Porta19 entrevista PETZL (uniaodeleiria.blogspot.com)

Continuando a rubrica que abri aqui com a entrevista a Wim Nijst,  continuei aqui em conversa com João Paulo Meneses do Reis do Ave, e a última foi a Carlos Ribeiro, co-autor do Vimaranes. Hoje, com o próximo encontro com o União de Leiria a caminho, pus-me no paleio com PETZL, o gestor do maior blog do União de Leiria na web, o uniaodeleiria.blogspot.com:

Porta19: O Leiria começou bem o campeonato mas foi recentemente eliminado da Taça. O FC Porto será o adversário ideal para voltar às vitórias?

PETZL: Cada competição tem características próprias. E se na Taça de Portugal a UD Leiria foi eliminada por uma equipa de escalão inferior, no campeonato vem de uma vitória convincente e moralizadora frente à vizinha Académica, que vinha a merecer destaque pelo bom arranque de campeonato, mas que já se encontra empatada com a UD Leiria com os mesmos 11 pontos. Um jogo com um Fc Porto, que vai liderando a Liga Zon Sagres em ritmo de passeio, acaba por ser mais um tónico para este lote de jogadores, alguns com inegável qualidade, que certamente aproveitarão a montra que é um jogo frente ao Fc Porto para mostrar aquilo que melhor sabem fazer.

Porta19: Quem são os jogadores de maior potencial no plantel do Leiria para 2010/2011?

PETZL: Começando pela baliza, onde ano após ano a UD Leiria vai revelando excelentes guarda-redes, como foram os casos de Helton e Fernando. Este ano Eduardo Gottardi promete dar que falar.
No meio campo, merecem destaque o “velhinho” Silas e o recente reforço Leandro Lima, ambos bem conhecidos dos adeptos portistas.
Na frente de ataque, Carlão parece ter reencontrado o caminho das balizas adversárias, agora acompanhado pelo regressado N’Gal.

Porta19: Depois da saída de Lito, Caixinha é o treinador desejado pelos adeptos? Depois de uma pré-época tão atribulada, o ambiente está mais sereno?

PETZL: Sem dúvida que o ambiente está mais sereno. Mais importante do que ser desejado pelos adeptos, Caixinha parece dar-se bem com os jogadores e eles com ele. É um treinador jovem, ambicioso e muito trabalhador. Diz quem o conhece que lhe faltará algum “pulso” para manter os jogadores “na linha”, o que terá já sido colmatado com a entrada do recém contratado Sá Pinto para seu adjunto.

Porta19: Com a imprensa tão tri-polarizada em Portugal, como é que vê o desprezo a que são votadas as equipas de dimensão mais pequena?

PETZL: Essa é uma contrariedade com que nos debatemos diariamente e uma das principais razões que levaram à criação deste nosso espaço de debate e de divulgação das actividades do clube. É um problema cultural com muitos anos de existência. O mesmo que faz com que seja mais fácil encontrar em Leiria um adepto do Benfica, Porto ou Sporting, do que propriamente um unionista. E quem diz em Leiria, diz em (quase) todas as outras regiões do país.
Continuamos a defender a máxima de que se deve apoiar o clube da nossa cidade! Se não forem os habitantes de Leiria a apoiar o seu clube mais representativo, quem o fará? Urge alterar mentalidades, sob pena de, em poucos anos, desaparecerem grande parte dos clubes que hoje compõem as principais divisões nacionais.

Porta19: O teu blog é o mais representativo da União de Leiria na Internet. De onde vem a motivação para escrever depois de um dia de trabalho?

PETZL: O uniaodeleiria.blogspot.com nasceu precisamente pela constatação da falta de informação sobre a UD Leiria na internet, muito por culpa da inexistência (à altura) de um site oficial do clube actualizado. Com quase 5 anos de de existência, este blog é fruto da colaboração de 3 adeptos (e sócios!) fervorosos, que insistem em remar contra a maré. Queremos acreditar que servimos de inspiração para outros projectos ligados à UD Leiria que entretanto foram criados e inclusivamente do próprio site oficial.

Porta19: Ainda há esperança para a maioria dos blogs Portugueses de futebol ou a inspiração está a definhar em função das redes sociais e dos fóruns de discussão?

PETZL: Sou da opinião que o formato blog, se não for repensado, terá os dias contados. A facilidade de publicação de artigos e comentários e a dinâmica oferecida pelas redes sociais, como é o caso do Facebook, tornam muito mais prática a discussão, em tempo real, sobre qualquer temática. Este é um assunto que temos debatido internamente e sobre o qual deveremos tomar uma posição brevemente.


Aproveito para agradecer ao PETZL pela disponibilidade. É um gosto trocar ideias com pessoas que vibram e sentem o seu clube por dentro e por fora. Espero que seja um excelente jogo e que consigamos vencer e continuar a carreira à imagem da nossa cidade. Invicta.

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Porta19 entrevista Carlos Ribeiro (ovimaranes.blogspot.com)

Continuando a rubrica que abri aqui com a entrevista a Wim Nijst e continuei aqui em conversa com João Paulo Meneses do Reis do Ave, hoje entrevisto Carlos Ribeiro, co-autor do Vimaranes (não tem acento, é mesmo o nome em latim da cidade de Guimarães), um dos melhores blogs nacionais sobre clubes de futebol. As respostas são longas mas vale a pena ler, por isso vamos à entrevista:

Porta19: O Guimarães estava em grande forma mas perdeu em Coimbra. O FC Porto será o adversário ideal para voltar às vitórias?

Carlos Ribeiro: Antes de responder directamente à questão, e mantendo uma cruzada que não nos cansamos de continuar a disputar, não gostamos nada de ser tratados por “Guimarães”. No nome oficial do clube nem sequer consta o nome Guimarães, apenas e só, Vitória Sport Clube. Isto, apesar de toda a comunicação social, usar o mesmo tratamento, ora com a desculpa da diferenciação com o outro Vitória, o de Setúbal, ora apenas por comodidade. Talvez seja um preciosismo, mas simplesmente Vitória ou no limite Vitória de Guimarães seja o tratamento que mais gostamos.

Agora, respondendo à questão. O Vitória está a fazer o melhor arranque da década, não só porque o arranque está a ser de facto positivo mas também porque a última década não foi repleta dos êxitos que os tempos idos de 80 e 90 nos deram. A derrota em Coimbra acaba por ser justa perante uma equipa que está a fazer também um grande campeonato, ainda que me pareça que o Vitória não foi inferior à Académica, mas apenas menos eficaz e menos feliz.

Sinceramente, acho sempre que o adversário ideal para se regressar aos triunfos é o próximo. Quis o calendário que fosse o FC Porto e assim sendo, sim é o adversário ideal. Não por ser um clube dito grande, com outros objectivos e outra qualidade, mas sim porque é o próximo a cruzar-se no caminho do Vitória. Sabemos no entanto que será muito complicado vencer. O Porto leva 6 vitórias em 6 jogos, uma vantagem já demasiado confortável para qualquer um dos pretensos candidatos ao título e, visto à distância, ainda que me pareça sensato que vocês não o queiram admitir, estamos perante um caso único que é o do campeonato estar praticamente decidido para as vossas cores com apenas um terço da temporada realizada. Como se toda a vossa qualidade demonstrada não bastasse, o Vitória leva 9 anos sem ganhar ao Porto no D. Afonso Henriques e 19 golos sofridos e apenas 3 marcados nas últimas 7 derrotas consecutivas.

Por isso, provavelmente se pudesse escolher um adversário nesta altura não escolheria o FC Porto. Mas jogando em casa, depois de já no D. Afonso Henriques termos acabado com a malapata em jogos com o SL Benfica, exige-se que o Vitória tente inverter estes dados negativos e consiga um triunfo, mantendo assim o 2º lugar na tabela. Difícil? Muito. Mas longe de ser impossível, ainda para mais atendendo ao crescimento que o Vitória tem evidenciado nas últimas jornadas.

Porta19: Quem são os jogadores de maior potencial no plantel do Vitória para 2010/2011?

Carlos Ribeiro: Acho que uma das mais-valias desta temporada é mesmo o colectivo e, mais do que isso, as vastas opções principalmente para o sector atacante de que Manuel Machado dispõe. Agora, claro que como em todas as equipas há sempre jogadores acima da média e capazes de desequilibrar. Marcelo Toscano, o avançado que o Vitória resgatou ao Paraná é um jogador que tem dado muito nas vistas, pela sua qualidade técnica; João Ribeiro, ex-Académica, é um miúdo de enorme potencial e provavelmente o jogador mais em foco esta temporada; Edgar é um jogador que vocês conhecem bem e um goleador de qualidade; Rui Miguel é o virtuoso de serviço e ainda que não tenha ainda singrado como titular, é normalmente decisivo quando salta do banco para decidir jogos, por ser um médio de grande qualidade técnica. Finalmente, há Nilson. O esteio da baliza há vários anos e que nas últimas épocas tantos pontos tem valido. Creio que passa por este núcleo de jogadores muito do eventual sucesso esta temporada.

Porta19: Manuel Machado é o treinador desejado pelos adeptos? Depois de uma pré-época tão atribulada, o ambiente está mais sereno?

Carlos Ribeiro: Guimarães costuma ter problemas com os filhos da casa. Daí que muitas vezes se diga que Guimarães é má mãe e boa madrasta. Manuel Machado é um vimaranense e acima de tudo um vitoriano e por isso a sua última passagem pelo Vitória não foi fácil, mas foi ao mesmo tempo umas das melhores temporadas dos últimos anos porque resultou numa qualificação europeia. Apesar disso, creio que Machado era o desejado pela larga maioria dos vitorianos. Porque sendo um homem da casa, percebe como ninguém o Vitória e, num clube que nos últimos anos tem revelado uma enorme falta de pensamento estratégico no futebol profissional, o homem certo, no lugar certo. A pré-época foi algo atribulada muito porque é extremamente complicado construir uma equipa com um plantel totalmente renovado e com tantas entradas e saídas. Mais ainda, quando essas mudanças se prolongam até depois do próprio campeonato se iniciar. Mas, depois de um período mais conturbado e de alguma desilusão porque o Vitória não alcançava o patamar exibicional que os vitorianos – exigentes como o são – pedem, acredito que agora estejamos mais satisfeitos. Claro que a equipa ainda pode dar muito mais e tem de dar muito mais, mas já é notório o seu crescimento gradual e, como este tem vindo acompanhado com bons resultados, não há razão para não estarmos confiantes. Não deslumbrados. Apenas confiantes.

Porta19: Com a imprensa tão tri-polarizada em Portugal, como é que vê o desprezo a que são votadas as equipas de dimensão mais pequena?

Carlos Ribeiro: Esse é, seguramente, um dos grandes problemas de que padecem as equipas de pequena e média dimensão. Mesmo quando alcançam resultados dignos de registo, quer dentro, quer fora do país. Invariavelmente são esquecidas, principalmente por aqueles que têm o dever de manter o dever de isenção hipotecando até, no caso por exemplo da estação pública os princípios da «diversificação» e, sobretudo, do «p
luralismo» que estão previstos na Lei da Televisão. Este mesmo assunto, levou inclusive ao lançamento de uma petição no meu blogue em conjunto com um blogue bracarense e que teve na altura algum mediatismo dado pela comunicação social. Mas este é um problema conjuntural que não vai lá apenas com petições e protestos apenas por parte de um clube ou outro, terá de ser uma batalha necessariamente levada a cabo por todos os clubes de média e pequena dimensão que se sentem desprezados, mas terá também de passar por uma revolução no futebol português que infelizmente creio vir ainda demasiado longe, porque quem tem o poder de mudar, não tem naturalmente razões para o fazer, porque não é alvo dessas discriminações. E não falo apenas de discriminações pela comunicação social, mas principalmente por aqueles que surge dentro das estruturas do futebol português e que fazem com que quase sempre estes clubes sejam prejudicados em detrimento dos ditos grandes.

Claro que este desprezo de que falas, é ainda mais acentuado quando nas lideranças dos clubes estão dirigentes sem voz e sem capacidade de liderança e que não são por isso capazes de encarar de frente os poderes instalados, quer no futebol quer nos media e de se fazerem ouvir. O Vitória padece também desse problema, desde que Pimenta Machado saiu da liderança do clube. E não estou com isso a defender a sua presidência de quem fui muito crítico, mas a verdade é que nesse aspecto, não havia nada a atacar-lhe. O Vitória fazia-se ouvir. Pelo menos, isso.

Porta19: O Vimaranes é, reconhecidamente, um dos blogs mais importantes de clubes portugueses. De onde vem a motivação para escrever depois de um dia de trabalho?

Carlos Ribeiro: Acho que a resposta será idêntica à grande maioria dos bloggers. Há sempre motivação para escrever sobre quem gostamos e em prol do clube que amamos. No meu caso não é diferente. Apesar de a minha profissão nada ter a ver com a comunicação social, tive sempre uma paixão imensa pela escrita e, se a isto juntarmos o facto de ser sócio do Vitória praticamente desde que nasci (perto de completar 25 anos) é fácil de perceber como se juntam duas paixões. E sempre o fiz quer em jornais da terra, quer na rádio ou nos blogues. Nem sempre é fácil arranjar um tempo para o fazer, mas tenta-se sempre. Obviamente que prefiro escrever com o Vitória em alta, mas curiosamente o blogue até nasceu numa altura em que o meu clube lutava para não descer, não o tendo conseguido evitar. Na altura, precisava de um espaço pessoal para escrever o que pensava sobre tudo o que estava a acontecer no clube. Depois, o projecto foi crescendo e atingindo dimensões que nunca esperei e aqui a principal responsabilidade é dos leitores, que foram gradualmente aumentando e também por isso, aumentando a nossa responsabilidade. E agora o VIMARANES é de facto o blogue mais visitado e mais mediático do universo vitoriano e um blogue de destaque dentro da blogosfera desportiva e isso enche-nos de orgulho. Não que, como costumo dizer, trabalhemos para números, mas porque estamos certos que também deste modo ajudamos o clube. Nunca fugindo a polémicas ou às opiniões pessoais de que se moldam os blogues, mas contribuindo modestamente para a projecção do clube e o seu crescimento sustentado, através do lançamento de debates de ideias e da divulgação de conteúdos que interessam aos vitorianos. Haverá maior motivação do que essa?

Porta19: Ainda há esperança para a maioria dos blogs Portugueses de futebol ou a inspiração está a definhar em função das redes sociais e dos fóruns de discussão?

Carlos Ribeiro: Acredito que sim. Acho que nenhuma dessas plataformas é concorrente dos blogues e na minha opinião toda elas contribuem, cada uma à sua maneira, para o crescimento da consciência pública e do debate de ideias. Claro que há sempre blogues a acabar, mas também há sempre outros espaços a nascer. A blogosfera vitoriana, por exemplo, é repleta de bons exemplos. De blogues que assumiram numa dada altura uma importância crucial e outros que hoje em dia continuam, pela sua qualidade, a ser visita diária obrigatória, porque muita da discussão do nosso clube passa por lá. Tudo isto num clube que tem um fórum de discussão de grande mediatismo também e onde também as redes sociais assumem agora particular importância. Mas creio que há espaço para todos e, quantos mais forem, melhor se torna para a divulgação e o crescimento do clube. Nesse aspecto creio que os vitorianos se devem sentir satisfeitos. Há muitos espaços e de grande qualidade pela Web vitoriana, muitos dos quais sempre estiveram à frente do próprio veículo de informação oficial do clube na internet.

Não quero terminar sem felicitar este blogue (e naturalmente o seu responsável) pela qualidade que patenteia e que faz com que, não sendo um blogue afecto ao meu clube, o visite com regularidade. Saudações vitorianas.


Aproveito para agradecer ao Carlos pela disponibilidade. É um gosto trocar ideias com pessoas que vibram e sentem o seu clube por dentro e por fora. Espero que seja um excelente jogo e que consigamos vencer e continuar a carreira à imagem da nossa cidade. Invicta.

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Entrevista de Rabah Madjer ao ionline

A entrevista é simpática e acaba por ser uma viagem a um passado não muito distante, uma conversa agradável com uma das nossas maiores figuras, que ainda tive o prazer de ver jogar ao vivo com a nossa camisola. Retirado da edição de hoje do ionline, da autoria de Rui Tovar.

Faz hoje 25 anos que aterrou no Porto um jogador que mudaria a história de Portugal, com dois golos em duas finais internacionais (Bayern e Peñarol)

Carlos Lopes nos JO em Los Angeles-1984, Rosa Mota nos JO em Seul-88, Fernanda Ribeiro nos JO em Atlanta-96. Já ficámos acordados de madrugada para ouvir o hino português. E também para festejar o título mundial do FC Porto, em 1987. O golo da consagração (um chapéu de aba larga: 30 metros) foi do argelino Madjer, que já havia construído a jogada do 1-0 de Gomes. E que, já agora, havia assistido Juary para o 2-1 com o Bayern Munique na final da Taça dos Campeões e que, dois minutos antes, marcara de calcanhar o golo do empate. Madjer só fez 148 jogos pelo FC Porto mas é um dos jogadores mais importantes da história azul e branca. Mas de onde é que ele veio? E como? E quando?

A esta última pergunta, a resposta é hoje, 8 de Setembro. Só que de 1985. Faz 25 anos que Madjer chegou ao Porto, via Tours, uma equipa da 2.a divisão francesa, que não o quis por mais uma época, por “insuficiências técnico-tácticas”, de acordo com as declarações de um dirigente francês ao jornal “L”Équipe”, na edição de 18 de Agosto desse ano. O i quis saber isso e muito mais. Entrevista ao quinto melhor jogador africano de sempre (atrás de Weah, Milla, Pelé e Belloumi) e ao mais influente estrangeiro do FC Porto (à frente de Jardel e Cubillas).

Boa tarde Madjer. Falo de Portugal.

Boa tarde, amigo. Tudo bem?

Tudo. Sabe que dia é amanhã?

8 de Setembro.

Isso não lhe diz nada?

Hãããã… Que falta um mês para eu chegar a Portugal. De férias.

Pronto, isso é agora. Mas a 8 de Setembro de 1985, o Madjer aterrou no Porto pela primeira vez. Lembra-se?

Sim, claro, no Aeroporto Sá Carneiro. Cheguei com o Lucídio Ribeiro, empresário português que trabalha muito no mercado francófono. Estava um dia cinzento. Fui para o hotel e daí para o Estádio das Antas, para ver o FC Porto-Penafiel [3-1, com golos de Semedo, Gomes e João Pinto] onde conheci toda a gente. Houve logo química: o presidente Pinto da Costa, o médico Lima Pereira, André, Frasco, Gomes, Futre, Eduardo Luís, Jaime Magalhães, João Pinto, Juary. Tudo gente cinco estrelas.

E Artur Jorge?

Também, também. Grande senhor do futebol.

Mas vocês tiveram os vossos problemas.

Sim, mas problemas com solução. Por muito bom que seja o espírito de uma equipa de futebol, e o FC Porto era como uma família, há sempre alguém às turras com alguém. Ou o presidente com o treinador ou o jogador com o treinador. São coisas que vão e vêm. E passam. Quando havia esses stresses, nada melhor que ir almoçar ou jantar.

Mas isso não se faz diariamente?

Não, digo almoçar ou jantar com a malta amiga. Nesses casos de stresse, organizávamos excursões à Póvoa de Varzim para comer e relaxar. O André era o líder espiritual desses convívios. Era também o mais divertido do plantel, sempre bem disposto e a contar anedotas. Como o Lima Pereira, outro capitão dentro e fora do campo e sempre pronto a comandar as suas tropas [risos]. Como o Futre, jovem e irreverente como só ele sabia. Resumindo: se houvesse algum stresse comigo, eles resolver-me-iam a situação num abrir e fechar de olhos. Percebes?

Claro. E porquê Póvoa de Varzim?

Invenções do André [risos]. Ele é de lá. Amigo, havia lá um restaurante fantástico. Não me perguntes o nome que não me lembro.

E lembra-se de como entrou na equipa do FC Porto?

Sim, sim. Muito bem. O primeiro jogo foi no Estádio da Luz, com o Benfica, na festa de inauguração do Terceiro Anel. Um jogo particular e empatámos 0-0. A estreia oficial foi também em Lisboa, mas no Restelo. Ganhámos 3-2 ao Belenenses e eu fiz duas assistências para o Gomes. Depois, recebemos o Sporting e vencemos 2-1. Até que veio o tal jogo que me desbloqueou, no Bessa. Foi 2-1 para nós e eu marquei os dois golos, os da reviravolta [Casaca fizera o 1-0]. Pronto, a partir daí, ninguém mais me agarrou.

Só na Póvoa de Varzim.

Pois é. Olha, daqui a um mês lá estarei. Ao volante do meu Toyota.

Qual? Aquele que ganhou em Tóquio?

Esse mesmo. Na final da Taça Intercontinental-1987, fui eleito o melhor em campo e ganhei um carro. Levei-o do Japão para Portugal e desde então nunca mais me desfiz dele. Está lá, guardado na garagem da minha casa, em Vila Nova de Gaia. Tenho o mesmo carro há 23 anos e está como novo. Nunca me deu problemas. Nem um! As marcas japonesas são, de facto, do mais fiável que há. Mas isto é só com carros. Porque já viste o tempo que estava em Tóquio naquele dia? Tudo menos fiável. Na véspera, nublado. No dia do jogo, nevava, nevava, nevava e não parava de nevar. Aquilo era impressionante. E eu que nunca tinha jogado na neve. Nem eu, nem os outros.

Nesse jogo marcou o golo da vitória.

Um grande chapéu quase do meio-campo. Foi o golo que mais prazer me deu, porque significou o título mundial. Mas não foi o mais bonito. Esse foi o de calcanhar…

Com o Bayern?

Não. A piada é essa. O melhor golo de calcanhar não foi esse, embora seja o mais falado em todo o mundo, porque foi numa final e com o poderoso Bayern. Hoje, se falarem de um golo à Madjer, todos sabem como é. Da mesma forma que ninguém esquece o slalom do Maradona com a Inglaterra em 1986 ou o penálti à Panenka em 1976. Mas a seguir à Taça dos Campeões, ganhámos 7-1 ao Belenenses [26 de Agosto de 1986, primeira jornada do campeonato nacional, na estreia de Rui Barros pelo FC Porto e de Marinho Peres como treinador dos azuis do Restelo], marquei três golos, o último deles de calcanhar, mais bonito que o de Viena. Sabes porquê?

Não.

Do cruzamento do Jaime Magalhães, recebi a bola com o pé esquerdo e dei com o calcanhar direito.

Mas então esse golo vi-o há poucos dias, na internet.

A sério? Não pode ser. Onde?

No YouTube.

Espera aí, vou buscar papel e caneta para anotar o endereço [espera] Diz-me lá.

É só ir ao site do YouTube e escrever “fc porto belenenses 7-1”.

Mas isso é fantástico. Já ganhei o dia. Obrigado. Vou já rever esse golo. Tenho–o na memória. Agora vou copiá-lo para o computador. E posso mostrar aos meus amigos. Eles não acreditam em mim. Dá para acreditar nisso?

Link:

Porta19 entrevista João Paulo Meneses (reisdoave.blogspot.com)

Continuando a rubrica que abri aqui com a entrevista a Wim Nijst, em antecipação do próximo Rio Ave vs FC Porto coloquei algumas perguntas ao co-autor do blog Reis do Ave, o blog mais representativo da malta adepta do maior clube de Vila do Conde. Jornalista na TSF, onde apresenta a conhecida rubrica “Mais Cedo ou Mais Tarde“, também consultável como blog aqui, João Paulo Meneses acedeu a tirar algum tempo da sua preenchida agenda para responder a meia-dúzia de perguntas. Cá estão elas:

Porta19: O Rio Ave está a jogar bem, com garra e empenho mas até agora os resultados não têm sido positivos e ainda não marcou um golo. Com o FC Porto em crescendo de forma, há esperança de parar o Dragão nos Arcos?

João Paulo Meneses: Claro que sim. O Rio Ave nunca entra em campo derrotado. E o nosso treinador é a imagem disso mesmo.

Porta19: Quem são os jogadores de maior potencial no plantel do Rio Ave para 2010/2011? Há mais um Vítor Gomes ou um Sílvio na calha?

João Paulo Meneses: Temos bons jogadores, desde Joao Tomás (há poucos no futebol português como ele) a Bruno China; de Saulo, bom extremo, a Bruno Gama, no outro lado. Mário Felgueiras é um optimo guarda-redes. Atenção ao central Jeferson.

Porta19: Carlos Brito é um treinador que deixou uma imagem de marca ofensiva quando apareceu no nosso futebol mas que parece ter evoluído para um resultadista nos últimos tempos. Que abordagem prefere?

João Paulo Meneses: Brito joga sempre em 4-3-3, na Luz ou em Vila do Conde. Mas um empate é melhor do que uma derrota…


Porta19: Com a imprensa tão tri-polarizada em Portugal, como é que vê o desprezo a que são votadas as equipas de dimensão mais pequena?

João Paulo Meneses: Com (quase) normalidade (afinal eu proprio sou jornalista e trabalhei no jornalismo desportivo). Tentamos contornar.

Porta19: O Reis do Ave é um blog que marca pontos pela diferença por ser mais que um replicador de notícias sobre o clube mas também por manifestar opiniões livres sobre o seu clube. De onde vem a motivação para escrever depois de um dia de trabalho?

João Paulo Meneses: Ajudar a fazer do Rio Ave um Clube maior (em todos os aspectos) é a nossa motivação.

Porta19: Ainda há esperança para a maioria dos blogs Portugueses de futebol ou a inspiração está a definhar em função das redes sociais e dos fóruns de discussão?

João Paulo Meneses: São modas. Os blogues viram para ficar, com este ou outro nome.


Porta19: Para concluir, um pedido: são capazes de calafetar o Estádio dos Arcos para não estar sempre tanto vento? ;)

João Paulo Meneses: Já tentámos, mas o toldo voou, com as nortadas!!!

Aproveito para agradecer ao João Paulo pela disponibilidade. Não se esqueçam de sintonizar a TSF para ouvirem o excelente programa que ele apresenta. Quem sabe, pode ser que ouçam alguma coisa que daqui a uns tempos vai ser notícia no mundo todo e já podem dizer aos amigos: “Oh, já sei disto há tanto tempo, vocês são uns incultos, só falam de futebol!”. Fica sempre bem.

Link:

Porta19 entrevista Wim Nijst (Blauwwit.be)

Arranca hoje mais uma rubrica que pretendo seja regular aqui na Porta 19. Desde o início aqui desta brincadeira que me interesso por todos os sites e blogs de futebol, tanto do meu clube como os de outros clubes. É uma excelente forma de vermos o mundo com outros olhos, de partilhar experiências e de aprender com a maneira de pessoas diferentes analisarem o futebol segundo uma perspectiva pessoal, sempre com o amor ao clube como trave-mestra.

Assim sendo, e tendo em conta a pré-eliminatória da Liga Europa, fiz umas perguntas a Wim Nijst, gestor de um dos principais sites do KRC Genk na internet, o Blauwwit.be, um dos pontos mais dinâmicos na divulgação de notícias e opiniões dos fãs do clube belga.

Porta19: O FC Porto não disputa uma partida oficial frente a uma equipa Belga desde que perdeu em 2000 frente ao Anderlecht. Como é que o futebol evoluiu na Bélgica nos últimos 10 anos?

Wim Nijst: O futebol Belga tem vindo a descer de nível desde essa época. Até os nossos grandes clubes (Anderlecht e Club Brugge) não conseguiram bons resultados a nível europeu. Não conseguimos usar o Euro 2000 num bom sentido, as infraestruturas (estádios) não são nada do que deviam ser. A grande maioria dos estádios são antigos e demasiado pequenos. Nos últimos anos, no entanto, temos visto algumas mudanças. Muitos clubes tem planos para novos estádios (Club Brugge, Anderlecht, Standard Liége, Genk, GBA (Antuérpia), among others) que se estão a tornar extremamente necessário. O Genk já tem um belo estádio (23.000 lugares sentados) e a antiga bancada central foi reconstruída em 2008.
Focando-nos noutro aspecto, algo que está a mudar é a forma de trabalhar as nossas camadas jovens. Desde há alguns anos que todos os clubes estão a fazer um excelente trabalho com academias de formação. O Genk é considerada uma das melhores (senão a melhor) academia de formação na Bélgica, onde já produzimos vários talentos mas de onde também continuamos a perder muitos jovens jogadores para outros clubes. A Bélgica é um país pequeno e há muitos jovens talentos que vão para França (Lille), Holanda (PSV, Ajax) e Inglaterra (Arsenal, Manchester).

Porta19: A última vez que o Genk foi campeão da Bélgica foi em 2001/02. Quais são as expectativas para esta temporada?

Wim Nijst: Os últimos anos foram terríveis. Terminamos quase sempre fora do top 5 (mas conseguimos vencer a Taça da Bélgica em 2009) e no último ano acabamos o campeonato em 10º lugar (ou pior, nem me lembro). Mas graças à nova fórmula de play-offs conseguimos jogar na UEFA. Em Dezembro do ano passado contratámos um novo treinador (Franky Vercauteren) e ele mudou a equipa por completo. Continuamos a vencer e continuamos em excelente forma este ano. Depois de dois jogos na liga estamos em primeiro lugar sem perder um ponto, mas o mais importante é que estamos em boa forma e a qualidade do nosso futebol é, para os padrões Belgas, muito bom.
O objectivo este ano é o Play-off 1 (para clubes que terminem no top 6) e chegar à Europa (primeiros 4 lugares). Não há ambição de vencer o título a não ser que equipas como o Club Brugge, o Standard Liége e, obviamente, o Anderlecht não cumnprirem com as expectativas e só aí é que poderíamos ter alguma hipótese de chegar a campeões (nunca se sabe). É muito importante que vejamos bom futebol em Genk, já lá vai muito tempo, mas este ano temos uma equipa e um treinador que nos pode dar isso. O arranque e a alma estão em alta, esperemos que seja um excelente ano para o Genk!

Porta19: O que é que o FC Porto pode esperar quando visitar a Crystal Arena? Como é o ambiente dentro e fora do estádio?

Wim Nijst: O nosso não é o estádio mais barulhento do mundo :) Há pouco tempo atrás as pessoas costumavam dizer que era o estádio menos ruidoso na Bélgica. Nos últimos anos o ambiente mudou um pouco, criamos a “Tribune Zuid” onde todos os adeptos do Genk que querem entoar os seus cânticos e músicas estão juntos. Agora o ambiente é muito melhor, mas depende da qualidade do futebol que jogamos. Se é bom, a atmosfera é magnífica. No Porto o nosso apoio vai ser bom, o Genk é conhecido pelo seu excelente apoio em jogos fora de casa (o que é estranho tendo em conta a nossa reputação dentro de portas).
Os adeptos do Genk são normalmente muito amigáveis por isso não creio (tenho quase a certeza) que venham a haver confrontos ou agressões aos adeptos Portistas, por isso não há nada com que se preocupar nesse aspecto. Deixo uma dica para os adeptos do Porto: a cidade de Genk não é particularmente grande, por isso se querem ir dar um passeio aconselho irem à cidade de Hasselt que é perto (15 minutos de carro ou então podem ir de combóio ou autocarro, há boas ligações). Se quiserem mais informações, estou ao dispôr! :)

Porta19: Quem são os principais jogadores do plantel do Genk para esta época?

Wim Nijst: Os jogadores principais são:

  • Barda
  • Internacional israelita, avançado, não marca muitos golos mas trabalha muito para a equipa. É um jogador muito valioso para o clube (é também o mais bem pago, 1 M€/ano)

  • Buffel
  • Já jogou na Fiorentina e no Rangers, bom extremo-direito com excelente técnica e visão de jogo.

  • João Carlos
  • Brasileiro, muito bom defesa. Seguro, raramente recorre a entradas de carrinho. Não é muito rápido mas devia estar a jogar numa equipa melhor que o Genk. Muitos talentos têm tido a infelicidade de jogar em clubes mais pequenos com um presidente que não os deixam sair e ele ficou muito tempo no Lokeren. Com 28 anos é a altura de fazer uma boa época no Genk para se transferir para o clube que merece.

  • De Bruyne
  • Um jovem de apenas 18 anos mas é o melhor jogador que temos. É considerado um dos jogadores com futuro mais brilhante do campeonato Belga. Joga no meio-campo, tem boa técnica, grande visão de jogo e um remate poderoso. É o nosso melhor jogador e vai ter um grande futuro. Esperamos não o perder antes do final desta janela de transferências porque há muitos clubes interessados.

Porta19: Conhece os jogadores do FC Porto? Quem é que mais gosta/teme?

Wim Nijst: Claro que conhecemos os jogadores do FC Porto! Creio que estão a reconstruir a equipa, mas jogadores como Meireles, Moutinho e Hulk são muito conhecidos. Temos a noção que esta eliminatória será, a não ser que haja um milagre, o fim da nossa carreira na Europa. Vencer o FC Porto seria quase como vencer a Liga Europa. Não ficamos muito satisfeitos quando nos saiu o Porto porque estávamos à espera de uma equipa mais fácil como o Rapid Viena ou o (Litex) Lovech. P
ensávamos que íamos conseguir entrar na fase de grupos mas talvez no próximo ano, ou talvez haja um milagre :)

Porta19: Porque é que tem um site dedicado ao KRC Genk? Por amor ao clube, como forma de divulgação online ou apenas por ser uma forma prática de organizar os adeptos?

Wim Nijst: É uma longa história. O clube tinha um website oficial para a comunidade, onde todos os adeptos do Genk (e de outras equipas) podiam conversar. Mas quando a equipa começou a não jogar bem houve muitas críticas à direcção e então fecharam o site para os adeptos que não tinham um lugar anual. Para além disso, só podiam colocar posts com o nome completo (nada de alcunhas). Os visitantes habituais não gostaram nada disto e então começaram o Blauwwit.be (que quer dizer Azul e Branco, as nossas cores) onde toda a gente era bem-vinda. Temos muito sucesso, com 4.000 visitantes por dia o que é muito alto para um site Belga. O site é pago pelos visitantes e fizemos uma pequena recolha de fundos onde conseguimos arrecadar mais de 1000 euros em dois dias. A base de adeptos é muito grande :)

Porta19: Para terminar, uma pergunta da praxe: cerveja Belga ou Portuguesa? Honestamente! ;)

Wim Nijst: Belga, sem discussão possível. A cerveja Belga é conhecida mundialmente, especialmente as cervejas especiais, para os adeptos Portugueses que venham à Bélgica têm de experimentar cervejas como Duvel (clara e muito robusta), Leffe (clara ou escura, robusta) ou Kriek (com notas de cereja, experimentem as marcas como Lindemans que são muito apreciadas pelas senhoras porque são muito doces). A nossa melhor cerveja é a Westvleteren, mas é muito difícil de encontrar. Foi escolhida pelo Michael Jackson (o jornalista apreciador e crítico de cervejas, não o cantor pop morto) como a melhor cerveja do Mundo.

Aproveito para agradecer ao Wim pela disponibilidade e bom humor. Só espero que não haja milagres na eliminatória!

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