Shift right, shift left, shift again

Grossman-iStock_000021432052XSmall

Foi uma semana de mutações. Alex Sandro e Herrera convertidos em laterais direitos por circunstâncias diferentes em jogos bem diferentes, Fabiano transformado de inseguro em Neuer e de volta a inseguro uns dias depois, Indi colocado à esquerda e depois ao centro, Evandro a fazer de Brahimi, Aboubakar a fazer de Jackson e Helton a agir como se tivesse menos dez anos no lombo. Muitos nomes, muitas mudanças, muitas alterações forçadas. E a grande maioria durante os jogos, que mostra a facilidade com que Lopetegui põe e dispõe das peças em campo, até agora com respostas variáveis mas em alto rendimento. Curioso, porque algumas destas alterações, especialmente na defesa, são estruturais e podem abanar com uma equipa de cima até baixo se não tiver malta responsável e empenhada nos lugares onde são colocados.

É natural que haja incertezas durante uma partida, mas um treinador tem de tomar uma decisão em segundos ao passo que um comentador ou opinador de bancada pensa e pode pensar o tempo que lhe apetecer para tomar a mesma decisão. Ainda mais quando estamos a falar de análises pós-jogo, onde é fácil para quem tem meio dedo de testa tomar a decisão mais acertada. Será? Nem assim creio que haja situações onde possa haver UMA única solução para um problema, onde as variáveis do jogo se apoderam do controlo das mentes e os ódiozinhos de estimação vem ao de cima e o Mariano nunca pode jogar daquele lado porque tropeça e se for o Bosingwa a defesa esquerdo perdes a velocidade porque ele não inclina tão bem nas diagonais e nem penses em pôr o Diego a jogar no meio-campo porque ele não aguenta com uma gata pela cauda e o Meireles é muito melhor e tira-lhe o sebo num instante. Alenichev ou Pedro Mendes, Fernando ou Defour, Paulinho ou Barroso, Zahovic ou Deco. Tudo escolhas complicadas e ainda mais difíceis de tomar nos breves momentos em que o estádio pára, o mundo pára e num freeze-frame que dura meio-instante, a câmara foca-se no treinador com o zoom mais rápido do planeta…o ar rarefaz-se, as respirações sustêm-se e a Terra arrepanha-se nos seus eixos: O. Que. Fazer?

Herrera entrou para a segunda parte do jogo contra o Arouca na lateral direita. Estava visivelmente cansado quando saiu para o intervalo e no regresso, Lopetegui colocou-o numa zona onde podia continuar a jogar e ao mesmo tempo ter uma menor área de influência numa altura em que o meio campo iria precisar de mais músculo e fibra, algo que o mexicano seria provavelmente omisso no contributo à equipa. Não mudou a estrutura da equipa, abdicou de queimar logo uma das duas substituições que restavam e optou pela adaptação. Podia ter tomado um sem-número de opções. Entrar Hernani ou colocar Quaresma a fazer o flanco todo, entrar Reyes e colocar Indi na esquerda trocando Alex para a direita, recuar Brahimi para o centro, fazer entrar Ruben ou Evandro para tapar o centro…qualquer uma delas com os seus méritos e os seus problemas. O mexicano acabou por cumprir, esteve mais em jogo nas alturas certas, o flanco acabou por estar bem tapado e com mais dez minutos a saída de Óliver e a entrada de Ruben ajudou a travar a velocidade do Arouca.

Lopetegui estava ciente dos riscos que corria. Abdicou de um meio-campo de construção cedendo grande parte do jogo ao Arouca. Partiu a equipa em dois, passando do 3-3-3 com que terminou a primeira parte para um 4-2-(meiocampoparaarrendar)-3 e se os passes finais tivessem sido mais bem executados, talvez conseguíssemos um resultado ainda mais positivo. É também aqui que se podem ganhar jogos, mais ou menos complicados. Na astúcia e pensamento estruturado de um treinador que está a mostrar ser mais inteligente e adaptável do que pensei a início.

Good for us.

Link:

Remates à entrada da área às vezes dão em golo. Imaginem!

239499_galeria_fc_porto_v_belenenses_primeira_liga_j16_2014_15.jpg

Discuto muito com os meus colegas de bancada durante o jogo. Um dos temas que foi mais analisado neste sábado foi a questão da contínua opção pelas jogadas combinadas em detrimento do remate pronto. Passamos o intervalo e boa parte do segundo tempo a discutir a falta de sentido prático dos jogadores do FC Porto à entrada da área, sendo que a conversa foi animada e focou-se no porquê de tantas situações serem criadas sem que resultem num remate pronto e decentemente apontado à baliza adversária. O meu colega de sempre, que aqui é habitualmente conhecido como Waldorf (e eu o Statler, em homenagem aos velhos dos Marretas), insistia que era absurda a quantidade de bolas desperdiçadas quando um gajo se apanhava em frente à baliza com um mínimo de espaço e insistia em rodar a bola para o lado ou em dar mais um toque ou fazer mais um passe, mais uma tabelinha, mais uma finteta ou mais uma berlicoquice inconsquente. Ele, o adepto do pragmatismo e do futebol acima de tudo eficaz, não lhe interessam os gestos técnicos, os dribles perfeitos ou as combinações ao milímetro. Quer remates. Quer que os rapazes sejam práticos, eficazes, sem brincadeiras.

E a segunda parte deu-lhe razão, tanto no início como no final, porque a abertura com o golo de Óliver e o fecho com o de Evandro mostraram que nem sempre o passe a rasgar ou o cruzamento recuado são as melhores opções. Às vezes, mais vale puxar a culatra atrás e dizer: “Aqui vai aço!”. Teríamos muito a ganhar com isso.

Link:

To trinco or not to trinco

passing-options-dmf

Volto à conversa dos trincos. Com a saída de Fernando, parece ressurgir a conversa dos médios defensivos aos pares, mesmo depois da experiência do ano passado ter sido uma bela duma borrada. É verdade que os treinadores são diferentes e nada indica que a próxima forma de tentar resolver esse problema tenha o mesmo fim, mas urge perceber se os actuais médios que temos podem servir para uma estrutura que permita uma reorganização do meio-campo.

Numa palavra: não. Ou melhor: eu não acredito. Muitos anos de ver um único “6” naquela zona deixaram-me cínico, incapaz de acreditar que uma alteração tão fundamental de paradigma possa ter efeito. Para lá dessa renitência histórica, o rotundo falhanço do ano passado, apesar de treinador e jogadores marquem uma mudança grande com o passado recente, tornam-me ainda mais descrente para o que pode ser uma alteração importante na forma de jogar da equipa. Face a isto, pergunto-me: será que podemos aguentar uma mudança menos intensa? Em vez de dois médios recuados, que tal um harmónico mais estável com um médio ligeiramente mais recuado e outros dois mais volantes? Ou um zigue-zague no meio-campo em vez de um triângulo?

Não sei. Não conheço Lopetegui a nível táctico para lá do cliché e do dogma que todos acreditamos ser a mentalidade do nosso novo treinador. Seria falacioso começar a comentar sobre o trabalho ainda por realizar e por isso deixo a minha análise para outros tempos. Uma coisa é certa: não vai ter trabalho fácil. O plantel está a renovar-se. E a mentalidade?

Link:

As adaptações e porque é que não gosto delas

Este ano temos visto uma batelada de adaptações, desde Licá e Ghilas nos flancos a Mangala ou Ricardo nas laterais. E em Sevilha vamos ter pelo menos mais uma adaptação que não o sendo, acaba por o ser. Explico.

Não sou o maior fã de Defour a 6, vou ser sincero. Gosto de um trinco “varredor”, que desliza pelo campo e controla a zona recuada de uma forma mais física, como temos há tantos anos, desde André até Fernando passando por Emerson, Doriva, Paredes, Costinha ou Paulo Assunção (entre outros com menos sucesso como Peixe ou Tiago). Defour funciona naquela posição e não faz maus jogos, mas daí a usá-lo sempre naquela zona vai uma longa caminhada de pés doridos, por muito que o faça habitualmente nos jogos que disputa pela selecção do seu país. Não me parece natural ver o belga a patrulhar a zona mais recuada, com o seu estilo mais pausado e inteligente de posse, nunca esquecendo o espírito de luta pela posse de bola e pelo posicionamento ideal para interceptar jogadas de ataque pelo centro. Estou habituado desde pucunino a ver um daqueles que citei no início do parágrafo em vez de um jogador à imagem de Defour. E talvez por isso nunca tenha visto homens como Madrid ou Bolatti a serem rivais para qualquer um desses jogadores mais raçudos e menos estruturantes.

O mesmo se passa com as alas. Pois, mas o Secretário também começou a extremo e recuou para ser sempre titular, até o Kenedy e o César Peixoto fizeram o mesmo! É certo, mas não quer dizer que fosse a melhor escolha, longe disso. O Benfica tem sido pródigo nesse tipo de adaptações, onde Miguel, Coentrão e Maxi sofreram todos do mesmo “mal” que agora parece cair em cima de Ricardo. Pode tapar buracos e até chegar a ser um jogador com grande futuro naquela posição, mas nunca me vai conseguir tirar a sensação de nervosismo quando sobe no flanco (“pronto, lá vai ficar um buraco enorme lá atrás!”) ou quando encara um adversário num 1×1 (“não dês espaço, não cedas à finta, não cubras a zona do central, pede ajuda, oh carago que lá vai ele!”).

Na frente acontece o mesmo. Ver Ghilas ou Licá a jogarem nas alas é o mesmo que pedirem a Herrera para ser avançado-centro. Nunca vai funcionar porque apesar de ninguém nascer para jogar numa dada posição, há características que são exigidas de algumas posturas específicas em campo que alguns jogadores nunca irão conseguir apresentar, por muito que tenham força de vontade para tal.

Sou um adepto de múltiplas opções, mas em número, não em versatilidade. Quando sai Fernando, prefiro ver lá um Mikel do que um Defour. Quando sai Varela, opto por um Kelvin em vez de um Licá. E quando Alex Sandro ou Danilo tiverem de ficar de fora, por favor chamem um Victor Garcia ou um Quiño. Mangala e Ricardo podem fazer os mesmos lugares, mas sabem sempre a pouco.

Link:

Passaram todos pelo mesmo, mas só alguns se safaram

Desde que comecei a ver futebol ao vivo, no início da última década do século passado, muitos têm sido os motivos de crítica dos diversos treinadores que passaram pelo FC Porto:

  • Carlos Alberto Silva foi criticado pelo estilo taciturno e pelo futebol aborrecido;
  • Tomislav Ivic foi criticado por ser demasiado defensivo;
  • Sir Bobby Robson foi criticado pelas más contratações e pelas substituições tardias;
  • António Oliveira foi criticado pela excessiva rotatividade da equipa-base;
  • Fernando Santos foi criticado por não conseguir manter as estrelas sempre motivadas;
  • Octávio Machado foi criticado pelo estilo de jogo duro e sem beleza;
  • José Mourinho foi criticado (sim, até Ele!) pela arrogância e pelo excessivo pragmatismo;
  • Luigi Del Neri foi criticado pela introdução à força de tácticas revolucionárias para o clube;
  • Victor Fernandez foi criticado pela incapacidade de saber lidar com os egos do plantel;
  • José Couceiro foi criticado pela fraca qualidade do futebol;
  • Co Adriaanse foi criticado pela rigidez das regras internas e pelas tácticas hiper-ofensivas;
  • Jesualdo Ferreira foi criticado por ser benfiquista e por falhar na Europa;
  • André Villas-Boas foi criticado pela inexperiência e pela pouca rotação de um plantel curto;
  • Vitor Pereira foi criticado pelo discurso fraco e pelo futebol enfadonho.

A grande diferença entre a maioria destes nomes e o de Paulo Fonseca é que salvo uma ou outra ocasião, via-se um semblante de uma táctica, de uma estratégia de jogo. Com melhores ou piores jogadores, mais ou menos motivados, havia um fio de jogo planeado, um reconhecimento em campo do trabalho que se faz durante a semana. Hoje em dia, Paulo Fonseca arrisca-se a ficar na história pelo seguinte:

  • Paulo Fonseca foi criticado por fazer com que o FC Porto deixasse de jogar futebol.
Link: