Ouve lá ó Mister – Benfica

Camarada José,

Ando com fome, homem. meti-me a ver se faço uma dieta para mandar abaixo os pneus e esta merda mexe com o raciocínio, a boa disposição e estou convencido que está a fazer de mim mais burro do que já era. Efeitos secundários de bolachinhas de água e sal ou de chá de adenóide de gafanhoto ou lá o que caralho é que metem nas ervas, o que eu sei é que me andam a roer por dentro e por fora. E ainda por cima mandam-me correr e fazer exercício e andar por aí feito retardado a ver se consigo calcar mais alcatrão que uma pêga na circunvalação. Não gosto disto. E como não gosto, quem leva és tu porque o Maicon é bem maior e era menino para me rebentar o focinho, senão mandava-me a ele.

O jogo de hoje não é só um jogo. É uma batalha, um confronto de gigantes, uma luta sem tréguas que dura há umas dezenas de anos e que tu acompanhaste desde que começaste a obrar no pote. Francamente não sei se és portista ou benfiquista ou se gostas mais é do berlinde, mas aqui ninguém perdoa quem entra para estes jogos sem a noção do que eles significam para a alma da nossa gente. Pergunta ao Co e ao Lope, eles dizem-te. E depois do jogo de Domingo estamos todos meios acagaçados com o que pode vir por aí, mas se falares com qualquer portista, TODOS te vão dizer: “é para ganhar, mister!”. Seja com o Chidozie, o Jaime Magalhães ou o Deco, só há uma vontade: ganhar o jogo.

Tens opções complicadas para tomar hoje, mas não as tornes mais difíceis do que já são. Tenta ganhar e não te vão censurar. Se fores para lá para não perder, lixas-te com eles e connosco. A escolha é tua.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 0 SL Benfica

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Na altura em que André recebe a bola de Varela, deixei de conseguir ver o lance e só conseguia imaginar a bola dentro da baliza. Na altura que a bola entrou, já estava no ar, a saltar de braços erguidos para o céu e a agradecer que o “velhinho” pai tivesse conseguido gerar um filho que nos desse, tantos anos depois, uma alegria tão grande. Um jogo complicado, com duas partes distintas em que houve uma equipa que tentou vencer (nem sempre bem) e outra que quase nos impedia de o fazer. Um clássico à antiga e uma vitória que só podia ser nossa para vingar a injustiça do ano passado. Sigamos para as notas:

(+) André. Pois ora então cá vamos: GRANDE! GRANDE! Encheu o campo todo, percorrendo quilómetros num papel bem mais condutor da bola do que estaria à espera, arrastando defesas e procurando quase sempre perceber onde podia colocar a bola para o avançado mais próximo. Falha poucos passes e perde poucas bolas porque usa bem o corpo e tem uma invulgar capacidade de retenção da bola de costas para a baliza enquanto espera pelas subidas dos colegas e recua como um João Pinto na ajuda à defesa. Aqui vai disto: se no ano passado tivéssemos comprado este rapaz em Janeiro e ele estivesse nesta forma, talvez tivéssemos conseguido ser campeões. Marcou um golo que não vai esquecer tão cedo e ninguém mereceu mais que ele.

(+) Casillas. Duas estupendas defesas na primeira parte depois de dois lances pelo ar que a defesa, mais uma vez, não conseguiu contrariar. Mostrou, mais uma vez, que entre os postes é um guarda-redes ágil e com excelentes reflexos. Apenas uma falha num pontapé para a frente que lhe saiu mal.

(+) Ruben Neves. Mostrou que um trinco não precisa de ser um animal de força e de estatura para poder jogar com fibra e garra naquela zona, empenhando-se sempre a 100% na disputa das bolas, tanto aéreas como rasteiras. Estupendo na rotação de bola para as laterais, é um jogador sempre de cabeça levantada à procura do melhor que pode fazer, optando tantas vezes bem por não fazer o quase impossível para se manter pelo exequível. É titular por mérito próprio.

