Nunca escondi que gosto do moço. Sempre gostei, mesmo naquelas alturas em que me apetecia sair da minha cadeira, descer ao relvado e espetar-lhe quatro lapadas nas trombas para ver se lhe punha algum sinapse a disparar desenfreada pelo cérebro que na altura estava mais parado que o Jesus quando caiu de joelhos depois do golo do Kelvin. E passei anos a apoiá-lo quase desde que chegou ao FC Porto no inverno de 2007, porque gostei do puto. Cara de reguila, de quem acabou sempre de fazer qualquer borrada em casa e está a ver se a mãe não descobre. Dos que diz: “Sim, senhora professora, garanto-lhe que foi o cão que me comeu os deveres!” com uma expressão de gozo na fronha, que dá vontade de esbofetear ao mesmo tempo que se tem de admirar a frontalidade e o descaramento. Era um postal, este meu homónimo, e tenho saudades dele. Via-lhe qualidades que outros deixavam passar ao lado, reconhecia nele uma capacidade de liderança para um futuro próximo que podia fazer dele um capitão do FC Porto, para assim vermos a braçadeira de capitão regressar ao braço de um lateral-direito, ainda que tantas vezes alinhasse no lado contrário.
E fiquei chateado com um F grande quando este cromo se lembrou de se chatear com o treinador. É a irreverência do reguila, pensei eu, isto passa-lhe e passa a todos. Mas não passou. Não sabendo exactamente o que aconteceu, forço-me sempre à desilusão dos habituais não-comunicados e das notícias que se fecham em formação romana e impedem que um minúsculo fiúnculo de notícias possa passar cá para fora. E fiquei sem saber o que aconteceu, só que Fucile tinha desaparecido do meu horizonte. Um dos poucos rapazes que me pareciam poder ficar cá uns anos bem largos, como Helton ou Lucho – até Sapunaru e Lisandro, a outro nível – e ao mesmo tempo assumir uma posição de senioridade para que os adeptos lhe reconhecessem, como eu, que este é “um dos nossos”…estava longe do meu clube. Burro. Sacaninha.
Não perdi a esperança, Jorge. Neste ano e meio sabático desde que me levantei no meio de um tasco onde vi o jogo do Zenit e gritei algumas obscenidades na tua direcção depois de pores a manápula na bola, acho que estou mais calmo. Já me passou a chatice contigo e espero que possamos por os meus momentos para trás e começar um mundo novo. Tens ainda muito para dar, miúdo, e desde já me ofereço para te pagar uma bela francesinha e um fininho para pormos a conversa em dia. Volta o mesmo Fucile que me deixava um sorriso sempre que o via a jogar.
Bem vindo de volta, rapaz.