Numa noite de chuva e frio, tão tradicional nesta cidade que é tão minha como de qualquer um dos outros poucos milhares que hoje estiveram no Dragão, vimos um FC Porto que continua a evoluir mas que o faz de uma forma mais lenta do que seria expectável para uma equipa que tem já quatro meses de preparação no lombo. O resultado não podia ter sido outro mas pecou por escasso e com um final desnecessariamente enervante. Growing pains, indeed. Vamos a notas:
(+) Óliver. Ah, ser um caga-tacos em terras de ogres gigantes. Eh pá, eu gosto deste miúdo, gosto mesmo. Gosto da forma como joga de cabeça levantada, como CORRE de cabeça levantada, gosto da maneira como retira a bola do olhar dos adversários, escondendo-a atrás do seu franzino corpo. Gosto da visão periférica que mostra e de o ver a encontrar aquele buraquinho certo para onde faz rodar a bola. Gosto do espírito de luta que o faz procurar sempre recuperar uma bola que possa ter perdido (e hoje fê-lo várias vezes). Gosto deste puto. Quero ficar com ele por cá muitos anos e quero que tenha filhos e fique portista e depois de acabar a carreira quero colocá-lo em cima de uma coluna dentro do Museu para ir lá fazer-lhe uma vénia e agradecer o trabalho. É aproveitar enquanto por cá o temos.
(+) Brahimi. Quando está bem, é maravilhoso, mas mesmo quando está em dias menos fulgurantes é um jogador vital e só peca por tardia a sua recuperação mental para voltar a entrar com a nossa camisola em campo. Um golo de ângulo quase impossível e uma assistência ditam uma estatística fria e digital, mas a variação analógica ao longo do jogo é bem mais interessante de ver, até porque, como disse, não foi dos seus melhores dias. Mas tê-lo em campo é sempre diferente do que ter qualquer outro jogador do plantel actual. Mesmo Otávio, que tem talento mas não é Yacine. Quando Yacine quer, como todos os grandes talentos.
(+) O arranque em versão Star Wars. Quem me conhece sabe que sou um cromo. No bom sentido, claro. Acho eu. Sou um geekzinho a tender para o nerd e em relação a Star Wars faço parte da comunidade que conhece, discute e analisa ao pormenor as coisinhas mais parvas da saga. Tenho um bobblehead do Darth Vader ao lado do monitor no meu local de trabalho, que se soma a mais uma data de parafernália semelhante em casa, incluindo um Tie Fighter da First Order, uma Speeder Bike usada pelo Império em Endor, um stormtrooper em peluche, um R2D2 telecomandado, camisolas do confronto Han vs Greedo (Han shot first indeed), modelos em 3D do Millennium Falcon e de um X-Wing e um porta-chaves da Death Star. Entre outras coisas. E adorei o arranque para o jogo e o alinhamento das equipas em homenagem à estreia do Rogue One. Chamem-me cromo. Vá lá, chamem. Estou habituado e aceito com orgulho.
(-) Controlar um 2-0 não implica ignorar o jogo. Já vi equipas do FC Porto a alhearem-se do jogo como se estivesse completamente terminado com um resultado de 2-0. E já lamentei os empates (ou derrotas, fucking Artmedia) que acabaram por sair desse alheamento e que é completamente desnecessário. E hoje houve ali 15 a 20 minutos, depois do golo de André Silva, em que a equipa simplesmente deixou de jogar em tensão. E não falo da tensão má, daquela que faz falhar penalties ou tropeçar na própria perna porque a bola começa a fazer confusão de tão esférica que é. Refiro-me à atenção que o jogo exige, ao estado de alerta e de domínio da própria zona e ao controlo da zona dos colegas. E vi equipas do FC Porto a terem esta mesma atitude quando os jogadores tinham muito mais maturidade e experiência que estes rapazes que hoje jogam com as nossas cores, por isso não é nada de novo. Mas, tal como acontecia nessas alturas, chateia-me que tenhamos de passar um mau momento porque não houve cabecinha para gerir melhor o jogo e deixar passar mais vinte minutos que fossem com o jogo nas mãos.
(-) Consistência nas más decisões dentro da área. Não sendo tão radical como um dos meus colegas de bancada que insiste que os jogadores devem rematar mal entram na grande área, devo confessar que também me chateia que não apareça ninguém a espetar uma biqueirada na bola de vez em quando ao invés de estar a fazer passes de dois metros para o colega do lado. Verticalizar o jogo de forma definitiva acaba por ser importante para desbloquear algumas situações complicadas e a falta de instinto para isso leva a complicar lances potencialmente perigosos com excesso de cerimónia. Chutem a bola de uma vez, malta!
(-) Horários e falta de cultura de clube. Falta-nos cultura desportiva quando vemos um jogo do FC Porto a ser presenciado por poucos milhares de espectadores. Chegaram aos vinte mil? Não sei mas não me pareceu ver mais do que esse número nas bancadas. Há excesso de comodismo e ausência de cultura de clube, que se está a agravar quando há tanta gente que não vai porque não dá jeito ou porque chove ou porque vão fazer compras ou porque está frio. Vi demasiados lugares anuais comprados e vazios. Não gosto.
Mais três pontos e mais um jogo que começou bem e acabou razoavelmente bem. A jogar contra onze é mais complicado, sem dúvida…
Link: