Ouve lá ó Mister – Vitória Setúbal


Mister Paulo,

Gostei do que vi em Guimarães, para te ser sincero. Pareceu-me que a malta está a gostar do que faz, entusiasmada com aquele miúdo que joga com o número três e mais alguns dos novos que também estiveram muito bem. Gostei quase de tudo, principalmente do resultado mas não me esqueço que foi o teu primeiro jogo oficial pelo clube e o mesmo aconteceu com vários outros rapazes. E a camisola pesa mais do que muitos deles estão dispostos a admitir, não tenho a mínima dúvida, por isso imagino que o teu fato, que te ficava impecável, juntamente com a tua barba bem aparada, baixa, densa, educada, também sentiu nas extremidades de cada pelinho a intensidade de cada lance, de cada momento, de cada passe.

E hoje, o dia é outro, a equipa também é outra…mas tudo é diferente. A Liga é tua principal prioridade, não te deixes enganar pelos loucos que só pensam na Europa. É uma das prioridades, sim senhor, ninguém te tira isso do calendário, mas o mais importante, especialmente na tua primeira época, é o campeonato. E esse, meu amigo, começa hoje. Já vi que convocaste o Abdoulaye, o Ricardo e o Herrera, mas deixaste de fora o Maicon. Vai rodando os rapazes, vai mantendo o povo motivado e continua a perceber quem é que te pode dar mais garantias. O Setúbal é uma equipa diferente do ano passado, cheio de malta nova que ninguém ouviu falar e por isso ainda te podem vir a dar água pela barba que agora pareces não ter.

Acima de tudo, convence-os que este é o primeiro jogo e que todos queremos entrar bem. Este é o primeiro jogo do resto da tua Liga.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Paços de Ferreira 0 vs 2 FC Porto

A vitória estava a noventa curtos minutos de distância e não escapou. Mas o jogo mostrou segurança suficiente para que não houvesse dúvidas de quem estava ali para ganhar e para mandar no jogo como não tinha conseguido mandar no campeonato durante largas jornadas, demasiadas jornadas. E se o penalty apareceu na altura certa (em jogo corrido pareceu-me claro, mas na repetição fiquei sem perceber sequer se tinha havido falta), a verdade é que em todo o jogo só houve uma equipa que controlou os ritmos e as nuances da partida. Tacticamente bem, fisicamente razoável mas tecnicamente fraca, a equipa chegou ao final apesar de falhas consistentes no passe, salvando-se Varela e Lucho, com Defour também em bom plano. Vitória certa da única equipa que quis ganhar. Vamos a notas:

(+) Varela. Excelente jogo. Muito activo pelo flanco esquerdo na primeira parte e mais orientado pelo direito na segunda, foi Varela que levou o FC Porto para a frente com maior intensidade, sempre com a vontade que pareceu demonstrar neste final de época onde conseguiu ser um dos melhores jogadores da equipa. Sim, Varela. E quem o viu no início da temporada, lento, a arrastar-se em campo…e o vê agora, deve imaginar que o rapaz teve qualquer tipo de epifania futebolística e recomeçou a jogar à bola. Hoje esteve muito bem, com bons cruzamentos e o suor que deveria ter posto sempre em campo em todos os jogos. Muito bem.

(+) Lucho. Não esteve genial, mas esteve muito bem no centro do terreno a comandar tacticamente a equipa, quando os obrigou a pressionar alto e a carregar o jogo para cima do Paços. É inegável a influência que tem no controlo da formação portista em campo, constantemente a dar indicações aos colegas e a incentivá-los sempre que é necessário. Ah, e marcou o penalty. Ufa.

(+) Defour. Certinho no meio-campo, nunca tendo medo de meter o pé quando era necessário e marcar a diferença numa zona em que Luís Carlos e André Leão são rijos e agressivos na disputa da bola. Continua a ser dos melhores jogadores na componente técnica do passe e nem quando foi obrigado a descair para lateral direito falhou nesse aspecto, porque continuou a trabalhar bem e a subir para a marcação como lhe era pedido. Bom jogo.

(-) Danilo. Se fosse outro gajo diria a mesma coisa: foi uma estupidez. Aquela traçadela aos dez minutos da segunda-parte fez com que explodisse na cadeira onde estava e originou a que proferisse mais um pedaço de vernáculo nortenho que prefiro não reproduzir neste momento. Fazer com que seja expulso (sem espinhas nem contestação) no jogo mais importante da temporada é uma infantilidade pior que a de Fucile em São Petersburgo ou Defour em Málaga. Muito tem de aprender este rapaz e francamente começa-me a desiludir a sua atitude em campo e a forma como está a falhar a aposta nele como lateral-direito titular do FC Porto. E lixou-se porque falha a Supertaça. E que jogador não quer começar a época em grande contra o Guimarães? *wink wink*

(-) Olha, um jogo em que falhámos muitos passes… Compreendo o nervosismo, não sou estúpido ao ponto de pensar que os rapazes não iriam estar nervosos e os índices técnicos iam ter de ceder por alguma parte. E o passe foi, mais uma vez, uma dessas cedências. Mas já me chateia ver a equipa a tentar o último passe de uma forma tão atabalhoada. É um ciclo vicioso este dos passes falhados e que se pode repercutir da seguinte forma: falho um passe, não posso falhar o próximo, vou tentar com tanto afinco fazer um passe perfeito que condiciono as minhas opções e perco espaço e pumba, lá vai outro passe falhado. Na próxima época devíamos espetar pinos no Dolce Vita e obrigá-los a acertar-lhes desde o relvado. Quem falhasse tinha de ir buscar uma garrafa de Gatorade à Repsol em Fernão de Magalhães. Too harsh?


É sempre difícil falar de um jogo com este tipo de carga psicológica, de uma fortíssima intensidade e de enormes emoções. Ao escrever estas palavras ainda dura a festa nas imediações do Dragão, e Vitor Pereira está com um sorriso enorme ao ouvir as palavras de Pinto da Costa. Ele, como tantos outros antes dele, está de parabéns. Hoje, todos estamos de parabéns, todos os que acreditaram que era possível dar a volta a um campeonato que nos vergava a fé e a mente, que parecia perdido até duas semanas antes do seu final. Hoje somos felizes porque trabalhamos para isso. Análises mil seguir-se-ão nos próximos tempos e não me alheio de as fazer. Tudo a seu tempo, porque hoje é dia para celebrar, para descansar, para me sentir novamente campeão. Perdão, tri-campeão!

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Ouve lá ó Mister – Paços de Ferreira


Amigo Vítor,

Hoje é o dia. Para todos nós que andamos aqui há trinta jornadas, a torcer pelo clube que é tanto teu como nosso, para todos nós que sofremos na Luz, que nos enervámos em Alvalade, que vibramos em Braga, que desesperamos em Vila do Conde, que entristecemos nos Barreiros, que exultámos na Choupana, que cantámos glórias em Guimarães e que manifestámos todas as emoções de verdadeiros adeptos desde Agosto, Vitor…todos esperámos por este momento. Uns com mais fé, outros com a esperança no chão, pontapeada por inúmeros momentos de emoção sobressaltada por semanas em que alternámos o genial com o absurdo, o brilhante com o ridículo. Foram trinta semanas de futebol intenso, triste, verdadeiro, feliz, encorajador, preocupante…trinta semanas com o coração perto da explosão para que pudéssemos chegar a este momento e dizer que podemos ser campeões com o mérito que poucos nos reconhecem mas que temos de fazer o possível para que seja nosso, para que volte a ser nosso. E tudo depende de noventa miseráveis minutinhos.

Não tenhas a mínima dúvida que todos estaremos do teu lado, Vitor. Todos os portistas, desde o centro da Invicta aos mais distantes confins deste planeta, todos eles estão a torcer por ti e pelos teus. Todos estão, de uma forma ou de outra, em Paços de Ferreira. Todos estarão a ver o jogo de olhos colados na pantalha ou no relvado, que não haja dúvida nenhuma disso, e acredita que portista que se preze estará a assistir ao jogo salvo motivo de força maior. Porque a emoção deste último jogo exige que nos juntemos, em grupo, em coligação de esforços, numa espécie de aura gigantesca que te tenta passar a força dos grandes, dos enormes, dos gigantes. É isso que seremos hoje, Vitor, uma multidão de almas a sofrer por ti, a viver cada segundo como se fosse o último, inclinados para um passe do James ou uma corrida do Varela, a dobrar-se para acertar o passe do Defour ou o remate do Jackson. E todos, mas todos, dependemos de ti.

Faz com que a recta final não tenha curvas. Entra em campo com a mentalidade de um grande, com a vontade de acabar com este jogo antes sequer dele começar. Convence esses teus moços que estão prontos para vencer o jogo e assim trazer os três pontos que precisamos para que rebente de vez a festa, para que exultemos com a alegria que todos merecemos, nós e tu e os teus.

Estarei a ver o jogo em frente a uma televisão que nem quero saber se é grande ou não. Talvez na tua terra, Vitor, tudo depende de algumas combinações de última hora. Talvez, Vitor, talvez te traga sorte por ver o jogo em Espinho. Mas seja lá ou na Invicta ou em Florença ou em Perth, onde quer que veja o jogo…quero ver-te a ganhar e a chorar por mais uma vitória do Porto que é tanto teu como meu. Vamos a isso

Faltam noventa minutos para a glória final. Força.

Sou quem sabes,
Jorge

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Falta um dia

Once more unto the breach, dear friends, once more;
Or close the wall up with our English dead.
In peace there’s nothing so becomes a man
As modest stillness and humility:
But when the blast of war blows in our ears,
Then imitate the action of the tiger;
Stiffen the sinews, summon up the blood,
Disguise fair nature with hard-favour’d rage;
Then lend the eye a terrible aspect;
Let pry through the portage of the head
Like the brass cannon; let the brow o’erwhelm it
As fearfully as doth a galled rock
O’erhang and jutty his confounded base,
Swill’d with the wild and wasteful ocean.
Now set the teeth and stretch the nostril wide,
Hold hard the breath and bend up every spirit
To his full height. On, on, you noblest English.
Whose blood is fet from fathers of war-proof!
Fathers that, like so many Alexanders,
Have in these parts from morn till even fought
And sheathed their swords for lack of argument:
Dishonour not your mothers; now attest
That those whom you call’d fathers did beget you.
Be copy now to men of grosser blood,
And teach them how to war. And you, good yeoman,
Whose limbs were made in England, show us here
The mettle of your pasture; let us swear
That you are worth your breeding; which I doubt not;
For there is none of you so mean and base,
That hath not noble lustre in your eyes.
I see you stand like greyhounds in the slips,
Straining upon the start. The game’s afoot:
Follow your spirit, and upon this charge
Cry ‘God for Harry, England, and Saint George!’

William Shakespeare, Henry V, Act III

Substituamos “Harry” por “Vitor Pereira“, “England” por “FC Porto” e “Saint George” por “adeptos portistas“. O sentimento é que tem de ser o mesmo.

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