Faltam dois dias

Vejo o jogo de quarta-feira a chegar e a ansiedade que se vai acumulando no meu corpo e mente começa a ser notória. Afinal o jogo é importante e a forma como os adeptos encaram cada um destes jogos acaba por ser determinante na maneira como os próprios jogadores se moralizam para ele. E estamos todos à espera de ver um FC Porto forte, mandão, que controle a posse de bola e consiga parar o ataque do Málaga que é agressivo, rápido, intenso. É um tipo de ataque que raramente encontramos na nossa pobre Liga, repleta de equipas de ferrolho que se fecham atrás à espera do erro do adversário e que lança homens pelas linhas para conseguir furar a nossa defesa.

Na quarta-feira vamos encontrar uma equipa que não sabe o que é uma vitória desde a semana anterior à visita ao Dragão. Não sei se as vitórias, que de uma maneira tão vistosa e consistente acumularam durante meses na primeira fase da temporada, desapareceram porque a equipa estava a pensar neste mesmo jogo ou se a inteligência competitiva desertou os cérebros de jogadores e treinador. Mas não façamos juízos antecipados ao somar dois e dois e assumir que estes jovens deixaram de saber jogar e que vão estar demasiadamente nervosos quando nos enfrentarem em campo. Vai ser um jogo duro, que exigirá compromisso, bom entendimento ofensivo, coesão defensiva e acima de tudo um espírito de entre-ajuda que tem de estar acima de qualquer deambulação egoísta.

E todos os pontos anteriores estão perfeitamente ao nosso alcance. É só fazerem o que já fizeram várias vezes este ano: jogar a sério. After all, this is the Champions League, baby!

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Dez minutos

“A equipa está de parabéns, está a jogar um futebol que, para além de bonito, tem outra coisa que gosto: raramente concede uma oportunidade de golo aos adversários. Não gosto dos jogos de 5-4 ou 4-3, porque é sinal que estivemos desorganizados do ponto de vista defensivo. Gosto de jogos a dominar e a impor o nosso jogo.”

Vitor Pereira, depois do jogo em Guimarães, teve estas declarações que não me chocaram. Afinal a consistência defensiva tem sido uma das imagens de marca da temporada 2012/2013 do FC Porto, com nove golos sofridos em dezanove jogos na Liga, quatro em sete na Champions. E não contesto que é uma fixação do nosso treinador, que até tem vindo a rodar o eixo defensivo (com Danilo e Alex Sandro firmes nas laterais), com os quatro centrais que actualmente fazem parte do plantel a terem tempo de jogo, obviamente não-equitativo. Mas neste último jogo contra o Málaga, houve ali uns dez minutos que decorreram depois dos primeiros oitenta e que me deixaram nervoso. A equipa abdicou de atacar e manteve-se com a posse de bola bastante mais recuada no seu meio-campo do que tinha feito durante o resto do jogo. Era uma equipa satisfeita com o resultado, que se limitou a trocar o esférico em passes laterais, atrasando para Helton várias vezes, com pouca verticalidade e alguma aparente dificuldade ou falta de ousadia em avançar um pouco mais no terreno à procura do segundo golo, nessa altura mais que merecido.

Hesito em categorizar estes últimos dez minutos. A parte reptiliana do meu cérebro puxa-me para o pessimismo, como de costume. Porque raio é que não rompemos pelo desgastado meio-campo adversário, sem a agressividade do Iturra nem a força do Baptista, para tentar encostar mais uma bola nas redes do argentino?! Tínhamos Atsu para rasgar pela linha, James para pegar no jogo, Moutinho ainda com pernas e Jackson cheio de vontade de rematar! Não teria valido a pena mais um esforço, mais umas corridas, mais uns metros ganhos com o objectivo tão claro, tão límpido, tão útil de poder ganhar uma almofada de conforto para a seguinda mão? Viro-me para o sector racional, que me dá uma cachaçada e me diz que não valia a pena. A equipa estava confiante, intensamente confiante no seu talento e na sua capacidade de gestão de uma vantagem curta mas importante, mas acima de tudo estava a tentar testar o Málaga, para ver se conseguiam um pequenino lampejo de futebol ofensivo depois de soltos das amarras do meio-campo portista. E depois de perderem a bola, como inevitavelmente perderiam, lá estávamos nós para a recuperar e proceder a pôr os outros a correr atrás dela, para gerir, para descansar com bola, tapando os espaços mas evitando riscos desnecessários, porque um-zero não é óptimo mas um-um é mau.

