O jogador falhou mas o homem quebrou.

2CE90C1D00000578-3253985-image-m-67_1443557098524

Estávamos aí aos 15 minutos de jogo, quando Maicon recebe a bola de Helton e segue com a redondinha controlada pelo lado direito do centro da defesa, o “seu” lado em qualquer jogo. Arranca com a pelota na sua frente, lento, hesitante, sem linhas de passe visíveis e a pedir que os colegas se movimentem para criar qualquer tipo de jogada ofensiva com um mínimo de coerência. Herrera está tapado, Defour longe, Lucho ainda mais. Varela colado à linha direita, Josué e Jackson a duzentos quilómetros de distância. Maicon olha e vê Danilo, como um desiderato tão perto de atingir, ali mesmo à beirinha da relva, uns meros vinte metros entre ele e o descanso mental, a recuperação da posição e a injecção de moral que precisa para não se preocupar mais nos próximos dois, três segundos. Trinta e tal mil no estádio viram o que se ia passar a seguir. Maicon não viu. Não viu que havia um fulano de vermelho e branco prontinho para lhe sacar a bola com um ou dois passos ao lado, tal foi a facilidade com que interceptou o passe longo (rasteiro) que o brasileiro tentava endossar ao compatriota.

We’ve been down this road before.

Foco-me em Maicon porque foi o elemento principal daquela tragédia que vimos no Domingo à noite. E o brasileiro foi a personagem principal, o Hamlet do nosso Shakespeare, o Tyler Durden do Palahniuk, a Blimunda do nosso Saramago. E foi-o mais uma vez, ao fim de seis longos anos em que teve muitos altos e outros tantos baixos, sem que nunca conseguisse mostrar com consistência aquilo que um jogador de futebol ou de qualquer outro desporto precisa para se manter no topo: evolução. Maicon continua a ser o mesmo puto que cá apareceu no verão de 2009. Sim, aprendeu a marcar livres directos e tem mais uma meia-dúzia de tatuagens e filhos, mas no fundo é o mesmo. É o mesmo gajo que faz passes longos em demasia quando ninguém lhe exige esse exagero durante uma partida. É o mesmo gajo que tenta fazer túneis, picar a bola ou fintar o adversário ou se refugia num cantinho de onde não tem saída quando os oponentes o pressionam. E é um comportamento recorrente que o faz mudar durante um ou dois jogos depois de uma assobiadela enorme dos seus próprios adeptos, para rapidamente regressar quando os tempos estão mais macios. Não houve nenhum treinador que o conseguisse mudar e que fizesse dele um central prático, simples, sem invenções. E logo ele, que já passou por momentos complicados, desde uma lesão complicada até à famosa utilização como lateral direito às mãos de Vitor Pereira, ele que é capitão de equipa e que cresceu com a equipa e a par dela, é um dos elementos mais antigos do plantel e usa uma braçadeira que simboliza liderança.

Um líder não pode ser isto que vimos no Domingo. Um líder não pode ter a atitude que Maicon teve, abandonando os “seus” jogadores em campo e deixando-os sem leme, sem voz de comando, sem cabeça. Maicon falhou como todos podemos falhar em qualquer altura, mas em vez de enfrentar as falhas de peito erguido permitiu que a falha fosse a última gota que fez transbordar o copo da sua aparente frágil psique. Compreendo mas não aceito. Não aceito que um capitão de equipa mostre tão pouca fibra em campo. Não aceito que se passe jogo após jogo a cometer os mesmos erros e que não se melhore essas falhas. Compreendo o homem que quebra, o homem que vê uma montanha a cair sobre a sua cabeça e que cede psicologicamente a uma adversidade que parece encomendada só para si por um Deus que lhe quer mal. Compreendo tudo e tenho pena da forma como o homem Maicon se estará a sentir. Mas o jogador? Não. O jogador não aceito e quando esse jogador é capitão, ainda aceito menos.

Maicon pode ser o elo mais fraco na cadeia de culpa do que se vindo a passar este ano. Mas o que fez (ou deixou de fazer) no último jogo retira-o moralmente de qualquer lista de opções para o treinador para os próximos jogos. O tempo dirá se perdemos o jogador para sempre.

Link:

Votação: Quem deve ser o próximo capitão do FC Porto?

 

Com a saída de Lucho, a braçadeira fica órfã e à procura de um novo dono. Sim, eu sei que Helton é o actual capitão e reconhecido por todos como o líder do grupo, mas apelando ao sentido prático e ao facto de pensar que um guarda-redes não é a melhor escolha para capitanear uma equipa, apeteceu-me perguntar à malta quem acham que deveria ser o novo capitão do FC Porto. As quase quatrocentas opiniões dividiram-se assim:

  • Fernando: 48%
  • Helton: 18%
  • Maicon: 13%
  • Varela: 12%
  • Outro: 9%

Não havendo unanimidade nem sequer uma votação de um jogador que agregue o apoio de mais de 50% do povo, a verdade é que Fernando continua a ser o preferido. Mas estará presente para pegar no facho?…

Link:

Dude, relax.

Estávamos aí aos 15 minutos de jogo, quando Maicon recebe a bola de Helton e segue com a redondinha controlada pelo lado direito do centro da defesa, o “seu” lado em qualquer jogo. Arranca com a pelota na sua frente, lento, hesitante, sem linhas de passe visíveis e a pedir que os colegas se movimentem para criar qualquer tipo de jogada ofensiva com um mínimo de coerência. Herrera está tapado, Defour longe, Lucho ainda mais. Varela colado à linha direita, Josué e Jackson a duzentos quilómetros de distância. Maicon olha e vê Danilo, como um desiderato tão perto de atingir, ali mesmo à beirinha da relva, uns meros vinte metros entre ele e o descanso mental, a recuperação da posição e a injecção de moral que precisa para não se preocupar mais nos próximos dois, três segundos. Trinta e tal mil no estádio viram o que se ia passar a seguir. Maicon não viu. Não viu que havia um fulano de vermelho e branco prontinho para lhe sacar a bola com um ou dois passos ao lado, tal foi a facilidade com que interceptou o passe longo (rasteiro) que o brasileiro tentava endossar ao compatriota. E os assobios, que até então eram esporádicos, acentuaram-se não só para o careca mas para o resto dos jogadores da equipa.

Enervei-me nesse momento e comecei a disparatar. “Pára e olha para o que estás a fazer, caralho! Pensa! Tem calma!”, gritei para o campo, com vários colegas de bancada a olhar para mim, uns a concordar, outros a dizer frases no mesmo tom com palavras diferentes. Foi “o” lance principal que definiu toda a primeira parte e, no fundo, uma enorme porção das primeiras partes (e algumas segundas) que temos vindo a fazer nos últimos meses. Há nervosismo a mais, precipitações e excessos de confiança e uma aparente incapacidade de tantos rapazes em parar para pensar, em conseguirem ter a calma de perceber o que podem ou não fazer durante um jogo. Acima de tudo, parece haver uma ridícula quantidade de passes falhados pela tentativa atabalhoada de executar depressa o que nem devagar se consegue. E todos já vimos aqueles mesmos fulanos a fazer tão melhor do que têm vindo a mostrar em campo, o que torna as coisas ainda mais enervantes.

É preciso calma, tanto eles como nós. A táctica é secundária quando os seus intérpretes estão a ser assobiados mal recebem a bola.

Link:

O que é que reparam quando olham para um central?

imagem gamada de http://paixaopeloporto.blogspot.pt

Lembro-me da elegância de Aloísio, que deslizava pelo relvado à procura do momento certo para o toque perfeito a interceptar um ataque adversário. Era um prazer assistir aos jogos do brasileiro a partir das velhinhas bancadas das Antas, enquanto me sentava no cimento ou em poeirentas cadeiras de um azul que já o tinha sido mas que gradualmente se ia transformando num tom claro, gasto, poído. Vintage, para soar melhor. Bintage, com o sotaque certo.

Aloísio era a imagem do central quase perfeito que me habituei a ver enquanto crescia e ia conhecendo mais do futebol mundial. Havia certeza nas acções, correcção na atitude, adequação da força à situação. E chegou a capitão, discreto, líder por exemplo e pelo respeito que todos tinham por ele pelos anos que passou no clube, à imagem dos que actual usam a braçadeira multicolorida. E à medida que ia vendo outros jogadores que jogavam na mesma posição, mais gostava do brasileiro. Havia uma classe diferente nele, uma leveza de movimentos aliada à simplicidade de processos que me enfeitiçava e fazia aumentar a minha fé na minha própria capacidade de conseguir fazer o mesmo em futeboladas amigáveis. Nunca o consegui, o meu corpo assemelhava-se sempre a um rotundo rinoceronte sem corno (acho) a descer uma colina em alta velocidade quando tentava irromper numa diagonal e acertar só na bola, só naquele ponto certeiro em que o avançado se transformava num pilar de sal e o defesa saía alegremente com a esfera de couro controlada, de cabeça levantada e postura mandona. O normal era acertar no gajo ou mandar a bola para o meio do matagal abaixo do campo. Sim, admito, em campo sou um defesa à Jorge Costa. Ou passa o jogador e fica a bola, ou não passa nada, nem bola nem jogador e na grande maioria das vezes, nem relva.

E hoje, onde estão os Aloísios? Onde estão os centrais com controlo de bola decente, passe certeiro a cinco metros, ausência de loucura ou excessos de confiança? Onde estão os Aloísios, carago?

Link:

Não desanimes, puto!

Teve um mau jogo, é verdade. E não foi o primeiro mau jogo que teve, no Dragão ou noutro lado, porque já houve alturas em que deixou os adeptos doentes com parvalhices tantas, muitas inconsequentes e outras que levaram perigo à baliza que está encarregue de defender. Não com as mãos, porque esse trabalho está reservado para o veterano na diagonal esquerda atrás dele (mais ou menos inclinada, dependendo da função), mas com os pés, que nem são maus de todo. E a turba, arreliada por um resultado negativo e uma exibição pobre, escolheu-o como alvo de mil frustrações. Criava-se um burburinho sempre que tocava na bola, era quase palpável o medo da falha, o temor que um passe saísse novamente torto, um alívio mal direccionado, um atraso com mais força do que devia. E Maicon, nada robótico e todo humano, sentiu a falta de confiança dos adeptos na equipa e em si, e falhava mais.

É uma tristeza ver que tanta gente que já o aplaudiu de pé em tantos jogos, que já cantou o nome do rapaz durante a primeira metade da época, escolhesse aquele momento para o criticar de uma forma tão vocal, tão infeliz e com tanto carinho como um guarda das SS em Auschwitz. E é assim que a glória é efémera, e é assim que percebemos que ninguém é acarinhado mais tempo do que faz por merecer, e se por algum motivo calha de ter um mau jogo, logo as biqueiras de aço estão apontadas directamente ao escroto do infeliz.

Apoiemos os nossos, carago. Para mandar abaixo já bastam os outros.

Link: