Para melhor se compreender o hype do mercado de transferências

sacado do Off the Post

Uma simples menção do nome de Luis Muriel, avançado da Udinese, num tweet enviado por Rory Smith, jornalista do The Times, transformou-se rapidamente no nome-alvo para substituir Luis Suarez caso saia do Liverpool.

Acho que vou pedir a um jornalista para tuitar qualquer coisa como: “Estive em Sevilha e vi um gajo muito parecido com o Sereno“, ou “Talvez, mas acho que o Kleber já deu um salto a Vigo uma destas noites“. Pode ser que comecem o rumor que os espanhóis já marcaram voo para o Sá Carneiro para virem buscar os moços.

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Olhá pechincha!

Acontece quase sempre a mesma treta por estas alturas (e noutras semelhantes) e já sabemos ao que nos leva esta diatribe de vómito intelectual que nos é arremessado nos dentes por tudo que tem carteira de jornalista, mesmo que só ande pelos periódicos para sacar umas massas ao abrigo de qualquer instituição de caridade que lhes vai atirando com dinheiro para o bolso. E os nomes que dão para encher enciclopédias logo começam a surgir vindos de todos os lados, como setas disparadas por bestiais bestas com bestas. Apostar online nestas parvoíces ainda parece ser mais ridículo, especialmente no mercado inglês onde a malta fica à porta dos centros de estágio à espera de uma cara conhecida ou um carro mais familiar. É deprimente ver a forma como as odds de futebol mudam radicalmente quando um treinador é contratado ou um jogador amanda um tweet cá para fora. É deprimente, repito.

Mas a verdade é que se me alhear do desterro da venda do papel que tanto custa e a tantos custa ainda mais, regresso ao passado e vejo Iturbe a pedir para sair por pouco, Rolando a pedir para sair por mais, Miguel Lopes a pedir para não sair, Walter a talvez voltar, Fucile a voltar de certeza para nunca jogar, Kleber com meio mundo a pedir que saia e Atsu a amedrontar todos pela saída. A somar a isso, todos falam de Izmailov e de Ricky Alvarez e de Vrsaljko e de mais trinta nomes que nunca ouvi falar a somar a quarenta que já me passaram pela mona, todos de posições diferentes e qualidades variáveis. E eu não consigo ter uma ideia limpinha do que quero para o plantel do FC Porto na segunda metade da época. Não sei se precisamos de mais um lateral-esquerdo de raíz ou talvez de um médio criativo, para não falar de um ponta-de-lança alternativo. Não faço ideia se aguento mais um jogo com o Kleber sem acertar na bola nem na baliza ou se me entusiasmo com um passe a rasgar do James…ou agora do Josué e nem penso que podemos ficar sem ele já ou só em Janeiro. Só sei que se vamos às compras com ou sem descontos, ao menos que compremos em condições.

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Citius, altius, fortius? Nenhuma das três.

 

foto retirada de zimbio.com

Tenho pena que as coisas tenham acabado (pelo menos por agora) desta forma. Nunca foi um génio, longe disso, e parecia sempre estar um degrauzinho abaixo de poder ser um indiscutível no FC Porto, primeiro ao lado de Bruno Alves e depois com Otamendi como companheiro no centro da nossa defesa. “É um turbo-lento!”, diz o meu pai, que achava o mesmo de Jorge Andrade nos seus tempos áureos de dragão ao peito, pelo menos até que lhe fiz notar que enquanto os adversários davam quatro passos, uma passada larga do central chegava para os acompanhar. Mas a verdade é que faltava ali qualquer coisa. Alto, forte, bom tecnicamente, raramente conseguiu aquele elemento diferenciador que poderia ter feito dele um central de grande qualidade ao nível dos que já por cá tivemos e continuamos a ter. E sempre foi essa a bitola pela qual todos os portistas avaliaram Rolando: é jeitoso, mas…

O problema, o único e enorme problema, é que Rolando, pelas declarações ou pela atitude demonstrada, sempre achou que era capaz de outros voos, de brilhar mais alto e mais intensamente. E nunca conseguiu.

Citius, altius, fortius. Nunca o foi. E sai, por uma porta bem mais pequena do que aquela que pensávamos vir a sair.

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Trinta-e-um

foto retirada de MaisFutebol.pt

Aguentei estoicamente para comentar a entrada de Liedson no FC Porto, quando uma grande parte do mundo civilizado e quatro bloggers aborígenes já o tinham feito antes da data. Fiz o mesmo com Izmaylov, porque sou fraco. Sou, metaforicamente, levezinho (as minhas desculpas pela piada, mas era impossível evitar). Recuperei a força e agora, contextualizado com a oficial chegada do avançado ao plantel, parto para a análise.

Todos nos lembramos do Liedson que jogou no Sporting. Todos o criticávamos pela teatralidade, a invulgar capacidade de sacar faltas aos defesas contrários (ainda se lembram da expulsão de Maicon em Alvalade que fez com que Villas-Boas fosse expulso?) ou dos penalties cavados graças à arte e engenho da manha de um avançado…manhoso. Mas todos, secreta ou ostensivamente, elogiavam a inteligência goleadora, o cheirinho pela posição certa onde se colocar para receber a bola prontinha a atirar para a baliza. O jogo de área, aquele zénite da acuidade ofensiva, o último cais de onde saem os botes dos golos que transformam um jogo morno numa vitória sem dúvidas, sem medos, sem questões. Habituei-me a vê-lo, durante vários anos, a ser a principal ameaça de um Sporting que perdeu tanto do que já foi e o pouco que ainda aguentava à tona estava firme nos pés e na cabeça de dois homens: Moutinho e Liedson. O primeiro, já cá está. O segundo, chega agora.

Essa é a questão principal. Como é o “agora”? Lembro-me do “antes”, mas não faço a menor ideia como está o “agora”. Pior, o “já”, porque se temos Liedson no plantel é para jogar ou pelo menos para ser opção no banco. Jackson tem rendido bem, muito bem, mas nunca teve adversários internos à altura. Metaforizo novamente, porque Kleber é grande mas não é grande coisa e se Liedson jogar metade do que fez no Sporting, é mais que suficiente para compensar três Klebers. Sabe mais, percebe mais, tem a obrigação moral e técnica de mostrar que ainda pode ser uma solução para um problema que se arrasta há algum tempo e que não pareceu merecer opção dos técnicos em recursos pontuais aos Bs, que ainda são pouco As para serem usados para uma porfia que se quer decente mas acima de tudo constante. E se nem Dellatorre, Vion ou até o novo Caballero podem ser úteis aos olhos dos adeptos, será que um Liedson com mais alguns anos do que é hábito num plantel que é bem mais novo que ele, será que pode fazer a diferença. Hell yeah.

As contratações dividem-se em dois espaços temporais e cada um desses espaços cumpre o seu destino. As de verão preparam épocas, as de inverno tapam buracos. Não tenho dúvidas, como nenhum portista poderá ter, que Liedson é uma compra (ou empréstimo, as miudezas semânticas perdem-se na big picture) que serve para 2012/2013. Não sei se servirá para 2013/2014, nem interessa saber neste momento. Como Rocchi quando o Inter lhe pegou há umas semanas, ou tantos outros casos no passado do nosso e de outros clubes, o mais importante neste momento é suprir as necessidades imediatas de um plantel que foi planeado com apostas pouco arriscadas, umas mais que outras, e onde o centro do ataque se prendia às odds de um desconhecido mexicano e de um infeliz brasileiro. Ganhámos uma, perdemos claramente a outra. E Liedson é uma aposta de elevado risco, pela idade e pelas lesões anteriores, pelo ordenado e pela imagem que ainda tem. Vai ser bem recebido, não duvido, até porque todos gostam de mais uma alfinetada nos rivais, mesmo que o rival seja menos rival do que já foi, mas é arriscado. Liedson terá de provar o porquê de apostar num homem conhecido mas há muito desaparecido em vez de um homem desconhecido mas que possa vir a ser uma aposta mais conservadora. Tem de aparecer em grande, com sorte ou trabalho, mas sempre com golos.

Porque no fundo ninguém vai buscar um rapaz de trinta e cinco anos se não tiver uma enorme fé nas suas capacidades e no que pode trazer à equipa. Caso contrário, há muitos Jankos no mercado. Mas talvez nenhum sirva como o “levezinho” pode vir a servir. Bem-vindo, Liedson. Mostra-nos que ainda sabes o que fazer. Sê um Milla, não um Pizzi.

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