Lembro-me daquelas declarações de Vitor Pereira, e percebi o que se fez. Percebi que a atitude é muito mas não é tudo, que há alturas para tudo e que nem sempre uma grande equipa consegue vencer todos os jogos por grandes margens. Às vezes, as pequenas margens também chegam, pelo menos enquanto a procissão vai a meio. Mas não consigo evitar que os pensamentos negativos me invadam a alma e me ponham a pensar: “E se os gajos se lembram de nos marcar um golinho nos primeiros dez minutos da segunda mão? E depois? Não teria sido muito mais porreiro estarmos com mais um de vantagem?”.

Daqui a umas semanas, no jogo do La Rosaleda, tiro as dúvidas.

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 0 Málaga

foto retirada de MaisFutebol

É uma vitória. É uma boa vitória. É uma magra vitória. É uma vitória. Foi um jogo tenso, como tantos outros que já vi em confrontos europeus, com o FC Porto sempre a controlar o jogo, ofensiva e defensivamente, frente a um Málaga que optou por um jogo mais recuado para que pudesse aguentar um resultado positivo e na segunda mão mudar um pouco a atitude. E quase que o conseguia, não fosse Moutinho, mais uma vez o melhor em campo, a matar (mais) um trabalho estupendo de Alex Sandro, com raça, querer, luta, empenho. Foi a imagem mais digna de uma equipa que lutou por um resultado melhor mas que se pode queixar de um Málaga muito seguro na defesa e de muita ineficácia na frente da baliza. Jogos de Champions são outra coisa, não haja dúvida. Vamos a notas:

(+) Moutinho. Já começa a ser complicado falar de ti sem que me comece a babar e a agradecer a Deus e ao Sporting por te ter “despachado” para o nosso seio. É um prazer ver-te a jogar, João, palavra que é, porque és tudo que eu sempre gostei de ver num jogador moderno de futebol. Porque sabes exactamente quando rodar e quando prender a bola. Porque esperas mesmo até ao segundo certo para veres o colega a passar por ti e sabes que é a ele que vais entregar o jogo. Porque comandas, de trás para a frente, sem arrogâncias nem tiques de vedeta. Porque tentas sempre jogar pelo melhor caminho, pelas estradas mais limpas e mais seguras. Porque dás estrutura ao meio-campo e organizas o jogo como poucos vi a fazer. Por isso tudo, obrigado, rapaz. Quando via o Jardel, pensei que nunca mais ia aparecer outro no meu clube até que chegou o Radamel. E o mesmo acontece contigo, depois do Deco.

(+) Alex Sandro. A meio da segunda parte dizia-me o Rui, um dos meus colegas de bancada desde 2004: “Este moço custou metade do Danilo e é o dobro do jogador!”. Não vai receber qualquer contestação da minha parte. É um rapaz curioso, este Alex. Parece magrinho mas usa muito bem o corpo e aguenta o choque como um Jorge Costa. Tem excelente noção de arranque, bom salto, brilhante técnica individual e não cruza mal. Mas é quando sobe pelo flanco em apoio, recebendo a bola no espaço vinda de Moutinho ou de Marat, quando aparece nas costas dos defesas, dos médios, dos alas adversários, é aí que Alex brilha ainda mais. Já conquistou os adeptos e cada vez estou mais certo que será o futuro titular do Brasil. E a continuar assim, vamos precisar de outro defesa-esquerdo para o ano que vem…

(+) Fernando e o resto dos pressionadores. A pressão que temos de exercer é alta e só pode ser alta, para roubar espaço ao adversário e impedir que saiam com a bola controlada. Mas a equipa do FC Porto hoje foi excelente na recuperação da bola no meio-campo contrário, com Moutinho, Fernando, Lucho, até Jackson e Marat, todos eles a esticarem a perna, a forçarem o erro adversário, a sacar um turnover quando o oponente menos esperava. Fomos rápidos, felinos, inteligentes, lutadores, como devíamos sempre ser mas nem sempre precisamos de fazer. Fernando destacou-se acima dos outros pela forma como conseguiu livrar-se muitas vezes de uma pressão alta forte do adversário, rompendo pelo centro quando era preciso e enviando a bola para o colega mais bem colocado. Muito bem, atrás e à frente.