(-) Estratégia no arranque. Lopetegui entrou como tinha feito em Kiev, com dois avançados e André encostado à linha, provavelmente para ajudar Maxi a parar Gaitán. Ou seja, entrou a medo. Acabou por mudar a estrutura aí pelos 25 minutos porque o Benfica tapava muito bem o meio-campo e as alas não rendiam como era esperado (que grande jogo do Nelson Semedo a tapar Brahimi). A somar a isto, um espaço ENORME entre Ruben/Imbula e os jogadores da frente faziam com que o médio que pegava na bola pelo centro apanhasse um magote de vermelhos e quatro homens abertos lá na frente. Não funcionou e Lopetegui demorou a perceber isso.

(-) Bolas paradas defensivas Mudam os anos, mudam os treinadores e o problema mantém-se, como um primo que bate à porta na altura do Natal a pedir esmola para os jeovás. Com mil petardos, não há de haver uma forma de conseguirmos aprender a defender bolas paradas?! Os grandes lances de perigo do Benfica surgiram deste tipo de lances e é algo que me arrelia profundamente perceber que sempre que há um livre ou canto contra nós, aqui d’el Rei que lá vou eu roer as unhas, mas quando temos alguma coisa parecida do outro lado do campo, lá vou eu beijar a camisola e rezar a mil santos para a bola ir parar perto de um gajo de azul-e-branco. Treino específico, todos os dias.

(-) Soares Dias Fica já assente: eu também acho que o Maxi devia ter recebido dois amarelos. Aliás, ando a dizer isto há sete anos. Mas o problema de Soares Dias não foi (apenas) esse. Foi a forma como permitiu o anti-jogo do adversário desde o início do jogo, compactuando com as atitudes absurdas de Eliseu, Samaris, André Almenda, Gonçalo Guedes e companhia, constantemente preocupados em parar o jogo, agarrar a bolinha depois da marcação de faltas, atirar a bola para dentro de campo depois de sair pela linha lateral…este tipo de postura que já nos habituou há que tempos e que continua a passar sem que um árbitro lhes faça ver que esta merda é para jogar, não para arrastar. Soares Dias, com a complacência que mostrou, ajudou a que o jogo ficasse (mais) feio.


Uma vitória contra o Benfica é sempre motivo de felicidade e esta soube bem, especialmente por ter vindo numa altura em que já tudo parecia encaminhar-se para um triste empate. Ufa.

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Ouve lá ó Mister – Benfica

Señor Lopetegui,

Tudo porreiro? Espero que sim. Dormiste bem? Espero que sim. Estás pronto para um pequeno-almoço tranquilo? Espero que sim. Logo vais ganhar o jogo? Espero mesmo que sim.

Tem sido um arranque de temporada simpático, com jogos razoáveis e outros menos conseguidos, mas tens levado a nau a um porto agradável, sem Adamastores a tentarem copular com as tuas velas, Bigfoots a rasgarem-te a pele ou gigantescos abutres que te amarrem a uma rocha para te comer o fígado à espera que ele cresça de volta. Não creio que haja bichos no teu armário ou monstros debaixo da tua cama e garanto-te que os palhaços, por muito assustadores que possam parecer, não são tão Stephenkinguescos como mostram nos filmes. Não há papões, Julen, acredita. O que há é um adversário de nome e de talento, com um futebol que pode ser mais ou menos consistente do que no ano passado e que aparece aqui no Dragão com vontade de nos sacar os três pontos que podem e devem ser nossos. Não há que ter medo, não há que urinar pelas pernas abaixo nem esconder por detrás da mini-saia da mãe (porque a mãe, nesta história, até é bem jeitosa e tem umas coxas que prendem a atenção) à menor dificuldade. É um jogo diferente, não tenhas dúvida. É um jogo de tripla, como se diz por cá, onde as possibilidades de vitória são quase iguais para cada um dos lados. Mas tens uma coisa do teu lado: os cinquenta mil que vão estar nas bancadas que te vão dar o apoio todo que conseguirem se tu e os teus mostrarem que estão aí para ganhar o jogo. Nada mais te peço, Julen. Ganhar não é o único resultado possível, mas é o único que te vai reabilitar aos olhos de muitos adeptos que ainda não te vêem como um homem ganhador.

Muda-lhes a mentalidade. Ganha o jogo e deixa-nos dormir descansados hoje à noite com a noção de dever cumprido. Parece complicado mas eu sei que está ao teu alcance.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Benfica 0 vs 0 FC Porto

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Não tinha grande fezada para o jogo. Ainda assim, saí de casa e fui ver a bola com amigos para um café na baixa do Porto, rodeado de portistas que apoiavam a equipa mas lamentavam cada lance perdido, cada passe falhado e cada inconsequente ataque que a nossa equipa protagonizou perante um dos campeões em título que pode revalidar o troféu com o seu pior futebol dos últimos anos. Tinha logo de nos calhar um JJ resultadista quando percebeu que a jogar bonito raramente havia de ganhar. Enfim, os moços tentaram, lutaram e fizeram o que podiam fisica e mentalmente. Não chegou. Não há sumo para mais. Nem tomates. Parece que este ano esses também tem vindo a faltar. Vamos a notas:

(+) A pressão alta no centro. Se o Benfica permitiu que jogássemos com o bloco subido, também não é demérito nosso que o tenhamos ganho. Casemiro bem na zona recuada, Ruben prático no centro com Evandro e Óliver a rodar a bola como podiam no meio de tanta perna e pontapé à solta, conseguimos impôr alguma ordem e manter a bola como precisávamos. O facto de não ter havido incursões ofensivas suficientes devido à falta de um dos extremos deveu-se no fundo à opção de Lopetegui que não tendo conseguido ganhar o meio-campo na primeira volta, decidiu enchê-lo de gente na segunda. Ganhou o meio-campo, perdeu em acutilância e velocidade. Era expectável mas a aposta foi ganha. Não valeu de muito mas ainda assim conseguimos empurrar o Benfica para trás, o que nem todas as equipas conseguem.

(+) Alex Sandro. Foi um Alex de fina colheita, cheio de garra na luta individual e a aproveitar o facto de Gaitán estar a jogar tanto como Sálvio no jogo de hoje. Esteve forte, subiu com velocidade e não fossem algumas más decisões (e se tivesse sido só ele…) no último terço e teria sido bem mais importante no jogo. Mesmo assim é bom ver Alex a jogar com fibra e com convicção até à última, acabando o jogo esgotado como se viu num dos últimos lances em que não consegue controlar a bola em velocidade porque…já não a tinha.

(+) Casemiro. Cortes de carrinho é com esta versão brasileira e bem avantajada de Otamendi a trinco, porque não só se coloca na perfeição perante a progressão do adversário como usa bem o corpo para levar a bola e parar o ataque. Não parece o mesmo badocha que cá apareceu no início do ano e só tenho pena que provavelmente não o consigamos segurar por cá a não ser que haja contrapartidas extra na venda do Danilo ao Real Madrid.

(-) A quantidade absurda de passes falhados. E voltamos a isto, que desde o tempo de Vitor Pereira me enervava. Bola para Maicon, mão no sobrolho para tapar o sol e cá vai disto. Corre, Jackson, CATRAPUM, bola em Júlio César. É das maiores parvoíces que me lembro de ver a nível de organização de jogo de uma equipa de topo, onde apenas um avançado corre como um doido para apanhar a bola enviada do cimo de uma qualquer colina com um canhão napoleónico, com qualquer tipo de ridícula expectativa que o homem se vá posicionar para receber o esférico, controlá-lo na perfeição e esperar meia-hora que os colegas subam. E isto na zona recuada, porque a quantidade de passes desperdiçados em zona de preparação para finalização foi um dos motivos pela quase total ausência de situações de perigo que deixámos por criar hoje na Luz. Nervosismo, falta de pernas, seja o que for, não se podem falhar tantos passes.

(-) Herrera. Alguém se oferece para dar uma chapada a este gajo logo no início do jogo para ver se acorda? É tremenda a lentidão com que recebe a bola e o ritmo que tenta imprimir ao jogo quando tem a bola controlada em zona de pressão é tão elevado como a marcha fúnebre tocada em 12 rotações. Demora tanto tempo quando recebe a bola que lhe caía logo em cima o Samaris, o Pizzi, a águia Vitória que estava a comer erva em Monsanto, trinta gajos da claque que desceram do terceiro anel e doze toupeiras que por ali passavam. Herrera é muito lento e como dizia um amigo na semana passada, acha que todos os outros são lentos como ele. Nestes jogos então, onde cada metro do terreno é disputado com virilidade e velocidade, ainda se nota mais.

(-) Sem ovos e com poucos “huevos”. O busílis. O torcer de rabo da porca. O lançamento da moeda. Ou seja, aquilo que decidia o jogo. Lopetegui entrou em campo a tentar controlar o jogo e a manter o meio-campo nosso, esperando que a posse de bola decidisse a inclinação do campo e fizesse com que a equipa produzisse o suficiente para marcar um golo. Não conseguiu. E não conseguiu porque ao contrário do que Julen parece pensar, a equipa não carbura a esse nível. Os rapazes entraram com garra mas com pouca cabeça, dando ideia que o plano era não sofrer em vez de marcar dois. O título decidia-se neste jogo, por muito que possamos todos pensar que ainda faltam quatro jornadas e há hipótese do Benfica tropeçar e cair num qualquer estádio por aí fora. Não é provável. E ao ver isto, urgia que tivesse mais audácia ofensiva, que atirasse o cachecol para os quintos do caralho e se mandasse para cima deles com raiva e fúria, de orgulho ferido e fome de vitória. Não foi isso que vi. Talvez não seja só Lopetegui que não o fez, talvez Munique ainda andasse no córtex dos jogadores, temerários depois da enxaguadela de realidade que apanharam na terça-feira. Mas se a luta foi boa e os rapazes se bateram com garra e dedicação, o facto do jogo se ter travado a meio-campo por força da estratégia de Lopetegui foi o início do fim da história. Lembrei-me de Vitor Pereira naquele inacredivável 2-3 na Luz em 2012. Sim, Vitor Pereira tinha mais ovos (Hulk, Moutinho, Fernando, Lucho, James, por exemplo) para fazer uma omolete. Mas também teve mais “huevos”. E isso fez toda a diferença.


Quatro jogos, doze pontos. Vou telefonar ao Nate Silver para me dar a probabilidade de sermos campeões, mas aposto que não é alta. Não interessa, até ao fim vou acreditar. Vocês também deviam.

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Ouve lá ó Mister – Benfica

Señor Lopetegui,

Este é praí o oitavo “jogo do ano”, Julen. Começa a ser entediante a quantidade de “jogos do ano” que já houve durante esta temporada, mas a verdade é que todos eles foram importantes à sua maneira. No entanto, a nível da importância específica que um jogo pode ter, este é mais importante que uma eliminatória da Taça e bem mais que um jogo da fase de grupos da Champions. Há um travo amargo na nossa boca, um sabor a fel e urina e esperma e sei lá que mais líquidos cá entraram e que nos ficou aqui a trabalhar desde terça-feira…e não finjas que estás enojado porque todos nós saímos de Munique todos doridos e sem posição para nos conseguirmos sentar em condições.

E este jogo é mesmo importante. Já viveste um FC Porto vs Benfica e sabes o que dói apanhar na pá em casa. Todos ficamos a saber, mesmo tendo passado bastante tempo depois da última encavadela que levamos no nosso campo (a última daquelas que me doeu mesmo foi a que o Adriaanse levou e essa custou ainda mais por causa do Bruno Alves não ter estourado os dentes todos ao Nuno Gomes. se lhe vai dar uma tolada, ao menos que seja eficaz!), a verdade é que dói sempre. E naquela altura jogámos bastante bem mas não conseguimos dar cabo dos gajos. Eles foram melhores que nós, Julen, o JotaJota foi melhor que tu, foi mais esperto, mais rato, mais fuínha. Há que meter isso dentro da cabeça e deixar que germine, que crie a fúria que vão precisar para levar de vencida aqueles fulanos. Todo o trabalho de uma época pode ficar hoje por terra se não conseguirem vencer o jogo. E não chega vencer. É preciso vencer por dois. Feito complicado, não é? À partida parece que sim, mas eu sei que vocês têm aí dentro uma vontade enorme de pontapear a bola para a rede e fazer com que o país nos volte a respeitar. Que o país VOS volte a respeitar a todos.

Vocês precisam disto. Nós precisamos disto. Raios, nós merecemos isto! Vocês merecem! Mas têm de fazer por isso. Entrem em campo com espuma a sair por entre os dentes, com a vontade de empurrar os tipos para trás e dizer: “De retro, estupores! Ides cair como cães, ides lamber a relva e trincar o ar que passa pelas vossas ventas depois de passarmos por aí a voar. Sofrereis, vergar-vos-emos, pelo Porto, pela honra e pelo Pinto da Costa!!!”

Sou quem sabes,
Jorge

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