Quero-me lembrar de mais que um golo ou uma corrida

Semana cheia, esta que agora acaba. Um casamento no Sábado, a festa da alegria de um matrimónio anunciado de um amigo daqueles que os filhos únicos, como eu, gostam de chamar “um dos irmãos que nunca tive”. E a saudade dos tempos passados noutro país, noutra vida, noutro mundo. Ao mesmo tempo, outro amigo que se desloca em trabalho ao mesmo país, à mesma cidade, ao mesmo mundo da outra vida, comigo a funcionar como cicerone virtual a milhares de milhas de distância. A nostalgia ataca, bate forte cá dentro e choro uma ousada lágrima de um misto de alegria e memórias nunca perdidas.

Ao mesmo tempo vejo Mariano a visitar o Olival. Grande Mariano, louco Mariano, lutador Mariano. As vezes que te chamei os nomes que nunca pensaste ouvir, enquanto suavas a nossa camisola, a tua camisola, que colada ao corpo te travava os movimentos como uma parede de cimento no meio de uma auto-estrada. Mariano atravessou paredes enquanto cá esteve e o máximo que me lembro dele são algumas tentativas de recuperar bolas perdidas enquanto se movia de cócoras ou de gatas atrás do esférico. Isso e o golo em Old Trafford. Sim, o golo tosco, tremido, inclinado, torto, esforçado. Um golo à Mariano. Ah, e o golaço ao Sporting, que surpreendeu Patrício com um petardo a dezenas de metros. Vi a bola a entrar directamente em frente a mim, traçando uma linha virtual com o olhar (ver aqui). Que golo, Mariano. Gostava de te ter abraçado e agradecido por nos teres aturado tanto tempo.

E olho para Sereno, mais um defesa no nosso defeso que muito provavelmente não ficará para o resto da época. Outro rapaz esforçado, sem brilho mas com alma, lutador, agressivo, duro. E, tal como Mariano, nunca foi vendido aos adeptos como um salvador da pátria portista. E o que me fica dele, o que me ficará sempre dele, é uma corrida louca de sessenta metros a tentar recuperar um contra-ataque rápido do adversário e a estorvar o avançado verde ao ponto do rapaz falhar o remate isolado em frente a Helton (ver aqui, aos 3’44”).

Heróis sem glória, sem nome. São tantos e a história não ficará com os seus nomes gravados a pedra num mausoléu grandioso. E quantos outros terão a sorte de subir acima do reconhecimento fugaz de um ou outro portista que se lembre destas pérolas que mais tarde ou mais cedo se perderão no tempo?

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Dios mío, Mariano!

Algures na próxima época, um qualquer relatador numa qualquer rádio argentina terá um discurso parecido com este:

El Estudiantes sale presionando en todo el campo, y los delanteros están muy cerca de hacer el gol, empieza a tocar en la frontal del área de su adversario, intentando más una jugada de ataque en frente de la cancha. Pase de Mercado para Verón, la pelota rompe por el césped y llega a los piés de la nuevo refuerzo del Pincha, el emigrante que llegó de Portugal venido directamente desde Oporto donde ganó todo lo que pudo ganar salvo la Liga de Campeones y una competición con nome de cerveza. Su nombre: Mariano González. Mariano toma la pelota, casi la deja ir sobre la línea, pero logra el control en el último segundo. Él mira hacia arriba, ve a sus compañeros de equipo y decide correr con el balón. Pero espera, que lo ha dejado! Oh, la humanidad! Vuelve y se sacude la presión del oponente cuando se tropieza con la pelota y va tras ella como un yak borracho que cae del Aconcagua, y por un milagro de la ciencia y la voluntad, él mantiene la pelota en su poder. Ahí va ahora, corre, corre como el viento, hombre, corre Forrest!, finalmente llega a la línea, respirando con dificultad, litros de sudor en su camisa empapada, y cási sin ángulo intenta un centro largo … y es un saque de puerta para el Pincha. Otra perla de Mariano, señores!

Rapaz, que sejas muito feliz no teu país. A malta vai ter saudades tuas.

PS: para quem possa ter dúvidas, este relato é fictício e não aconteceu…ainda…

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Baías e Baronis 2010/2011 – Mariano González

 

Época: É difícil falar de Mariano nesta altura. Sinto-me impelido por uma força que bem conheço a dizer mal do gajo como se fosse o principal conselheiro do Pinochet. Por outro lado, saber que passou um calvário do caraças esta época, com a recuperação da lesão a impedir que fosse inscrito no campeonato e na Liga Europa, vendo que nunca levantou a voz o mínimo que fosse para protestar como é que um campeão olímpico e ex-vedeta do campeonato italiano é deixado a criar musgo nas laterais enquanto que outros, mais jovens e mais talentosos, lhe roubavam o lugar em frente aos seus olhos. Mariano, capitão do FC Porto, tem muitos defeitos, já apontados em tudo que é blog portista (incluindo o meu), mas também tem algumas virtudes. Provou que é um profissional à altura do clube onde está e merece o meu aplauso. Por isso está explicada a nota que leva, já que futebolisticamente a época de 2010/2011 foi pouco mais que nula. Sai do clube com a cabeça levantada e o gesto dos colegas na final da Taça de Portugal, ao permitirem que o homem que mais gostámos de odiar nos últimos anos erguesse o troféu como vencedor. Não posso ser hipócrita e agir como as pessoas que elogiam os mortos que tanto criticaram em vida, mas sinto necessidade de dizer que tenho pena de o ver sair porque acho que o FC Porto precisa de um jogador melhor no lugar dele, mas fico com a alma dorida por perceber que ficamos com menos um bom homem e bom profissional. Boa sorte, rapaz!

Momento: A final da Taça e o levantar do troféu em júbilo. Estou convencido que o Puyol se inspirou nesse momento para fazer o mesmo ao Abidal.

Nota final 2010/2011:

BAÍA

(pelo profissionalismo, não pela produtividade…)

 

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He's back!!!!!!!!!

Lista de convocados do FC Porto para defrontar o Marítimo este sábado, pelas 19h15 no Dragão:

Helton, Kieszek;
Maicon, Rolando, Rafa, Sapunaru, Otamendi;
Guarín, Belluschi, João Moutinho, Souza, Fernando, Rúben Micael;
Hulk, Varela, Walter, James…

…e…

Mariano González!!!

Malta, vamos aplaudir o rapaz. E esperar que não tropece se entrar em campo.

Bem vindo de volta, jovem!

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Um tipo humilde

“Renovação? Temos falado muitas vezes com o clube e tudo dependerá do que acontecer agora nestes meses. As conversas estão em aberto, já estamos comprometidos há muito tempo e estou disponível para continuar, mas isso dependerá sempre do interesse das duas partes.

“Cada domingo era muito difícil, mas custou-me especialmente falhar o jogo da Supertaça. Felizmente ganhámos.”

O treinador está a ajudar-me muito, o departamento médico está sempre em cima de mim, os meus colegas também puxam sempre por mim, isso é importante.

Mariano González, em declarações à “imprensa”, no dia 29 de Dezembro de 2010.

Um rapaz que está lesionado há tanto tempo como ele e que esse motivo não é inscrito na Liga mas acaba por recuperar mais depressa que o previsto, ficando de fora das escolhas durante mais um mês…tem a humildade de perceber e de admitir que as renovações de contrato não são automáticas e que se prendem por pormenores de produtividade e/ou investimento futuro.

Nesse período nunca levantou problemas, nunca veio para a imprensa reclamar, nunca barafustou por estar de fora. Levantou a cabeça e continuou a trabalhar para recuperar da lesão e para poder ser opção para o treinador e provar assim que merece que lhe renovem o contrato. É um dos capitães de equipa e dá o exemplo para os outros na perfeição: só através de humildade e de trabalho é que se vai longe no FC Porto.

Todos sabem o que sinto pelo rapaz. É tolo, trapalhão e distraído ao mesmo nível que é esforçado, lutador e humilde. E tem o meu apoio, para lá das piadas fáceis que por vezes faço à custa dele.

Bem vindo de volta, Mariano!

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