Ouve lá ó Mister – Braga


Amigo Vítor,

Olha ali para o fundo. Estás a ver o mesmo que eu? É uma linha, não é? Já está à vista, não está? É o final do campeonato, homem. A partir daqui já não podemos olhar para trás, para todos os pontos que perdemos contra equipas que não deviam ter tido a capacidade de os roubar do nosso saco, já não temos o luxo de ver videos de jogos de um passado mais recente do que queríamos, disputados em Olhão ou Aveiro ou Barcelos (para não dizer Coimbra, Lisboa, São Petersburgo ou Nicosia porque essas são contas de outros campeonatos) porque o tempo agora é de olhar para a frente. Já o era há meses, mas agora é mesmo mesmo mesmo mas MESMO preciso olhar em diante para enfrentar o horizonte que se aproxima tão rapidamente. Hoje, o horizonte arrasta-se mais um naco na nossa direcção.

Tens duas ou três hipóteses de encarar este jogo. A primeira é vê-lo como fizemos no ano passado na final da Liga Europa. Frios, feios, porcos e maus. Sem brilhantismos, com eficácia, olhar na baliza e ganhar por meio já é um bom resultado. A segunda opção é fazer um jogo de construção ofensiva entusiasmante, perfeição posicional defensiva e troca de bola a meio-campo que faz o Michels pensar que a Laranja Mecânica ressuscitou e joga de azul e branco. A terceira…é ser sério e perceber que apesar do Braga mostrar qualidade e apesar de ter um grupo de rapazes entusiasmados e interessados no jogo…nós somos melhores. Mas temos de mostrar que somos melhores no campo, com inteligência, passando bem a bola, aliviando quando houver perigo na defesa e rematando quando houver uma brecha para o fazer na frente. Lucho e Moutinho vão ser fundamentais. Hulk também. James também. Raios, todos são essenciais, até os do banco. Temos de jogar bem, temos de ser unidos, temos de estar concentrados.

O jogo vai ser difícil. Todos temos essa noção. Mas também temos a noção que vocês sabem disso. E não há mais nada que passe pelo coração de qualquer portista que não a vitória hoje à noite na Pedreira. O Braga tem feito uma excelente temporada, é verdade. E se depender de mim, essa excelente temporada acaba hoje.

Sou quem sabes,
Jorge

 

APOSTAS PARA HOJE NA DHOZE:

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Sejamos os nossos próprios estofadores

Odeio clichés. Estou a usar a palavra “odeio” para me referir a clichés, para verem a força da minha aversão ao uso desses recursos. Nunca estou “à beira de um ataque de nervos”, “perto do precipício” ou “com fogo no rabo”, não dou “uma no cravo outra na ferradura”, não sou “amigo da onça”, não choro “lágrimas de crocodilo” nem “faço das tripas coração”. Evito-os como um acrófobo foge dos telhados de arranha-céus.

É em grande parte devido a esse escárnio pela muleta fácil de qualquer língua que me incomoda a grande maioria das notícias dos nossos jornais. A sequência de lugares-comuns é tão escabrosa e entediante que deixa qualquer um com o nível de tédio tão alto que apetece ler um bocado de Kafka só para desempoeirar o cérebro. Salvam-se alguns cronistas que por muito antagónicas que sejam as posições defendidas perante os mais diversos assuntos do panorama da bola quando comparadas com as minhas, há alturas em que cedo à qualidade da retórica e penso para os meus bot…(não, Jorge, clichés não, és superior a isso)…e penso: “Ah, seu malvado. Confundes-me com esta retorcida verborreia e colocas-me perante a periclitante posição de ter de ceder às tuas vontades. Não deixarei que a tua vil eloquência me conquiste, pulha!”. Depois passa-me a fúria e mudo de página.

Tanta parvoíce para dizer o seguinte. Estou farto do termo “estofo de campeão”. A primeira vez que ouvi essa alarvidade fiquei a pensar que estavam a falar de um sofá muito caro, mas aparentemente é aplicada no mundo do futebol, quando uma equipa consegue chegar a uma determinada altura da época num lugar perto do topo e com possibilidades de chegar ao final em primeiro lugar. E o Braga, admito, é uma equipa que tem…aham…estofo de campeão. E nós? Toda a gente nos diz desde o início da temporada que não o temos. Que o perdemos, que o deixamos no Metro, sei lá, mas de qualquer forma a imagem que tem sido constantemente passada por jornalistas e analistas (raios, até pelos próprios adeptos!) é a de que o FC Porto é uma equipa sem técnica, sem liderança e à rasca para se manter viva e na luta pelo título, ao passo que o Braga está pujante e vibrante, com a força de duzentos sóis e a energia de duzentos mais.

