A média dos media é uma merda

Gosto de pensar que ainda sou de um tempo em que a diversidade é cultivada e estimulada. Em que um fotógrafo pode andar de pijama todo o dia ao lado de um músico com um fato de veludo ou um bombeiro de t-shirt.

Expresso – Barcelona vence e marca encontro com Real Madrid nos ‘quartos’ da Taça do Rei

RTP – FC Barcelona marca encontro com Real Madrid nas “meias”

Sapo – FC Barcelona marca encontro com Real Madrid nas “meias”

E ao ler estas três versões da mesma notícia, vejo toda essa utopia sociológica a cair a pique. A fonte (Lusa) é a mesma. Repare-se nos textos que são publicados sensivelmente à mesma hora pelo que se presume sejam três pessoas diferentes, sendo que o mais provável é ser o mesmo programa de computador que recebe o newsfeed da Lusa e formata a notícia segundo padrões pré-determinados para se adaptar ao critério estetico-jornalístico da companhia que o está a executar e publica a mesma notícia com um cheiro ligeiramente diferente. De salientar também o enorme faux-pas da RTP e do Sapo que colocam El Clásico…nas meias, onde o Expresso já corrige para os “quartos”.

Ainda assim, questiono-me sobre a utilidade de ler três fontes diferentes de notícias quando a informação está triplicada sem um mínimo cunho pessoal, replicada por entre páginas anonimizadas, pseudo-jornalistas desportivos em instituições de informação generalista e falhas sem justificação para um profissional. Ao menos deixem o desporto para quem vive o desporto.

Já não há jornalistas, gente, há autómatos.

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É por estas e por outras do género que a imprensa desportiva em Portugal está mais no fundo que o Bolama

Faço um pequeno intervalo no meu ostensivo alheamento da es(tupida)peculação sobre o mercado de inverno para me referir brevemente a esta pérola.

Ora deitem os olhos nesta pseudo-notícia que surgiu de pseudo-redacção de um pseudo-jornal:

Quando pararem de rir, posso continuar? Obrigado. Várias frases soltas surgem-me em frente das vistinhas:

  • Se um jogador tem uma cláusula de rescisão de vinte milhões de euros e esse valor é atingido, em que medida é que o clube pode recusar? “Ah, não, mas vocês são vermelhos e assim não vale?” parece-me uma razão tão boa como qualquer outra.
  • Se alguma vez esse valor estratosférico tivesse sido oferecido ao FC Porto por Fucile, alguém que jogue com o baralho completo crê que o rapaz não estava a correr na relva de Anfield desde Agosto?
  • Presmiership. Na Presmiership. Deve ser onde joga o Menchester. Ou o Enberton. Talvez o Stoike.
  • “Contratado em na reabertura”. Escrita à pressa. “É preciso dizer mal de mais um dos de lá de cima, minha gente, toca a romper essas teclas, removam por favor os dedos do esfíncter e procedam a desbravar caminho. Escolham qualquer um, tanto me faz.”

A pressão do online e a demanda pela notícia rápida e bombástica leva a parvoíces deste nível. E eu, sinceramente, nem sei porque é que ainda me aborreço com estas coisas.

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Inventonas

Aos domingos, no RCP, houve durante algum tempo um grande noticiário de informação desportiva lido a duas vozes. A recolha da informação era do Firmino Antunes, que sacava resultados de clubes quase desconhecidos em modalidades e escalões praticamente ignorados. Estava lá tudo. Quanto às duas vozes eram de quem calhava de serviço. Certa vez, estavam de plantão ao noticiário o Paulo Fernando e o João Paulo Guerra, escasseava a informação de outras modalidades mas abundava a da Volta a Portugal em Bicicleta. Lemos a classificação da etapa até ao vigésimo lugar e… não resistimos:
11º Paulo Fernando, disse o João Paulo; 12º João Paulo Guerra, respondeu o Paulo; nos lugares seguintes entraram os técnicos de serviço do outro lado do vidro, o Oliveira, o Gomes ou o Leal, de serviço à portaria, o Barata, atarantado atrás do balcão do bar. E ao 20 º lugar lá retomámos a classificação real: 20º Perna de Coelho, disse o Paulo Fernando, acrescentando apenas um de ao nome de um conhecido ciclista do Benfica, Joaquim Dionísio Perna Coelho.
Perguntarão: então e a direcção, não deu por nada? Deu. Ligou um director a perguntar que brincadeira era aquela? Como se houvesse algum ciclista chamado Perna de Coelho, ou Perna Coelho, ou lá o que era!? Com certeza. Paulo Fernando e João Paulo Guerra é que eram ciclistas de grande pedalada.

in kuandoosradioseramclubes.blogs.sapo.pt

Esta brincadeira aconteceu nos anos 60. Talvez nos 70. Nada de malicioso, nada de extraordinariamente ofensivo nem pejorativo, apenas uma brincadeira. Mas é uma imagem da falta de ética e de correcção jornalística que pauta o típico lusitano. Desde essa altura, se formos a ver pela grande maioria das notícias nos jornais que temos hoje em dia, não me parece que a evolução dos elementos que os compõem tenha sido positiva. O que mais enoja é o enaltecimento da classe, o elogio das figuras que constituem o núcleo do jornalismo desportivo português como se de cientistas sociais se tratassem, quando uma inacreditável percentagem deles é facciosa, descaradamente parcial e sem qualquer problema em escondê-lo e agir como armas de arremesso para interesses de vários clubes por aí fora.

Entretanto, os Nolitos deste mundo vão continuar a voar para o relvado, os Javis vão continuar a insultar e os Maxis a cotovelar. E quando vestem de azul-e-branco, como um qualquer Lisandro, Bruno Alves ou Quaresma aqui há uns anos, são gente vil e uma praga para o futebol moderno. Quando a camisola vermelha é usada com o orgulho que lhe injectam, a história muda.

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Talvez o único comentador desportivo inteligente deste país

O FC Porto já sabe que não sai da Europa em Dezembro. O fantasma do afastamento prematuro das competições da UEFA está posto de lado , mas falta saber em qual delas vai competir na viragem do ano. A maior consequência do triunfo na Ucrânia – e a que verdadeiramente conta nesta altura – é que os dragões mantêm em aberto a hipótese de prosseguirem na Champions. Se o FC Porto estivesse a viver um momento de estabilidade emocional , dir-se-ia que só falta passar o Zenit ; mas como a realidade não é exactamente esta , é melhor dizer-se que ainda falta passar o Zenit.
Vitor Pereira e os jogadores pregaram uma valente rasteira à crise , só que é preciso esperar para se perceber se ela fica mesmo no chão. A questão , no fundo , resume-se a isto : o técnico jogava frente ao Shakhtar muito da sua sobrevivência , mas os jogadores também. No caso de Vitor Pereira arriscava o cargo , no caso dos jogadores arriscavam ficar fora da “montra”. Um falhanço seria péssimo para todos. Além do mais , após o desastre de Coimbra , ninguém lhes perdoaria um segundo fiasco consecutivo. O universo portista está habituado a tudo menos a estes desaires incompreensíveis. Pode ter residido nesta convergência de interesses e intenções o facto dos dragões terem revelado um espírito de entreajuda que , pura e simplesmente , não constou do desafio com a Académcia.
Os portistas obtiveram uma importante vitória , mesmo que não tenham feito um grande jogo. Pode não ter existido até uma particular articulação , mas houve um inquestionável empenho. Em condições adversas – dez graus negativos – e tendo pela frente uma equipa que jogava a cartada final pela manutenção europeia , o FC Porto passou por várias fases durante a partida. Sendo bafejado pela felicidade (a bola foi duas vezes aos ferros) , teve em Helton o homem-chave quando mais ninguém podia evitar o pior , lucrou com o rasgo de génio de Moutinho que abriu caminho para o golo do improvisado ponta-de-lança Hulk e recorreu ao “bombeiro” Fernando quando alguém se esquecia de apagar os fogos. Mas também revelou problemas no eixo central da defesa , sobretudo quando Luiz Adriano se lembrava de pôr a cabeça em água a Otamendi e Rolando. Seja com for , o desfecho não podia ter sido melhor. Ganhar – quando qualquer outra alternativa seria fatal – , acaba por ser uma recompensa merecida.
Falta saber , agora , o que verdadeiramente representa este triunfo em termos de curto/médio prazo. Da mesma forma que o FC Porto não saiu do mapa com a eliminação da Taça de Portugal , também não se transformou na “velha máquina” com esta vitória. O que vai ser a equipa é algo que só os próximos jogos vão determinar , começando já pela partida com o Braga. A reabilitação é viável , como se viu em Donetsk , mas isto vai depender unicamente da forma como todos souberem lidar com ela.

in Jogo Jogado
(negritos são da minha responsabilidade)

Chama-se Mário Fernando, trabalha na TSF e faz uns biscates na SIC Notícias. Uma vénia.

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Até dá para pendurar toalhas

À semelhança do que fez Jon Stewart aqui há uns dias no Daily Show, esta capa remete-me para um conselho que dou com todo o gosto.

Malta da redacção d’a Bola: por favor consultem o vosso médico. A erecção que sentem neste momento, estranha e pouco familiar, não é natural e concerteza não é habitual. Devem consultar o vosso médico o mais depressa possível, afastem-se de qualquer animal doméstico e por favor não se virem de repente dentro de casa. Estou convencido que não estão habituados a este tipo de situações, por isso acredito que seja difícil lidar com isto, mas façam um esforço. Até me surpreende que não estejam mais preocupados porque se olharam bem para a capa e viram aquele híbrido do Leonor do lado direito e o inchaço não passou…deviam ter percebido que algo se tinha passado que não era como Deus mandava.

Se Ele quiser – e o Vitor e os nossos jogadores também – no Domingo já passa.

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