Por arrasto mas com agrado

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É no mínimo curioso que Portugal chegue à final do Europeu num ano em que estou muito menos entusiasmado do que é costume com a Selecção. Não me perguntem porquê porque não sei se conseguirei explicar, mas todo este circo montado à volta da equipa parece finalmente ter chegado a um zénite de estupidez e parolada que me desliga a vontade de me preocupar muito com isso. Não deixo de sentir o jogo e vivo as partidas com alguma dose de fanatismo partidário de quem apoia o seu país, mas estou muito mais focado no clube que na nação. Censurem o que quiserem, é o que é.

No entanto, o trajecto tem sido interessante. Empates a rodos e vitórias magras com futebol de qualidade duvidosa e opções técnicas a condizer (apesar dos inúmeros problemas físicos que condicionam as escolhas, é certo) acabam por levar a equipa a uma final que merece ma non troppo. Sinto-me como um grego em 2004, no fundo, com a vantagem de não ter de olhar para o cabrão do Rehhagel no nosso banco e o Charisteas Almeida na frente de ataque. Mas olho para o grupo e vejo-o unido. Vejo uma vontade de vencer que também vi noutros anos, com a vantagem de termos aplicada uma fortíssima dose de realfootballik ao barulho, abdicando do brilho em favor da simplicidade e com resultados para mostrar. É uma equipa que começou desorganizada e que se tornou, ao longo do torneio, num adversário complicado de bater com poucos jogadores em grande forma (Patrício e Pepe, até agora os homens mais seguros do torneio) e o “just enough” a chegar para eliminar adversário atrás de adversário.

Vi o jogo contra Gales rodeado de mulheres, pizza e vinho. À minha volta, três adultas e uma infante, cada uma com os seus tiques e as suas idiossincrasias, algumas boas garrafas de branco (maduro e verde, take your pick) e queijo que o Wisconsin não produz num mês. E senti-me contagiado pelos comentários, pelas boas vibes que emitiam, tanto as crescidas como a pequena, que a dada altura assustou-se com os golos mas não hesitou quando em conversa telefónica com a avó, desatou a gritar “Po-tu-gá!”.

É uma sensação que raramente tenho cá em casa, esta união de mentes e vontades para o bem de um só clube, de uma só cor e de um só hino. Sabe bem, devo dizer.

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A maldição dos extremos

Li ontem que Helder Barbosa se vai desvincular do FC Porto e vai ser transferido para o Nacional da Madeira. É mais um nome numa lista de vários jogadores que, saídos dos escalões de formação do clube, acabam por não vingar na equipa principal depois de uma ou duas temporadas de pouca utilização e diversas épocas onde actuam na qualidade de emprestados, esperando por um futuro mais risonho no clube que os criou e fez surgir no panorama nacional.

Nos últimos anos tivemos vários exemplos dessa mesma “maldição”. Para uma equipa que joga em 4-3-3 há tanto tempo e aplicava quase sempre um extremo aliado a outros dois avançados, um central e outro que descaía para a ala contrária, acaba por ser interessante reparar nestes nomes:

  • Candeias (2008/09)
  • Helder Barbosa (2007/08)
  • Bruno Gama (2004/05, 2005/06)
  • Ivanildo (2004/05, 2005/06)
  • Vieirinha (2003/04, 2004/05, 2005/06, 2006/07)

Fazendo apenas as contas dos jogadores portugueses que são provenientes das escolas, claro, porque se formos a somar o resto dos estrangeiros que para cá vieram e que não vingaram vemos que desde Capucho e Drulovic tivemos apenas Ricardo Quaresma e, este ano, Silvestre Varela, como exemplos de jogadores ofensivos pelas alas que foram de facto produtivos e que constituiram uma mais-valia para a equipa.

É quase uma tradição histórica que o FCP não forma jogadores talentosos do ponto de vista criativo. É raro sairem génios (adjectivo aplicado livremente) dos escalões jovens como no Sporting, com Futres, Quaresmas, Simões, Ronaldos e Nanis praticamente todas as temporadas a despontarem na equipa. Parece que a imagem do clube transparece para a canalhada, optando por treinar jogadores defensivos, rijos e duros, deixando o talento para ser comprado fora do clube. Essa óptica pode ser alterada por um jogador já em 2010/11: Ukra.

Passa-se a palavra ao André Monteiro. Não acham que o rapaz se chama mesmo Ukra, certo?…

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Portogal?


Raúl Meireles levanta os olhos, centra para Bruno Alves…GOLO!!!!

Podia ser azul e branco mas foi só com a segunda côr. Ou metade de uma côr, como diria o João Pinto. De qualquer maneira, desta paupérrima exibição da nossa Selecção (mais uma) só se safaram mesmo os jogadores do FCP. E estou a ser, como de costume, imparcial na minha análise.
Deixo só um apelo a quem der aqui um salto: amanhã não fiquem em casa, dêem um saltinho à escola ou igreja ou junta ou lá onde é que é a vossa mesa de voto. Votem em branco, desenhem uma cruz em todos os quadrados, façam o que quiserem, mas votem!
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