Vem até nós, espírito da Padeira!!!

Podes ser tu. Pode ser qualquer um dos teus amiguinhos. Mas gostava imenso de ver uma cena parecida logo à noite. Vinguem o Mundial de 2010, vinguem o golo do Villa, vinguem o desgraçado que num pub em Florença teve de sorrir amarelamente para um cabrão de um espanhol depois do jogo e aguentar enquanto que o animal se vira para mim e diz: “Mira, vosotros jugaron bien, pero no son tan buenos como nosotros!”

Têm a palavra, jovens lusitanos. Que o espírito de Aljubarrota se abata sobre o vosso balneário e vos transmita a força moral de lhes espetar três ou quatro pazadas nos dentes.

Eles merecem.

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Why England Lose…again!

Vi o Inglaterra-Itália com os dentes a ranger e uma emoção a encher a minha alma de futebol, daquele futebol que gosto e anseio nunca deixar de gostar. Perdido o Espanha-França graças ao perfeito timing de um casamento agendado para o mesmo dia, jurei não abdicar deste confronto de gigantes e ainda bem que o fiz. O jogo foi dinâmico, vivo, duro, excitante, bom. E a Itália mereceu ganhar, por incrível que possa parecer se olharmos para o que tem sido a Itália até agora. O cinismo dos seguidores morais de Herrera abriu-se, desabrochou num festival de técnica perfeita, excelente controlo da bola e das emoções e tudo contra uma Inglaterra que é sempre mais fraca do que nos querem fazer pensar. Tiveram sorte de chegar aos penalties e já foi demais. Mereciam ter ido para casa com alguns no saco.

Lembrei-me de imediato de Simon Kuper e Stefan Szymanski, autores do “Why England Lose“, livro com que arranquei a rubrica “Na estante da Porta19“, aqui há quase um ano. Nele, logo nos primeiros capítulos, os autores explanam aquilo a que chamam “Why England Loses And Others Win” e que acabou por dar nome à obra completa. Eis os tópicos que na altura se aplicavam a um campeonato do Mundo mas que se podem transferir para um campeonato da Europa sem dificuldade:

  • Fase 1: Antes do torneio – a certeza que a Inglaterra vai vencer o Campeonato
  • Fase 2: Durante o torneio, a Inglaterra defronta um antigo inimigo numa guerra
  • Fase 3: Os ingleses concluem que o jogo foi alterado devido a um azar que só a eles poderia acontecer
  • Fase 4: Para além disso, todos os outros fizeram batota
  • Fase 5: A Inglaterra é eliminada sem sequer ficar perto de vencer a Taça
  • Fase 6: No dia depois da eliminação, o regresso ao dia-a-dia
  • Fase 7: Encontra-se um bode expiatório
  • Fase 8: A Inglaterra arranca para o próximo Campeonato com a certeza que o vai vencer

Fase 1? Check. Sempre com a maior das arrogâncias
Fase 2? Ainda hoje vimos isso, check.
Fase 3? Talvez, porque falharam dois penalties. Ainda por cima dois gajos chamados Ashley. Só a nós, yadda yadda. Check.
Fase 4? Claro, a Espanha é sempre beneficiada e o Platini quer que a Alemanha chegue à final. Check.
Fase 5? Quartos-de-final. Check.
Fase 6? To be confirmed…
Fase 7? Vai uma aposta? Rooney e a suspensão de dois jogos, Capello demitiu-se, a polémica Terry/Ferdinand…aposto num check.
Fase 8? Nem preciso de esperar muito, vem já aí a próxima fase de qualificação para o Mundial 2014. Espero pelo check.

Ou seja, Kuper e Szymanski estão quase perfeitos na análise. Sic transit gloria mundi. Ou no caso dos bifes…not so much.

PS: Pirlo. Meu Deus.

