Baías e Baronis – Rio Ave 1 vs 3 FC Porto

É uma vitória que assenta bem e apesar da qualidade do nosso futebol não ter sido nada que me faça lançar foguetório, a verdade é que conseguimos sacar três pontos num campo complicado. O jogo foi melhor, mais solto mas polvilhado por enormes nuvens de incerteza pela lentidão de longos momentos da partida e pela constante intrusão das falhas defensivas, onde Otamendi esteve hoje em grande nível…negativo. As notas explicam melhor, vamos a elas:

(+) A troca (no terreno) do triângulo do meio-campo. Há naturalmente um enorme beneficiado com a cambiante 1-2 do meio-campo: Fernando. Não há dúvida que joga melhor quando está solto, a controlar a “sua” zona sem o atropelo de ter um homem a seu lado nem com a prisão de manter um contacto directo com ele. A verdade é que Lucho joga melhor quando está mais recuado (apesar de hoje não ter estado em grande nível) e o facto de ser ele a ocupar aquela posição faz com que o triângulo vá rodando com a posse de bola, mas é Fernando que aproveita a liberdade da melhor forma. Fonseca, por favor, mantém os gajos neste esquema. Dá muito mais moral aos rapazes.

(+) Carlos Eduardo. Entrou para a equipa cheio de vontade, sem pressão e com fome de bola. Ainda lhe falta ritmo e persiste nalgumas quedas parvas quando perde o controlo da bola e a trajectória que quer traçar. Mas mostra o que Lucho não tem conseguido mostrar nos últimos jogos: pega na bola, corre com ela e mexe com o jogo. É um bom exemplo que este rapaz representa, aquela noção que por vezes uma passagem pela equipa B a ganhar ritmo e a mostrar qualidade fazem maravilhas por um jogador. Com Carlos Eduardo, parece ter funcionado. Espero pelos próximos jogos para confirmar a valia do moço.

(+) Maicon. Está em boa forma e acima de tudo está a jogar simples como aprendeu a fazer em virtude das circunstâncias…diria populares. É isto que eu quero de um central, carago: um gajo alto, forte, que jogue bem de cabeça, marque golos em livres cruzados para a área e limpe a bola da zona defensiva ao biqueiro. Isso é o mínimo que peço e Maicon continua a montanha-russa que tem sido a sua carreira no nosso clube. Nunca será um jogador que põe a malta indiferente. Love him or loathe him, é o central em melhor forma no FC Porto.

(-) Otamendi não está bem. Parece que há sempre um defesa que me vai andar a comer a mioleira durante o ano e nesta altura é o argentino. Já foi Mangala e Alex Sandro tem também papel importante na estupidificação de alguns lances com bola controlada na defesa, mas Otamendi está a bater qualquer um aos pontos porque está a tomar as opções erradas em quase todas as jogadas em que é interveniente. O primeiro golo é culpa sua, pela saída absurda da posição para interceptar uma bola impossível. E só não sofremos um segundo pelo mesmo lado porque Helton defendeu e Maicon cortou para canto. Merecia o tratamento do costume: umas chibatadas do Paulinho, às quais somava um banhinho em alcatrão e uma bela cobertura em penas. E um ou dois jogos na bancada.

(-) Jackson, apesar do golo. Demasiado complicativo e a jogar quase sempre para as costas, sem ver sequer se um colega estava pronto para receber a bola. Marcou o golo, mas espero sempre mais dele do que perder bolas consecutivas e desperdiçar ataques como um ricaço a acender charutos com notas de quinhentos. Implorei a Fonseca que o tirasse a meio da segunda-parte, mas acho que o mister só me ouviu aos 88 minutos. Como de costume.

(-) Licá não pode ser extremo. Não pode. Criou duas jogadas de perigo quando apareceu na pequena área. Não conseguiu um lance decente pela linha. Tem sido uma constante em quase todos os jogos de Licá pelo FC Porto e questiono se pode ter lugar no onze se não cumpre na posição onde é colocado. Gosto do rapaz, luta muito e ajuda a equipa sempre que pode…mas as lacunas técnicas e tácticas podem lixar-lhe a vida a curto prazo.


Vencemos bem mas tive as minhas reservas, especialmente depois de ter reparado que a minha filha estava vestida com um casaco de malha…com riscas verticais verdes e brancas. Agoeirenta, a estuporada, mas ao que parece deu sorte. Sai um casaco vermelho quando formos à Luz!

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Ouve lá ó Mister – Rio Ave

Mister Paulo,

A derrota em Madrid deixou-me a pensar um bocadinho, a contemplar o que raio te haveria de dizer depois desse jogo, e o facto de ter andado mais ocupado que uma putéfia com sete pachachas me impede de continuar as lides. Além do mais, ando com a sinusite a bater-me nos cornos, um mundo de muco na penca e um farrapo em geral. Se a isso somares as bolas ao poste, o penalty falhado e a falta de garra da equipa, está tudo, mas tudo bem fodidinho.

E hoje vai ser mais um desses jogos em que temos de aturar uma equipa com um treinador que já usou as nossas cores na camisola e que por hábito nos dão a água p’la barba. Ainda por cima se estiver vento lá na Vila, upa upa, mais complicado se torna. Se os rapazes não estiverem com vontade de correr, xissa penico que nos vemos tramados. E se se começarem a armar em parvos como no ano passado e botarem fora vantagens perfeitamente decentes porque um demónio lhes falou ao ouvido…então aí vou ter de me chatear. E nesta altura, começo a ficar como a versão cartoonizada do Givanildo: “Don’t make me angry. You wouldn’t like me when I’m angry”.

No fundo, tenho defendido a equipa até um certo ponto. Acho que a táctica é desajustada, acho que tu não mostraste pulso suficiente para lhes dares dois tabefes quando é preciso, acho que o Varela é mais inconstante que uma mulher alcoolizada e acho que o Lucho está a jogar fora do lugar dele. Acho também que o principal problema é mental e não táctico, é moral e não técnico, é psicológico e não estratégico. Mas começa a ser difícil segurar esta premissa quando vejo que não consegues dar a volta a isso. A mudança, mais uma vez, está nas tuas mãos. E aproveita este jogo que o Tarantini não pode jogar. Por favor.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 0 Braga

Não há maior espectáculo para o corpo e mente que ver o FC Porto ajogar à bola em 2013. A facilidade com que as nossas emoções atingem picos de extraordinária frustração e desânimo contrasta com outros momentos onde a alegria acaba por ser contagiante, os sorrisos fluem como ambrósia das ânforas dos deuses e nos levam ao fraterno abraço entre adeptos que só quem vai ver jogos ao vivo sente. Hoje foi mais um jogo desses, contra um Braga atrevido mas ineficiente, onde mostrámos que ainda sabemos jogar futebol e que por vezes basta um golo e uma mudança organizacional para que a equipa cresça o suficiente para vencer uma partida difícil. Vamos a notas que se faz tarde:

(+) Varela. Começa a ser perigoso para a minha espinha opinar sobre as exibições deste estupor. Talvez tenha sentido na pele o que é esperado dele depois do jogo contra o Nacional, onde jogou ao nível de um caracol bêbado, e despertou para um belo jogo em que lutou que se fartou e saiu, ao contrário do que tinha acontecido nesse jogo, com uma salva de palmas bem merecida. Participou em inúmeras jogadas de ataque, pressionou o lateral que apanhou pela frente e conseguiu (oh inclemência!) passar por ele várias vezes. Este Varela pode ser sempre titular. O outro, o mais habitual, não.

(+) Carlos Eduardo. Olha que belo jogo fez este rapaz! E pode ter sido um dos rapazes mais pressionados em campo, ele que entrou para o lugar de Lucho (lesionado, ao que parece), numa altura em que a equipa não estava bem e calçou muito bem no lugar do capitão. Mexido, lutador, com bom toque de bola e excelente visão de jogo, foi fundamental no crescimento da equipa na segunda parte e foi com ele que conseguimos chegar aos golos. Gostei e quero ver mais.

(+) Herrera (na segunda parte). A mudança do meio-campo que Fonseca fez ao intervalo beneficiou a equipa toda mas nenhum jogador colheu frutos mais viçosos que o mexicano. Passou a primeira parte a atrapalhar-se nas mesmas zonas que Defour mas quando apareceu mais subido, com mais espaço e mais possibilidades de criar perigo, subiu de produção e conseguiu finalmente mostrar o que pode fazer de bom em campo. Não é Moutinho, nem perto disso, mas quando tiver menos medo de jogar e de fazer jogar…pode finalmente ser importante como foi hoje.

(+) Jackson. Picou o ponto duas vezes, com alguma sorte na primeira e inteligência na segunda. Tentou ser produtivo durante a primeira parte mas a absurda distância entre linhas nunca o deixou jogar com o colectivo. Estava a precisar de marcar e ainda bem que o fez.

(-) Os nervos da primeira parte. Nada pode ser apontado à equipa em termos de empenho. Todos lutaram, correram, esforçaram-se para ganhar o jogo. Mas, e há sempre um mas, a forma como o fizeram foi tão desorganizada e nervosa que transmitiu esses mesmos nervos para as bancadas. Todos compreendem que os jogadores estão pressionados e que é complicado reagir a este tipo de pressão numa equipa que entra em campo para vencer todos os jogos e que ouve assobios ao primeiro passe falhado. Mas espera-se dos jogadores do FC Porto que consigam aguentar essa pressão, que lutem para lá da falta de confiança e que não se deixem influenciar pelos gritos do público ou pela inadaptação dos colegas a esquemas tácticos menos adequados ao que gostam de fazer. Sim, Defour e Herrera estavam a ocupar a mesma zona no meio-campo. Mas não precisavam de olhar um para outro para perceber que não podiam ficar parados à espera que o outro lá fosse. Sim, Maicon teve sempre pouco tempo para passar a bola a um colega. Mas não pode tremer quando o público fica impaciente e arriscar um passe que todos (incluindo ele) via que seria facilmente interceptado. Sim, Josué pode rematar quando está em posição de o fazer, mas nem sempre ter uma boa posição para rematar implica que tenha de o fazer sem que ele próprio esteja convencido que pode fazer golo. Exigimos muito deles. Não são máquinas mas homens, dir-me-ão. Certo. Mas não podem ser homens de fibra mental tão fraca que cedam tão facilmente à pressão de jogos grandes. Aqui, no FC Porto, não podem.

(-) Os imbecis do assobio. Continuo a achar que há gente que devia ficar em casa quando colocada perante a hipótese de ir ao Dragão ver a equipa a jogar. E não consigo entender o que é que passa pela cabeça de alguns idiotas que começam a assobiar imediatamente mal o jogador recebe a bola, antes sequer de saber o que é que o gajo vai fazer com ela. É malta burra que ainda não conseguiu perceber que não é assim que se consegue motivar uma equipa que já está nervosa quando o jogo começa e que vê os seus adeptos a assobiar em vez de apoiar. Por isso, consócio imbecil, se é para isso que lá vais…mais vale ficares em casa. A sério.


Terá sido suficiente para despertar aquelas almas que durante tantos minutos parecem perdidos em campo? Não faço ideia e aposto que nenhum adepto consegue dizer com um mínimo de certeza que estamos de volta, como cantavam os Super. Na quarta-feira há outra prova das duras e apesar de não ser possível tirar conclusões por serem jogos tão diferentes, podemos ter ganho confiança suficiente para crescer como equipa. Algum Deus me ouça, por favor.

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Ouve lá ó Mister – Braga

Mister Paulo,

Começa a ser complicado arranjar o que te dizer para conseguires mudar a cabeça daqueles rapazes. E imagino que ainda seja pior para ti, que os vês do banco com uma letargia que começa a confundir a cabeça de muito portista porque dá logo para um gajo começar a questionar coisas. Coisas. Cenas. Tralhas. Tudo. E eu não sou gajo para essas merdas, só exijo trabalho, esforço, empenho, garra, vontade. E vejo-te sem ideias, vejo-os sem ideias e vejo toda a gente de mão na cabeça como se fossem um monte de miúdos que começaram agora a jogar à bola. Não percebo isso e não percebo que admitas isso.

É por isso que estou convencido que vamos ganhar ao Braga. Pá, posso estar a ser excessivamente confiante, mas acho mesmo que lhes vamos cravar dois ou três na pá e nem os vamos deixar passar muito do meio-campo a não ser uma ou outra corrida do Alan ou do Rafa. E mesmo assim tenho a certeza que o Danilo lhes vai tirar a bola facilmente e o Josué vai meter duas coxinhas seguidas ao Luiz Carlos (esse gajo não te parece o Fester Addams com uma tez mais escura?). E sei que o Jackson vai receber bem as bolas que o Varela lhe vai mandar, o Lucho não vai falhar uma tabelinha nem o Mangala facilitar um dedo mindinho do pé. Nada vai correr mal, tudo vai correr bem, amanhã de manhã senta-te na posição de lótus e pensa comigo: “esta merda é para ganhar. esta merda é nossa. esta merda é toda nossa. allez. allez. volta ao início, esta…” e continuas assim umas horas. Não tenho tempo para fazer o mesmo, por isso contenta-te com o apoio a partir da bancada. Vamos a isso, caralho!

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Académica 1 vs 0 FC Porto

foto retirada de maisfutebol.iol.pt

E depois de dois empates, uma derrota. São sete pontos cedidos em circunstâncias que têm tanto de igual como de enervante. Não há estrutura física, táctica e mental no FC Porto em Novembro de 2013. Já atravessei momentos maus com o FC Porto e este é mais um que vai direitinho para um pódio que já lá tem o FC Porto de Octávio em 2001 e o de Couceiro em 2005, sem que consiga dizer ao certo qual deles apresentou pior futebol. A derrota é merecida porque me ponho a olhar para o jogo e tento perceber o que raio se passa na cabeça dos jogadores para se exibirem sem um mínimo de inteligência, organização em campo e convicção que têm um jogo pela frente que é imperioso vencer. Neste momento estamos na merda. Notas, apenas negativas, abaixo.

(-) Zero. Ora então aqui vamos nós. Zero. Foi isto que fizémos hoje em Coimbra. Zero ideias, zero concentração, zero vontade de jogar com cabeça, zero movimentos de ruptura no ataque, zero capacidade técnica, zero remates com perigo, zero jogadas de entendimento, zero concretizações, zero. Zero. É inútil pensarmos que as coisas são facilmente remendáveis com a mudança de um ou onze jogadores na equipa principal do FC Porto porque há uma deriva mental na grande maioria dos jogadores que faz com que raramente se consiga mais que um lampejo de um ataque fugaz que resulta invariavelmente numa tentativa amadora de criar perigo contra qualquer adversário que se nos é colocado. E podemos continuar a fugir para a frente, a pensar que a culpa é de A ou de B, do treinador ou dos jogadores, da SAD ou da senhora que muda o WC Pato, mas a verdade é que a culpa é geral. E não há culpa, havendo-a a rodos. Temos actualmente um plantel com soluções razoáveis, composto por um misto de experiência e juventude que milhares de clubes por esse mundo fora invejaria ter. Sim, perdemos James e Moutinho. Mas esses dois nomes não começam a tocar a pontinha do majestoso iceberg de estrume em que se transforma qualquer jogo do FC Porto desde que o árbitro apita para começar a partida. Paulo Fonseca lidera este bando de rapazes, uns com mais vontade que outros, uns sem dúvida com mais talento que outros, uns com mais garra que outros. Mas todos mostram uma fibra moral e uma determinação que neste momento vale…zero. Zero. Vale zero e hoje valeu zero porque qualquer corrida de um academista foi mais rápida que Danilo. Vale zero porque Mangala parece crer que é um Yaya Touré e decide começar a fintar a partir da sua própria zona de acção, perdendo a bola ao fim de quinze metros. Vale zero porque Alex Sandro se perde em fintas só para entregar a bola ao adversário. Vale zero porque Jackson está consistentemente sozinho e Lucho aparece longe, quase tão longe como Josué ou Fernando, ambos com vontade mas inoperantes em virtude da desorganização geral. Há dois lances que mostram na perfeição o que é o FC Porto neste momento. No primeiro, Varela tem a bola à entrada da área pelo lado direito. No processo de procurar centrar a bola para a área, escorrega e perde a bola para Fernando Alexandre. O médio da Académica, rápido e com sentido prático apurado, pontapeia imediatamente a bola contra o dezassete do FC Porto, ganhando o pontapé de baliza. No segundo, Maicon tenta proteger a bola de Magique, que lhe ganha (mais uma vez) em velocidade e em garra, conseguindo ainda tocar na bola contra o brasileiro, ganhando o lançamento. Estes lances sucedem-se um após o outro em noventa insuportáveis minutos de não-futebol. E tudo isto com o mesmo treinador de braços cruzados, sem perceber o que se passa. Só que eu, cá fora, posso não perceber. Ele, para ser sincero, não.


Um amigo, um dos poucos bons amigos que tenho e que vejo muito menos vezes do que queria, respondeu-me a um email onde discutíamos o último álbum dos Arcade Fire, usou a seguinte frase: “estavam bem era a tocar esta merda de música nova no funeral do Fonseca, enquanto o Vitor Pereira ejaculava para cima da campa e da boca do Danilo, Otamendi, Mangala, Defour, Ricardo, Licá, Josué e Quintero!“. É portista convicto, este meu amigo e usa o vernáculo como poucos. E com maior ou menor badalhoquice, dou-lhe razão na metáfora.

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