Uma sensação estranha apodera-se de mim sempre que olho para Danilo dentro de campo e odeio-me sempre que acontece. Tem sido cada vez mais frequente nos últimos tempos e não sendo dolorosa como uma pisadela num pé descalço ou uma boa dose de azia, está-me a afectar o prazer de apreciar uma exibição do meu clube e a transformar uma boa exibição numa caça às bruxas que não pode trazer nada de bom. E essa sensação prende-se com o facto de olhar para Danilo, para o que faz e como faz, e não me entusiasmar acima do mínimo suficiente para manter um batimento cardíaco de repouso.
E se fosse outro gajo qualquer, não me chatearia tanto. Quer-se dizer, não será a melhor bitola para avaliar a qualidade de um jogador ou a possibilidade de o valorizar com a nossa camisola, mas não sou eu que o vai andar a negociar daqui a uns anos. Mas continuo a olhar para ele e a pensar na quantidade de guito que gastamos nele, e por muito que o rapaz não tenha culpa de absolutamente nada, a verdade é que tinha algumas expectativas para o ver a jogar a um nível elevado. E sempre que o vejo em campo parece que estou a ver um Guarín adaptado a defesa-direito. E não me agrada mesmo nada. Nem é pela ausência de Danilo do meio-campo, mas porque o rendimento não tem sido o que estava à espera de ver num jogador que já foi chamado várias vezes à selecção brasileira (com ou sem empresários ao barulho) e cuja transacção pareceu fazer com que o mundo se virasse todo do avesso com mais uma ridícula guerriúncula contra o Benfica. Não questiono o valor do moço noutra posição, mas até agora, do que vi do rapaz a jogar com o número dois nas costas e na posição habitual desse mesmo símbolo, devo dizer que não vi nada de especial, nada que me fizesse dizer: “Carago, vale o dinheiro que demos por ele!”.
É muito curioso ver que Guarín, talvez um jogador que Danilo preferiria emular no FC Porto, está a decidir jogos em Itália depois de os fazer em Portugal durante dois anos. E também ele, quando cá chegou, era um jovem com margem de progressão que fez uma primeira época…abaixo das expectativas. Se bem se lembram, foi bem pior que Danilo. E atravessou dois anos complicados, com baixa cotação entre os adeptos, para chegar a um 2010/2011 brilhante e acabando por sair em 2012 sem grande glória dentro do clube mas com um mediatismo que provavelmente nunca pensou atingir tão cedo e muito menos no país onde então estava. E Danilo já terá deixado o discurso de inauguração, a ladaínha do “esta não é a minha posição, eu quero é jogar no meio-campo, yadda yadda”, mas a verdade é que poucos lhe darão uma nota particularmente positiva em quase todos os jogos que disputou. E talvez seja aí a sua posição mais adequada às características dele, mas sinceramente não vejo um futuro próximo que inclua o brasileiro numa posição no meio-campo que se assemelhe ao que o próprio jogador prefere, mas no FC Porto, como em todas as grandes equipas, há que suprir as necessidades primárias antes das secundárias e neste momento, a lateral-direita está mais em falta que a zona do médio-volante.
Mantenho esperança que o rapaz cresça, suba de produção, evolua e atinja um nível que estou à espera de ver desde que chegou. Mas o impacto inicial, desde há um ano, não está a ser memorável.
PS: O título parece tirado de um romance do Mário de Carvalho mas asseguro que saiu da minha cabeça.