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Eu, lusitano, confesso-me

Há muitos anos que falo com a minha mãe sobre futebol. Reformulo. Falo para a minha mãe sobre futebol. Assim está melhor. No decurso desses minutos em que lhe tento explicar o intrincado sistema de coeficientes para a qualificação para a Champions League (ou, em alternativa, o porquê da existência de uma regra de fora-de-jogo), há sempre qualquer coisa que menciono sobre o FC Porto, sejam jogadores para exemplificar o ataque à baliza ou situações passadas em eliminatórias europeias em épocas distantes. Coisas minhas, de quem gosta do clube e tem tanta informação ao dispôr. E a minha mãe, que gosta tanto de futebol como de roer vigas de cimento, perguntou-me outro dia: “Ouve lá, mas tu continuas como antigamente, em que primeiro és português e só depois portista?”. Não soube responder. Diria que já não sou tanto assim, especialmente durante a época desportiva, em que visto a camisola do clube acima da nacional, mas quando chegam Europeus e Mundiais, transformo-me em lusitano quase a 100% e ponho o portismo de lado. De outra forma não conseguiria aplaudir o João Pereira ou o Coentrão.

Mas desta vez pensei que as coisas fossem diferentes. Não me entusiasmei tanto no arranque, não me tremiam tanto as pernas a ver os moços em campo, não estremecia com o hino. Durou pouco a indiferença.

É como um vício, sabem. A imagem do alcoólico encostado ao balcão da taberna, com um copo de tinto à frente, a vociferar contra a parede, os azulejos, as garrafas vazias. O janado, sentado na rua com um resto de erva enrolada num papel sujo e queimado, untado com cem gotas de saliva meia seca, a procurar mais uma passa, só mais uma pequena, curta, eterna passa. O jogador, em frente à roleta num qualquer casino vendo vermelho mudar para preto, para vermelho, para preto, para zero, para nada. Ou o jogador 2.0, sentado com a cara colada numa pantalha a olhar para um qualquer mesa virtual num qualquer Partypoker ou a salivar perante as odds numa de tantas Dhozes. Metáforas mil deslizam pela minha mente quando Portugal arranca o jogo e acabo inevitavelmente por regressar às raízes.

E assim sendo, aproveito para responder a alguns amigos que me perguntam o porquê de não ter feito crónicas aos jogos da Selecção. Não tem sido fácil ver as partidas e não tive outra hipótese senão abraçar na totalidade o lusitanismo que se apoderou de mim nestas alturas. Eu, que chorei depois do Portugal-França em 2006, que andei cabisbaixo depois da final de 2004, que gritei até ficar rouco no Portugal-Inglaterra de 2000, assumo-me.

Não consigo ficar indiferente. Perdemos? Sofro. Ganhámos? Vibro. Crítico nas derrotas, sempre. Entusiasta nas vitórias, sempre. Mas indiferente…não dá.

E acreditem que tentei.

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Hoje fui um bocadinho irlandês em Gdansk

Hoje fui um bocadinho irlandês na relva molhada de Gdansk. Nada de sentimento anti-castelhano ao barulho, apenas uma simpatia pura e despretensiosa. Enquanto via o final do jogo reparava (como evitar?) nos milhares de irlandeses nas bancadas a cantar de goela aberta enquanto a sua selecção era pontapeada para fora do Euro com quatro batatas na pá, pouco ou nada podendo fazer para o evitar. Os sorrisos espelhavam a alegria da presença, do mérito de uma formação que tem tanto de simpatia como de empenho e que cede perante uma Espanha que joga a um nível muito superior.

Mas o irlandês não quer saber. Leperchauns, milhares deles nas bancadas cantam, abraçam-se, vibram, vivem. E depois do apito final de Proença, alguns choram, outros mantém o sorriso. Mas todos cantam. Todos entoam um hino de sentimento, um som imortal que deveria ser perene nas nossas vidas e que enobrece a alma de um povo, batido, agredido, pobre, feliz. Estão bêbados, dir-me-ão. Talvez. Mas todos cantam. Se pusessem doze mil portugueses num estádio a ver a sua selecção a perder por três contra a Argentina e não pudessem fazer nada quanto a isso, aposto que o espectáculo seria diferente. Nem seria um espectáculo mas uma sequência de assobios contra Ronaldos e Coentrões e Moutinhos deste mundo que os oprimem sem nada fazer, que os fazem perder a vida que não têm e não os deixam viver o que não podem.

Hoje fui um bocadinho irlandês. E só me entristece pensar que jamais verei o meu próprio povo a fazer o mesmo.

EDIT: obrigado ao Miguel do Tomo II que me avisou que o video tinha sido retirado do Youtube depois da UEFA se armar em parva…

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