Baías e Baronis 2013/2014 – A equipa B

Acompanhei a progressão da equipa B desde a sua recriação no ano passado e há algo que salta imediatamente à vista e que tem sido habitualmente negligenciado por toda a malta que fala da bola, em particular do FC Porto: a relação com a equipa B é bipolar. Se ganham meia-dúzia de jogos são os melhores do Mundo, não há formação como a nossa, é um Cristiano Ronaldo atrás de cada pedra e os cegos da SAD e do treinador é que não vêem isso; se perdem a mesma meia-dúzia, o projecto visão 611 é uma merda, os scouts são uma merda, os putos são uma merda, os treinadores são uma merda, a aposta na juventude devia ter sido feita há mais tempo ou então era acabar a equipa B porque só tira dinheiro e oferece emprego a jogadores que vieram para cá para dar comissões a ganhar aos elementos da SAD. A habitual esquizofrenia da malta, portanto.

A equipa B é exactamente isso. B. Não é A, não é A2, é B. É uma equipa que intermedeia a passagem dos jogadores que crescem e amadurecem nos escalões de formação do clube para que possam ser testados a um nível profissional, acima das picardias e loucuras da juventude. Serve também um segundo propósito: para dar minutos a jogadores da equipa principal que tenham menos oportunidades de jogar, para que possam manter uma condição física aceitável e ritmo de jogo que propiciem uma fácil entrada para o onze caso seja necessário. Definições auto-wikipedianas aparte, vamos a curtas notas porque a época já acabou há mais de um mês e o atraso torna as análises cada vez menos e menos prementes.

A temporada foi simpática, com alguns momentos de menor fulgor exibicional mas que manteve desde a primeira jornada uma perspectiva de luta e de consistência táctica notável especialmente se tivermos em conta o que se passava na equipa sénior principal. O segundo lugar assenta bem à equipa que muito à imagem do que se passou no Hóquei, acabou por perder os pontos necessários para conquistar o título contra adversários menos cotados. Tanto Luís Castro como José Guilherme tiveram um approach muito similar à gestão activa dos seus homens, com seriedade e a conseguir estabilizar um onze-base a partir do primeiro terço da época, fechando o grupo a um núcleo de 14/15 jogadores que lhes deram todas as garantias de qualidade, com uma ou outra alterações pontuais devido a lesões e/ou castigos. Raramente houve quebras exibicionais grandes ou exageros de vedetismo. Houve esforço, muito esforço e mostrou-se ao país futebolístico que com trabalho duro e inteligência táctica, a água lá chega ao moínho.

A nível de aproveitamento individual, não há como não mencionar Tozé. Foi a confirmação que os adeptos precisavam depois de vários anos de hype gerado e que raramente foi visto em campo pela maioria do povo. Rápido, prático, lutador, continuo a ver nele um possível futuro Alenichev a jogar ao lado de Quintero e Defour, no meio-campo mais pequeno da história do FC Porto. I jest, of course, mas o puto tem talento e foi um prazer vê-lo jogar. O segundo homem que rendeu acima da média de todos os outros foi Mikel. Já no ano passado tinha evoluído, crescido como jogador e adaptado a várias posições em campo, todas no veio central do terreno. É a trinco que mais rende, ocupando o espaço logo à frente da defesa, percorrendo quilómetros na recuperação de bolas perdidas e a servir como principal fornecedor de bola aos criativos (Tozé, Ivo ou Kayembe) ou aos volantes (Pedro Moreira, Leandro Silva – que fortíssimo pontapé tem este rapaz – ou Tomás). Gonçalo Paciência também brilhou a partir do meio da época, tornando-se no foco principal da atenção ofensiva da equipa, servindo como alvo para as deambulações de Kayembe pelo flanco direito. O belga parece ter talento mas creio ainda estar verdinho para andanças mais exigentes. No entanto, o rapaz que mais me entusiasmou foi Ivo, um extremo à antiga, a jogar pela linha, sem medo dos laterais, a funcionar como uma seta apontada à baliza adversária com um bom remate e uma técnica individual acima da média. Era ainda sub-19 e vai para o ano fazer a segunda época na B mas tem tudo para progredir e chegar em breve à equipa principal.

Na defesa Victor Garcia esteve quase sempre bem, rijo a defender e activo no ataque. Rafa, do outro lado, foi alternando a titularidade nos sub-19 e na equipa B e mostrou que sabe marcar livres directos como poucos. No eixo, Tiago Ferreira foi a grande decepção, com muitas falhas e desconcentrações e apesar de ter qualidades suficientes para poder ser uma alternativa em último recurso para subir de nível, não mostrou a qualidade que esperava dele. Quiño, como já referi acima, foi pouco hábil no flanco, tacticamente inexistente e propenso a enormes erros de julgamento e posicionamento que o devem fazer sair do FC Porto sem grande glória.

As notas de destaque da equipa B ficam abaixo:

BAÍAS:
GONÇALO PACIÊNCIA
IVO
KAYEMBE
KADU
MIKEL
PEDRO MOREIRA
TOZÉ
VICTOR GARCIA
BARONIS:
KELVIN
KLÉBER
QUIÑO
STEFANOVIC
TIAGO FERREIRA

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Baías e Baronis 2013/2014 – Os avançados

Se pedirem a dez portistas para mencionar qual seria a composição ideal do ataque do FC Porto 2013/2014, provavelmente receberiam dez respostas diferentes. Jackson, Quaresma (pós-Janeiro) e Varela estariam talvez na maioria das listas mas nenhum deles (nenhum, aposto!) teria um pleno de presenças em todas as putativas linhas ofensivas da equipa. Foram marcados 94 golos, o mesmo número que em 2011/2012 e menos dois golos que no ano passado, e se o facto de raramente termos criado perigo em jogo corrido parece não conseguir explicar a não-diferença nos números, a ineficácia foi um factor determinante na perda de pontos vitais para as conquistas que falhámos.

Foi um ano atípico também pela falta de uniformidade das escolhas de Fonseca+Castro, que pareciam sempre colocar em campo uma táctica que privilegiava o uso de extremos rápidos que poderiam furar as linhas adversárias, para rapidamente percebermos que os extremos em campo não eram rápidos e a maior parte das vezes nem extremos eram. Ricardo e Kelvin, das poucas vezes que jogaram, deram alguma velocidade ao ataque, mas o português leva a melhor sobre o brasileiro, que talvez por ainda se sentir a navegar por cima da tremenda onda de expectativa e aura messiânica conquistada em Maio de 2013, nunca conseguiu uma vida fácil e acabou por jogar um miserável conjunto de 356 minutos nos As (apenas um jogo a titular) e pouco mais nos Bs. Kayembe foi utilizado apenas no final da época, Iturbe fez uma boa pré-época e acabou cedido mais uma vez (para nunca mais voltar), ele que poderia ser um jogador diferente, com velocidade e boa técnica mas que não foi aparentemente considerado vital para Fonseca aquando da separação das águas em plena pré-época.

Licá começou por ser aposta mas a vontade de jogar e o empenho colocado em campo eram diametralmente opostos à capacidade técnica e à adaptação a uma posição que não era a dele e que o rapaz nunca conseguiu esconder as enormes dificuldades que mostrava em todos os jogos que era obrigado a lá jogar. É mais um caso de má avaliação de uma contratação que pareceu interessante de início mas que não se mostrou capaz de assumir a titularidade permanente numa posição em campo para a qual não estava talhado. Josué acabou também por ser utilizado nessa mesma posição, com os mesmos resultados. Do outro lado, Varela passou mais uma época de alguns altos e enormes baixos (exemplos: Baía: “O primeiro golo foi bom (Varela ANTECIPOU-SE ao defesa!!!), mas o segundo é estupendo, com um slalom a aproveitar o espaço que lhe ia sendo dado e qual Messi núbio se aprontou para um remate seco e bem colocado“; Baroni: “Não. Fez. Nada. Mariano González com três litros de vinho e o pé direito amarrado às nádegas tinha feito melhor.“) e valeu-se da experiência para continuar a entrar em campo com a nossa camisola porque, sinceramente, não havia melhores opções no banco ou na bancada.

Quaresma, por seu lado, apareceu mais esforçado que o imbecil molengão que daqui saiu no Verão de 2008, mas continua a ser um jogador bipolar. É verdade que marcou vários golos e deu outros a marcar, mas o estilo “a bola é MINHA” continua a não ter apoio das bancadas a partir do segundo ou terceiro lance desperdiçado pelo egoísmo próprio de alguém que sabe o que fazer com a bola mas raramente percebe que não se podia cingir a isso numa equipa dilacerada pela falta de confiança. E se também é verdade que foi dos poucos que pegou na bola com convicção e tentou fazer algo com ela ao contrário de tantos outros que se limitavam a passar a bola para o lado ou para trás com medo do que poderia acontecer se a perdessem, a verdade mais pura é que Quaresma precisa de uma equipa que o suporte. Nos dois sentidos.

Terminando com os pontas-de-lança, Jackson fez 29 golos nos 51 jogos que disputou, muitos deles deprimentes festivais de desperdício, com lances dignos de entrarem para o Watts da Eurosport pela aparente impossibilidade da falha ser ultrapassada pela expressão de frustração dele próprio e de todos os portistas na bancada e em todas as bancadas do Mundo. Acabou a temporada como melhor marcador do campeonato mas não se livrou de muitas críticas, especialmente por parecer menos empenhado que no ano passado após Falcao se ter lesionado gravemente, o que levou a que muitos adeptos tivessem pensado que se estaria a poupar para o Mundial. A súbita subida de forma de Bacca no Sevilha pode ter ajudado a que Jackson tenha subido de produção (ou tentado, pelo menos), mas apenas os números obtidos justificam uma nota positiva. Ghilas, que tantos adeptos pediram que fosse opção usada mais vezes por Fonseca e Castro, apareceu várias vezes em bom plano mas raramente foi consistente nas exibições. O “homem-dos-cinco-minutos”, como começou a ficar conhecido na bancada, não pôde fazer mais com tão pouco tempo de utilização e a adaptação a uma posição de avançado interior / falso extremo não o ajudou. Gostei do espírito e da luta, mas preferia tê-lo visto mais vezes numa posição mais central.

O quadro-resumo dos avançados fica abaixo:

GHILAS: BAÍA
ITURBE: BARONI
JACKSON: BAÍA
KAYEMBE: BAÍA (pela época no FCP B)
KELVIN: BARONI
LICÁ: BARONI
QUARESMA: BAÍA
RICARDO: BAÍA
VARELA: BAÍA

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Baías e Baronis 2013/2014 – Os médios

Naquele que terá sido o sector mais rodado de todas as equipas do FC Porto desde Oliveira, houve tanta indefinição e incapacidade de manter um fio de jogo que conduzisse à vitória que espanta olhar para estes nomes que aqui estão em baixo e pensar que estes eram os que esperávamos poder suprir a falta de um jogador tão extrordinariamente importante como Moutinho…mas foi o que tivémos e não conseguiríamos nunca substituir o 8 à altura que o rapaz brilhou.

Se Moutinho foi o organizador de jogo do FC Porto durante três anos consecutivos, o ano começou com a opção pelo segundo médio por parte de Paulo Fonseca, que cedo se percebeu que não iria resultar. Cedo, para a malta cínica de fora, que vê os jogos com olho de adepto, porque para o treinador principal do FC Porto havia sempre algo que poderia funcionar no plano teórico, mas nunca o conseguiu traduzir em jogo jogado. As experiências foram muitas e nem vou aqui enumerar todos os meios-campos do FC Porto que alinharam ao longo dos 53 jogos disputados porque a página ficaria pesada e demoraria tanto tempo a carregar que o meu caro leitor rapidamente encheria o balão metafórico e desatava a carregar no botão de refresh com a intensidade de um jovem masturbador dos anos 80 a folhear edições antigas do National Geographic. Se Fernando foi dos poucos elementos que conseguiu destacar-se porque salvou a equipa em muitos jogos da derrota certa (ONZE Baías, a maior parte na primeira metade da temporada, como este, na eliminatória da Taça em Guimarães: Ouve lá, ó maluco, se tu me vieres dizer que fizeste de propósito para marcar aquele golo, meu menino, mando-te dar uma volta ao maior bilhar que encontrares! Mas lá que foi bonito e me fez dar um salto que acordou a minha filha que ia dormitando nos meus braços, lá isso não haja qualquer dúvida. E para lá do que fez nesse lance, foi o que fez em todo o resto do jogo que me continua a fazer crer que está a ser “O” jogador do FC Porto versão 2013/2014, pela luta, pelo posicionamento e pela inusitada inteligência a levar a bola para a frente.), mantendo a intensidade com que disputava cada lance, apenas Defour lhe chegou perto em termos de força e garra colocadas em campo. Mas o belga não é Moutinho, nunca foi e nunca será, e esse selo que lhe foi colado no início da temporada passada foi demasiado para que o rapaz conseguisse mostrar que é um jogador certinho, habituado a receber e rodar a bola para o melhor sítio…mas só isso. É trinco na selecção mas joga bem nessa posição porque tem jogadores na sua frente como Witsel, Fellaini ou Dembelé, fortes como Guarín e dinâmicos como um Lucho nos bons tempos (já lá vamos). A jogar “à Porto”, com um trinco varredor disposto a lutar pelo ar e a despachar pelo chão…não chega. E perdeu muito crédito com os adeptos por ser, convenhamos, honesto ao dizer que preferia sair do que ficar no banco, o que leva sempre a malta a irromper em idiotices tacanhas e proto-xenofobia de trazer por casa. Enfim, o costume. Não o escondo, gosto do rapaz. Escrevi isto no jogo em casa contra o Nápoles: o estupor do tolinho andou a correr em todo o lado como se Derlei e Lisandro tivessem sido juntos e fechados num invólucro de chocolate belga. Esforçou-se imenso e deu o impulso de força e de combatividade que o nosso meio-campo tão desesperadamente precisava há alguns MESES a esta parte.

Lucho foi o maior sacrificado da época e a forma como foi obrigado a jogar perto de Jackson durante vinte e muitos jogos fez com que o argentino, que nunca foi rápido mas sempre foi resistente, fosse abaixo das pernas e não aguentasse um jogo até ao seu final a um ritmo que era incapaz de manter e acima de tudo de o fazer sendo minimamente produtivo. Foi-se perdendo e chegou a um ponto em que os próprios adeptos pediam que o treinador se decidisse: ou o punha a jogar numa posição condizente com o seu talento e capacidades…ou mais valia tirá-lo do onze. Oh inclemência, oh martírio! Acabou por sair a meio da temporada, numa altura que acabou por fragilizar ainda mais a equipa, já de si órfã de referências e líderes. Disse, na altura: “A notícia bateu-me como se tivesse levado um estalo no focinho. Lucho teria comunicado à Direcção que tinha uma oferta do tamanho da Torre dos Clérigos para ir jogar ano e meio para o Qatar e encher os bolsos de uma maneira que o ia obrigar a comprar calças novas todas as semanas. O FC Porto teria aceite a saída e o capitão já não ia jogar contra o Marítimo. Pumba, embrulha.”

Herrera foi um jogador em que depositei alguma esperança mas que raramente conseguiu mostrar o que vale. Melhorou na segunda metade mas a semelhança com um motor start-stop é enervante e não fosse o facto de lhe reconhecer talento, não conseguiria encontrar muitos pontos positivos na época. A exibição no Sporting vs Porto para a Taça da Liga é um bom exemplo: “Tem de ir rapidamente ao médico para perceber se sofre de qualquer forma mexicana de narcolepsia. Há alturas do jogo em que lhe parece parar o cérebro e alhear-se do lance que está a decorrer QUANDO TEM A PUTA DA BOLA NOS PÉS! Não consigo entender-te, coño, palavra que não, mas se não mudas rapidamente a tua capacidade de estar atento 100% do tempo em que estás em campo, vais levar muitas mais notas destas.”.

Quintero foi uma exigência dos adeptos durante vários meses até que se percebeu que ainda tem muito para aprender. Mas ao ver Carlos Eduardo e Josué a desaparecerem gradualmente dos bons índices de aproveitamento que mostraram nos primeiros jogos em que estiveram presentes, o português no arranque da temporada (que até lhe valeu uma chamada à Selecção) e o brasileiro a partir de Dezembro, era notório que a aposta no colombiano poderia ter sido mais constante e a titularidade seria mais natural e poderia ter rendido mais se tivessem apostado mais nele. Josué foi a imagem do jogador à Porto (e do Porto) que jogou demasiadas vezes fora da posição em que mais rende. O facto de ter sido utilizado na ala ou a 10 limitou-o inevitavelmente à condição de fringe player e nunca conseguiu sair do fosso em que parecia entrar quando o jogo não lhe corria bem. Demasiados passes falhados, hesitações em excesso, perdas de bola assassinas. Carlos Eduardo foi pior, incapaz de assumir o jogo quando alinhava numa posição de criação de jogo, onde a irreverência é obrigatória e a intervenção em jogo é essencial em determinados pontos da partida. Já o brasileiro pareceu sempre fisicamente longe do jogo, escondido atrás das marcações dos densos meios-campos que nos enfrentaram esta época. No jogo fora contra o Nápoles: “não merece ser titular do FC Porto neste momento e depois da boa entrada no onze aqui há uns meses, o capital de confiança perdeu-se e a deambulação pelo relvado, escondido dos colegas e longe de qualquer linha de passe, é algo que devia envergonhar qualquer médio criativo. Francamente, o que fez hoje foi o equivalente ao que a minha filha faz diversas vezes por dia. A diferença é que ela tem várias fraldas para mostrar o trabalho realizado.”

Marat quase não jogou, Tozé e Mikel foram usados no finzinho da época…e questiono-me o que lhes teria acontecido se tivessem jogado mais vezes durante o ano. Talvez tivessem perdido a aura de esperança que agora ostentam…

O quadro-resumo dos médios fica abaixo:

CARLOS EDUARDO: BARONI
DEFOUR: BAÍA
FERNANDO: BAÍA
HERRERA: BARONI
IZMAYLOV: BARONI
JOSUÉ: BARONI
LUCHO: BARONI
MIKEL: BAÍA (em grande parte pela época nos Bs)
QUINTERO: BAÍA (pelo talento e potencial mal aproveitado)
TOZÉ: BAÍA (em grande parte pela época nos Bs)

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Baías e Baronis 2013/2014 – Os defesas

A metáfora do Inferno, onde diversas almas vão nadando num lago de merda enquanto o Diabo os observa pacientemente, vendo as cabeças a oscilar freneticamente acima da linha de “água”, é perfeita para a nossa temporada defensiva. Havia sempre uma tremideira, um temor às ofensivas do adversário, fosse ele um frágil oponente de uma zona da Liga afastada daquela a que almejamos, ou um gigante europeu pronto a roubar-nos a memória de uma noite bem passada. A uma dada altura da parábola, o grande forquilhas dirige-se para a malta e diz: “Meninos, acabou o recreio, toda a gente a mergulhar!”. E quase em todos os jogos havia um sincronismo com essa história, porque no meio de toda a trampa que parecia ser suficiente para encher o corpo de cheiros asquerosos e de deixar um rasto eterno de esterqueira, um dos elementos da defesa agia como um dos condenados, agrilhoava-se aos demais e lá iam eles alegremente para as profundezas amerdalhadas do lago.

Metáfora passada, comecemos a olhar para os nomes.

Danilo e Alex Sandro, os titulares (íssimos, érrimos!) dos dois flancos, tiveram uma época de poucos altos e demasiados baixos. É verdade que foram obrigados a jogar vezes demais em sucessão, eles que mal se aguentavam das pernas a meio de tantas segundas partes, foram levados a um extremo físico ao qual estavam pouco habituados e as falhas eram consecutivas e sem espaço para recuperar. Muitas vezes alheados dos jogos, com pouca acutilância ofensiva no apoio aos extremos (pseudo, a maior parte das vezes) e fracos na recuperação. Danilo esteve melhor que Alex Sandro ao longo da temporada, já que o esquerdino esteve quase sempre abaixo daquilo que já o vimos fazer, incapaz de sair com a bola controlada mais que uma ou duas vezes por jogo, arriscando demais nas incursões individuais e perdendo tantas bolas no meio-campo que mais parecia um green a ser usado por um golfista cego. Mas o médio direito/lateral direito adaptado não esteve melhor e a alternativa Victor Garcia, das poucas vezes que vestiu a camisola, pareceu sempre mais afoito e com mais vontade de jogar e mostrar serviço. O constante baixar de braços de Danilo é algo que tem de ser visto como falta de fibra e de capacidade competitiva, algo que terá de rever na próxima temporada. Fucile, depois de titular na Supertaça, rapidamente foi afastado da equipa por motivos desconhecidos (chateou-se com os treinadores, com a direcção, com o mundo, sei lá) e nunca foi alternativa. Tive pena que assim fosse.

Os centrais foram o calcanhar de um Aquiles velho, bolorento e cheio de osteoporose. Demasiadas falhas, ausência de concentração e de inteligência competitiva, excessos de confiança, faltas de entendimento…tudo parecia acontecer. Salvou-se Mangala, que não fica isento de culpas em vários jogos (todos se lembram daquela imbecilidade no Restelo, certo?) mas que pareceu sempre jogar a um nível superior aos colegas apesar de ser obrigado a ser o primeiro atacante em tantos momentos de tantas partidas. A seu lado, Otamendi pareceu sempre estar noutro estádio, noutro relvado, com outra camisola. Distraído, com constantes falhas de concentração e compenetração no jogo, fez uma primeira metade de temporada horrível até ser (finalmente) vendido para o Valência com passagem pelo Brasil. Maicon, lesionado durante boa parte da temporada, acumulou a sua parte de parvoíces e não tendo sido dos piores anos que fez, também não conseguiu ser um defesa consistente e seguro e foi perdendo o lugar primeiro para Abdoulaye e depois para Reyes, dois casos imensamente diferentes na forma de olhar para a temporada. Enquanto que Abdoulaye acumulou erros em demasia após voltar de Guimarães no mercado de Inverno para o lugar de Nico, Reyes foi subindo a pulso, começando na equipa B e subindo finalmente à A (um jogador que custou quase 10 milhões de Euros…), onde mostrou que pode ser opção para o futuro, por muito que pareça lento, com pouco ritmo e propenso a algumas infantilidades que estou certo o tempo tratará de corrigir. Mas o senegalês é a imagem da equipa em 2013/2014. Cortes mal calculados, posicionamentos ridículos, capacidade técnica abaixo da média e um mal-estar geral causado nos adeptos e na própria equipa, que tantas vezes deixou de depender dele para jogar com o bloco defensivo que se quer estável e bem gerido. Foi um ano mau para quase todos mas foi especialmente tenebroso para Abdoulaye, que não prevejo que tenha vida fácil para ficar no plantel no próximo ano.

O quadro-resumo dos defesas fica abaixo:

ABDOULAYE: BARONI
ALEX SANDRO: BARONI
DANILO: BARONI
FUCILE: BARONI (não tanto pelo que fez, mais pelo que não fez)
MAICON: BARONI
MANGALA: BAÍA
OTAMENDI: BARONI
REYES: BAÍA (por pouco, acima de tudo pelo potencial)
VICTOR GARCIA: BAÍA (especialmente pelos Bs)

 

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Baías e Baronis 2013/2014 – Os guarda-redes

Helton não teve vida fácil este ano. Para lá da lesão em Alvalade que o arrumou da competição a meio de Março, teve uma primeira parte da temporada em bom nível e só pontualmente teve algum tipo de culpa em lances que deram golo ou desestabilizaram a defesa (ainda mais que o normal). Um total de 6 Baías acabam por provar que continua a ser a primeira opção para a baliza, porque com 36 anos não vejo ausência de frescura física nem maceração muscular durante os jogos. Vejo, sim, o habitual excesso de confiança que fez com que sofresse alguns golos que talvez fossem defensáveis…mas contraria isso com um jogo de pés ao nível de poucos no Mundo e uma boa presença na equipa. Este ano foi incapaz de levar o balneário ao seu happy place, infelizmente. Fabiano entrou para o seu lugar em Março depois de já se ter mostrado e de que maneira, com uma estupenda exibição em Alvalade que nos ajudou a manter na Taça da Liga. O jogo em Nápoles foi mais uma mostra da extraordinária elasticidade de Fabiano na baliza, que terá de trabalhar a comunicação com os defesas nas saídas de bola e acima de tudo o jogo de pés. Estamos mal habituados com Helton, meus caros…

HELTON: BAÍA
FABIANO: BAÍA

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