Reconsiderando Sereno

O caso de Sereno é mais difícil de resolver que os outros. Talvez parecido com o de Castro, porque as opções para a posição onde vai jogar são abundantes, apesar de nenhuma ser considerada imprescindível para o bom funcionamento de uma defesa unida e coesa. Maicon será provavelmente o defesa com a maior percentagem de aprovação nos dias que correm (bons tempos, ei, cara? se lembra de quando chegou à cidade? como a vida muda, irmão…), mas Rolando continua a ser um elemento importante mais pela experiência que pela qualidade, ao passo que Otamendi é sempre candidato a titular, com Mangala à espreita de uma oportunidade.

Sereno, chegado no verão de 2010 a custo zero, fez impacto logo no início, no jogo amigável contra o Ajax, no Dragão. O impacto foi na sua grande maioria sentido pelo lombo do holandês que apanhou com uma patada nas costas, mas o público viu logo do que é que o rapaz era feito, muito à imagem de Emílio Peixe, que num dos primeiros jogos pelo FC Porto no saudoso (sim, a palavra está gasta mas a nostalgia permanece) Estádio das Antas entrou aos 70 e tal minutos e aos 70 e tal minutos e alguns segundos saca de uma tesourada às pernas do adversário que ainda hoje deve estar a pensar que raio de animal peludo é que o atropelou ali mesmo no meio do relvado.

Continuou até ao final da época, vencendo tudo que havia para vencer e imortalizando-se naquela corrida atrás do pobre Valdés, atrapalhando-o e salvando um golo feito que daria o empate ao Sporting. Saiu no ano seguinte e continuou a carreira no Colónia (com mais um anúncio perfeito no site oficial, que opta tradicionalmente por uma aproximação subtil a estas matérias…tão subtil que nem delas fala), fazendo 26 jogos onde recebeu sete amarelos e um vermelho, sem evitar que os alemães descessem à 2.Bundesliga. Regressa agora para a pré-época 2012/2013 sem saber onde deixar as malas que trouxe da Germania.

A verdade é que à sua frente estão quatro jogadores que, cada um com as suas características e o seu estilo muito particular, desde a erva arrancada pelo argentino à lentidão exasperante do luso-caboverdiano, passando pela impulsão magnânime do francês e acabando na calma olímpica do brasileiro. E o alentejano, onde fica?

Muito provavelmente, não fica.


Outros posts de retrospectiva dos nossos emprestados em 2011/2012:

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Quero-me lembrar de mais que um golo ou uma corrida

Semana cheia, esta que agora acaba. Um casamento no Sábado, a festa da alegria de um matrimónio anunciado de um amigo daqueles que os filhos únicos, como eu, gostam de chamar “um dos irmãos que nunca tive”. E a saudade dos tempos passados noutro país, noutra vida, noutro mundo. Ao mesmo tempo, outro amigo que se desloca em trabalho ao mesmo país, à mesma cidade, ao mesmo mundo da outra vida, comigo a funcionar como cicerone virtual a milhares de milhas de distância. A nostalgia ataca, bate forte cá dentro e choro uma ousada lágrima de um misto de alegria e memórias nunca perdidas.

Ao mesmo tempo vejo Mariano a visitar o Olival. Grande Mariano, louco Mariano, lutador Mariano. As vezes que te chamei os nomes que nunca pensaste ouvir, enquanto suavas a nossa camisola, a tua camisola, que colada ao corpo te travava os movimentos como uma parede de cimento no meio de uma auto-estrada. Mariano atravessou paredes enquanto cá esteve e o máximo que me lembro dele são algumas tentativas de recuperar bolas perdidas enquanto se movia de cócoras ou de gatas atrás do esférico. Isso e o golo em Old Trafford. Sim, o golo tosco, tremido, inclinado, torto, esforçado. Um golo à Mariano. Ah, e o golaço ao Sporting, que surpreendeu Patrício com um petardo a dezenas de metros. Vi a bola a entrar directamente em frente a mim, traçando uma linha virtual com o olhar (ver aqui). Que golo, Mariano. Gostava de te ter abraçado e agradecido por nos teres aturado tanto tempo.

E olho para Sereno, mais um defesa no nosso defeso que muito provavelmente não ficará para o resto da época. Outro rapaz esforçado, sem brilho mas com alma, lutador, agressivo, duro. E, tal como Mariano, nunca foi vendido aos adeptos como um salvador da pátria portista. E o que me fica dele, o que me ficará sempre dele, é uma corrida louca de sessenta metros a tentar recuperar um contra-ataque rápido do adversário e a estorvar o avançado verde ao ponto do rapaz falhar o remate isolado em frente a Helton (ver aqui, aos 3’44”).

Heróis sem glória, sem nome. São tantos e a história não ficará com os seus nomes gravados a pedra num mausoléu grandioso. E quantos outros terão a sorte de subir acima do reconhecimento fugaz de um ou outro portista que se lembre destas pérolas que mais tarde ou mais cedo se perderão no tempo?

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Simples

in http://www.fc-koeln.de

A zona de notícias do site oficial do FC Porto, no mesmo dia da confirmação da cedência de Sereno ao Colónia, está assim:

Não desisto de chamar a atenção para estas incongruências. Para tornar isto ainda mais ridículo, o jogador ainda faz parte dos quadros do FC Porto e está agora emprestado aos alemães. Boa sorte, rapaz. Vê lá se não és mais alemão que os alemães enquanto lá estiveres. Parece que os gajos estão habituados a dar pancada.

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Baías e Baronis 2010/2011 – Sereno

Época: Esta será uma nota pouco consensual, mas creio que é merecida. Mais uma vez tenho de dar uma volta de 180º em relação à opinião que tive no início da temporada, que passo a citar: “Este Domingo, entre as 19h e as 21h, estive num universo paralelo em que se fala uma outra versão de Português e onde “Sereno” queira dizer “Jovem central alentejano que já mostrou ter talento mas que talvez ainda não se tenha adaptado e precisa de mais tempo para pôr a cabeça na ordem porque por agora anda meio tolinho à patada aos adversários e perde a bola em terrenos perigosos mas não tem mal porque resolve as coisas com um carrinho de pitões em riste.“. Isto porque a pré-época foi recheada de agressividade excessiva e pouco futebol. Mas durante a época, na altura que conta, Sereno mostrou-se voluntarioso, esforçado, com a noção que a competição para um lugar era tão elevada e que só a sua polivalência o iria ajudar. E ajudou de que maneira, porque as lesões de Álvaro e Fucile deram lugar à entrada deste rapaz que se conteve muito mais e que foi bem útil ao longo da temporada. Para mim, fica.

Momento: Não pode haver discussão, até porque me vai ficar na memória enquanto fôr vivo: a desenfreada correria no jogo em casa contra o Sporting. Na altura disse: “E, vindo do nada, um alentejano anti-natura e anti-piada começa uma cavalgada qual Bugatti Veyron, quase voa ao nível da relva e ganhando 5 metros por cada 10 ao chileno, consegue chegar perto dele e interrompe uma jogada de golo quase certo. Saltei da cadeira como se tivesse uma mola agarrada aos glúteos. Aplaudi Sereno de pé, aos berros, gritando, apoiando, vibrando com o esforço de um jogador que compensa o talento com a capacidade de luta. E hoje, naquele lance, fez o que poucos conseguiriam fazer.“. Mantenho o que disse.

Nota final 2010/2011:

BAÍA

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