Não suporto isto. Estamos em primeiro no campeonato e dependemos só de nós para sermos campeões. As exibições não têm sido geniais? Too fucking bad. Só lá estamos porque os outros têm perdido pontos inesperados? Também nós. O Braga joga melhor futebol que o FC Porto nesta altura? Veremos.

Só há uma coisa a pensar até Sábado: quem vencer o jogo mostra que tem estofo de campeão. Mas sejamos nós ou eles a sair do Axa com os três pontos, a outra equipa não é automaticamente “desestofada” porque até ao fim ainda há mais quatro jogos. O único pensamento até Sábado, repito, tem de ser este: vamos ganhar este. E depois vamos ganhar os próximos.

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Afinal estamos com medo de quem?!

Vamos lá ser sérios e realistas. Estamos com medo de quem?

  • O Quim é mais seguro que o Helton?
  • O Miguel Lopes é mais eficaz que o Sapunaru?
  • O Elderson bate o Álvaro Pereira em alguma área de jogo?
  • O Douglão é mais inteligente que o Maicon?
  • O Nuno André Coelho é mais rijo que o Otamendi?
  • O Custódio tem melhor jogo posicional que o Fernando?
  • O Hugo Viana sabe organizar melhor o jogo que o Moutinho?
  • O Mossoró tem a classe e a visão do Lucho?
  • O Helder Barbosa tem a velocidade e potência de remate do Hulk?
  • O Alan tem o talento e a criatividade do James?
  • O Lima tem a experiência do Janko?

Alguma destas frases é verdadeira? Se acham que sim, então baixem já as calças antes de entrarmos no Axa e borrem-se todos de cagaço do Braga. Os gajos têm uma boa equipa mas não entro nesses mind-games de treta, como se fôssemos uma equipa pequena e sofredora, à rasca para triunfar numa prova em que temos mais que capacidade para vencer. Não vamos encontrar uma equipa com gigantes de três metros, um treinador que combina o talento defensivo de Sacchi com a criatividade de Bielsa e um estádio cheio de híbridos greco-turcos que vomitam fezes pela boca. Raios partam a conversa de coitadinho, vamos ganhar o jogo e acabou a conversa!

É NO PRÓPRIO POTENCIAL QUE OS NOSSOS JOGADORES TÊM DE ACREDITAR!!!

E ficam a faltar quatro jogos para mais um campeonato.

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No último jogo "fora" contra o Braga

No último jogo que disputámos contra o Braga fora do Dragão pode-se reduzir a duas fotografias:

Esta:

E esta:

Onze meses depois, ambos os jogadores do FC Porto mais próximos da bola em cada uma das frames tinham nascido no mesmo país e se os alinhássemos lado-a-lado com o primeiro à esquerda e o segundo à direita, os algarismos nas suas camisolas formariam um número tão usado com tom jocoso por miúdos de 14 anos ou jovens de 74. O “6” joga agora no Inter. O “9”, no Atlético Madrid. Nenhum deles pode ser campeão este ano, só para aprenderem que nem sempre se sai para melhor.

O FC Porto tem uma equipa muito diferente daquela que esteve no Aviva Stadium em Maio de 2011. Mas o resultado deste jogo do próximo sábado pode ser o mesmo. Não me importo nada que seja o “3” a cruzar para o “29”. Até pode ser o “4” a passar de trivela para o “11” marcar de costas.

O que é preciso é ganhar este jogo.

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Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 2 SC Braga

Imaginem-se num jardim zoológico. Estão em frente a uma certa zona onde alguns belos espécimens do mundo animal brincam alegremente, com os dotes que Deus lhes deu aplicados ao convívio salutar entre aqueles de que gostam e conhecem. Para lá das tradicionais brincadeiras entre os membros da mesma espécie, reparam que há uma empatia entre os bichinhos que surge após uns minutos de estranheza comum mas que gradualmente vai transparecendo para o exterior, surpreendendo os observadores, que já não iam ao zoológico há tanto tempo e só os vendo pela televisão não estavam habituados a ver os animais a interagir com um grau de maturidade a um nível tão interessante. Entretanto, tão distraídos estavam no meio desta utopia, nem reparam nos macacos da jaula que estava uns metros ao lado e são surpreendidos quando os mesmos símios procedem a atirar dois grandes montes de fezes na vossa direcção. Não vos acertam em cheio, mas houve alguns salpicos que quase manchavam a vossa experiência. Se a metáfora falhou redondamente, a culpa é vossa, porque isto foi o que vi hoje à noite no Dragão. Notas abaixo:

 

(+) Hulk É o jogador mais importante do FC Porto neste momento, porque vai conseguindo mascarar alguma ineficácia ofensiva da equipa através das jogadas individuais. Depois de uma primeira parte relativamente ineficaz, Hulk conseguiu marcar o primeiro de cabeça depois da melhor movimentação de equipa dos 45 minutos iniciais (com Defour e James ao barulho) e na segunda parte subiu ainda mais a produção com o segundo golo (excelente remate) e a assistência para Kleber marcar o terceiro. Kleber, aliás, que só tem a lucrar com um Hulk criativo e prático, que não aconteceu na primeira parte principalmente pelo excelente jogo dos centrais do Braga, que o forçavam a desviar-se constantemente para longe da baliza e a perder ângulo de remate. Quando teve oportunidade de aparecer pelo flanco a história foi diferente, para melhor. Acabou o jogo exausto e o penalty que cometeu é exemplo disso, já que a forma como se lançou como um tolinho sobre o jogador do Braga é ridícula, só explicável quando o jogador já está de rastos fisica e mentalmente. E teve sorte em não ser expulso…

(+) Fernando Importantíssimo na cobertura defensiva, parece que temos o Fernando a 100% depois do início de época menos produtivo, com Vitor Pereira a procurar alternativas entre outros jogadores do plantel, desde Moutinho a Souza, nenhuma delas com o mesmo nível de produtividade competitiva que Fernando entrega à equipa. É surpreendente que muito embora possamos estar desde 2008 constantemente a reclamar que Fernando é um elemento que já deu o que tinha a dar à equipa, que é preciso outro, melhor, mais maior grande, um Patrick Vieira (que se arranja facilmente como todos sabem), pronto. E Fernando está sempre lá, sempre humilde e trabalhador, com momentos menos bons mas quase sempre com empenho e luta e alma. Essencial.

(+) Moutinho Um belíssimo jogo de Moutinho, finalmente. Parece um pouco diferente do João do ano passado na medida em que tenta mais passes de ruptura e mantém menos tempo a bola nos pés, o que lamento mas tendo em conta o estado de ansiedade da equipa e a vontade de matar os jogos mais cedo até consigo compreender. No entanto, para lá da pequena mudança de estilo, esteve muito bem no meio-campo, a rodar o jogo para os sítios certos, abrindo espaços para Álvaro quando estava no lado esquerdo e rasgando o campo em passes bem medidos para Hulk e Djalma, do lado direito. Teremos o nosso 8 de volta? Pelos dois últimos jogos, tudo indica que sim.

 

(-) Maicon na primeira parte Vitor Pereira pode estar ainda a castigar Fucile pela exibição na Rússia, mas a verdade é que Maicon, por muito que tente e se esforce para ser uma opção válida para a equipa, obviamente não será na lateral direita que se vai afirmar, por muito que o nome ajude. Maicon só é sinónimo de defesa direito no Internazionale e a forma como se deixa antecipar por extremos velozes ou outros que nem por isso, como foi o caso de Paulo César hoje no Dragão, é sintomática de um jogador que luta, mas não sabe nem tem características morfológicas para ser um jogador que nos dê garantias de alta qualidade naquela posição. Melhorou na segunda parte, mas não foi bom.

(-) Público na substituição de Defour Inexplicável e surpreendente, ao nível de ouvir os adeptos do Braga a mandarem o próprio treinador para o sinónimo fálico que todos conhecem. Defour, cansado e claramente em baixa de rendimento depois de uma boa primeira parte, foi bem substituído por Souza para refrescar o meio-campo. Nada de especial…a não ser para tanta gente que aparentemente não consegue perceber que quando um rapaz está estourado não consegue render e que a equipa estava a precisar de uma injecção de força no centro do terreno. São estes os mesmos adeptos que aplaudiam quando Raul Meireles, qual relógio suíço, saía TODOS os jogos por volta dos 70 minutos ao som de aplausos, fazendo tanto ou menos que Defour fez nos últimos dois jogos? É difícil de compreender esta malta.

 

Duas já estão, só falta a terceira. Desde o absurdo resultado de Coimbra que se estabeleceu oficiosamente entre os sócios que os três jogos seguintes iriam ser responsáveis pela manutenção ou não de Vitor Pereira no comando. Não sei se é a verdade como a SAD a vê, mas sei que a maioria dos portistas que estavam de fora, por muito que pudessem ou não concordar com essa mesma premissa. O que é certo é que o futebol praticado pós-Taça tem sido bem superior ao que tinha vindo a ser exibido até então. Não faço ideia, mais uma vez, se tal se deve a Pinto da Costa, aos jogadores ou ao próprio Vitor Pereira. Mas as coisas parecem estar a ganhar um formato de normalidade, por muito que os nossos padrões de exigência estejam num ponto bem mais baixo do que é habitual…

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