Nem. Que. Te. Fodas.

Estás-te a sentir sonolento, meu estupor. As pernas vão-te fraquejar, todo o teu corpo vai tremer e nem sabes o que te passa pela cabeça enquanto sobes os degraus que dão acesso ao relvado. Ao entrar em campo, vai-se-te soltar a bexiga e uma pinguinha de urina vai escorrer pelas tuas pernas abaixo e cair para o relvado. O Danny vai sorrir, esse cabrãozinho, mas não repete a celebração porque tu já lhe amarraste os guizos no balneário e lhe prometeste que o penduravas do telhado do estádio se se voltasse a armar em parvo.

Amanhã não vais jogar um charuto. Não vais ter tempo para jogar um charuto. Vais tentar ao máximo ser expulso no segundo minuto de jogo por protestares com veemência bíblica um lançamento lateral marcado pelo árbitro. Vais fazer os possíveis para ires para a rua para voltares a ser aplaudido por dezenas de milhares, os mesmos que te aplaudiram tantas e tantas vezes. Vais lamentar a falta de sorte e dizer que nada está perdido e na Rússia resolve-se. E no jogo em São Petersburgo, vais fazer o mesmo.

E tudo volta a ser como dantes. O FC Porto aplaude o Hulk e os adversários insultam-no. O costume, já sabes.

Link:

O pós-Hulk – parte I

Regresso ao tema que mais deveria preocupar os adeptos portistas, porque a mudança da semana passada vai demorar tempo a absorver. Foi um pouco como acontece a alguém que tenha andado a seguir uma série na televisão durante uns anos, só para chegar ao início da temporada seguinte e verificar que um dos personagens principais, ao fim de um ou outro episódio, foi trabalhar para outra cidade ou morreu ou o actor não renovou contrato…qualquer coisa que faça que o gajo deixe de aparecer todas as semanas na nossa sala a protagonizar as desventuras mais emocionantes e/ou entusiasmantes na pequena tela. E se têm alguma parecença comigo já passaram pelo mesmo, quando o Mulder desapareceu nos X-Files ou o Jeffrey no Coupling britânico, quando o Lane se matou no Mad Men ou o Charlie se sacrificou no Lost, até quando o Lem levou um tiro no The Shield (da pouca televisão que vejo, opto por ver de boa qualidade e consta que sou muito, mas muito pedante em relação a isso). Há algo que morre dentro de nós, como que um ente querido que nos habituamos a ver dia após dia tivesse subitamente fugido da nossa vida…com a devida distância da realidade, como é óbvio. Até essa altura eram eles os focos de atenção, aqueles que nos trazem a emoção à pele, que nos fazem vibrar, sentir, rir e chorar, viver.  Até essa altura foram alvo das críticas, das análises, de tentar perceber o porquê daquela atitude naquele momento. Questionamos as acções, criticamos as inércias, maldizemos as falhas e louvamos os heroísmos. Somos nós que lá estamos, somos nós que lá devíamos estar e como nunca podemos transpôr a quarta parede, ficamo-nos pelas palavras que os actos são para eles. E quando essas personagens desaparecem, entram outras para os lugares que esses actores principais até então desempenharam com talento e perícia naturais, e o ciclo recomeça.

Estamos exactamente nesse momento. Quem vai ser o actor principal desta nova etapa? Quem vai pegar nos vários fachos que Hulk deixou pousados no balneário, com a braçadeira de capitão de um lado e a capacidade inata de desatar nós do mais górdio que apanhamos em tempos recentes? Teremos James pronto a subir de produção e a agarrar a titularidade numa posição que não lhe é natural? Conseguirá Vitor Pereira transformar o sistema aparentemente perene do 4-3-3 agora que lhe falta um homem que deambule pela linha e rompa para o meio de uma forma tão natural como o 12 fazia? Poderá Atsu amadurecer com rapidez suficiente para ser uma opção não só de futuro mas já para o presente?

Não sei. Mas os tempos vão ser novos para os nossos lados. Vão ser novos e vão ser interessantes de seguir. Amanhã vemos a parte táctica da coisa.

Link:

Hulk

Lembro-me de estar sentado no Dragão numa solarenga tarde de Verão em 2008. Na altura, um desconhecido brasileiro com uma das mais ridículas alcunhas dos últimos tempos estava em campo a envergar uma camisola pouco usual para avançados. Com o doze nas costas, Givanildo transformou-se numa das melhores e mais importantes aquisições do FC Porto desde que sou portista, um homem que tem o dom de fazer estádios levantar, de levar adeptos à euforia numas alturas e à profunda irascibilidade noutras tantas. Hulk mudou o jogo das equipas de que fez parte, atravessou três treinadores e conquistou montanhas de títulos, tanto individuais como colectivos. Tornou-se na imagem do clube, na figura que atravessava mundo com a nossa camisola e que mediatizou ainda mais a nossa equipa em competições nacionais e europeias.

Hulk é a imagem da influência que um jogador pode ter uma equipa, por muito que essa mesma equipa seja de um nível já bem alto na habitual escada do sucesso. Poucos jogadores, no decorrer da minha própria carreira como adepto portista, vi com a mesma capacidade de revolucionar um jogo morto, de trazer vida a um ataque insipiente, de mudar o desfecho de uma partida com a força, a velocidade, a potência que aplicava em todas as jogadas de que fazia parte. À imagem de Deco ou Quaresma, em tantos e tantos jogos a equipa dependia dele e ele era a equipa. Era para ele que todos olhavam, dentro e fora de campo, como o enorme martelo que parte o cubo de Rubik quando já ninguém tem pachorra para encaixar nas posições certas. Era Hulk, era quase sempre Hulk, o actor principal em filmes vistos vezes sem conta, quando a equipa não tem pernas nem inspiração para trabalhar de uma forma produtiva para que o resultado fosse parecido com o que os adeptos sempre procuram. Era Hulk que pegava nesse difícil facho da responsabilidade e zarpava para o ataque com todo o resto da equipa por trás dele, despreocupada, inflexível, confiante que o colega conseguiria um remate indefensável, uma aceleração inatingível ou uma finta letal. Hulk foi vezes demais a figura da equipa, uma imagem de dependência que nos habituámos a ver durante anos seguidos e que, por força do destino e de meia-dúzia de bem arquitectadas minúcias, nos deixou durante meses e nos fez perder um campeonato que podíamos e talvez devíamos ter ganho.

Era também um invulgar motivo de discórdia. As atitudes furiosas, o constante questionar das decisões do árbitro, os lances após lances que perdia quando tentava fazer algo impossível até para ele, as decisões erradas do “chutar quando deve passar” e vice-versa, os livres para a bancada, os amuos, as críticas, os lamentos. Mas era sempre um dos que chegava ao fim do jogo com a camisola a pingar do suor de um lutador, de um headliner que sempre o foi e sempre quis ser. E na nossa memória, na memória de todos nós que daqui a uns anos vamos falar com os nossos filhos e netos e dizer-lhes que houve um brasileiro que era uma montanha de força e que usou a nossa camisola durante quatro anos, vamos todos recordar os cincazero ao Benfica, os slaloms em Donetsk, Madrid, Moscovo, Sofia, Lisboa e Porto, os golos na Champions, os remates de longe, as vitórias, as tantas vitórias que tivemos à custa dele, e vamos sorrir.

Vou ter saudades de Hulk. Era um homem da casa, capitão de equipa sem que convencesse que era esse o seu principal papel, mas fundamental na forma como melhorou a relação com os árbitros a partir desse momento. Foi bruto, rijo, duro e genial; foi agredido, pontapeado, injustiçado e justiceiro; foi golo, remate, míssil, decisivo. Hulk foi nosso durante anos e a partir de hoje deixa de o ser. E temos todos de aprender a jogar sem ele, porque tal como Deco ou Quaresma, quando sai uma peça de tal maneira fundamental na estrutura de uma equipa, é natural que todos iremos sentir a sua falta. Cabe aos adeptos entender isso e exigir que os outros todos saibam calçar as botas do 12 e aproveitem para marcar o seu próprio nome.

Hulk houve um. Agora, temos de ter vários para suprir a falta. Boa sorte, rapaz.

Link:

Hulk happy? Hulk happy! And Porto? Porto happy?


Guardian


Record


A Bola

MaisFutebol

Sei que toda a gente está à espera que apareça um qualquer colhonário do petróleo e atire com 100 milhões para quebrar a cláusula do Givanildo.

Mas se houver um acordo para sair do FC Porto por quase 50 (CINQUENTA) milhões de euros…alguém é capaz de dizer que não o venderia se estivesse no lugar de Pinto da Costa?

Link: