Ouve lá ó Mister – Braga


Amigo Vítor,

Aqui há uns meses, em Maio, fui falar com o meu chefe para lhe pedir se podia trocar um dia de férias em Dezembro por um lá pró meio do mês. O homem, compreendendo a minha ânsia de ir ver o FC Porto à cidade onde a Guinness flui pelas ruas e os duendes saltam alegremente nos jardins, acedeu ao meu pedido e seguiu aqui no blog a epopeia que foi a viagem a Dublin para ver este mesmo adversário que vamos enfrentar hoje. E que vamos bater, como fizemos em Maio, em Dublin. Não quero saber se joga o Djalma, se o Hulk pintou o cabelo de fuchsia ou se o Rolando faz um hat-trick com um último golo em pontapé de moínho de fora da área. Interessa-me, sinceramente, é perceber se aquele empenho que vi na Ucrânia não ficou no estrangeiro e se mesmo depois de aterrar em Vigo, descobriu o caminho para o Dragão.

Hoje é a reedição da final da Liga Europa do ano passado. Basta-me o mesmo resultado.

Sou quem sabes,
Jorge

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48…49…?

Amanhã, no Dragão, podemos chegar ao 50º jogo consecutivo sem perder na Liga Portuguesa. Não sou particular fã de grandes marcos estatísticos porque são só pequenas vitórias para a jornalistada tentar apanhar um soundbite foleiro e espetar um númbaro no rodapé do jornal que dura mais do que deve para falar de assuntos que não precisa.

Mas era giro, porra. Ainda por cima porque é ridículo começar e acabar uma série destas com empates frente ao Olhanense. Parece mal.

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Baías e Baronis – Olhanense 0 vs 0 FC Porto

 

retirada de desporto.sapo.pt

Começa a ser insuportável ver um jogo do FC Porto neste estado. Enquanto escrevo esta crónica, ao mesmo tempo olhei para o lado e na televisão surge a palavra “corrimento”. Sei que posso padecer de qualquer condição de demência, mas preferia ver uma representação gráfica desse conceito do que ver algumas repetições dos lances do jogo de hoje em Olhão. É deprimente perceber que os jogadores estão a lutar a metade (se tanto) do que podem fazer, com uma absurda quantidade de medo de falhar em quase todos os lances em que participam. Os passes são fracos, temerários, sem força, sem vida, sem garra. As jogadas são mal gizadas, trapalhonas e inconsequentes. E podia continuar aqui algumas horas a arranjar sinónimos negativos para a nossa exibição completamente sem chama e merecedora do empate. Siga para as notas:

 

(+) Fernando É difícil, como me sugeriram, encontrar um Baía que seja no jogo de hoje. Opto por Fernando, porque não tem culpa nenhuma que a grande maioria dos colegas estivesse à procura de uma rocha para se enfiar lá dentro e esperar que a má onda passe. Fernando esteve em todo o lado, a tapar os buracos e a recuperar as bolas em zona defensiva baixa, a cumprir mais que o seu papel a descer quando ambos os laterais (chamar lateral a Maicon pode ser exagerado, mas a verdade é que o rapaz não esteve assim tão mal) subiam para os lugares onde o treinador lhes manda estar. Fernando, juntamente com Rolando e, a espaços e apenas na segunda parte, Álvaro e Moutinho, foi dos menos maus.

 

(-) O ritmo do medo e a incapacidade de reagir a situações negativas Prefiro reunir os males num único Baroni, não me levem a mal. Não interessa nada ter a bola durante mais tempo, jogar no meio-campo do adversário, quando olhamos para James ou Hulk e vemos que não têm capacidade mental de furar, de rasgar uma defesa prática mas fraca. Os jogadores do FC Porto jogam a um ritmo medonho e com medo, com medo de tudo e de todos, com o temor que qualquer adversário lhes tire a bola, o que acaba por acontecer mais vezes do que devia. Vitor Pereira disse que os adeptos deviam esquecer o ano passado. Não posso, não consigo, não quero. São os mesmos rapazes que vi há alguns meses que estão ali em baixo e não precisava de ver a segunda parte contra o Villareal ou o cincazero ao Benfica. Só precisava de ver algum brilho nos olhos de James, alguma resistência ao choque de Hulk (sim, estou a falar a sério, Hulk foi ao chão várias vezes em luta contra adversários bem mais fracos mas com muito mais intensidade de jogo), algum tino de Belluschi nos passes e mais velocidade de Álvaro. Ver um grupo de jogadores talentosos a desperdiçar oportunidades consecutivas de brilhar e de mostrar que são os mesmos meninos que já me puseram rouco a gritar golo é frustrante. Perceber que são da minha equipa, ainda pior! E ter de estar a olhar para James e pensar na final da Taça, ver Moutinho e pensar na segunda mão da Taça na Luz, puxar por Hulk e sonhar com o cincazero…é muito difícil tentar entender o que se está a passar naquelas cabeças. Se o treinador não os consegue motivar a fazerem melhor, não conseguirão eles próprios levantar a cabeça?! Puxar ao orgulho, à honra, ao brio?! Porra, quando estou a jogar à bola com os meus amigos, do alto da minha quase total ausência de talento, não há nada que não faça (dentro da legalidade, entenda-se) para tentar ganhar um jogo! Tudo! É o exemplo mais fácil de todos mas é de tal maneira adequado que se torna tão irresistivelmente simples fazer o paralelismo. Para lá de todo este desterro, incomoda ver os jogadores a perder a bola e a demorar tempo demais a recuperar defensivamente, deixando a clareira aberta para contra-ataques adversários que só não aconteceram mais vezes porque a incapacidade técnica do Olhanense era evidente. Por isso é verdade que conseguimos ter a bola mais tempo. Até tivemos alguns remates. Poucos, mas alguns. E falhamos um penalty, que acontece e não é absolutamente censurável per se. Falhar um penalty contra o Olhanense é um acidente. Criar tão pouco em 88 minutos contra o Olhanense não é acidente nenhum. É inépcia.

(-) Meio-campo estático Vi a mesma jogada vezes demais: Mangala ou Rolando, com a bola nos pés, procuravam espaços no meio-campo adversário. Lá, pelo meio de vinte calções brancos e alguns azuis, não havia nesga por onde a bola podia passar em grande parte porque os nossos médios, numa movimentação lenta, pastosa, arrastada, sem intensidade nem destino marcado, faziam com que uma simples basculação lateral do Olhanense servisse para tapar a entrada. O central, tanto o luso como o francês, rodavam a bola para o lado ou paravam para entregar a Fernando, que procedia a recuar em posse…mas sem qualquer progressão. Foi enervante e durou “apenas” noventa e três minutos.

 

Et voilá, continuamos em primeiro lugar, pelo menos por mais um dia. Isolados, no less. Até podíamos estar quarenta pontos à frente, mas a qualidade de futebol apresentado não chega sequer a ser sofrível. É fraco, apesar da posse de bola, do domínio, do controlo ou da vitória nas estatísticas. A exibição que hoje estava à espera tinha de ser o total oposto desta. Os rapazes em campo tinham de comer relva, mostrar que tinham ficado indignados pela sua própria atitude em Chipre e dispostos a lutar contra Adamastores, Godzillas, Cloverfields ou qualquer tipo de bicho que lhes aparecesse à frente com um edredon e um molho de nabiças. Não vi e não sei quem culpar. Se eles, por não o fazerem. Se Vitor Pereira, por permitir que eles não o façam.

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Ouve lá ó Mister – Olhanense


Amigo Vítor,

Estás numa de me lixar a vida, pá. Os fins-de-semana até nem têm corrido muito mal, mas os entremeios tem sido ao nível de um pontapé nos dentes com uma bota de biqueira de aço. Este jogo no Chipre deixou meia nação portista histérica e outra meia, ainda que com mais calma e racionalidade, com o pé tão atrás que uma pessoa pensa que ficou no meio do caminho.

Todos sabemos que a tua tarefa não é fácil, home. Mas ninguém para lá de ti e dos teus subalternos podem fazer o que quer que seja senão mandar bitaites pró tecto e esperar que as coisas funcionem. Eu posso achar que o Belluschi não está em condições de jogar, ou que o James devia ser titular em vez do Varela, ou até que o Mangala é a melhor coisa que apareceu no centro da defesa portista desde que o Ricardo Carvalho saiu para o Chelski, mas isso sou eu. Nem sou eu, que eu nem concordo com algumas das coisas que disse em cima, foi só para dar um exemplo. Só tu é que podes tomar essas decisões e só mesmo TU é que podes fazer com que os tipos em campo sejam aquilo que nós queremos que sejam.

Para este jogo em Olhão, só te peço que permitas que a imprensa, tão convencida da nossa queda e ansiosa por ver o estertor de um ser ainda bem vivo, retome aquela máxima a que nos associavam quando vínhamos de uma derrota europeia: “Quem é que vai pagar?”. Acontecia com todos os clubes que tinham o azar de nos apanharem depois de perdermos com qualquer gigante europeu (que o APOEL obviamente não é, mas isso são outros quinhentos) e o rótulo era colado na perfeição porque o que habitualmente acontecia…exactamente, eram despachados com três ou quatro na pá e iam para beira da mãe queixar-se dos meninos maus.

Quero voltar a ver esse grupo de meninos maus. Atiça-os, Vitor, manda-os morder, raspar, marcar, ganhar. Por nós, mas também por eles próprios.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 0 Paços de Ferreira

 

Imaginem-se atrás de uma mesa de carpintaria. Têm à vossa frente uma tábua que está suplicando para que seja penetrada por um prego. Agarram um dos respectivos e colocam-no em cima do respectivo naco de madeira e por algum milagre o cilindro de ferro com a ponta achatada equilibra-se perfeitamente a topo do ex-tronco. Nesse momento, procedem a despejar água a partir de um regador em cima do prego durante quarenta e cinco minutos, esperando que por qualquer magia que descendesse dos céus, o prego se enfiasse dentro da tábua. Passado esse tempo e mais quinze para pensar numa melhor forma de romper os veios da lenha, eis quando surge a ideia: “E se eu usasse um martelo?”. Pum. Pum. Prego lá dentro. Simples, prático, quase bonito. E para que raio precisamos, tanto nós como eles, de sofrer tanto?! Vamos a notas:

 

(+) Moutinho Fez apenas metade do jogo mas esteve na metade que interessou. Conseguiu fazer em meia-dúzia de minutos o que Defour tentou durante toda a primeira parte: rodar a bola para os flancos com critério e bom posicionamento. Nota-se bem que é um jogador diferente dos outros pela postura, a frieza e a capacidade de movimentar a bola e os colegas para o melhor local, pela melhor trajectória e com o melhor intuito. E não está sequer perto do melhor que já o vi a fazer, porque se estivesse ao nível do ano passado, aposto que a equipa não estava tão órfã de ideias e estrutura no meio-campo. Marcou um golo de garra, de força, de empenho e por isso está ali em cima no topo do post. No ar, mais perto dos deuses, onde merece.

(+) James Completa noção de espaço, de área, de movimentação com bola e de localização no terreno de jogo. Vitor Pereira está a apostar nele pelo centro, a focar as jogadas para que a bola passe sempre pelos seus pés quando os lances de ataque se estão a desenrolar seja por que ala fôr, já que James é um perigo permanente para a baliza quando recebe o esférico porque ninguém sabe o que vai fazer a seguir. Não é Messi e nunca será, mas tem o mérito próprio de ser um jogador muito acima da média. Nota-se que os colegas já sabem que quando a bola está nos pés dele, a movimentação é sempre a de tentar furar a defesa, procurar a diagonal para enganar os laterais e confundir os centrais, o que ajuda a empurrar o adversário para trás e deixar James brilhar. Quando aprender a rematar em condições…vai ser ainda mais perigoso.

(+) Álvaro Pereira (na segunda parte) Na primeira parte foi dos poucos que tentou rasgar pelo flanco, já que Hulk e Varela, apagados, não conseguiam romper para o centro. Na segunda parte apareceu nalguma da glória que já nos mostra desde 2009, com arrancadas fulgurantes e cheias de intenção ofensiva, particularmente depois de perceber o desgaste de Manuel José que lhe abriu a ala quase na totalidade. Os cruzamentos continuam a não sair perfeitos mas o nosso Palito parece estar com vontade de voltar aos muito bons velhos tempos do passado recente. De um vencedor da Copa America não se espera menos.

(+) Hulk (depois do jogo) É nestes pormenores que se percebe que um jogador de futebol é, acima de tudo, um homem. Por muito endeusados que sejam, aplaudidos até as mãos ficarem vermelhas e aclamados com gargantas arranhadas, continuam a ser feitos de carne, osso e nalguns casos, gordura em excesso. Hulk esteve mal durante o jogo, sabia disso e não conseguiu dar a volta por cima. Tudo saía mal e nada do que tentava fazer resultava em qualquer coisa de positivo para si ou para a equipa. Saiu, substituído por Vitor Pereira, o homem que todos adoram odiar, que teve a lata de o tirar do jogo e muito bem. Abafado pelo irónico aplauso de meio estádio, aparentemente repleto de anormais que de Portistas só devem ter um cartão de sócio e pouco mais, Hulk saiu chateado, com ele e com o mundo, retirando-se para o balneário sozinho e sem passar pelo banco nem pela casa de partida nem receber dois mil escudos. Fez mal (ler abaixo). Depois do jogo, a falar para as rádios (eu ia a caminho de casa e foi aí que ouvi as palavras dele), penitenciou-se, sem pedir desculpa aos adeptos (concordo) mas fazendo-os aos colegas e à chefia, aos que têm de conviver com ele diariamente e poderiam ficar incomodados com o que tinha passado. Atitude digna, humilde e humana de um super-herói que por trinta minutos desceu ao nível dos mortais.

 

(-) Passividade Ao nível do jogo contra o APOEL, com a agravante do adversário ser mais fraco (mas atenuado pelo resultado ser positivo), a primeira parte foi uma das exibições mais abjectas do FC Porto que me lembro de ver. Quase todos os jogadores a praticarem um futebol absurdamente mau, sem ritmo, sem vida, com falhas técnicas anormais, inconsequências permanentes nas bolas ofensivas, falhas inadmissíveis na defesa e uma imagem de desânimo e falta de confiança que fariam o Velho do Restelo parecer um optimista. Mau demais para aqui narrar, entre as bolas que saltavam em frente a jogadores hesitantes, alívios para o ar em ângulos de 80 graus e ressaltos a mais para pernas a menos, é este tipo de jogos que afastam os adeptos do estádio. Sapunaru esteve horrível e com desatenções infantis, Varela lento e trapalhão, Fernando atabalhoado e trémulo, Belluschi sem acertar um passe, Defour a fazer pior que Belluschi e Hulk…ver abaixo. A primeira jogada de jeito aconteceu aos 51 minutos. E a partir daí as coisas mudaram. Felizmente.

(-) Sapunaru O jogo mais fraco da época para o romeno. Em bom português, Cristian, não deste uma prá caixa. Não subiu pelo flanco como devia, pareceu excessivamente nervoso durante grande parte do jogo mas acima de tudo o que me impressionou foi a incapacidade de se entender com Rolando, eles que jogam juntos desde…ora deixa-me cá ver…2008. Falhas infantis na defesa, terrível posicionamento perante o adversário e uma sensação durante todo o jogo que se a bola fosse para o lado dele, qualquer coisa havia de acontecer de muito mau para a nossa equipa. Atina, homem!

(-) Hulk (durante o jogo) Foi um jogo fraquíssimo de Hulk, onde nada correu bem. As fintas saíam muito próximas dos defesas quando o seu ponto forte continua a ser o drible em progressão rápida, com a bola bem adiantada para que usando a força e a velocidade consiga chegar primeiro que o defensor. Nunca o fez e perdeu-se em meandros recuados, com bola atrás de bola a ficar para qualquer tipo de amarelo que lhe aparecia à frente. O público fartou-se e pegou no assobio que parece sempre trazer na matraca e começou a apitar. É evidente que a insatisfação era notória, mas Hulk levou a peito e ainda conseguiu fazer pior, saindo chateado e sem dar cavaco aos colegas nem ao treinador. Não lhe ficou nada bem e ainda no estádio temi que pudesse ter havido outro tipo de consequências decorrentes desta atitude. Quando estes jogos começam a correr desta forma, Hulk tem de mudar para o estilo mais prático, mais passador e com menos bola. Caso contrário vai apanhar muitas mais destas assobiadelas monumentais, porque a gente que lá está parece exigir mais dos outros do que exige a si própria.

 

A maneira surreal com que chegamos ao intervalo, numa mistura estranhíssima de assobios e aplausos, não fazia prever que a segunda parte tivesse um nível de produção tão acima da primeira. E o que mais surpreende é que nem foi assim nada por aí fora para o que já vimos a maior parte destes rapazes a fazer no ano passado, mas os níveis de confiança dos adeptos nesta equipa que temos visto são tão baixos e a expectativa é tão reduzida que um jogo banalíssimo contra o Paços de Ferreira, combativo mas inconsequente, acaba por deixar a malta satisfeita. Ou talvez não. O ambiente no final da partida era soturno, triste e cheio de lamentação. Não estamos a jogar futebol a sério, a equipa nota-se que mostra uma intranquilidade enorme com a bola e ainda maior sem ela, e o facto de continuarmos a vencer jogos deste calibre com resultados deste género mostra muito sobre a competitividade do nosso campeonato. Melhores tempos virão, estou certo, tempos de maior estabilidade e futebol mais condizente com o nosso nível. Looking forward to it.

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