Ouve lá ó Mister – Marítimo

Companheiro Nuno,

Imagina um programa de televisão onde se acompanha, semana após semana, a história de um fulano que se vê à rasca para se conseguir manter à superfície depois de ser atirado a um lago. Não sabe nadar, o pobre, e depois de abanar com os braços e as pernas de uma forma aleatória, procede a terminar cada um dos episódios a afundar-se enquanto a pantalha mostra um “fade to black” enervante e nos pede para voltarmos daqui a uns dias. Pois esta época tem sido qualquer coisa parecida com isto e se ainda tenho alguma esperança que o rapaz se salve, a verdade é que vejo o fundo do lago bem mais próximo do que a chegada à margem em boas condições.

Hoje é mais um daqueles jogos em que tudo é importante. Desde o momento em que escolhes o onze inicial ao primeiro segundo da partida, tens de estar em campo para vencer. Faltam três braçadas para o jovem se salvar dos tubarões que estão no fundo do lago (não me lixem, a história é minha e se eu quiser enfiar tubarões num lago, eles estão lá!) e que o comem direitinho de uma só vez se ele engole água a mais. Três. Mas garanto que se falhar uma delas…especialmente depois de já ter dado algumas em falso…pois, glu glu, não é, menino? Glu fucking glu.

Vamos manter o sonho vivo mais uns dias, por favor. Com água ou com álcool.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Chaves

Companheiro Nuno,

Sabes que obraste no bolo, não sabes? Tens a noção que acertaste com o equivalente de um sofá no esterno da grande maioria de portistas que ainda sonhavam poder chegar-se à frente e pisar os calcanhares ao Benfica, não tens? Apercebes-te que agora vai ser progressivamente mais complicado ganhar esta trampa, certo? E também sabes que lixaste o resto das hipóteses de ficares cá para o ano, porque não quero acreditar que um ano zero dure de facto um ano, estou a falar bem?

Pá, Nuno, eu sei que a época ainda não acabou e que faltam quatro jogos e nunca se sabe o que pode acontecer. O Benfica pode escorregar duas vezes em quatro jogos e pode perder os pontos suficientes para que sejam ultrapassados por nós e percam o título mesmo na recta final. Ninguém acredita (nem tu, aposto) mas é possível. E enquanto for possível há que ter alguma esperança, mas é muito triste olhar para os teus rapazes e perceber que por muito que acreditem, parece que fica sempre a faltar alguma coisa e tremem tanto durante os jogos que não sabem se norte é sul, gajo é gaja ou azul é branco. Estavam bem em Bangkok, sem dúvida.

Hoje é o ante-antepenúltimo jogo do ano. Para eles e para ti, acabem ou não vencedores. Quero quatro vitórias até ao fim. Para que fiquemos sempre a lamentar as quatro vitórias que devíamos ter tido nos cinco jogos anteriores. #NeverForget and whatnot.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Feirense

Companheiro Nuno,

É uma trampa quando ficamos dependentes de terceiros, não é? Roemos as unhas com o nervosismo que nos invade o corpo e nos tolhe o raciocínio e a vontade de vencer por intermédio de outros é uma situação que não me agrada nadinha. Mas é o buraco em que estamos e se queremos sair dele temos de fazer o nosso trabalho e esperar que os outros não façam o deles. Não adianta chorar, Tibi, como dizia o outro.

Este é mais um jogo desses, em que temos de vencer para conseguirmos encostar mais um bocadinho ao Benfica e criar a ilusão que ainda podemos chegar lá. E eu acredito, Nuno, a sério que acredito, mas tens de me dar motivos para isso. Tens de colocar os jogadores em campo sem medo, sem preocupações excessivas com os jogos dos outros e focar a malta para que consigam levar a estúpida da água ao tal moínho de que todos falam e que parece ficar sempre tão longe que me enerva só de pensar na viagem. O Feirense não é uma Juventus (está perto, afinal jogam com camisola e calções e…ficamos por aí, vá) mas são meninos para nos lixar a vida se não formos competentes. E se o Barge jogar, vê lá se alguém lhe rapa a barba ao estalo porque aquele gajo é do tipo de jogadores que faz o Schelotto parecer o Dani Alves. Ugh, Brigueis, pá.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Braga

Companheiro Nuno,

A matemática começa a apertar e os números são cada vez mais fáceis de contabilizar. Os alinhamentos das últimas jornadas fazem com que seja acessível perceber que uma derrota em qualquer ponto daqui até ao final do campeonato pode ser uma sentença de morte para as aspirações que todos temos e por isso se usa aqueles termos absurdos de “x finais até ao fim”. É duro, é letal, mas é o que temos.

Este jogo em Braga é sempre complicado. Os estupores lutam como dementes para sacar todos os pontos em disputa e se não nos acauletarmos em condições, vamos ficar pelo caminho antes do que pretendemos. Hoje temos de fazer uma exibição suficiente para ganhar. Não quero saber se é bonito, se é elegante do ponto de vista técnico ou táctico, mas temos de vencer o jogo. Não há tempo sequer para pensar noutro resultado e se queremos estar nos Aliados em Maio temos de vencer todos os jogos, em casa ou fora. E o Braga é só mais um desses jogos. É tramado mas é só mais um.

Entra em campo com vontade de vencer. Tenta marcar cedo e explorar o contra-ataque quando puderes. Não abuses do jogo mastigado no meio-campo, sê rápido e prático, apoia os flancos e roda a bola com certeza. Joga em condições. Joga com os olhos na outra baliza. Ganha o jogo. E depois preocupamo-nos com as outras finais.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Belenenses

Companheiro Nuno,

Acompanha-me num exercício, se fizeres o obséquio. Vamos tentar fugir um bocadinho da normalidade semanal da bola portuguesa. Procuremos o alheamento dos insultos, das tiradas sarcásticas, da forma truculenta com que os intervenientes se tratam uns aos outros e onde o que parece normalmente é. Fujamos pois para um mundo mais calmo, pacífico, com nuvens brancas passeiam descansadas na frente de um céu azul e sorriem para os comuns mortais cá em baixo. Estamos em paz, olhamos para o futuro e para o horizonte com um sorriso nos lábios, um copo de boa cerveja e amena cavaqueira, enquanto ouvimos o Dark Side of the Moon e sonhamos em chegar lá ao fundo com mais um poucochinho de tranquilidade nas nossas almas.

E será assim no Dragão hoje à tarde, quando o Belenenses entrar no estádio com a nossa bandeira a ser transportada por alguns dos seus jogadores, preservando a tradição que começou há tantos anos e que já cumprimos na primeira volta do campeonato, no Restelo, com a coroa de flores depositada com solenidade aos pés do mini-mausoléu erguido a Pepe. Será mais um dos raros momentos de sintonia extra-futebol, da união das massas por um bem maior e que nos puxa, mesmo que apenas por alguns minutos, para fora deste lamaçal competitivo que nos inunda o dia-a-dia.

Depois…venham eles. Caiam eles. Fiquemos nós de pé, prontos para mais uma boa tarde de sábado e que a vitória nos sorria. Esqueçamos o jogo da semana passada. O que conta é sempre o próximo, Nuno!

Sou quem sabes,
Jorge

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