coisas que estão aqui entre nós como o proverbial elefante no meio da sala. Uma é verde e grande; a outra ainda não sei o que é, mas sei que vais ser tu que me vais dizer, quer me telefones ou me mandes um e-mail, ou então se decidires mostrar-me em campo, também não te levo a mal. Se ainda não me estás a perceber, que compreendo porque estás com mais coisas na cabeça para estares a ligar ao que raio eu te estou aqui a ganir ao ouvido, quero falar sobre duas coisas: o Hulk e aquele-que-vai-substituir-o-Hulk. Espero que não tenhas ficado muito triste por ele ter saído, mas cheira-me que já devias estar de sobre-aviso. Ainda assim é uma perda grande, até porque lhe deves bem mais que um abraço ou um prato de tremoços com um chouriço assado em aguardente. Deves-lhe, em grande medida, o título de campeão nacional, e sabes disso. Foi em grande parte à custa dele que conseguiste no ano passado conquistar o campeonato, por isso fazes favor de o convidar para uma dourada escalada em tua casa ou no Pescador em Espinho que presumo seja perto da tua casa. Vá lá, ele merece. E agora, vamos ao segundo tema.

Este jogo, tendo em conta o facto de já não poderes escolher o Hulk como opção para o ataque, acaba por fazer subir mais um grau de importância ao nosso jogo de estreia na Champions’ League 2012/2013. Lembras-te no ano passado como é que correu esta porcaria? Lembras-te? Lembras-te do jogo em Donetsk? E do APOEL no Dragão? É que foi sempre o Hulk que nos salvou o coiro nos momentos difíceis, para não falar de vários jogos do campeonato, que agora não interessa para ninguém. Hoje dás o primeiro passo sem Hulk, como um menino a quem tiraram as rodinhas da bicicleta e lançaram a descer a estrada da Senhora da Graça. Não há lugar a hesitações, é altura de escolheres as peças que vais pôr no tabuleiro e avançar com o cavalo ou com os peões que te apetecer. Dou-te o benefício da dúvida como dei ao Fernandez depois de sair o Deco, ou ao Fernando Santos sem o Jardas. Vida de treinador é fodida, não é?

Força, Vitor. Re-estreia-te em grande!

Sou quem sabes,
Jorge

Link: