Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 2 SL Benfica

 

foto retirada do MaisFutebol

 

É uma crónica difícil de escrever, tanto como foram difíceis de aguentar os onze minutos finais do jogo, descontos incluídos. A ruptura física e emocional da equipa foi penosa de ver e à medida que o relógio avançava para esse infeliz minuto 82, havia uma sensação de insegurança como há muito não sentia num clássico, que poderia ser perfeitamente plausível caso o jogo tivesse sido muito complicado, o que não tinha acontecido até então. O Benfica entrou defensivo mas bem estruturado e o 4-4-1-1 deu-nos muito trabalho a quebrar, mas quebramos. E depois de mais uma parvoíce levar ao empate, lutamos para passar de novo para a frente, e conseguimos…e a partir daí, a equipa desfez-se como um castelo de cartas numa tempestade tropical. Não vale a pena reclamar com o árbitro, porque apesar de achar que houve algum exagero nos amarelos e dualidade pontual de critérios, a verdade é que o empate deve-se a mérito do Benfica como a demérito nosso e por muito que possa custar admitir, o jogo não devia ter acabado assim. Só faltou concentração, alguma inteligência emocional, mais alguma força nas pernas e acima de tudo calma e confiança, que parece estar em baixo. Vamos a notas:

 

(+) Fernando Foi o melhor jogador da equipa. Não chegam os dedos que tenho nas mãos e nos pés para contar as intercepções e excelentes posicionamentos defensivos que o “Polvo” hoje mostrou no relvado do Dragão, cortando lance após lance de investida atacante do Benfica, tanto no meio como na ajuda aos laterais. Era evidente que com Aimar em campo a jogar em apoio a Cardozo, Fernando ia ter trabalho intenso e a verdade é que o argentino viu-se pouco por culpa dele, provando que para jogos a sério quando é preciso alguma estrutura no meio-campo enquanto não funciona a rotatividade entre os membros do sector, a utilização de uma âncora inteligente e firme é essencial.

(+) Guarín Deve ter saído chateado. Eu sei que sairia, porque depois do jogo que fez merecia ter acabado a partida. É verdade que falhou algumas bolas no ataque e vários passes triviais que Fredy insiste em transformar em remates laterais mas a forma como ajudou Kleber na pressão a Luisão e especialmente a Garay foi bonita de ver. Jogou solto, como deve jogar, em apoio defensivo bem alto, e se houve algum elemento que impediu Javi e Witsel (bom jogador esta besta) de fazerem o que bem queriam no nosso próprio meio-campo, esse rapaz foi Guarín. Ia marcando um golo fenomenal num chapéu a Artur de pé esquerdo, mas o brasileiro estava atento.

(+) Otamendi O golo é de raiva e de esforço mas ainda assim saliento o trabalho defensivo, porque foi o mais certinho, apesar dos golos sofridos. Saiu sempre com a bola controlada e só por falta de apoio não conseguiu desiquilíbrios maiores, já que sempre que aparecia a correr pelo meio-campo dentro, parecia que o resto da equipa (tirando Hulk, mas como estava inconsequente acabou por não ajudar muito) ficava tão surpreendida que simplesmente não lhe dava o auxílio necessário e perdemos fulgor com isso. Bom no corte, aguentou o amarelo que levou muito cedo (correctamente) sem qualquer problema e foi o melhor jogador atrás de Fernando.

(+) Ambiente nas bancadas Por muito que tenha achado piada à galinha no ano passado, este foi um clássico mais digno. Não houve problemas com público, com pedradas, bolas de golfe ou bilhar ou bowling ou lá o que raio alguns animais gostam de levar nos bolsos. A polícia fechou tudo o que tinha para fechar, controlou bem a área e o ambiente, apesar de tenso como é natural para estes jogos, não teve a força negativa que no ano passado. Não fica na memória, mas por bons motivos.

 

(-) Desconcentrações Se o segundo golo nasce de falta de pernas e de intranquilidade defensiva, o primeiro é pura estupidez e falta de sentido prático. Não consigo compreender como é que Hulk perde a bola, Fucile fica a olhar e Cardozo aparece sem qualquer problema para encostar lá para dentro. Se Robson tivesse visto este golo mandava-os todos correr à volta do estádio durante uma hora, tal foi a falta de sentido prático e de concentração na tarefa que mostraram durante a segunda parte.

(-) Artur Aquele pé no ar é a imagem que me fica deste fulano, que fez com que lhe perdesse o respeito vocalmente com excelente vernáculo nortenho. E Guarín (ou Kleber, a memória falha-me) só não teve a clarividência de continuar e ir contra a pata da besta para ver se o animal falhava o pé de apoio com medo que lhe marcassem um penalty e caísse redondo na relva. Por vezes, caro neandertal brasileiro, são atitudes dessas que levam a que um jogo normal acabe num arrojo de pancada. E ainda bem que a malta se controlou, porque se dependesse de mim era bem capaz de chamar a brigada da braguilha e fazer de ti o primeiro guarda-redes do Benfica a levar um golden shower em pleno Dragão. Merecias.

(-) Hulk Inconsequente, foi uma pobre exibição ao nível das que fazia quando cá chegou em 2008. Parecia sempre complicar as coisas fáceis e estranhei que não tivesse rematado mais vezes, ainda que em má posição. Mas não, hoje Hulk passou o jogo todo a discutir com Fucile sobre o que presumo fossem regras de condução, porque fez dezenas de gestos com as mãos a simbolizar um “força, passe, minha senhora” e ainda agora não percebo o porquê de tanta conversa; perdeu bolas fáceis com fintas parvas; desperdiçou oportunidades de remate para fazer oh-só-mais-uma-fintinha-e-já-está; e pareceu apático com a presença de Emerson ou Gaitán no ataque pelo flanco. Volta rápido, Givanildo.

(-) Fucile Tu não aprendes, Jorge. Convences-te que és jeitoso e depois acabas por fazer jogos destes, e olha que já não é o primeiro monte de trampa que sai dos teus pés este ano, rapaz. Foi muito mau, homem, mau demais, e se tens desculpa para algumas bolas em que apanhaste com dois em cima, não te perdoo perderes bolas para aquele anão espanhol do Nolito, pá, o jogador mais sobrevalorizado desde que o Skuhravy chegou a Lisboa. Falhaste muito e em alturas importantes, moço, e só te pergunto: porquê? Qual é a necessidade de fintares gajos na linha quando podes ser prático e chutar contra eles para ganhar um lançamento? Porque é que tentas sempre fazer a coisa mais complicada quando a simples é mais melhor boa? Desiludes-me assim desta maneira? A mim que sempre te apoiei? Não se faz, Jorge, não se faz…

(-) Vitor Pereira Não me junto à turba que se parece ter formado à minha volta no Dragão, com gritos de “este gajo não percebe nada de futebol” e “és uma vergonha, caralho, era despedir-te já”. Bullshit. O que me faz dar uma nota negativa ao nosso treinador foi a forma como não conseguiu coordenar a equipa e elevar-lhe a alma quando era evidente para todos que havia ali uma desagregação iminente, tanto física como táctica. Talvez os jogadores não tenham pernas, talvez não gostem do estilo, mas algo se passa que está a roubar a alegria aos nossos putos. Hoje, tirou Kleber porque estava lesionado, como o ouvi a dizer na conferência de imprensa enquanto estava no trânsito. Mas não podia alterar a forma da equipa jogar e principalmente manter o Varela em campo, que já não tinha pernas para aquelas andanças. Mas optou por colocar o Hulk ao meio, mesmo vendo-o a complicar tudo que parecia fácil e apostaste num rapaz que cruzou duas ou três vezes sem sequer olhar para quem lá estava e que não consegue manter uma bola controlada na relva nem que lhe apontem um taser ao testículo esquerdo. E Guarín, tirar o Guarín e pôr lá o Belluschi em vez dele foi mais uma decisão que não entendi. O meio-campo estava em igualdade mas era preciso um rapaz para cobrir uma ala, MANTENDO uma pressão intensa pelo centro…e mantém-se o Varela que era um zombie no flanco, com o Belluschi a jogar enfiado entre Javi e Witsel? Não compreendi, palavra. O problema que Vitor Pereira enfrenta é complicado e estes últimos dois jogos serviram para perder mais algum capital de confiança perante muitos sócios que ainda aqui há uns meses viram a equipa a jogar como raramente tinham visto nos últimos anos e só pensam: “Mas só saiu o Falcao e o Villas-boas, que mais pode ter mudado?”…e vão-lhe começar a apontar o dedo. É um selo difícil de tirar e as vitórias terão de começar a aparecer rapidamente, caso contrário a vida pode começar a ser muito difícil para o treinador do FC Porto.

 

Depois de passar o jogo, é fácil perceber que perdemos dois pontos e o Benfica ganhou um. Fomos mais fortes durante boa parte do jogo mas fraquejámos nos momentos mais importantes, quando tínhamos de reter a posse de bola e trocá-la com confiança e atitude altiva de campeões, evitando que o Benfica, que tem jogadores tecnicamente melhores (Por favor: Fucile, Moutinho e Guarín, são capazes de trocar a bola pelo chão sem ser aos saltinhos? Agradecido.) e estava a jogar no erro como fez quando cá veio vencer para a Taça, pegasse na bola e fizesse o jogo rápido de transições que costuma aplicar aos adversários. Não conseguiu e tal como nesse jogo sofreu dois golos perfeitamente evitáveis. Bottom line? Um empate em casa é mau, contra o Benfica é uma desilusão. Mas não deixamos de estar na luta, muito longe disso, e o campeonato ainda vai dar muitas voltas, por isso vamos com calma que amanhã é um novo dia. E só pode ser melhor que a noite de hoje.

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Ouve lá ó Mister – Benfica

Amigo Vítor,

Vai fazer 19 anos em Novembro. Um rapazola que entrava na sua adolescência cheio de esperança no futuro, sem saber o que eram tróicas ou éfeémeís nem nada que se pareça, dirige-se orgulhosamente para a porta da bancada central do Estádio das Antas com o seu cartão de sócio recentemente recebido e revestido do melhor plástico para forrar livros da escola que conseguiu encontrar. Ao lado, um amigo, o amigo de sempre daquelas andanças, com quem costumava falar da bola e às vezes até de outras coisas, como a gaja gira que tinha aulas na sala ao lado e que até trazia calças apertadas, a boazona. Já pelo caminho, enquanto absorviam o ambiente dos grandes jogos, iam discutindo se devia ser Kostadinov a jogar ao lado de Domingos ou se valia a pena usar aquele puto, o Paulinho Santos, no meio-campo para travar as corridas do Isaías e do Mostovoi. A teoria fluía lentamente, com vozes ainda a quebrar, sobre a força de João Pinto no flanco direito que contrabalançava com a inépcia de Bandeirinha cinquenta metros ao lado, mas a defesa dava garantias, pá, porque o Alu e o Bicho não deixam ninguém passar, não senhor, nem pelas cuecas da Giselle Bündchen.

E o tempo parecia londrino, Vitor. Uma camada de nevoeiro tão densa que não se via nada a um palmo dos olhos, homem, nem a torre da Igreja das Antas se conseguia ver lá de dentro. Mas os dois destemidos dragões neo-oficializados subiram a rampa, encontraram um lugar no meio do cimento da bancada e lá ficaram a ver o jogo. Ninguém se sentava, carago, o jogo via-se quase sempre de pé, e os corações batiam mais forte quando a equipa entrava. Olha eles, carago, vamos lá malta, POOOOOOOOORTO! gritavam os putos de fora lá para dentro, ansiosos pelo apito e pelo arranque da festa. E o jogo…não se via. E esses catraios, por muito que espreitassem por entre cabeças e casacos e braços erguidos em protesto, não viam. E o desespero apoderava-se das suas mãos, das emoções e dos pés que irrequietos não paravam de tentar circular pelo espaço tão reduzido onde estavam enfiados. Era difícil aguentar.

Nisto, um grito, dois, mil. Um lampejo de vermelho passou pela área e a bola desapareceu na bruma. Pontapé de baliza, marca o árbitro, porque o estádio viu o espesso manto branco a esconder o lance. Penalty, cantavam uns, estás tolo, homem, não vês que mandou a bola ao lado? Desespero, unhas roídas, mãos a tremer. Até que, a dez minutos do fim, o céu limpa-se e os vinte e dois são visíveis. Mais ainda, Jorge Costa irrompe pela área vermelha, é abalroado por Helder e o penalty é bem assinalado. Ah, coração, aguenta, que já falta pouco. Há um louro a caminho da bola. Um discreto e genial romeno que pega na esfera de couro e aninha-a bem lá no fundo das redes do outro rapaz. Loucura nas bancadas e os dois rapazes abraçam-se, abraçam outros, abraçam velhos e novos, altos e baixos, todos comungam da vitória, daquele momento único e que nunca mais se pode esquecer.

No primeiro jogo como sócios, esses dois saíram de lá felizes. Um deles era eu, Vitor. Faz com que hoje aconteça o mesmo.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Feirense 0 vs 0 FC Porto

Quando me sento para ver um jogo do FC Porto, raramente estou à espera de uma vitória folgada. É o pequeno pessimista cá dentro que nunca me dá um momento de descanso, que mesmo quando estamos a ganhar por três me força a pensar num canto perigoso ou num contra-ataque rápido que pode dar um golo…e depois outro e outro. E assim vou vivendo. Num jogo como este, aqui o rezingão residente começou cedo a chatear. “Mas porque é que eles não correm?”, dizia-me. “Porra, não passes a bola agora! Pronto!”, exclamava. “Espera, pára o jogo, não chutes que ele nunca mais a apanh…ora f***-se.”, cuspia. Foi um jogo inteiro de parvoíces. Desde bolas perdidas no meio-campo, bolas perdidas na defesa, passes a trinta metros com a força de remates e acima de tudo um ritmo lento demais para ser aceitável e uma falta de agressividade como há muito não via. Foi uma regressão intensa a alguns jogos de 2009/2010, em que nada saía direito e onde os jogadores baixavam os braços à primeira adversidade. E não, não chega dizer que faltava Hulk e Álvaro, porque hoje em Aveiro faltou muito mais que isso. Faltou empenho para ganhar o jogo, porque se tivéssemos jogado com um terço da vontade que os rapazes do Feirense jogaram, tínhamos saído de lá com três pontos. Vamos a notas:

 

(+) Mangala Num jogo em que é complicado arranjar gente que tenha feito uma exibição positiva, destaco o francês. Bom pelo ar, a jogar simples para os colegas e rápido com a bola controlada. Gostei que tivesse conseguido um jogo em que quando colocado frente a avançados trapalhões mas rápidos, nunca se deixou desanimar e conseguiu sempre manter um nível acima da média da equipa. Basta dizer que não senti a mesma intranquilidade que costumo sentir em Maicon. Pode ser um bom jogador para o futuro.

(+) Sapunaru Foi dos poucos que lutou com velocidade e conseguiu subir pelo flanco e até chegou a aparecer na área em algumas oportunidades. Como a maioria dos ataques do Feirense aconteceram pelo centro ou pela direita, esteve mais à vontade para apoiar o ataque e infelizmente como não é um portento de técnica acaba por não conseguir fazer o suficiente para ser decisivo. Mas hoje pelo menos vi-o a tentar com alguma inteligência, o que com alguns colegas quase não aconteceu.

 

(-) Inversão de ritmo e estilo Ora vamos lá. O que me custa mais a entender neste jogo é a falta de empenho dos jogadores, ponto final. Chamem-me velho resmungão mas não entendo como é que se encara um jogo do campeonato em que estão sempre pontos em disputa com a falta de nobreza competitiva que o FC Porto hoje mostrou em Aveiro, em que parecia estarem a passear sem objectivo e a facilitar em quase todos os lances como fizeram na primeira parte. Depois do intervalo a equipa melhorou mas não muito e era penoso ver o ritmo a que os nossos jogadores levavam a bola para a frente, sem estrutura de jogo nem mentalidade ganhadora. Não entendo, juro. A somar a este desterro de vontade temos outro vector de falhanço que foi a diferença no estilo de jogo quando comparado com os jogos que o precederam. Ao passo que contra Leiria, Setúbal ou Shakhtar (para dizer a verdade, desde Novembro de 2010 que tentamos jogar da mesma forma com sucesso evidente) o jogo era pausado, calmo, de pé para pé, de ritmo controlado com homens suficientes para trocar o esférico entre eles sem a perder, hoje vimos um FC Porto a jogar com os elementos do meio-campo para a frente sempre muito longe uns dos outros o que impossibilitava a rotação da bola de uma forma tranquila. Os passes saíam sempre longos, mal orientados e nunca com a força certa para chegar ao destino, Guarín nunca conseguiu fazer a rotação de bola no centro, Belluschi apareceu meio perdido e Moutinho muito distante dos colegas. Some-se James que perdia as bolas todas, Cebola sem as conseguir controlar dentro do terreno e Kleber perdido atrás de espaços na área sem que a bola lá chegasse. Foi pouco FC Porto, muito pouco FC Porto e se foi esse o jogo que Vitor Pereira quis colocar em campo, falhou rotundamente. Se os jogadores não quiseram saber e decidiram que assim é que ia correr bem, ainda pior.

(-) James A expulsão é inadmissível. Noventa minutos de jogo e por causa de uma falta a meio-campo (que o árbitro até marcou) mostrou a todo o mundo que o talento que pôs em campo nos últimos jogos está presente juntamente com uma boa dose de imaturidade. Para além dessa ridícula reacção fez um jogo horrível, cheio de quedas sem necessidade e uma enorme falta de clarividência ofensiva para conseguir colocar a bola jogável para os colegas. Comparado com os três jogos anteriores o James que esteve em Aveiro foi o anti-James e a equipa, sem ver Hulk em campo, continuava a mandar-lhe bolas para que tentasse fazer alguma coisa de jeito, o que nunca aconteceu. James tem de perceber que nem sempre a vida pode correr bem. Mas tem de continuar sempre a tentar.

(-) As displicências de Fucile, Guarín e Cª Foi enervante ver os jogadores do FC Porto a perderem bolas para os do Feirense, especialmente pela forma como aconteciam. Durante noventa minutos vi Fucile a tentar passes que nunca poderiam resultar, tabelas com jogadores que não estavam lá e desmarcações directamente para fora. Guarín perdeu várias bolas enquanto preparava remates durante segundos intermináveis em que proteger a bola era tarefa para um qualquer duende que por lá andasse, ao passo que Fucile ou Rodriguez se deixavam antecipar no acto e no pensamento pela velocidade dos adversários, ou Belluschi que ao tentar cortar uma bola pela relva se lembra de atrasar fraco para Helton em vez de atirar para fora. Mente fraca em corpos mais ou menos sãos, dá nisto.

 

Não é uma catástrofe mas custa perder pontos num jogo que estava ao nosso alcance. Ainda chateia mais perceber que este tipo de resultados, que acontecem casualmente quando as equipas têm azar nos remates ou apanham um guarda-redes que faz o jogo da vida dele, ocorreu por culpa exclusiva dos nossos jogadores pelo pior dos motivos: preguiça. Preguiça de jogar com inteligência e tranquilidade, preguiça de correr tanto como o adversário. E se voltarmos à época passada e virmos os empates com Guimarães, Sporting ou Paços, percebemos que nenhum deles teve esta configuração. Contra o Vitória porque descansámos com o resultado feito; frente ao Sporting porque fomos surpreendidos pela agressividade de uma equipa que até aí nada tinha feito nesse sentido; em casa com o Paços porque já éramos campeões, tínhamos acabado de passar à final da Liga Europa e estávamos e poupar até lá chegar…e porque Pizzi fez três golões. Empatar com o Feirense não é, mais uma vez, uma catástrofe. Mas sempre que fizermos jogos deste nível não podemos esperar mais senão perder pontos.

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Ouve lá ó Mister – Feirense

Amigo Vítor,

Toda a gente pensa que este é um jogo fácil, mesmo que não o admita. Afinal de contas a diferença de orçamentos é só de umas dezenas de milhões de euros e vão estar em campo duas equipas que estavam em divisões diferentes no ano passado e que esta época têm duas perspectivas diametralmente opostas do que podem fazer. A teoria está toda exposta, mas o que é certo é que lá dentro do campo temos de mostrar que a diferença é mesmo do tamanho do Grand Canyon alargado por fórceps.

Ainda assim compreendo que não uses nem o Hulk nem o Palito, mas tem cuidado com as poupanças. Mais uma vez, o Feirense pode ser uma equipa que dá luta mas que está ao nosso alcance, mas acautela-te com os inesperados. Sim, homem, já percebi, vem aí o Benfica e o Zenit e os dois jogos são mais importantes aos olhos dos adeptos e não só, porque se contra o Benfica os pontos valem o mesmo mas o orgulho não, contra os russos o galo já canta como um tenor bem afinado, porque contam os pontos, o guito e o prestígio. Exactamente por isso é que disse que entendo deixares de fora esses dois fulanos, pronto, não te chateies. Mas depois não te chateies também se eu vir o Fucile a inventar ou o Varela a passear como ambos têm vindo a fazer. Espeta-lhes os alfinetes que quiseres, mas tens de saber que eles sabem que só jogam porque puseste os outros a descansar e por isso tens de lhes provar o contrário e convencê-los que é em jogos destes que os bons jogadores são sempre bons. Diz-lhes assim: “Ouçam lá, mas acham que o Ronaldo só joga bem contra o Barcelona? E o Osasuna? E o Unión Deportiva de la Pentellada? Os bons são sempre bons, carago!”. E aproveita o James, que o rapaz está a jogar que parece que está possuído pelo espírito do Timofte mas em rápido. E moreno. E a falar espanhol. E sem ter um primeiro nome que parece um motor de um filme de ficção científica. Mas tirando isso, é igualzinho!

Só para acabar, volto a virar as agulhas para o nosso adversário. Não te admito que percas contra uma equipa que tem jogadores chamados Stopira, Siaka Bamba, Uanderson e Ludovic. Temos de manter a integridade, carago!!!

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 0 Vitória Setúbal

Passavam para aí quinze minutos e dei comigo a chatear-me com o miúdo ao meu lado. “Este treinador já me está a meter nojo, só inventa,!”. Levantei a voz numa atitude paternalista que é tão rara quanto estranha e reclamei com ele para ter calma, que isto não pode ser assim, já estar chateado quando a equipa ainda nem tinha assentado o jogo. Mas cá dentro, só pensava: “Porra, que o homem arriscou muito, espero que se dê bem com a aposta!”. A verdade é que correu muito bem, em particular a segunda parte, onde o esquema de “James e os Três Anões” funcionou como um relógio suíço em frente a uma equipa que tem muita experiência no meio-campo mas que raramente assustou. Diria que o povo ficou mais preocupado por poder sofrer um golo com uma perda de bola do Maicon do que propriamente com um ataque objectivo do Setúbal. Mas a vitória fica-nos bem e Vitor Pereira ganhou a aposta aos pontos. Vamos a notas:

 

(+) Vitor Pereira Louvo a audácia de Vitor Pereira, apesar de ter estado renitente durante uma boa parte do jogo. Retirar Varela da convocatória para descansar (corpo e mente), apostar numa equipa sem Hulk e Moutinho de início, incluir Cebola e Defour que por motivos diferentes seria pouco previsível serem titulares e trocar Fernando por Souza…tudo num jogo. É um risco, decerto calculado mas sem dúvida um enorme risco. E começou por não correr muito bem, porque o meio-campo estava preso e não fosse James a iludir os defesas adversários e o fio de jogo teria sido fraco. As três bolas ao poste, por muito espectaculares que tenham sido, não escondem que houve poucas mais situações de perigo durante 45 minutos. Ao intervalo, a aposta subiu de tom. Double the blinds, all-in, go for broke. Tira o trinco e espeta um meio-campo que à míngua de bolas aéreas do adversário se podia dar ao luxo de ter uma média de 1,71m de altura, qual Xavi, Iniesta e um filho dos dois. Foi brilhante a segunda parte, com combinações excelentes e bom futebol. Mérito para Vitor Pereira, especialmente na escolha de Defour e explico porquê. Já há alguns anos que vejo o FC Porto em casa e é raro o dia em que um estreante na nossa casa recolhe tantos aplausos e unanimidade positiva como o belga hoje recebeu. Moutinho foi exemplo disso no ano passado, mas poucos mais houve do género. Vitor Pereira hoje não só ganhou o respeito de muitos portistas como também ganhou mais um jogador, para ele e para os adeptos.

(+) James Esses pés, miúdo! Confirmou que o jogo de Leiria não foi só uma noite de sorte e provou mais uma vez que é ali no meio, na posição que subtrai nove ao número que tem na camisola, que joga melhor. O campo foi dele e já se nota que os adversários ficam na expectativa para perceber o que é que vai sair dos pés dele, porque a tabelinha alterna com o passe picado e a transição de flanco cruza-se com o remate pronto com a facilidade que está ao alcance dos predestinados. Continua, puto, continua!

(+) Defour Só depois do jogo começar percebi que Moutinho não estava em campo, mas tive de olhar para o número na camisola. Defour tem de agradecer a Vitor Pereira a aposta, mas acima de tudo é dele o mérito de conquistar os adeptos ao primeiro jogo. Joga simples, raramente falha um passe e integrou-se muito bem no ataque, cmo bons cruzamentos e excelente visão de jogo. Na segunda parte esteve ainda melhor e conseguiu jogar na posição de trinco (que já tinha feito várias vezes no Standard) na perfeição. Foi rijo no contacto, duro na disputa de bola, agressivo na recuperação e milimétrico no corte pela relva. Fiquei fã.

(+) Belluschi Fez um jogo melhor que tinha feito contra o Leiria por vários motivos: aguentou o jogo físico no meio-campo, falhou menos passes e foi mais consistente em todos os noventa minutos que esteve em campo. Já tem algum capital de confiança com os adeptos e o pessoal já lhe perdoa algumas parvoíces porque vê que está ali um jogador de grande nível. Está a tirar o lugar a Guarín neste início de época, o mesmo que perdeu para o colombiano em Outubro de 2010. Com todo o mérito.

(+) Moutinho Num jogo em que só participou em metade acabou por fazer a melhor exibição da época. Entrou com força para um meio-campo diferente, rápido, de toque inteligente e perspicaz, prosseguindo o trabalho de Defour mas subindo o nível do passe vertical e da leitura de jogo. Moutinho é mais audaz que o belga e nota-se, porque conseguiu marcar e transformar um meio-campo que parecia mortiço numa festa de tabelinhas e passes a cruzar a relva. Muito bem, João, estás de volta.

 

(-) Maicon Se não viram o jogo, eu descrevo a cena: perto do final da primeira parte, depois de três bolas ao ferro, o nosso jovem central decide que se sente possuído pelo espírito de Ronald Koeman e vendo a baliza a uns meros QUARENTA metros, escolhe a opção mais lógica na sua cabeça: o remate. O estádio ficou a olhar para os postes de cada lado de Diego, guarda-redes do Setúbal, e tenta procurar onde estarão os gajos que levantam as bandeiras em jogos de rugby. Não havia. Era mais provável ver o Mira Amaral ali a ver o jogo vestido de cheer-leader a montar um rinoceronte amarelo do que o remate de Maicon ir à baliza. Mais que esse lance absurdo, confirmo o que diz o Vila Pouca no Dragão até à Morte quando fala da noção que está incutida já no público sempre que a bola vai ter com ele, porque parece que se sente o suster da respiração colectiva. Não vai ser fácil safares-te desse selo, rapaz.

(-) Trocas de bola nos primeiros dez metros de terreno Já vejo o Helton ali de luvas calçadas desde 2005. Há seis anos que o homem é nosso guarda-redes e por isso já me habituei à imagem do gajo a querer fintar avançados. É uma tara, entendo, mas desagrada-me. Acima de tudo pelas razões óbvias: basta uma falha ou o esticar do remo de baixo do adversário e pumba, bola na rede. Mas se somarmos a isso a inépcia técnica e lentidão dos nossos centrais, alvos principais das peladinhas radicais do nosso keeper, temos uma situação exageradamente perigosa e que me enerva. Parem lá de brincar, por favor.

 

Há jogos em que há pouco a dizer e é preciso ir ao fundo da mente para criar metáforas parvas e rebuscadas para caracterizar a partida. Este não foi um desses jogos. Já lá vamos com quatro jogos e doze pontos, algumas pernas descansadas e a noção de dever cumprido. Temos mais opções, jogadores que vão ganhando minutos em alturas da temporada que provavelmente não pensavam que iriam estar tão interventivos e acima de tudo parece que estamos a consolidar o jogo. É notório que o FC Porto consegue subir de ritmo quando precisa e hoje notou-se que Hulk faz sempre falta mas talvez não faça tanta falta como no ano passado. Já Falcao é outra história, até porque Kleber ainda precisa de mais jogos, muitos mais jogos para chegar ao nível de Radamel, se alguma vez lá conseguir pôr os pés. Tenho confiança no brasileiro e sinto que o pessoal também a tem, particularmente quando vê que o resto dos colegas no ataque conseguem gerar uma quantidade parva de jogadas bem feitas e que podem dar em golos fáceis. Terça-feira estamos outra vez em jogo, mais uma oportunidade para provar algumas teorias e contradizer outras. Venham os ucranianos!

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