Ouve lá ó Mister – Marítimo

Señor Lopetegui,

Se Dexter Morgan estivesse hoje pelos lados da Invicta, diria, no taciturno e frio modo de falar que o caracterizava (caracteriza? vejam o series finale e depois falamos *SPOILER ALERT!*): “Tonight’s the night”. E é mesmo. É esta noite que todos vamos acabar de pôr a pré-época para trás das costas, esquecer os estágios na Holanda e em Inglaterra, os jogos amigáveis e as torres no centro de treinos. Hoje, meu caro Julen, é que começa a doer.

Com toda a certeza que sabe o que esperar. Não somos adeptos fervorosos como os bizantinos ou os das ilhas gregas, cipriotas incluídos, para o bem ou para o mal. Somos gajos mais relaxados e na maioria das vezes vai ver que não havendo silêncio no estádio, grande parte do povo vai estar sentado nas suas cadeiras a apreciar o espectáculo, reclamando de vez em quando com um passe mal feito e sempre, mas sempre com a piadinha pronta a mandar para os companheiros de sector e, em não raras ocasiões, a proferir a versão própria do “I told you so” quando as coisas não correrem bem. É assim em todo o mundo, presumo, e nós não queremos ser excepções. Mas esta é a vida de um grande clube e se estava habituado a isso enquanto jogador, também o saberá quando estiver sentado no banco, ou de pé a ganir para o relvado como o tenho visto a fazer. Vença e terá um grupo de camaradas todos contentes e dispostos a pagar-lhe cañas sem fim. Perca e as forquilhas serão colocadas em riste e o espeto pronto para o tostar.

Não tenho expectativas altas para hoje. Quero uma vitória porque todos queremos arrancar bem e isso é que é o mais importante. Quanto aos jogadores que vai escolher, admito que sou parcial em relação ao Brahimi mas quanto ao resto deixo nas suas mãos. Afinal, são elas que nos vão guiar ao título. Ou pelo menos assim o espero. Bom jogo, bom arranque…e boa época!

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 1 Benfica

O jogo faz-me lembrar talvez a mais famosa e mais vezes citada estrofe de T.S.Eliot, que finaliza o poema “The Hollow Men”. E ouso parafrasear o homem:

This is the way the season ends
This is the way the season ends
This is the way the season ends
Not with a bang but a whimper.

As últimas notas da temporada, já aqui por baixo:

(+) Ricardo. Rápido, razoável tecnicamente e com vontade de correr pela linha e de combinar com o lateral em alta velocidade, sempre com a cabeça na área e em meter lá a bola o mais depressa possível. Esteve esforçado enquanto teve pernas e acabou o jogo cansado de tantos piques fazer para ajudar os colegas da defesa. Não consigo dizer que Ricardo tem capacidade para ser titular no FC Porto 2014/2015, mas garanto que em dezenas de jogos no FC Porto 2013/2014 devia ter tido oportunidade de jogar, especialmente quando me lembro da inutilidade de Varela durante grande parte da época e a ausência de alternativas de maior nome e que dessem garantias de produtividade.

(+) Mikel. Tremeu-lhe um bocado o traseiro no início do jogo, onde não fazia mais nada senão servir como parede durante a construção ofensiva. Gradualmente foi-se soltando e mostrou que pode perfeitamente ser um elemento do plantel da próxima época. Tem vindo a evoluir bastante na B (vejo todos os jogos que posso e ando impressionado com o rapaz) e se melhorar no passe e na movimentação ofensiva pode ser uma excelente alternativa a Fernando…ou no caso do Polvo sair, talvez até um pouco mais.

(+) Herrera, enquanto teve pilhas. O rendimento de Herrera não foi nada por aí fora, mas foi o suficiente para me continuar a dar alguma esperança que o rapaz ainda possa vir a dar alguma coisa. Tem bom critério no passe e quando tem algum espaço para jogar consegue rodar a bola para os sítios certos, com a dose adequada de força e precisão. Quando está pressionado, o tempo de decisão é demasiado alto e vê-se à rasca para ser útil. A condição física também é duvidosa, porque consegue durar menos que Raul Meireles…correndo metade da distância.

(-) Só dois golos contra uma espécie de Benfica. Não procurava uma goleada, sabia que era quase impossível tendo em conta não o valor das equipas mas a mentalidade delas. Ou, para ser mais explícito, a diferença de mentalidade. Seria um jogo dos tradicionais “para cumprir calendário”, onde ninguém está muito interessado em fazer esforços sobre-humanos ou, no caso de alguns, simplesmente humanos. E já tinha desistido de procurar por brio e orgulho junto dos nossos rapazes, tal é a destruição da moral de tantos deles que me deixou prostrado, sem reacção, sem capacidade para se encherem o peito de ar e olharem o grupo de miúdos do Benfica como se fosse uma visita de estudo de jovens virgens à Unidade Nacional de Desfloração Forçada. E era isso que gostava de ter visto, uma vitória com mais brilho, mais chama, mais alma. Foi uma vitória, mas soube a pouco.

(-) Alex Sandro. Fez uma época a um nível ligeiramente inferior a uma lesma sifilítica, com menos gosma e mais bolas perdidas. Parece ausente do jogo, distraído, sem convicção nos lances divididos, incapaz de proteger uma bola para salvar a sua própria vida e displicente nas subidas para o ataque. Vai de férias, Alex, por favor, limpa a cabeça, bebe uns choppinhos ou umas caipirinhas, traça umas gajas, trepa o Corcovado, vai ver o Irão vs Nigéria a Curitiba, faz o que te apetecer. Mas não voltes da forma que estás agora.

(-) O penalty de Reyes. Trinta jogos de campeonato, mais umas duas dezenas de taças e europas…e este rapaz que está cá desde o início da época, mesmo que não os tenha feito a todos, ainda não percebeu que não se pode pôr a controlar a bola na área quando está a ser pressionado? Bola. Com. Os. Porcos. Bem melhor fez o compatriota, que mandou um balázio às fuças do Enzo Perez em situação semelhante. There you go.


E termina a temporada com um terrível anti-clímax que serviu de pouco para lá de conseguirmos reduzir a diferença para o campeão…para 13 pontos. Ouch. Ouch mesmo.

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Ouve lá ó Mister – Benfica

Estimado Professor,

Chegou o dia da despedida, ainda que temporária, da equipa aos seus adeptos. Aos adeptos que a seguiram sem cessar, que apoiaram sempre que puderam, apanharam chuva no lombo, granizo na nuca, que tostaram ao sol abrasador no Verão e suportaram o frio no Inverno em várias cidades por esta Europa fora, sempre a apoiar a malta de azul-e-branco que por vezes nem se apercebeu muito bem da importância e valia da camisola que usavam no lombo. Foram tantos jogos, tantos infelizes conjuntos de noventa minutos em que vimos pouco mais que uma amálgama de poliéster nos corpos e couro nos pés, a tentarem pela vidinha deles perceber o que faziam na vida, como uma espécie de filosofagem de dois tostões que nunca os levou a nenhuma conclusão decente. E vão continuar mais um mês, alguns deles, pelo menos.

Mas o jogo de hoje é especial, não é? Um clássico é sempre especial, carago, não ponha essa cara infeliz! Alegre-se, porque vem aí o Benfica e que melhor possível motivador poderá haver que defrontar o vencedor da Liga e recente erguedor de mais uma Taça do mesmo nome?! E é exactamente por isso que neste jogo achei que poderíamos fazer uma guarda de honra aos gajos, mostrar que também sabemos perder, que por debaixo da nossa tradicional arrogância suportada pelas vitórias também bate um coração que sabe quando foi derrotado e que presta honra aos vencedores. E já imaginou a psicologia da coisa? Eles, que nos viram vencer e apagaram as luzes, ligaram a rega, vieram chorar para tudo que era jornal, ávido de palavras chocantes e declarações vazias de sentido apenas com a fel com que foram proferidas, eles que recebem guarida de toda a imprensa, todo o país pseudo-civilizado e dezenas de programas de televisão…já imaginou a chapadona de luva branca que seria recebê-los como nunca nos souberam receber? Meu Deus, que orgulho me daria poder dizer: “Viram aquilo? Viram mesmo? Viram o que é uma equipa com honra mesmo que não consiga jogar em condições?”. E diria com toda a pujança e toda a cagança, porque seríamos grandes.

No entanto, como acho que não vai acontecer, só lhe peço o seguinte: diga aos jogadores que este é o último jogo que muitos deles vão fazer. E se querem sair por cima, se querem deixar um mínimo de boa imagem na hora da despedida…só têm de ganhar o jogo.

Só.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Olhanense 2 vs 1 FC Porto

foto retirada de desporto.sapo.pt

Há muitos anos que vejo o FC Porto e há determinadas alturas em que me lembro de uma simples metáfora: uma pá no fundo de um poço. Estamos agora nesse poço, num buraco escavado até às profundezas do planeta, de onde olhamos para cima só para conseguir vislumbrar um pouquinho de luz que entra pelas negras paredes do tubo de ar rodeado de pedra em que fomos colocados. E no fundo desse poço, na húmida e granítica terra que pisamos, há uma pá. E nós, diligentemente, continuamos a cavar, à procura de um lugar ainda mais profundo, mais escuro, onde a esperança se desvanece e a alma se dirige para morrer. Enfim, é esta a nossa sina deste ano. Vamos a notas:

(+) Herrera. Foi dos poucos que pareceu querer tirar alguma coisa do jogo, quiçá a pensar na possível convocatória para o Mundial ou a equacionar já o seu destino na próxima época. Insiste em jogadas com a bola controlada e perde muitos duelos individuais porque o adversário é habitualmente mais rápido, mas é bom a bola nos pés que consegue ser melhor que os colegas, porque sabe o que fazer com ela…apesar de nem sempre o conseguir. Excelente golo.

(+) Varela. Não esteve bem, como quase nenhum dos jogadores que alinharam hoje em Olhão, mas tentou. Trapalhão como de costume (se alguém planear uma versão núbia dos Três Estarolas para ser exibida no BET, Silvestre está lá na primeira fila das audições…), falhou imenso mas não foi por falta de esforço da parte dele que o FC Porto quase não criou perigo durante todo o jogo. Ao que eu cheguei, meus amigos, quando dou uma nota positiva ao que Varela fez hoje…

(-) Sem orgulho, sem horizonte, sem objectivos. A metáfora que mencionei na introdução, a da pá no fundo do poço, funciona perfeitamente para o jogo de hoje. Mas poderíamos ir um bocadinho mais longe se substituirmos a pá por um martelo pneumático ou com uma simples alegoria mencionando a tectónica das placas. E há atenuantes, pelo menos dezoito atenuantes que hoje vestiram a nossa camisola e passearam pelo José Arcanjo a sua quase total ausência de motivação e entrega à causa. Patéticos no passe, distraídos na defesa, desinteressados no ataque, é esta a imagem que tantos homens que ocupam posições que milhões invejam e venderiam a própria sogra para poderem lá dar umas horinhas (vender a mãe, para lá de cliché, parece-me exagerado especialmente porque o jogo foi disputado no dia delas) e embolsar a glória e o orgulho de poderem dizer um dia: “Já fui jogador do FC Porto!”. E impressiona-me que o orgulho não bata mais alto no coração de tantos daqueles rapazes, porque se Tozé e Kayembe, a quem claramente tremeram as pernocas quando tinham de fazer alguma coisa com a bola, eles que tão bem têm jogado na B (mais o português que o belga, que continuo a achar ainda um pouco verdinho para estas andanças), a verdade é que os outros…enfim. Carlos Eduardo foi mais do mesmo, escondido, sem procurar a bola, sem querer jogar nem fazer jogar; Fernando e Jackson, a passo, como se estivessem com o cronómetro prontinho para acabar a época de vez; Danilo, um dos nunca-será-amado dos nossos mais recentes plantéis, sem conseguir fazer um passe ou um cruzamento em condições, desentendendo-se com todos os colegas que conseguiu; Ricardo, inadaptadíssimo naquela lateral esquerda; Maicon e Reyes, sem perceber como jogar juntos, lentos e com falhas de concentração de nível amador. Não entendo como há tanta falta de orgulho próprio, de vontade de olhar para trás e saber que se fez o possível, que as coisas correram mesmo mal mas que não foi por culpa de A ou B. A culpa é conjunta e têm de a assumir, sejam quais forem as consequências…mas o que mais questiono nesta mais horrenda das temporadas é o empenho dos jogadores em fazer com que o trabalho fosse bem feito, sem lamentos, sem remorsos. Não entendo como é que conseguem sair do campo, tomar banho, seguir viagem para casa, encostar a cabeça na almofada e dormir descansados. Eu, sinceramente, não conseguiria.


Uma semana. Falta uma semana e acaba tudo, vamos de férias ver trinta e tal espectáculos sofríveis de futebol e meia-dúzia de embates históricos. Até lá, três finais do Benfas e um jogo contra esses mesmos rapazes no Dragão. Uma semana. Uma. Semana.

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Ouve lá ó Mister – Olhanense

Estimado Professor,

Escrevo-lhe estas palavras quando as vozes dos nobres cantores do fado de Coimbra estão a ecoar nas paredes da Sé (ou da Relação, já nem sei onde é este ano…), enquanto milhares de estudantes, trajados até ao osso e metade já semi-alcoolizados vão ouvindo em silêncio (os que conseguem) alguns dos acordes que sinalizam o início do fim da sua vida académica. E estabelecendo um paralelismo com a sua carreira no FC Porto, presumo que acredite que mais garrafa, menos garrafa de tinto, os sinais são os mesmos e a rampa será idêntica. Ainda assim, não sabendo o que se irá passar nas próximas semanas, acredito que vai tentar fazer o melhor possível no tempo que resta.

Assim sendo, mesmo considerando que a equipa que gere está numa forma semelhante à que se encontrava quando pegou nas rédeas da mesma aqui há uns meses, não deixo de ficar surpreendido pela presença de vários Bs nos convocados. Tozé e Kayembe (mais o primeiro que o segundo) já fizeram o suficiente para merecer uma chamada, mas talvez houvesse espaço para mais um ou dois. Pedro Moreira, por exemplo, que não sendo um génio do futebol é lutador e tem sido um líder da equipa secundária; Ivo, um extremo como poucos que temos, que vai para cima dos defesas sem medo; Victor Garcia, para continuar a mostrar que pode ser alternativa a Danilo; Quiño, que nem está a fazer uma época extraordinária mas fazia com que não precisasse de inventar na lateral esquerda; ou Mikel, para jogar em vez de Fernando e dar descanso ao nosso guerreiro. Havia muitas alterações mais a fazer mas a opção é sua, será sempre sua e nós, que estamos de fora, é que gostamos de as analisar sem saber o que por aí anda na sua cabeça.

Muito bem. Faltam apenas 180 minutos para o fim do desterro e é mais que tempo para sacar duas vitórias. Acima de tudo vamos sair disto com a pouca honra que nos resta. É que perder com o último classificado, francamente, não lembra nem ao adepto mais pessimista.

Sou quem sabes,
Jorge

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