Ouve lá ó Mister – Braga


Amigo Vítor,

Aqui há uns meses, em Maio, fui falar com o meu chefe para lhe pedir se podia trocar um dia de férias em Dezembro por um lá pró meio do mês. O homem, compreendendo a minha ânsia de ir ver o FC Porto à cidade onde a Guinness flui pelas ruas e os duendes saltam alegremente nos jardins, acedeu ao meu pedido e seguiu aqui no blog a epopeia que foi a viagem a Dublin para ver este mesmo adversário que vamos enfrentar hoje. E que vamos bater, como fizemos em Maio, em Dublin. Não quero saber se joga o Djalma, se o Hulk pintou o cabelo de fuchsia ou se o Rolando faz um hat-trick com um último golo em pontapé de moínho de fora da área. Interessa-me, sinceramente, é perceber se aquele empenho que vi na Ucrânia não ficou no estrangeiro e se mesmo depois de aterrar em Vigo, descobriu o caminho para o Dragão.

Hoje é a reedição da final da Liga Europa do ano passado. Basta-me o mesmo resultado.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 0 Braga

Foi numa fria tarde de Maio, ao contrário do calor de Sevilha, que conquistámos mais um caneco que tem o mesmo formato mas um nome diferente. Em oito anos tanto mudou que o aprendiz, qual Anakin Skywalker para Obi-Wan Kenobi (invertendo os papéis morais), se transformou finalmente num mestre. A final foi um jogo rijo, mal jogado, com poucas ocasiões de perigo e muito do que se pode chamar “cagaço táctico” de parte a parte. Era uma final e se estavam à espera que o FC Porto, este FC Porto, a mesma equipa que deslumbrou a Europa nos últimos meses com um futebol bonito de posse e controlo entrasse em campo com a mesma desinibição, só pode ser chamado de lírico. Aqui, neste jogo dos jogos, qualquer falha pode ser fatal e um deslize pode ser irrecuperável. O Braga que o diga, porque o excelente golo de Falcao (na única oportunidade séria de que dispôs durante o jogo) podia ter sido contrariado por Mossóró. Não conseguiu. É nestes pequenos pormenores que se decidem estes jogos e o de Dublin foi só mais um. Vitória, nossa, merecida, conquistada a pulso. Linda.

 

(+) Falcao É inegável que Radamel é a figura da época portista a nível europeu. Se no campeonato pode dividir o prémio com Hulk ou até perder ligeiramente para o brasileiro, sempre que o logotipo da Europa League aparecia nas camisolas, só um nome fazia as pessoas acreditar sempre na vitória: Falcao. Não teve um jogo brilhante, muito graças ao excelente jogo de Paulão, mas deixou mais uma vez a marca do que é um goleador nato. Uma oportunidade clara, um golo. Neste caso, o golo. Espero que fique pelo menos mais um ano, porque para além de excelente jogador já é um ídolo para todos os adeptos e será sempre tratado como um Deus colombiano no Dragão. Mesmo que saia.

(+) Guarín Foi o melhor jogador do FC Porto na primeira parte e apesar de ter baixado a produção na segunda porque não aguentou o ritmo de jogo e perdeu-se um pouco em campo, foi o principal suporte no centro do terreno. Com Fernando abaixo de apagado e Moutinho permanentemente pressionado quer por Vandinho quer por Custódio, Fredy pegou no facho da organização de jogo e pegou no jogo como era preciso naquela altura. Excelente na intercepção no meio-campo, a jogada do golo é perfeita, o cruzamento para Falcao é milimétrico. Ah, Guarín, quem te viu e quem te vê…

(+) Otamendi Subiu muito em relação aos últimos jogos. Vários cortes importantíssimos com os tradicionais “carrinhos” (ou tackles rasteiros, se quiserem ser arrogantes) mas acima de tudo foi dos poucos na defesa que não pareceu tremer com a subida dos jogadores do Braga na segunda-parte, já que Álvaro temia Alan e qualquer outro que aparecesse no overlap, Rolando parecia não saber onde Meyong iria aparecer e Sapunaru, apesar de bem a defender, ficou bem mais cauteloso e a dar espaços em demasia depois do lance em que podia perfeitamente ter sido expulso. Nico hoje mostrou o que queria ver nele desde o início: liderança. Gostei, rapaz.

(+) Braga Quando Pinto da Costa disse que uma final contra o Benfica seria mais fácil, por muito que o intuito tenha sido recheado do seu habitual sarcasmo, teve alguma razão. Não sei se seria mais fácil, mas o que é certo é que o FC Porto poderia ter imposto o seu futebol de uma forma diferente e mais fiel às raízes do sistema de Villas-Boas. Assim, com o Braga a fechar o ferrolho com onze defesas ofensivos, entre os quais um Alan sem pernas mas com muita inteligência a proteger a bola, Sílvio a fazer bem o flanco, Custódio a dominar o meio-campo e Paulão a exibir-se em grande nível (está em final de contrato…que tal?), o Braga encarou a final, parafraseando os ingleses, “at face value”. Ou seja, jogou o jogo da maneira que o jogo deve ser jogado. Não passou por loucuras e os jogadores estiveram calmos e agressivos o suficiente para complicar muito a vida ao FC Porto. Vencemos, é certo, mas o Braga não ajudou nadinha. Parabéns, malta, foram uns dignos finalistas!

(+) Ambiente em Dublin Sim, em Dublin e não só no Aviva Stadium! Os muitos adeptos do Braga que íamos encontrando enquanto passeavamos pela cidade saudavam-nos sempre com um sorriso (que era prontamente retribuído) e uma final que pode sempre potenciar comportamentos anti-sociais acabou por se transformar numa festa da bola, com toda a gente em amena conversa e discussões amigáveis sobre futebol, cerveja e “porque é que estes irlandeses parece que têm catarro na boca sempre que falam lá na língua deles?”. Foi bonito de ver e sentir.

 

(-) Fernando Mas que jogo mais ridículo fizeste hoje, Fernando! Apesar de encarar um meio-campo aditivado do adversário, a forma como andou quase sempre perdido no meio-campo foi enervante e acabou por prejudicar a equipa porque a cobertura dos espaços que eram criados pelo Braga nunca foi feita com o mínimo de coerência. Para além do “brinde” a Mossóró, saiu vezes demais da sua posição, por nervosismo ou por simples hesitação, mas raramente recuperou as bolas (tanto em número como em importância) que é costume vê-lo a fazer. Parece que estou a ver a aplicação prática do Princípio de Peter, onde Fernando parece não conseguir passar deste ponto em que é bom a defender mas apenas quando a equipa toda está a ajudar a pressionar. Se os colegas não têm pernas para acompanhar uma pressão constante aos médios adversários…está o caldo entornado.

(-) Varela Nota-se que não está em boa forma. Os piques são lentos e arrastados, a velocidade é baixa e os dribles em progressão não saem como ele quer. Não há muito mais a dizer, parece-me que ficou tempo demais em campo para a produtividade que estava a mostrar e é um dos jogadores que mais está a precisar que esta treta acabe para ir de férias. Está quase, Sr.Silvestre, só falta mais um joguinho no Domingo!!!

(-) Dificuldade na gestão de posse de bola No início, nervoso como estava, acabei por tecer algumas considerações num português bastante eloquente do ponto de vista do calão nortenho acerca da maneira como o FC Porto estava a recorrer ao jogo directo, com passes longos tanto horizontais como verticais para evitar que a bola atravessasse o magote de gajos de vermelho e branco que enchiam o meio-campo. Com o decorrer da partida, ainda nervoso mas mais analítico, percebi que era a forma que Villas-Boas tentou fazer com que os jogadores não perdessem a bola e assim, como o nosso jogo obriga a um jogo mais subido, evitar as transições rápidas do Braga. Mas o que mais me enervou foi mesmo a maneira exageradamente relaxada com que a equipa entrou para a segunda-parte…e tremeu quando Helton fez a única defesa complicada do jogo depois do remate de Mossóró. A nossa zona mais defensiva foi pressionada e mais uma vez não gostou e não se soube safar tão bem quanto seria exigível.

 

 

A festa foi boa, animada, divertida e bem-disposta. Guinnesses aparte, adeptos do FC Porto e do Braga passaram uns pelos outros com uma camaradagem que mostrou a toda a gente que os ódios devem ficar guardados num poço ou atirados para um saco de areia. Já posso dizer que fui feliz em Dublin. Fui muito feliz em Dublin, meus amigos, e todos os Portistas vão-se lembrar do nome desta cidade durante muitos anos. Porque foi lá que com todo o mérito, com toda a humildade dos campeões, o FC Porto fez um jogo trabalhador, simples, honesto e esforçado. E trouxe para casa o caneco. Somos campeões!!!!!!!!!

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Ouve lá ó Mister – Braga

André, finalista!

É hoje.

Uma temporada para a história, até agora. A Supertaça foi excelente, a Liga divinal. Ninguém, nenhum de nós, os indefectíveis Portistas, aqueles que vão aos jogos todos no Dragão e até os imparáveis apoiantes nos jogos fora, entre os milhares, as centenas de milhares, os milhões de Dragões por esse mundo fora, simpatizantes e sócios, ninguém esperava este destino. Dublin pode entrar para a lista de cidades tão importantes para qualquer Portista como Viena, Sevilha, Gelsenkirchen ou Tóquio. Basileia e Mónaco não interessam a ninguém, como se sabe, ainda por cima fala-se francês em ambos e ninguém fala Francês. Até em França o evitam.

De qualquer maneira, a épica época pode sê-lo ainda mais. Hoje. André, tens a hipótese dos guerreiros de Esparta, dos heróis pré-Olímpicos, de inscrever o teu nome na curta lista de treinadores vencedores na Europa. Shankly, Trapattoni, Van Gaal, Lucescu, Eriksson, Mourinho…Robson. Sir Bobby Robson, o teu primeiro mentor, o homem que te lançou nesta louca cavalgada de onde estás a emergir como um homem com nome próprio. Hifenizado, é certo, mas teu. E estás a noventa curtos minutos de distância.

Tens as armas todas prontas. Um guardião elástico, firme, seguro e confiante; um quarteto defensivo experiente, rijo, duro e entrosado; um meio-campo dinâmico, criativo, solidário e talentoso; e um ataque versátil, rápido, agressivo, eficaz, imprevisível e irreverente. Tens tudo e tudo foi pela tua mão. Aproveitaste as fundações de Jesualdo, a inteligência de Pinto da Costa, a escola de Pedro Emanuel, a força de José Mário, a visão de Daniel Sousa, a visão de Vitor Pereira e a cultura de Will Coort. Pegaste em todos os ingredientes deste conjunto de homens trabalhadores e agregaste tudo numa mescla de profissionalismo e vitória.

Só faltam noventa minutos. Estou lá em cima, junto dos gajos de azul-e-branco. Vence, André. Por ti e por nós.

Sou quem sabes,
Jorge

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Parabéns, Mingos!

 

foto retirada de uefa.com

Como jogador nunca chegaste a uma final. Como treinador já deixaste a tua marca.

Parabéns, rapaz. Só não te aplaudo mais porque ainda temos de jogar contra ti. E perdoa-me a heresia, mas em Dublin vais ser inimigo.

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A linha do meio-campo

Olhando para o MatchCenter no site oficial da Liga, podemos ter uma visão abrangente do que se passa nos jogos da nossa equipa.

Aqui ao lado está a estatística mais pertinente do jogo da pedreira. O número das recuperações de bola não é particularmente elevado, o que está directamente relacionado com o tipo de jogo do adversário, mas o que interessa mesmo é a linha de recuperação. O facto da média das 92 retomas estar colocada em cima da linha de meio-campo é sinal de um jogo alto, pressionante, com a defesa subida e o meio-campo a controlar.

E é aí que se começam a ganhar jogos, especialmente a jogar fora de casa.

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