Ouve lá ó Mister – Zenit


Amigo Vítor,

Hoje é um dia importante na tua vida. Para lá da qualidade da exibição, do número de remates ao lado, da quantidade de foras-de-jogo tirados aos nossos jogadores, o resultado é vital. Os últimos jogos que ainda estão na nossa mente foram simpáticos, vitórias que saíram fruto do nosso empenho e de um espírito que pensávamos perdido. Mas sabes tão bem quanto eu que a malta ainda não está convencida e que falta um bom bocado para conseguires trazer de novo o povo para a palma da tua mão.

E hoje, só pode haver uma equipa em campo. Só onze (e mais três, caso precises ou aches necessário) é que podem mandar no relvado do nosso Dragão. Nenhum sócio admite que tenhamos de ver a exibição abaixo de medíocre que vimos em Leninegrado ou Petrogrado ou lá como se chama o estupor da cidade onde agora mora o Bruno Alves. E por falar nele, espero que não te preocupes quando vires que o rapaz vai ser aplaudido, e espero bem que o seja, porque bem merece e foi um rapaz porreiro enquanto cá esteve. Mas vai ser a única salva de palmas que os um zenítico vai levar hoje, garanto-te. Já o Danny, deixa lá o moço. Só alimentas a vontade de sangue daqueles que andam de caderno na mão…ah, espera, agora levam portáteis ou aipéde ou uma tablete qualquer para escrever o que eles acham do que tu dizes. Não lhes ligues, manda-os f**** para dentro e mostra dentro de campo o que valemos.

Não vou estar no Dragão hoje à noite, porque valores mais altos se alevantam e porque se tiver de dormir no sofá da sala prefiro que seja por opção e não por ser a única hipótese. Assim sendo, deposito em ti a minha esperança: não quero que o jogo contra o APOEL tenha sido o meu último da época na Champions. Faz por isso, se não te importas.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Shakhtar Donetsk 0 vs 2 FC Porto

 

foto retirada de UEFA.com

Dois pontos prévios: 1) não vamos com este resultado pensar que tudo está bem, o mundo é um mar de rosas sem espinhos e os glúteos mantém-se sempre firmes com a idade. Não está e temos ainda muito que melhorar. 2) A vitória foi nossa depois de um jogo muito difícil contra uma equipa tecnicamente muito acima da média, numa cidade com frio de bater dente e após uma exibição que pareceu a tempos trôpega, noutras alturas enérgica e ainda noutras trapalhona. Houve pressão alta mas foi atabalhoada. Houve muitos remates mas quase todos tortos. O que houve, e já não via há muito tempo, foi espírito de entre-ajuda e solidariedade entre os jogadores, a cobertura de sectores desguarnecidos pelo colega mais próximo e não fosse a incapacidade de fazer mais de três passes seguidos quando os jogadores estão pressionados e o jogo teria sido menos sofrido. Gostei do que vi e só espero que não tenha sido uma vez sem exemplo mas que seja o fim do início do nosso anunciado fim. Notas abaixo:

 

(+) Hulk O que o rapaz correu!!! SOZINHO!!! COM TRINTA E CINCO UCRANIANOS ATRÁS DELE!!! Vamos lá com calma, peço desculpa pela exaltação. Hulk correu por três avançados, até porque hoje para vermos Djalma – esforçado mas pouco mais – e James – ver abaixo – tínhamos de olhar para Hulk e recuar quarenta metros. Marcou o golo numa situação em que pela primeira vez, ao fim de 79 minutos, surge sozinho…mas a vinte metros da baliza e sem adversários pela frente. Foi lutador, abnegado, esforçado, um verdadeiro jogador à FC Porto, como há semanas (meses?) não via. Fica-me memória aquele lance na linha final depois do canto mesmo aos 89 minutos, em que é pressionado por dois ucranianos e sai da marcação para construir a sequência de eventos absurdos que deu o segundo golo. Continua assim, Hulk, por favor.

(+) Helton Mais não podia fazer o nosso capitão hoje na Ucrânia. Defendeu tudo o que pôde e o que não pôde, tratou o poste. Muito em jogo, especialmente com os pés, não teve uma única falha e segurou quase todos os remates de longe que chegavam à baliza do FC Porto, especialmente no início do jogo. Se tivéssemos sofrido um golo no arranque da partida, o mais provável é que nesta altura estaríamos a lamentar a nossa sorte, o que mostra que um guarda-redes seguro é meio caminho andado para uma clean-sheet. E não se pode dizer que tenha tido muita ajuda dos defesas…

(+) Fernando Tapou bem a zona central do meio-campo e quando se tem de olhar para trás e ver um Nico Otamendi que só se lembrava de mandar charutos para o céu e passar a bola à queima com vários adversários em cima, era difícil conseguir fazer mais que servir como penúltima barreira (tantas vezes última, infelizmente). Foi rijo, duro, viril e, como de costume, uma bosta no passe. Tem de melhorar muito nesse sect…e já digo isto há tanto tempo que perdi a esperança, sinceramente.

(+) Defour na primeira, Moutinho na segunda O belga foi sempre inteligente com a bola nos pés, conseguiu fazer mais e melhor do que Moutinho também fruto de um posicionamento mais avançado que lhe permitiu servir como a primeira linha de pressão do meio-campo. Na segunda parte, Moutinho pegou mais no jogo e conseguiu pautar o jogo como gosta de fazer, com calma, tranquilidade e a saber o que fazer e, ainda mais importante, quando o fazer. O passe do João para o primeiro golo é perfeito.

 

(-) James Inerte, inconsequente, passou a vida a deslizar pela relva. Literalmente, porque patinava como um Pluschenko colombiano no relvado da Donbass Arena. Lento demais na decisão do passe, parecia estar a treinar sozinho no Olival tal era a displicência com que brincava no meio-campo, o que lhe fez perder várias bolas de possível contra-ataque e deixou Hulk a correr sozinho na frente porque nunca lhe deu o apoio que era necessário. Está-me a desiludir bastante.

(-) Otamendi O puto colombiano pode-me estar a desiludir um pouco, mas Otamendi está a ser uma enorme desilusão. Não consigo perceber a quantidade absurda de passes ridículos, falhas na marcação e hesitações com a bola que o argentino mostra jogo após jogo e é muito mau para quem estava nos meus planos para ser o próximo líder da defesa portista. Vejo-o consistentemente com um perede nervosismo quando tem a bola nos pés e parece optar quase sempre pela pior escolha. Rolando, que continua a ser um rapaz simpático mas que nunca seria titular no FC Porto aqui há uns anos, é actualmente ao lado de Otamendi um tipo estável, de confiança, a quem se pode entregar a chave do cinto de castidade da filha primogénita. Não sei o que terá de acontecer para o rapaz melhorar, sinceramente.

 

Ufa. Falta uma vitória para o apuramento e este grupo, tornado difícil não só pelo equilíbrio entre as equipas mas pela capacidade defensiva do APOEL e da nossa paupérrima forma no Chipre e na Rússia, afinal ainda está pronto para ser ultrapassado. Só dependemos de nós e era o mínimo exigível para uma equipa como a nossa, que quer marcar, que quer ganhar e que acima de tudo precisa de estabilidade e de vitórias como o Duarte Lima de alibis. Teremos ganho algum equilíbrio emocional na Ucrânia tal como aconteceu em 2008? No domingo já o podemos confirmar.

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Ouve lá ó Mister – Shakhtar


Amigo Vítor,

Raios partam a puta da minha vida, Vitor. Já não me bastava estar com uma constipação que me põe os olhos a meia-haste e faz atravessar o equivalente do Rio Trancão cheio de muco nasal pela penca. Já não me chegava apanhar trânsito de morte todos os dias, com camiões atravessados na VCI e as estradas mais molhadas que as cuecas da Carolina Salgado quando vê um maço de notas. Já não estava suficientemente chateado com a minha vizinha de cima que aparentemente deixa a miúda fazer maratonas dentro de casa de tacão alto calçado. E ainda me tenho de chatear com o Fêcêpê a embrulhar três mangalhos da Académica?! Não pode ser, pá, não pode ser.

Isto tem de mudar, homem, e já estamos nesta conversa há mais um mês. Começa a ser difícil defender-te e apelar à calma quando olhamos para as nossas exibições e vemos a borrada que os teus rapazes andam a fazer. Não lhes consegues pôr a mão em cima e massacrar-lhes a carola para que façam o que sabem? Eles dizem-te alguma coisa? Reclamam contigo? Levantam a voz? Ou ouvem caladinhos e aceitam as críticas? Estão entusiasmados? Revoltados? Furiosos com a vida? Porra, Vitor, vamos lá calcar os calos dos meninos e mostrar quem é que manda, homem!

Não há ucranianos que nos resistam se estivermos a jogar ao nosso nível. Não há. É assim temos de olhar para este jogo, porque se o futuro próximo dos rapazes que estão lá dentro pode não depender deste jogo, o teu…já não garanto, e tu sabes disso. Até Pinto da Costa, que sabe o que faz, tem de estar a ficar chateado com o estado da naçom. E a causa das coisas, pelo menos a mais fácil de trocar…és tu. Faz pela vida, Vitor.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – APOEL 2 vs 1 FC Porto

 

Olhem bem para a fotografia no topo do post. Reparem na euforia do público, na celebração dos jogadores do APOEL e no ar cabisbaixo do nosso capitão. Por tantas vezes já olhei para fotografias idênticas e não fosse a diferença cromática, já fomos nós naquela posição, a festejar um golo, uma vitória, uma boa exibição. Já fomos nós que ouvindo o apito final do árbitro nos congratulamos com um jogo de raça, de correria intensa, de força de vontade, de fibra de vencedor e de empenho na vitória, na luta contra adversários hábeis, guerreiros, difíceis de bater e de ultrapassar. Aplaudimos já tantas vezes equipas de azul-e-branco no relvado ou no pelado, em directo ou diferido, ao vivo ou na televisão, já gritámos e cantámos até as nossas gargantas ficarem roucas. Hoje, depois de ver o jogo do Chipre, não me apeteceu gritar, saltar, cantar. Fiquei desiludido porque pensei que iríamos conseguir mudar a atitude e melhorar para subir o nível num jogo de campeões. Hoje, no Chipre, não mostramos nada de campeão. Nem perto disso. Notas abaixo:

 

(+) Mangala Gostei muito do puto hoje no Chipre. Foi dos poucos que conseguiu lutar de igual para igual com qualquer jogador do APOEL e conseguiu impôr o lado físico a partir do momento em que percebeu que o árbitro estava a permitir um jogo mais agressivo. Nunca encolheu os ombros e nem o penalty que lhe foi apontado fez com que ele desistisse da luta, que saísse das trincheiras como tantos dos seus colegas e fez o possível para evitar perigo para nossa baliza. O nosso melhor jogador, sem dúvida, o que diz muito do resto dos rapazes.

(+) Fernando Mais uma vez Vitor Pereira retira Fernando de campo e mais uma vez a rentabilidade do seu substituto é quase nula. Na primeira parte, para lá da forma atabalhoada como ataca todas as bolas, Fernando foi o único jogador daquela “coisa” que já um dia foi o meio-campo portista a conseguir mostrar interesse suficiente para lutar contra um adversário que trocava a bola com uma facilidade tal entre os seus colegas que parecia estarem a treinar entre pinos azuis-e-brancos. Fernando foi trapalhão mas rijo, tosco mas empenhado. E hoje, devia ter tido mais alguns como ele à sua volta.

 

(-) Falta de garra No jogo do Dragão contra o APOEL disse: “Os jogadores do FC Porto locomoviam-se com toda a intensidade de um nado morto, medo de tocar na bola mais que duas vezes e uma gritante incapacidade de gerar movimento e jogadas de ataque com estrutura e rotação de bola. O jogo de posse, como gostamos de dizer que aplicamos, assenta em dois pilares fundamentais: a posse e a procura incessante de linhas de passe para manter a posse. E o que hoje se viu foi uma equipa de matrecos humanos, em que a bola ressaltava de um para outro sem que houvesse movimentação lateral ou desmarcações para criar espaços ou para arrastar os marcadores directos. Não me vou focar num ou noutro jogador em particular porque o problema é colectivo e parece contagiar rapidamente todos os sectores.”. Não vejo necessidade nenhuma de alterar esta perspectiva, mas ela é agravada pelo simples facto de nada ter mudado. Se não fosse Mangala a encostar-se sempre aos avançados e a lutar contra eles com a força que Deus lhe deu e que o deixam aplicar, a grande maioria dos colegas perdia bolas consecutivas em duelos individuais, esperava que a bola viesse parar delicadamente às suas botas em vez de a atacar com a intensidade que era necessária e ficavam sempre atrás de qualquer anormal de amarelo que lhes tirava a bolinha como se tira um rebuçado a uma criança. Só que neste caso, a criança não chorava baba e muito ranho: apenas se resignava e voltava para trás à espera que lhe fosse oferecido mais um Mentho. E mais uma vez tive vergonha de ver aquela equipa a arrastar-se em campo, com uma lentidão e falta de intensidade enervante, sem vontade, sem moral, sem orgulho.

(-) Falta de manha Há semanas que vejo isto. Um jogador do FC Porto tem a bola nos pés, espera até ao ponto em que algum adversário se aproxima e perde a bola. Ninguém o avisa, ninguém procura criar uma linha de passe, deixam-no sozinho e pendurado de uma qualquer corda à espera da morte. Pior, o que tenho visto há algum tempo é uma ingenuidade tremenda. Sabem perfeitamente do que falo: o jogador que vai para a bandeira de canto para queimar tempo; o pontapé para a canela do oponente para ganhar o lançamento; o uso do corpo para proteger a bola; a tabelinha pensada e não apenas executada sem deixar a bola cair. Tantos truques, tanto futebol, tanta “ratice” que podia ser usada…e estamos permanentemente a tentar fazer as coisas bonitas em vez de as fazermos de uma forma prática e directa.

(-) Falta de noção táctica Se tiverem gravado o jogo ou conseguirem apanhar uma qualquer repetição, reparem na colocação do FC Porto em campo quando não têm a bola. A pressão alta é feita quase num 1-v-1, como se estivessem a jogar ao meiinho na escola ou num treino. Os extremos, que não recuam para ajudar atrás, ficam engolidos quando qualquer médio centro do adversário descai para uma ala para fazer uma tabela com um dos colegas e automaticamente há uma situação de desigualdade numérica. Os nossos médios, mandriões, recuam com medo da troca de bola fácil, ao passo que os laterais ficam colados atrás e não pressionam o adversário directo, chegando sempre tarde demais e incapazes de roubar a bola. São erros atrás de erros, infantilidades tácticas que impossibilitam qualquer jogo colectivo coerente. E se somarmos isso à indisponibilidade de ajudar os colegas em dificuldades, é impossível de tolerar. E a culpa é de quem está a olhar para eles e lhes permite que continuem a errar.

 

Aparentemente, pelo que me foi dado a analisar, ainda dependemos (quase) exclusivamente de nós. Temos de vencer os dois últimos jogos, com a condicionante que se o APOEL vencer o Zenit teremos de vencer os russos por forma a conseguir ter uma vantagem na diferença de golos. Ainda assim, este regresso às contas tão lusitanas é algo que me enche de vergonha, não tanto pela competência dos nossos adversários (que existe) mas pela nossa própria inépcia, pela nossa incapacidade de jogar um futebol condizente com a imagem que temos na Europa. Afinal de contas, estamos a dar razão a todos que pensam que a Liga Europa está alguns níveis abaixo da Champions. E até conseguirmos mostrar mais do que fizemos hoje…não fizemos a transição de volta. Vitor Pereira tem a tarefa muito difícil, mas a culpa começa a ser tanto dele como da má forma dos jogadores. Até para mim que acredito no trabalho sério e não no show-off, começa a ser complicado defender-te, mister. E não me estás a dar motivos para o fazer por muito mais tempo.

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Ouve lá ó Mister – APOEL


Amigo Vítor,

Em primeiro lugar, deixa-me ser o primeiro entre os autores do Porta19 a dar-te os parabéns pelas decisões no jogo contra o Paços. Devo ser dos poucos que acha que as presenças de Moutinho e James no banco não são consequências de nenhum castigo ou de uma censura competitiva directa ao comportamento fora de campo dos jogadores, mas sim por motivos tão mais banais que muitos não conseguem compreender por falta de bom senso ou por não aplicarem o princípio de Occam’s Razor às situações do dia-a-dia. Na minha opinião, tanto um como outro têm estado no banco…porque não estavam a 100% fisica e mentalmente. Também sou da opinião que tanto um como outro terão recuperado contra os “castores” alguma da confiança que lhes tinha vindo a faltar e acho que devem estar de volta no Chipre. Pode ser de mim, que tenho sempre fé nos jogadores e apelo sempre ao meu espírito de Padre Américo…até que me lixo e me desiludo. Não creio que corra esse risco com nenhum destes dois.

E o Givanildo, rapaz? Estiveste bem em tirá-lo e ele foi um traquina, o estupor. Mas como qualquer puto depois de partir uma chávena do serviço da Vista Alegre da mãe, foi pedir desculpa e levou uma palmada, ainda que metafórica, na patinha. Pois é, também é preciso fazer actos de contrição quando são necessários, e este foi um bom exemplo disso. Tu que o conheces deves saber melhor que eu que tipo de palha deves levar ao “burro” (não quero com isto chamar jumento ao rapaz, é só um provérbio, pá!) e por isso deixo nas tuas mãos a gestão dessas tretas. O que interessa agora, o que interessa mesmo, é o APOEL.

Mais que vencer o jogo e recuperar os pontos perdidos no grupo, acima de limpar a imagem e recolocar o clube no ponto mais alto do grupo da Champions, sinto um leve aroma a vingança no ar. Uma retribuição medieval, com forquilhas, alcatrão e penas, panelas de óleo a ferver ou snipers em torres de vigia. Qualquer coisa serve, Vitor, para pagarmos com juros o empate humilhante que permitimos aqueles rapazes. Usa o James como falso 10, o Djalma na ala, o Souza ao meio ou o Bracali na baliza. Ninguém quer saber qual é a equipa que vai entrar em campo, desde que a que saia do GSP Stadium possa olhar para o marcador e veja que o número da equipa da direita é maior que o da esquerda. Por um, três, quinze.

Temos de regressar à Invicta com uma vitória. Nada menos que isso.

Sou quem sabes,
Jorge

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