Baías e Baronis – Olhanense 2 vs 1 FC Porto

foto retirada de desporto.sapo.pt

Há muitos anos que vejo o FC Porto e há determinadas alturas em que me lembro de uma simples metáfora: uma pá no fundo de um poço. Estamos agora nesse poço, num buraco escavado até às profundezas do planeta, de onde olhamos para cima só para conseguir vislumbrar um pouquinho de luz que entra pelas negras paredes do tubo de ar rodeado de pedra em que fomos colocados. E no fundo desse poço, na húmida e granítica terra que pisamos, há uma pá. E nós, diligentemente, continuamos a cavar, à procura de um lugar ainda mais profundo, mais escuro, onde a esperança se desvanece e a alma se dirige para morrer. Enfim, é esta a nossa sina deste ano. Vamos a notas:

(+) Herrera. Foi dos poucos que pareceu querer tirar alguma coisa do jogo, quiçá a pensar na possível convocatória para o Mundial ou a equacionar já o seu destino na próxima época. Insiste em jogadas com a bola controlada e perde muitos duelos individuais porque o adversário é habitualmente mais rápido, mas é bom a bola nos pés que consegue ser melhor que os colegas, porque sabe o que fazer com ela…apesar de nem sempre o conseguir. Excelente golo.

(+) Varela. Não esteve bem, como quase nenhum dos jogadores que alinharam hoje em Olhão, mas tentou. Trapalhão como de costume (se alguém planear uma versão núbia dos Três Estarolas para ser exibida no BET, Silvestre está lá na primeira fila das audições…), falhou imenso mas não foi por falta de esforço da parte dele que o FC Porto quase não criou perigo durante todo o jogo. Ao que eu cheguei, meus amigos, quando dou uma nota positiva ao que Varela fez hoje…

(-) Sem orgulho, sem horizonte, sem objectivos. A metáfora que mencionei na introdução, a da pá no fundo do poço, funciona perfeitamente para o jogo de hoje. Mas poderíamos ir um bocadinho mais longe se substituirmos a pá por um martelo pneumático ou com uma simples alegoria mencionando a tectónica das placas. E há atenuantes, pelo menos dezoito atenuantes que hoje vestiram a nossa camisola e passearam pelo José Arcanjo a sua quase total ausência de motivação e entrega à causa. Patéticos no passe, distraídos na defesa, desinteressados no ataque, é esta a imagem que tantos homens que ocupam posições que milhões invejam e venderiam a própria sogra para poderem lá dar umas horinhas (vender a mãe, para lá de cliché, parece-me exagerado especialmente porque o jogo foi disputado no dia delas) e embolsar a glória e o orgulho de poderem dizer um dia: “Já fui jogador do FC Porto!”. E impressiona-me que o orgulho não bata mais alto no coração de tantos daqueles rapazes, porque se Tozé e Kayembe, a quem claramente tremeram as pernocas quando tinham de fazer alguma coisa com a bola, eles que tão bem têm jogado na B (mais o português que o belga, que continuo a achar ainda um pouco verdinho para estas andanças), a verdade é que os outros…enfim. Carlos Eduardo foi mais do mesmo, escondido, sem procurar a bola, sem querer jogar nem fazer jogar; Fernando e Jackson, a passo, como se estivessem com o cronómetro prontinho para acabar a época de vez; Danilo, um dos nunca-será-amado dos nossos mais recentes plantéis, sem conseguir fazer um passe ou um cruzamento em condições, desentendendo-se com todos os colegas que conseguiu; Ricardo, inadaptadíssimo naquela lateral esquerda; Maicon e Reyes, sem perceber como jogar juntos, lentos e com falhas de concentração de nível amador. Não entendo como há tanta falta de orgulho próprio, de vontade de olhar para trás e saber que se fez o possível, que as coisas correram mesmo mal mas que não foi por culpa de A ou B. A culpa é conjunta e têm de a assumir, sejam quais forem as consequências…mas o que mais questiono nesta mais horrenda das temporadas é o empenho dos jogadores em fazer com que o trabalho fosse bem feito, sem lamentos, sem remorsos. Não entendo como é que conseguem sair do campo, tomar banho, seguir viagem para casa, encostar a cabeça na almofada e dormir descansados. Eu, sinceramente, não conseguiria.


Uma semana. Falta uma semana e acaba tudo, vamos de férias ver trinta e tal espectáculos sofríveis de futebol e meia-dúzia de embates históricos. Até lá, três finais do Benfas e um jogo contra esses mesmos rapazes no Dragão. Uma semana. Uma. Semana.

Link:

Ouve lá ó Mister – Olhanense

Estimado Professor,

Escrevo-lhe estas palavras quando as vozes dos nobres cantores do fado de Coimbra estão a ecoar nas paredes da Sé (ou da Relação, já nem sei onde é este ano…), enquanto milhares de estudantes, trajados até ao osso e metade já semi-alcoolizados vão ouvindo em silêncio (os que conseguem) alguns dos acordes que sinalizam o início do fim da sua vida académica. E estabelecendo um paralelismo com a sua carreira no FC Porto, presumo que acredite que mais garrafa, menos garrafa de tinto, os sinais são os mesmos e a rampa será idêntica. Ainda assim, não sabendo o que se irá passar nas próximas semanas, acredito que vai tentar fazer o melhor possível no tempo que resta.

Assim sendo, mesmo considerando que a equipa que gere está numa forma semelhante à que se encontrava quando pegou nas rédeas da mesma aqui há uns meses, não deixo de ficar surpreendido pela presença de vários Bs nos convocados. Tozé e Kayembe (mais o primeiro que o segundo) já fizeram o suficiente para merecer uma chamada, mas talvez houvesse espaço para mais um ou dois. Pedro Moreira, por exemplo, que não sendo um génio do futebol é lutador e tem sido um líder da equipa secundária; Ivo, um extremo como poucos que temos, que vai para cima dos defesas sem medo; Victor Garcia, para continuar a mostrar que pode ser alternativa a Danilo; Quiño, que nem está a fazer uma época extraordinária mas fazia com que não precisasse de inventar na lateral esquerda; ou Mikel, para jogar em vez de Fernando e dar descanso ao nosso guerreiro. Havia muitas alterações mais a fazer mas a opção é sua, será sempre sua e nós, que estamos de fora, é que gostamos de as analisar sem saber o que por aí anda na sua cabeça.

Muito bem. Faltam apenas 180 minutos para o fim do desterro e é mais que tempo para sacar duas vitórias. Acima de tudo vamos sair disto com a pouca honra que nos resta. É que perder com o último classificado, francamente, não lembra nem ao adepto mais pessimista.

Sou quem sabes,
Jorge

Link:

Baías e Baronis – FC Porto 4 vs 0 Olhanense

Foi talvez o jogo mais fácil do ano, pelo menos do campeonato. E foi fácil não só pela inepta participação do Olhanense, digno representante da segunda Liga do próximo ano se mantiver este nível de qualidade que mostrou hoje, mas também porque o soubemos tornar fácil. Sem um futebol extraordinário, a equipa foi prática e ofensiva nos momentos necessários, com várias peças em sub-rendimento mas acima de tudo com um rapaz que está a cair bem no goto dos adeptos pela capacidade criativa, desenrascada e inteligente com que tem vindo a jogar e a fazer jogar o FC Porto. Carlos Eduardo é o homem do jogo e é um bom exemplo da forma como podemos aproveitar a equipa B para ir construindo a imagem de um jogador para que ele próprio saiba aproveitar as oportunidades quando lhe são dadas. Vitória grande que podia (e devia, não fosse o guarda-redes do Olhanense defender montes de lances de golo feito) ter sido bem maior. Vamos a notas:

(+) Carlos Eduardo. É diferente de tudo que tinha visto este ano, o que se torna ainda mais importante quando percebo que o faz a partir de uma posição que estava tão necessitada de um jogador mais irreverente que Lucho, perdido em teias defensivas que o faziam perder-se em campo e obrigavam o FC Porto a jogar quase com menos um jogador. Carlos Eduardo, que até começa a fazer lembrar Deco pelo estilo de controlo da bola e pelo remate fácil (e que grande golo marcou hoje), pode ser uma peça importante para a contínua evolução da equipa e acima de tudo para conseguir fazer o que nenhum colega até agora tinha conseguido: um meio-campo ofensivo que desiquilibre quando chega perto da área. Gostei de o ver mais uma vez e estou certo que só perde o lugar que ganhou a pulso se baixar muito de produção.

(+) Fernando. Com Lucho “a seu lado” mas não literalmente na horizontal do agora luso-brasileiro, Fernando solta-se. Há mais espaço, menos Defour, menos Herrera, menos Josué, menos factores que atrapalham a progressão do 25 em campo e essa liberdade, por muitos reclamada desde o início da temporada, nota-se na perfeição quando recebe a bola em balanceamento ofensivo e procura um colega na lateral, levando o jogo mais para a frente, cada vez mais para a frente. Esteve bem na intercepção mas particularmente bem na rotação da bola em posse.

(+) Olha, golos! Já não sabia o que isto era, para vos ser sincero. Sair do Dragão com quatro golos marcados já parecia uma memória antiga que se ia esfumando enquanto o tempo alegremente passa para mim, como o faz para todos, esse cabrãozinho. E ver golos a aparecerem a partir de cantos (mais uma vez, Carlos Eduardo a assistir), ou em remates espontâneos de fora da área, dão um alento extra a um futebol que já foi extremamente pobre mas que parece, a espaços, dar alguma confiança aos jogadores e mostrar que eles são capazes disto e de muito mais. É só quererem e, com alguma sorte, a bola lá vai acabar por entrar.