(+) O público. Quarenta e tal mil vozes no Dragão, incluindo aí umas três mil andaluzas. E quão diferente é um espectáculo quando o adversário provoca, puxa, incita à rivalidade saudável como os Malaguenhos (com M grande) fizeram hoje no Dragão, e levaram resposta à altura (com alguma estupidez brejeira e ridiculamente nacionalista que perdoo porque, francamente, a maioria não sabe outra conversa que não aquela) do resto da malta, que sentiu sempre que a equipa tinha a ganhar com a nossa voz, com o nosso cantar, com a goela a guinchar como loucos (ou turcos, ou gregos se quiserem) no apoio das nossas cores. O futebol devia ser sempre assim.

(-) Ineficácia perto e dentro da área Mas nem tudo são rosas sem espinhos. Continuamos a falhar em demasia à entrada da área, porque os passes saem curtos quando devem ser longos e versa-vice. Há muito nervosismo naquela zona, demasiada ansiedade pelo remate que raramente sai direito, poucas opções de velocidade em espaços curtos e ainda menos capacidade de colocar a bola na perfeição para Jackson ou qualquer outro ponta-de-lança poder empurrar para a baliza. E estes problemas agravam-se quando se encontra uma defesa como a do Málaga, com um Demichelis quase perfeito, um Antunes certinho e prático e um Sergio Sanchez que é melhor do que parece (não é rápido mas tem um timing de corte impecável). Creio que é o principal ponto a melhorar na nossa equipa, e nota-se imenso a diferença para outros grandes clubes em jogos deste nível. Não se pode criar tanto jogo para depois falhar tantos passes sem sequer conseguir tentar produzir um remate ou um lance claro de golo. Em Málaga, se continuarmos assim, vamos sofrer e bem.


Há uma diferença muito grande entre jogar contra uma equipa defensiva portuguesa e outra “europeia”. As nossas, as dezenas de -enses que por cá gravitam e sobrevivem época após época na Liga, jogam em casulo, uma espécie de igloo recuado e emparedado em trinta metros de espaço. Lá fora, como vimos hoje, há equipas que também são defensivas, que usam o ataque de forma esporádica, rápida, sem gosto pela bola mas com objectividade maior que um arqueiro com a seta apontada ao alvo. Só que o fazem de uma maneira ampla, dinâmica, ao campo todo, rijos mas bem posicionados, técnicamente hábeis mas com sentido prático elevado. E defendem até onde podem, mas bem, esperando que o adversário não consiga furar a barreira. E hoje, quase o conseguiram. Venha a segunda mão. Estou ansioso.

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Ouve lá ó Mister – Málaga


Amigo Vítor,

Cá voltamos de novo à taça com o hino e os estrangeiros todos, e não me refiro a uma final no Jamor contra o Nacional. É disto que estamos todos à espera há meses, com os corações apertados, as palmas das mãos a suar, os lábios secos e as gargantas nervosas mas afinadas. É esta a competição que nunca nos passa ao lado, que vibramos em cada minuto de cada jogo com a intensidade de quinhentos Moutinhos e a pujança de duzentos saltos do Mangala. Estamos cá, estamos prontos e estamos ansiosos.

Vai ser um jogo tramado, como de costume. O Málaga é uma equipa muito jeitosa e tu sabes mais que ninguém que isto vai ser um osso daqueles rijos como cornos de mamute. São rápidos, os estupores, trocam bem a bola e têm alguns gajos que só ainda lá jogam porque o mercado anda em crise e os investimentos cada vez se escolhem com mais critério, caso contrário os Iscos e os Caballeros já andavam por outras paragens. E não nos esqueçamos dos veteranos que ainda percebem muito da poda, os Demichelis e Luganos, os Joaquíns e Saviolas. Todos esses são gajos que conhecemos e vemos a jogar todas as semanas aqui ao lado, num campeonato que tem menos Moreirenses que o nosso e onde estes moços se vão safando como gente grande. São bons, não te iludas, que ninguém se iluda, porque uma equipa que arruma o Milan e o Zenit (e o Anderlecht, pronto) não pode ser fraquinha. Não pode. Mas nós também não somos.

E é isso que quero que mostres hoje à noite no Dragão. Mostra aos infiéis vizinhos que aqui deste lado da fronteira está uma equipa que lhes vai limpar o canastro. A arrogância de um ou outro dos moços deles não pode passar de hoje, e se ninguém está à espera que lhes espetes cinco como o teu antigo chefe cacetou no Villarreal, a verdade é que estamos à espera que venças.

Ouve o que disse o Fernando: “Vamos fazer de tudo para não sofrer golos e tentar fazer um ou dois.”. É só isso que te peço.

Sou quem sabes,
Jorge

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Malaguemos, então

Não fiquei alegre nem triste com o sorteio, antes pelo contrário. Há qualquer coisa neste tipo de pontarias daquelas bolinhas que me convence que há um ser bem lá por cima e que se alheia das desventuras da Humanidade durante uns segundos e simplesmente lança ao ar uma moeda cósmica e deixa que seja ela a decidir o nosso fado. E desta vez o arbítrio da sorte divina atirou-nos para cima uma equipa com cores semelhantes e suficientemente perto para arrastar uma pequena multidão de portistas até lá na segunda mão.

Pelo que tenho lido, as opiniões dividem-se. Há quem diga que tem medo do que o Málaga já fez na Champions e afinal está em quarto lugar na liga espanhola, o que não é nada fácil. Tem jogadores experientes, alguns que até nos conhecem e tudo, lusos e estrangeiros, o Saviola ainda sabe jogar à bola e o Gooch sabe saltar e quase que afunda na trave da baliza. Há o Buonanotte e o Toulalan, o Santa Cruz e o Joaquín, o Monreal e o Demichelis. É uma equipa sólida, inteligente, de futebol prático e pouco rendilhado, que usa jogo directo, pelos flancos quando necessário mas acima de tudo com a prioridade de olhar para a baliza adversária e atirar a matar quando é preciso. E não me importa absolutamente nada que sejam assim, porque é contra estas equipas mais abertas que gosto de jogar. Mas…

Mas não gosto de sorteios em que olho para o adversário e me sinto mais forte. E apesar de continuar a achar que o FC Porto, este FC Porto, que no jogo contra o Paris Saint-Germain no Dragão mostrou que tem talento suficiente para andar da perna até aos quartos e arrumar com o Málaga…este FC Porto que tenho visto parece não estar ao mesmo nível do que vi nessa noite. E não me refiro aos jogos que podemos lutar para demolir paredes defensivas do outro lado, aqueles treinos rijos contra os Moreirenses do nosso campeonato. É nestes jogos de Champions, onde os jovens são mais nervosos e as defesas tremem e os médios falham passes e os avançados chutam por cima, é aqui que se vê se o betão vai partir ou se vai aguentar estóico durante um milhar de anos. E não sei como vamos chegar a Março nem me sinto particularmente inclinado para o pessimismo ou para a leviana euforia, mas não estou convencido que consigamos manter esse nível. Ou pelo menos até agora ainda não me confirmaram as expectativas. A Champions é uma competição de ciclos, e a fase de grupos é muito diferente dos jogos a eliminar, muda muito no inverno, nos campeonatos, nos plantéis, na moral e na coesão. Esperamos por Fevereiro para falar de novo?

Ao mesmo tempo que vou escrevendo, lembro-me de outros jogos contra equipas espanholas emergentes. Os três és que nunca me lixaram. O Sevilha e o Villareal no Annus Europus de AVB, o Espanyol que caiu com Pena e Drulovic a cravarem as lanças, o Deportivo com o penalty do Ninja que vi embebedado no final de um cortejo da queima das fitas ou o Atlético de Madrid que apanhou com Lisandro antes de Hulk. Caíram todas, todas, e das espanholas que não caíram só me ficam na memória os grandes, Barça e Real, esses cabrões que nos empalam os sonhos e violam as ambições.

Há talento para eliminar o Málaga? Concerteza que há, por quinhentos balões de conhaque! Qualquer equipa que tenha o Duda como titular é passível de ser eliminado e com estilo. E conseguiremos mandá-los abaixo? Não faço ideia. Mas vou estar lá para ver, no Dragão com certeza e talvez até no sul de Espanha.

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