(-) Lucho. Aí pela metade da temporada de 2007/2008 houve um intenso abaixamento de forma de Lucho, que parecia locomover-se à velocidade de uma vela pousada numa mesa. Hoje, tal como em Vila do Conde e em Madrid, Lucho mostrou-se com muito pouca rapidez de execução, estranhíssimas falhas técnicas e uma quase total inoperância no pautar do jogo ofensivo da equipa. Questiono-me se é um abaixamento momentâneo, se está finalmente a ceder à pressão do PDI ou se ainda se está a adaptar a uma nova posição, mas é neste momento um elemento com produção nula.

(-) Licá. Insisto: o rapaz não é extremo e não me parece uma postura sã insistir em colocar o rapaz a jogar numa ala onde nunca terá o rendimento que procuramos a não ser em jogos que exijam contra-ataques em vez de um ataque permanente e persistente à baliza adversária. Continua esforçado mas as falhas técnicas e a incapacidade de driblar um defesa paralítico fazem dele mais uma peça que está desadequada à posição e que não produz pelo simples facto de não saber como o fazer. Estamos a queimar um rapaz que pode ser útil num futuro próximo, mas nunca a partir da ala.

(-) A opção por Mangala na esquerda. Sou talvez um bocado suspeito, especialmente olhando para a miríade de adaptações que se fazem no futebol actual e pelos louvores divinos que Ferguson recebeu no Manunaite, muito embora tenha sido um dos principais responsáveis por alinhar com defesas compostas por quatro centrais, que me faz uma comichão que nem imaginam. Chamem-me redutor, parvo, leigo, pouco instruído, mas prefiro ver um central a jogar como central e um lateral na lateral. Fonseca, talvez com um enorme cagaço de introduzir ainda mais entropia numa defesa propensa à falha fácil, optou pela “segurança” do francês à esquerda em vez de promvoer Quiño ou Rafa da equipa B. Discordo da opção, a equipa fica manca numa das alas e é triste ver o pobre do Eliaquim a fazer o que podia, com arrancadas tão subtis como uma divisão de Panzers numa loja da Vista Alegre, que só consegue fazer porque é mais forte e tem uma passada mais larga que os adversários. Até pode funcionar, mas nunca funcionará sempre e é uma falta de confiança também nos rapazes que trabalham para conseguirem um lugar quando a “sua” vaga está livre. Assim…mais vale não trabalharem.


A equipa parece estar numa rampa ascendente de forma e especialmente Fonseca parece começar a perceber a melhor forma de colocar as peças em campo. É verdade que Lucho está em baixo e que falta um extremo em condições para poder equilibrar uma formação que age de uma forma mais débil do que pode fazer em campo, mas os erros defensivos vão sendo corrigidos e o meio-campo, apesar de ainda não ter a rotação que é exigida, parece mais intenso na recuperação e mais prático na criação de lances ofensivos. Conseguiremos continuar a jogar decentemente até irmos à Luz? Espero que sim.

Link:

Ouve lá ó Mister – Olhanense

Mister Paulo,

Ouço Pink Floyd enquanto te escrevo estas palavras. Há tanta pequena coisa que te podia escrever, sobre a qualidade do nosso futebol, a facilidade com que a nossa defesa parece abrir brechas do tamanho das trincheiras dos campos cinzentos de Verdun ou pela ineficácia do nosso ataque, qual nerf gun defensiva apontada ao lombo de um elefante em investida perante o teu indefeso corpo. Não me apetece forçar o pensamento triste, Paulo, a constatação que a época não está a correr como todos desejávamos e a involuntária vontade que todos temos de olhar para o que temos vindo a fazer e perceber que não temos estado à altura do clube que amamos e que tu aceitaste defender desde que assinaste contrato. Não vou alinhar por esse caminho, hoje não vou chorar as nossas tristezas. Ouço a voz do Gilmour e a sibilante melodia que ecoa da guitarra do Waters e descanso, como sempre faço quando os ouço.

E vou para o estádio, a sonhar com tempos melhores. Vou para lá como tantos outros, numa fria noite de sexta-feira em que findo uma semana de trabalho intenso, cansativo, pesado para os olhos e para a mente, e imagino que vou ver um jogaço. Que vou entrar no estádio e verei um equipa de azul-e-branco a brilhar na verde relva que ocupa a zona central do Dragão. Vejo um pseudo-Milan do outro lado. Vejo um Balogun, um Diakhité e um Dionisi e penso que vejo Gullit, Rijkaard e Van Basten a praticar do melhor futebol que os automatismos de Sacchi trouxeram ao mundo. Vejo um ogre de preto e vermelho a ameaçar o nosso destino, mas olho para as nossas cores e imagino-os a triunfar com genialidade, garra, querer, raça. Vejo um Porto à Porto, vejo vitória e audácia. Quero sair do Dragão a ouvir cânticos de glória, um regresso a um passado tão recente em que cantei, gritei, vibrei.

E a voz de Gilmour continua a cantar o Fearless, com a guitarra do Waters em fundo a soar tão bela nos meus ouvidos. E só penso que o último jogo do ano tem de ser em grande. Anda lá, Paulo, ouve comigo, canta comigo e vence para mim.

Sou quem sabes,
Jorge

Link:

Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 1 Olhanense

Acabei por não sair de casa e fiquei a sofrer ainda mais pela televisão. Impedido de gritar, gesticulava como um doido e punha as mãos na cabeça como se estivesse novamente com febre. E lentamente me ia apercebendo que este era um resultado há muito adiado porque até este jogo tudo corria bem. Porque entre trezentos e tal passes por jogo, um ou dois ou até mais saíam em condições e direitinhos para o avançado que não falhava, ou para o extremo que não cruzava para a bancada, ou até para o médio que rematava certeiro. Mas este resultado, mesmo com os 39 remates fruto de 67 ataques, há muito que era esperado. Tinha de haver um momento em que o futebol rendilhado não funcionasse, quando as opções fossem minúsculas (Tozé e Sebá são bons na B, ainda não suficientemente bons para a A) e o terreno bem ocupado, quando o adversário fosse agressivo e nada corresse bem. Um desperdício que espero não nos venha a custar caro, porque nestas corridas a dois importa mais a moral que a bagagem que se leva. Vamos a notas:

(+) Moutinho. Foi o melhor jogador em campo do FC Porto (do outro lado Bracalli esteve em grande) e mesmo depois dos noventa penosos minutos pela selecção a meio da semana, notou-se que era dos poucos que tinha cabeça para ali andar e aguentar. Izmaylov ajudou-o enquanto pôde, mas Lucho esteve abaixo do que sabe e pode fazer e Fernando teve um jogo fraco. Moutinho foi, mais uma vez, Moutinho. Não chegou.

(-) Ineficácia. Não só no remate Falhar um penalty, Jackson? Não pode. Falhar mais dezanove remates, por cima ou contra Bracalli? Não pode. Pecamos por não marcar mas pecamos também por enormes falhas técnicas que se notam há meses nesta equipa e para as quais já avisei há muito tempo. Demasiados passes falhados, cruzamentos imbecis, remates tortos…tudo elementos fundamentais do futebol que a nossa equipa continuamente descura ao longo de vários anos e que tanta gente se surpreende quando vê Defour a fazer um domínio de bola perfeito, questionando o porquê de tal desiderato. É treino, senhores. E se os nossos fizessem mais vezes esse tipo de treino, talvez os passes de Varela não fossem quase sempre parar ao guarda-redes, ou os cruzamentos de Danilo não fossem parar ao antigo sucateiro das Antas. Talvez.

(-) As displicências Houve vários jogadores a quem todos devemos apontar o dedo e gritar: “SHAME!”. Porque houve alturas em que me pareceu que o granizo que caiu na primeira parte não o era mas sim bolinhas de vodka congelada que os nossos rapazes procederam a engolir com dedicação, só para ficarem levemente alcoolizados e baixarem a guarda ainda mais do que é costume. Fernando com passes inaceitáveis para o centro, Danilo passava bolas para trás sem ver se o receptor lá estava, Alex Sandro tentava fintar meio Olhão sem perceber se tinha o flanco coberto por um colega, Mangala (et tu?!) levava a bola para a frente uns 30 ou 40 metros sem a proteger só para ser desarmado pelo adversário…foi um sem-fim de parvoíces, distracções e facilitismos que fizeram com que o FC Porto tivesse não só não marcado, como também sofrido. E era total e completamente desnecessário.


Dois pontos que desaparecem como o granizo que ficou na trampa de relvado que, continuando a levar com este tipo de pragas divinas, tarde ou nunca se endireitará. Dois pontos como os de Barcelos, que me ficam atravessados na garganta porque temos mais futebol do que isto e temos obrigação de mostrar muito mais do que fizemos hoje. Tivemos algum azar, não questiono isso, mas houve acima de tudo uma enorme falta de concentração para colocar a bola no sítio certo e no local certo na altura certa. E quando isso falha…normalmente perdem-se pontos. Espero que não volte a acontecer este ano, porque a margem é curta demais para nos darmos a estes luxos.

Link: